EUA não vislumbram o fim da era do petróleo

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Quarenta anos depois do primeiro choque do petróleo — o embargo que provocou o caos na distribuição de gasolina e na economia dos Estados Unidos nos anos 70 –, o país volta a discutir a dependência do combustível e, consequentemente, a relação com os grandes produtores.

Agora sob nova ótica: a possibilidade de autossuficiência graças ao aumento da produção propiciado pelo fraturamento hidráulico, conhecido como fracking, uma tecnologia de consequências no mínimo discutíveis.

Proibida na França, discutida na Grã-Bretanha e no Canadá, motivo de protestos no mundo inteiro, a tecnologia foi adotada rapidamente nos Estados Unidos.

A produção aumentou tanto que o país já ultrapassou a Rússia, este ano, e assumiu a liderança mundial na produção conjunta de petróleo e gás natural.

Segundo dados do governo, a produção doméstica de petróleo pode chegar a 8,4 milhões de barris por dia no ano que vem, quase o mesmo nível da Arábia Saudita.

Quatro décadas separam a possibilidade da autossuficiência dos tempos do embargo.

Nesse período, a política energética e a necessidade de garantir a oferta do combustível comandaram as ações externas do país. E ainda preocupam.

Empresários, representantes das Forças Armadas e ex-funcionários do governo norte-americano se reuniram, na semana passada, para discutir o tema no seminário “Embargo da OPEP + 40: Seminário Nacional sobre Segurança Energética”.

Pela composição das mesas se viu não só a importância do assunto para o país, mas ficou claro que o tema é política de Estado, não de partidos.

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Entre os palestrantes estavam os presidentes da GE e do Fedex, os ex-secretários de estado Henry Kissinger e Madeleine Albright, os ex-secretários de defesa Leon Panetta e James Schlesinger, além do general James Conway e do almirante Dennis Blair.

Kissinger era secretário de Estado em 1973, durante o primeiro choque do petróleo, e disse que nos anos seguintes ao embargo “não se podia fazer planos no Oriente Médio sem levar em conta o mercado do petróleo”.

Naquela época, a produção americana estava em queda. Os poços do Texas estavam secando. O país passou a importar o dobro do que comprava do exterior, se tornando ainda mais dependente dos produtores do Oriente Médio.

Quando eles declararam o embargo, o preço do combustível quadruplicou nos Estados Unidos. Racionamento, fila nos postos de gasolina…

Este é o retrato dos anos Carter.

Segundo Henry Kissinger, essa dependência em relação ao Oriente Médio está mudando agora, por causa do aumento da produção de combustíveis nos Estados Unidos.

“A redução da distância entre oferta e demanda na América do Norte tem consequências estratégicas gigantescas”, afirmou.

O almirante Blair acredita que os Estados Unidos poderão se distanciar um pouco dos conflitos no Oriente Médio, mantendo tropas nas redondezas caso sejam necessárias em uma situação de crise.

Um relatório do Citigroup, divulgado no começo do ano, diz até que pode haver um pouco mais de tensão nas relações dos Estados Unidos com países como a Arábia Saudita, por conta de princípios democráticos, agora que o país depende menos do petróleo do Oriente Médio.

O grande sonho dos Estados Unidos é solapar o poder da Organização dos Produtores e Exportadores de Petróleo (OPEP). Mas, ao mesmo tempo, Washington precisa manter boas relações com a organização.

Os políticos norte-americanos tentaram comprar briga com a OPEP no passado. Aprovaram uma lei no Congresso para permitir que a organização fosse processada, nos Estados Unidos, por formação de cartel.

A lei, aprovada na Câmara e no Senado em 2007, dava ao Departamento de Justiça o direito de processar a OPEP, mas o então presidente George Bush avisou que vetaria qualquer medida nessa linha porque incitaria uma retaliação contra negócios norte-americanos no exterior e afetaria as relações dos Estados Unidos com os países produtores de petróleo.

O jogo é complicado e declarar independência política com relação ao Oriente Médio agora, com o aumento da produção interna, parece precipitado.

A dependência do petróleo externo é menor, mas não desapareceu. No longo prazo, o interesse estratégico e a garantia de fornecimento futuro exige a formação de reservas. A perspectiva de autossuficiência não é assim tão simples.

Enquanto o preço do barril de petróleo estiver na casa dos US$ 100, como está agora, compensa explorar óleo e gás de xisto com o fracking, uma técnica cara. Mas se o preço cair, o fracking se tornará economicamente inviável. Basta a Arábia Saudita abrir a torneira para mudar os preços no mercado internacional.

Em 2005, os Estados Unidos importaram 60% do petróleo consumido no país. Hoje, importam 40%.

Uma queda boa, mas falta um bocado para a autossuficiência. Por isso mesmo, o jogo de xadrez com o Oriente Médio vai continuar.

A maioria absoluta dos analistas e economistas norte-americanos descreve o choque do petróleo dos anos 70 como represália ao apoio dos Estados Unidos a Israel durante guerra do Yom Kippur.

O economista político nova-iorquino Rob Urie discorda, como deixou claro no site Counterpunch:

“Os choques do petróleo dos anos 70 foram vendidos como sendo de natureza geopolítica. O primeiro, em 1973, até foi chamado de ‘embargo do petróleo árabe’ apesar de o Irã, até aquele momento um estado cliente dos EUA, e a Venezuela, serem os principais membros da OPEP a favor do embargo e nenhum dos dois ter um grande problema com as relações Israel-EUA. As multinacionais do petróleo baseadas nos Estados Unidos foram os atores principais que mantiveram o petróleo fora do mercado para fazer com que os preços subissem. O que ficou demonstrado com os embargos foi o efeito que o acesso limitado ao óleo tinha nas economias industriais do Ocidente, que foram estruturadas para serem totalmente dependentes de ofertas plenas e de baixo custo”.

Urie diz que o problema, nos Estados Unidos, está na origem, no modelo de desenvolvimento.

“O capitalismo, até onde o termo faz uma descrição precisa, é uma política econômica que construiu este mundo no qual a ‘energia’ desempenha o papel econômico que tem. No começo do século XX um grupo de industriais fez lobby junto a governos locais para destruir o transporte coletivo que existia e assim poderem vender carros, pneus, gasolina e estradas. A última discussão séria a respeito da conservação de energia nos Estados Unidos aconteceu quando Jimmy Carter estava na Casa Branca. Em meio à guerra mais recente dos Estados Unidos no Iraque, a administração George W. Bush aprovou uma subsídio para incentivar as empresas a comprarem os carros que mais bebem gasolina no planeta – os Hummers. O aquecimento global provocado pela queima de combustíveis fósseis ameaça a existência da vida no planeta. Para falar de outra maneira, mais de um milhão de pessoas morreram no Iraque para que ‘nós’ no Ocidente pudéssemos dirigir nossos SUVs. E o Iraque foi apenas uma das guerras travadas pelos Estados Unidos por causa do petróleo”.

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Comentários

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alfredo de pádua

“O sistema capitalista ainda não conseguiu criar nada mais corrupto, predador e criminoso do que aquilo que o presidente da estatal italiana de hidrocarbonetos Enrico Mattei batizou, nos anos 50, de Cartel das Sete Irmãs, composto por cinco subsidiárias da Standard Oil, mais a Shell e a Anglo-Persian (atual British Petroleum – BP). Desde sua criação, em 1928, mas já antes disso, seus componentes vêm acumulando uma infindável folha corrida de golpes de Estado, sustentação de governos (e mesmo Estados) fantoches, crimes ambientais, guerras de rapina, assassinatos, suborno, suborno e mais suborno. Mossadegh, primeiro-ministro do Irã, derrubado em 1953, depois de nacionalizar a BP, e mantido preso até a morte em 1966; Getúlio Vargas, suicidado em 1954, após a criação da Petrobrás; Enrico Mattei, espatifado em 1962 na queda de um avião da companhia, provocada por sabotagem; Saddam Hussein, enforcado em 2003; Muammar Kadafi, linchado em 2011, são alguns dos que lhes cruzaram o caminho. O renegado Haroldo Lima diz que o cartel é coisa do passado – o que por si só seria razão para crer que não é. Na verdade, o que mudou nesses 93 anos é que as cinco subsidiárias da Standard Oil se transformaram em duas (Exxon, Chevron), a Total se integrou ao bando e a BG está com o pezinho dentro. As três harpias originais passaram a quatro (ou cinco) e tiveram sua força alavancada pela fusão com megainstituições financeiras, para dividir áreas e pilhar o mundo com maior eficiência. Dilma pôs no maior campo de petróleo do planeta, com o mesmo peso da Petrobrás, duas representantes dessa “agremiação filantrópica”. E teria lhes dado mais, se a mobilização nacional não houvesse impedido. Isso vai custar ao Brasil bem mais do que os bilhões perdidos na transação. É a lógica de seu famigerado Programa de Concessões – tucano da cara ao pé. O presidente Lula diz que deveríamos estar felizes. Pois estamos. Não com a traição, é fato. Mas com a resistência contra ela. Cresceu rápido e está a se espalhar como fogo em capim seco”. Irretocável Editorial publicado no jornal Hora do Povo.

Tomudjin

Sai mais barato, para os EUA, influenciar na opinião pública de um país que tem grandes reservas de petróleo – a ponto de conquistar o direito “heroico” de invadi-lo -, do que investir em pesquisas de energias alternativas. Para isso, a participação efetiva da mídia corporativa é fundamental.

Bacellar

Pelo pouco que pesquisei de fato o petróleo ainda reinará por muitas décadas. O que fazer com todo o maquinário movido a petróleo? Uma estrutura assim não pode ser desfeita da noite pro dia, todo o capital e poder que circulam em torno dele tem inclusive força para barrar a aplicação em larga escala de novas alternativas energéticas superiores.

Regina Braga

Os eua não enxergam mais nada…A era deles já foi…a era do fóssil!

Ivo Pugnaloni, engenheiro eletricista

Cara Heloisa Vilela, parabéns por tratar desse assunto mantido quase em segredo no Brasil : o fracking. Visite nossa página http://www.frackingnaobrasil.com.br e encontre uma biblioteca de artigos e trabalhos científicos sobre o tema. Inclusive o filme argentino do Fernando Solanas. e o Gasland.
Veja também o artigo de Naffeez Mossadegh, “A grande farsa do gás de xisto”.
http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1399
E meu artigo recomendando a moratória do fracking no Brasil, que terá seu primeiro leilão em novembro, se nada for feito.
http://www.jornaldaenergia.com.br/artigo_ler.php?id_artigo=81
Entre em contato para saber mais sobre a evolução disso aqui no Brasil. Recomendamos contatar o professro Luiz Fernando Scheibe da UFSC e a SBPC que oficiaram à presidenta Dilma recomendando a moratória.
O Azenha tem meu email! E que o Obama, Big Brother, não nos esteja lendo…

Fernando Garcia

É com muita preocupação que vejo este processo. Caberia aos EUA e demais países ricos, que tanto se beneficiaram de queimar carbono ao longo do século XX, pagar o custo da mudança das matrizes energéticas. Ao mesmo tempo, deveriam ter a sensibilidade de perceber que o crescimento econômico de países da África, por exemplo, terá que ser baseado em energia barata (fóssil). Mesmo a China, com seu enorme PIB, ainda é um país relativamente pobre (baixo pib per capita), e vai queimar muito petróleo nas próximas décadas.
Neste cenário, fica difícil acreditar que vamos resolver/mitigar os problemas ambientais eminentes.

Luís Carlos

Quanto mais leio sobre a situação do petróleo e demais fontes de energia no mundo, mais me convenço que Dilma acertou nas medidas adotadas sobre Libra. A voracidade e ferocidade dos EUA quanto ao petróleo é insaciável e incontrolável, não pensam duas vezes em matar para ter petróleo. Os EUA já trouxeram frota para a costa brasileira, nos anos 60 preparando invasão do Brasil, durante golpe civil-militar de 1964. Agora com todo pré-sal teriam ainda mais motivos para isso, e seriam apoiados por seus comparsas brasileiros, muitos dos quais queriam atrasar mais o leilão e choraram por que suas grandes petrolíferas estadunidenses saíram do leilão (saíram certamente porque não era “bilhete premiado” para elas).

    Vlad

    E por que os yankees iriam invadir um País continental e com uma população gigantesca se na Venezuela há reservas comprovadas de umas 20 vezes mais petróleo que aqui, em condições de extração muito mais favoráveis?
    Não precisa se alterar…só me responda UM motivo minimamente plausível.

Julio Silveira

Se o Brasil ousasse fazer uso de seu poder em relação a outro de seus tesouros, o Nióbio, no qual é praticamente o único produtor, tesouro esse que é praticamente doado a essa potencia estrangeira. Provavelmente também seria vitima de algum conspiração internacionalista para justificar algumas bombas jogadas neste País.
Mas aqui eles nem precisam se esforçar para conspirar, já contam com muitos favorecimentos de uma cidadania desnaturada.

lukas

Em 1950, abrir uma fábrica de chapeus parecia uma boa ideia.

    Mário SF Alves

    É… tem disso também. E pode vir a ser isso com os combustíveis fósseis também.

renato

Ultimamente os USA, não estão vislumbrando nada.
Não conseguem antecipar um só ataque as escolas,
com toda a tecnologia que dizem ter.
São muitas escolas e muitos mortos.
Só falam bem diante de caos, guerra,e terrorismo.
Daí aparentam poder.
No mais, um povo, manipulado ao extremo devido ao
big ego.

    Mauro Assis

    Renato, nem são muitos mortos, uns 200 nos últimos quinze anos. Nada que uns 2 meses da usina de violência soteropolitana não possa prover em um ou dois meses…

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