Robert Fisk: O inferno já chegou à Síria

Tempo de leitura: 4 min

Fotos: www. icrc.org

O secretário-geral em Damasco do Crescente Vermelho (a Cruz Vermelha de países mulçumanos) – 22 de seus voluntários já morreram na guerra – foi despedido semana passada de seu trabalho de tempo integral em uma empresa de telecomunicações de Damasco, provavelmente porque passa muito tempo no trabalho humanitário. O Crescente Vermelho não pode pagar seu antigo salário. Enquanto isso, a luta nas cercanias da capital se torna mais feroz.

por Robert Fisk, no Página 12, via Carta Maior

Khaled Erksoussi pretende abandonar a Síria. O secretário-geral em Damasco do Crescente Vermelho (a Cruz Vermelha de países mulçumanos) – 22 de seus voluntários já morreram na guerra – foi despedido semana passada de seu trabalho de tempo integral em uma empresa de telecomunicações de Damasco, provavelmente porque passa muito tempo no trabalho humanitário.

O Crescente Vermelho não pode pagar seu antigo salário. Além disso, o dinheiro dos doadores está acabando, os voluntários mais capazes já estão sendo contratados furtivamente no estrangeiro. E quem quer passar seu tempo enchendo bolsas com cadáveres que já têm três dias e negociando com até 12 grupos diferentes nas linhas de frente? Porque isto também é uma história horripilante. Leitor, esteja atento.

“Parece que não há mais dinheiro de onde vinha o dinheiro doado”, diz. “Todos nossos sócios estão sofrendo. Talvez a política esteja tomando nota agora.” Notaram que quando aconteceu a questão das armas químicas, no Conselho de Segurança da ONU, a primeira decisão foi ir e investigar, mas que acontece com a parte médica? “O relatório mostra o que é importante: encontrar os culpados. A vítima não importa.”

Erksoussi é um homem difícil de dissuadir. Os inspetores da ONU não foram enviados para apontar com o dedo os culpáveis, mas ele tem um argumento difícil de rebater. Apontando com o dedo se obtém mais crédito que compreendendo a tragédia pela qual passam os companheiros de trabalho de Erksoussi.

Tomemos as recuperações dos corpos. A maioria deles são soldados mortos pelos rebeldes, dezenas deles. Seguidamente trazidos à casa de Erksoussi de três por vez.

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“Às vezes os insurgentes jogam sujo. Não faz muito tempo, fomos recolher os cadáveres de três soldados. Mas com o último corpo que levávamos, nosso pessoal pensou que algo andava mal. Um dos corpos parecia ter fios. O deixamos em seu lugar. Agora exigimos que todos os corpos sejam examinados antes de entregar. Ambas as partes devem tirar o que seja que tenham os cadáveres, inclusive munições. Eu não quero ter uma granada de mão em uma ambulância…”

Mais recentemente, o Crescente Vermelho esteve transportando alimentos já cozidos a Raqaa, na prisão de Alepo, um grande bloco ocupado pelas forças do governo e pelos guardas, mas totalmente rodeado pelos rebeldes, na qual centenas de prisioneiros – criminosos comuns, detidos e insurgentes inimigos do governo – estão presos em meio da sujeira e da falta de elementos sanitários e de artilharia.

“Conseguimos tirar dezenas de presos que oficialmente haviam terminado suas sentenças e que só necessitavam uma saída segura. Mas a primeira vez que fomos ali, um dos grupos rebeldes disparou uma granada lançada por foguete em um de nossos carros. Erraram. Tudo estava em seu lugar e combinado com todos os grupos, mas um deste grupo disse: ‘Estamos chateados porque vocês não falaram conosco’. Nós dissemos: ‘Bom, vamos gritar da próxima vez. Mas simplesmente não disparem’. Mas mais tarde os insurgentes feriram um voluntário e mataram um juiz do governo que estava conosco. A última vez, tivemos uma equipe em Deir el-Zour e eles foram detidos pelas forças de al-Nusra durante sete horas. Estávamos com uma equipe da Cruz Vermelha Internacional e al-Nusra odeia o que eles chamam ‘a maldita Cruz Vermelha’. Dissemos, bom, ‘você esteve comendo alimentos com cruzes vermelhas da CICR sem preocupar-se muito.”

Erksoussi acha que a luta em torno de Damasco se tornou mais feroz, mas “não se pode ganhar com a força – isto é o que ambos os lados acham agora. O que lhes impede a ambos os lados deter-se é o ‘ego’. Não é como se fossem iguais. Quando um governo acha que luta contra os terroristas ou contra o ‘mal’, tem que ser igualmente responsável pelos civis. Mas, a menos que se detenha a entrada de armas e dinheiro, a luta continuará para sempre. Não posso dizer que este lugar vai ir pro inferno, porque já está nele”.

* Do Independent da Grã Bretanha, especial para o Página/12

Tradução ao espanhol: Celita Doyhambéhère

Tradução ao português: Liborio Júnior

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Comentários

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Nelson

Tenham calma, tenham paciência, senhores! Não sejam apressados. As forças comandadas pelo governo dos EUA logo, logo levarão a democracia e a liberdade a todos os sírios.

Duvidam?

Como bem sabemos, os iraquianos, afegãos e líbios, para ficar só nesses, passaram a experimentar felizes tempos de democracia e liberdade após a chegada dos marines.

    Mário SF Alves

    Isso sem dizer que avançaram séculos e séculos de cultura. Na questão do patrimônio histórico, por exemplo, tudo “100% preservado”.
    ___________________________
    Por patrimônio histórico, entenda-se: patrimônio histórico e cultural da humanidade.
    ____________________________________

Julio Silveira

O ser humano é facilmente manipulável, basta um discurso recheado de boas intenções que a humanidade, por ele, pratica as maiores atrocidades.
Os titereiros do mundo sabem disso e escondem seus reais interesses escusos debaixo dessa capa de boas intenções e boas palavras, apoiados por seus oportunistas, e seus idiotas. Afinal tanta gente já vive neste planeta que algumas vidas anônimas e desnecessárias podem ser perdidas. Desde que não sejam as deles.

Urbano

Deve ser apenas uma subsidiária, pois o demônio nunca teve a intenção de transferir a sede, com todo o seu séquito, para nenhum outro lugar do mundo.

    Urbano

    Com a força (digamos, uma corruptela de Poder) e tecnologia que possui, ele aterroriza de bem longe.

FrancoAtirador

.
.
Por enquanto é só o Purgatório.

A OTAN ainda não chegou lá…
.
.

Regina Braga

O eua,tem o dom, de legar qq país ao inferno!

renato

Eu não sei de nada do que acontece lá.
E tenho certeza que muitos com armas
lá, estão matando e morrendo por seculos
de incoerência, religiosa, politica, enfim
tudo o que qualquer país que queira domina-lo
usaria contra eles mesmo.
Conclusão, serão um povo sempre manipulado
pelos seus próprios sentimentos acumulados
e passados de geração em geração.
Não é a toa que certas religiões vindas
deste lugares já somam milhares de anos.
Agora…que alguém esta se aproveitando
isto esta, e não é um só país, é uma raça.

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