Cameron não conseguiu convencer nem o seu próprio partido a apoiar Obama na guerra contra a Líbia
Pela primeira vez em cinquenta anos, a Câmara dos Comuns do Reino Unido votou contra a participação do país numa guerra imperial. Consciente da profunda e persistente oposição no país e no aparelho militar, os deputados decidiram representar a vontade do povo. Por Tariq Ali
por Tariq Ali, em Carta Maior
Alegrai-vos. Alegrai-vos. A primeira corrente de vassalagem foi quebrada. Eles vão arrumá-la, sem dúvida, mas festejemos a independência enquanto dura. Pela primeira vez em cinquenta anos, a Câmara dos Comuns votou contra a participação numa guerra imperial. Consciente da profunda e persistente oposição no país e no aparelho militar, os deputados decidiram representar a vontade do povo.
Os discursos dos três líderes foram quase patéticos. Nem a emenda da oposição nem a proposta de guerra conseguiram reunir o apoio suficiente. Foi tudo o que precisávamos. Os cerca de trinta dissidentes conservadores que tornaram impossível a participação britânica, votando contra a sua liderança, merecem o nosso agradecimento. Talvez agora a BBC comece a refletir a opinião popular em vez de agir como a voz dos belicistas.
Tendo em conta o estatuto internacional britânico como comparsas de Washington no derramamento de sangue, esta votação terá um eco global. Nos próprios Estados Unidos, a votação em Londres fará crescer a inquietação, já bem evidente nos briefings off-the-record à imprensa dizendo que não existem provas sólidas que liguem o regime ao ataque com armas químicas. “O quê?”, perguntarão entre si os cidadãos norte-americanos. “O nosso seguidor mais leal está a desertar nas vésperas dos ataques?”
O que significa isto, não deveríamos estar a debater o assunto? A linguagem de Obama nas entrevistas de 29/8 não foi diferente da de Bush. Ele disse mesmo que a razão para o assalto previsto era que aquelas armas químicas “poderiam ser usadas contra os Estados Unidos”. Por quem? Pela Al-Qaeda, etc. Desculpem. Mas eles não estão ao seu lado neste conflito e o objetivo dos ataques não é o de fortalecer um dos lados contra o outro nesta guerra civil repulsiva?
Entretanto, também na Europa a votação do parlamento britânico repercute como uma onda de choque. A elite alemã (à exceção do seu elemento Verde) tende a ficar nervosa com as guerras. Isso deixa François Hollande no papel do único apoiador entusiasta de Washington na primeira linha da UE.
Quem é agora o cavalo de Tróia na Europa? Cameron culpou Blair e a Guerra do Iraque pelo ceticismo que predomina no país. É verdade. Mas não nos esqueçamos de que os conservadores também apoiaram solidamente essa guerra. Lembro-me de ter debatido na televisão nessa altura com Gove [atual ministro da Educação]: ele era pior que a maioria dos apologistas de Bush nos Estados Unidos.
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É verdade que se lhes mentem uma vez, as pessoas ficam menos inclinadas a acreditar novamente no governo sobre esses assuntos. Cameron até fez uma imitação aceitável de Blair, mas os tempos estão a mudar. E não conseguiu convencer o seu próprio partido.
Enquanto isso, Washington está determinada a avançar sozinha com a França a reboque. É por isso que demasiados festejos são prematuros. A ‘Stop the War Coalition’ britânica não tem equivalente na Europa ou na América. Mesmo em épocas de isolamento (a invasão e bombardeio da Líbia, por exemplo), a pressão manteve-se em alta.
*Publicado em Information Clearing House. Tradução de Luís Branco, do Esquerda.net.
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Comentários
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José X.
Confesso que me surpreendi com essa votação, dado que a sabujice dos europeus em relação aos EUA é uma coisa inacreditável. Mas tenho certeza que o Cameron vai dar um jeito de ajudar os americanos por baixo dos panos.
Aliás, dada a crescente insanidade que os americanos vêm demonstrando, e a subalternidade vergonhosa dos europeus, será que o Brasil ainda vai comprar aqueles caças franceses ? O negócio é voltar atrás e comprar dos russos mesmo.
Álvares de Souaz
E pensar que Obama foi agraciado com o Nobel da Paz!!!!
NY
Acho que ele foi apenas indicado ao premio
alvaro
Se isso se confirmar, vai ser difícil para o Jabor justificar o ataque norte-americano à Síria utilizando a surrada e cabotina expressão “as forças aliadas do Ocidente…”.
Rodolfo Machado
Pepe Escobar – “EUA: Nação indispensável (para bombardear)”
http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/09/pepe-escobar-eua-nacao-indispensavel.html
Síria: “A charada dos Troodos” Foi Israel! Foi Israel mais uma vez!
http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/09/siria-charada-dos-troodos.html
Mário SF Alves
Rodolfo,
Segui a sugestão de link. E… na melhor das intenções, e em consideração ao último parágrafo da análise do Pepe Escobar, disse o seguinte:
“O ministro russo de Relações Exteriores Sergei Lavrov falou de “caos controlado”. Não. O Império do Caos está totalmente fora de controle.” Pepe Escobar.
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Ponto.
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E a culpa é de quem mesmo?
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Do vírus, claro; teria dito Marx, que há mais de um século “profetizou” quanto a isso. Só não disse que o vírus seria constituído de zeros e uns, de bits e bytes, mas, enfim, e ainda assim, vírus.
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E por falar nisso, logo, logo, possivelmente, teremos notícias de a “rebeldia dos drones”.
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Errei feio. Marx que me perdoe. O vírus ao qual ele se referiu foi o vírus da ambição desmedida e motor do capitalismo. E o que bits e bytes têm a ver com isso? Nada além de dinamizar, de acelerar e potencializar o processo.
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Seja como for, obrigado.
Rodolfo Machado
Agressão à Síria: a fraude, 12 objetivos e 8 consequências
http://www.diarioliberdade.org/artigos-em-destaque/408-direitos-nacionais-e-imperialismo/41450-agressom-%C3%A0-s%C3%ADria-a-fraude,-12-objetivos-e-8-consequ%C3%AAncias.html
O alvo do ocidente é o Irã, não a Síria
http://www.diarioliberdade.org/artigos-em-destaque/408-direitos-nacionais-e-imperialismo/41500-o-alvo-do-ocidente-%C3%A9-o-ir%C3%A3,-n%C3%A3o-a-s%C3%ADria.html
A CIA “fabricou” o ataque com armas químicas para justificar o bombardeamento contra a Síria
http://www.diarioliberdade.org/artigos-em-destaque/408-direitos-nacionais-e-imperialismo/41419-a-cia-%E2%80%9Cfabricou%E2%80%9D-o-ataque-com-armas-qu%C3%ADmicas-para-justificar-o-bombardeamento-da-siria.html
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