A PERSEGUIÇÃO COMEÇOU?
por Jandira Feghali*
Esta semana assisti mais um lamentável episódio das práticas sectárias no Congresso Nacional. De forma questionadora, o deputado João Campos (PSDB/GO) e membro da bancada evangélica, protocolou uma questão de ordem na presidência da Câmara dos Deputados reagindo à criação da Subcomissão Especial destinada a tratar dos assuntos afetos à Cultura, Direitos Humanos e Minorias dentro da Comissão de Cultura, a qual presido.
No documento, o parlamentar diz que a criação de um espaço democrático no colegiado, a pedido dos deputados Jean Wyllys e Fátima Bezerra – ambos membros titulares de nossa Comissão – é “invasão de competência” contra a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDH).
Faço um parêntesis: em 1846, o alemão Wilhelm Weitling se queixava em relação aos intelectuais Karl Marx e Engels que só escreviam sobre temas que não interessavam aos trabalhadores. Pois bem, eis que Marx respondeu na época: ‘A ignorância nunca ajudou a ninguém’, registram os livros. Já em nosso dicionário, a palavra ignorância se refere a falta de conhecimento geral sobre um assunto ou tema e, como se sabe, é preciso um pouco mais de informação sobre o tema da Cultura, escopo da nossa Comissão, com os temas referentes à diversidade, muitas vezes combatidos pela intolerância ideológica e/ou religiosa.
A criação da Subcomissão é um passo importante na luta pela preservação de práticas culturais devastadas pela opressão, inclusive econômica. E falar isso no Brasil me dói, porque somos uma das pouquíssimas nações do mundo que conseguiram ao longo de sua história confluir suas diferentes culturas, surgidas de um caldo fervoroso de imigração e miscigenação. Quando abordo a necessidade de se criar um espaço na Comissão para que um grupo de deputados fomente o tema, estou me referindo diretamente sobre o “rasgo” que a desigualdade social traça nessas culturas. Exemplo são os índios Guarani Kaiowá, torturados, violentados e mortos em suas terras nos estados do Centro-Oeste.
Mas falar da defesa dos Direitos Humanos é ir do direito à alimentação ao direito de preservar culturas. Falar de minorias é falar dos quilombolas e das culturas tradicionais que correm o risco de marginalização pelo preconceito do fundamentalismo religioso, este que avança numa agenda implacável de segregação e terrorismo moral. É contra terreiros de Umbanda, Candomblé, das rodas de jongo ou capoeira. É a cultura africana, entrelaçada com a nossa, que cultua deuses e orixás e, como todas as outras manifestações culturais e religiosas, precisam ser preservadas e defendidas em sua liberdade de manifestação.
A Comissão de Cultura foi criada este ano com um escopo largo e abrangente, onde cabem assuntos referentes à diversidade, minorias e liberdade de expressão. Trabalhará com todas as comissões do Congresso que compreendam a importância de integrar políticas públicas e movimentos sociais. Resta lamentar a crise de legitimidade que a CDH vive hoje, assim como atitudes como a do deputado, que questiona a ação justa e transformadora de nosso colegiado.
*Jandira Feghali é deputada federal e presidente da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados
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Comentários
Mardones
Parabéns pela iniciativa da Deputada. E infelizmente o peso dos votos católicos é tão grande, que mesmo quem lutou contra a ditadura vem mostrando receio de enfrentar os religiosos. Uma lástina.
Fabio Passos
A intolerancia dos fundamentalistas esta explicita.
Nao querem permitir que as questoes culturais relativas a direitos humanos e direitos das minorias sejam sequer discutidas no Brasil.
Que os medievais guardem este odio e pre-conceito apenas para si mesmos.
Toda solidariedade a Jandira e a Comissao de Cultura.
Maria A.
Salve! Jandira! Assim que se fala.
Fernando
imaginem a marina ou qualquer outro líder religioso fundamentalista de extrema direita, ou um testa de ferro deles na Presidência da Republica….no que vai virar esse país!!!!….vai ser um inferno morar no Brasil no dia em que esses fundamentalistas assumirem o poder!!!!
mineiro
so sei que estou numa encruzilhada , de um lado se eu deixar de votar nesse poste de pres.traidora que coligou com o pig golpista e os poderosos . e de outro lado mesmo votando nulo os demonios tucanos dos quintos dos infernos na pele do rato de esgoto , o playboizinho do aecinho vai ganhar , junto é claro com o tridor do eduardo campos. entao é um dilema grande para nos , uma quer ser da direita e esta quase sendo , mas ainda nao pode. o outro é um demonio disfarçado , porque se ganhar politicas as da deputada vai para o ralo de vez e nos todos vamos direto para o fundo do poço de vez . ta feia a coisa. se nos nao nos mobilizarmos para pressionar os ditos partidos progressista a tomar um rumo, estamos sim numa encruzilhada mesmo.
Azuir ferreira Tavares Filho
Saudação Fraterna ao Caro Amigo.
A Sua Encruzilhada é benigna porque você sabe que existe :”um PIG, e os demônios tucanos dos quintos dos infernos na pele do rato de esgoto , o playboizinho do aecinho , o taidor do eduardo campos., e deve de adicionar que o Judiciário esta minado do mal.
Mesmo assim, Vivemos as melhores condições de luta de toda a nossa História do Brasil. Dilma foi eleita com quase 60% dos Votos, contudo só elegemos no PT, mais ou menos 94 dos 520 Deputados e a Luta faz-se muito dura com as coligações que temos de fazer e que muitos não estão preparadas para contribuir em nada. Veja a Força Sindical e o Deputado Nascimento dos Direitos Humanos. Enquanto isso lhe asseguro que nossos ameaçados de condenação são heróicos. Todas estas condições nos animam a enfrentar qualquer canhão. O Para é argentino do Carlos Gardel, do Maradoma e Messi, do Che Guevara, do Esquivel, da Unasul e do Casal Kirchner. Argentino é Nosso Irmão e Deus é Brasileiro. Boa Sorte para você e para os Brasileiros com Dilma em 2013 e o Brasil fazendo uma bela Copa do Mundo como Prenuncio do que vão ser as olimpíadas. Valeu Brasileiros e Argentinos no Compromisso de Garantir os latinos agora com a Perda do Chavez. Valeu Lula, valeu Dilma e valeu ZUMBO. DEUS seja Louvado.
Jane Oliveira
Jandira, continue firme na sua luta pelo povo. Não se importe com as denúncias surgidas sobre enriquecimento de membros de sua família. Elas são tentativas desesperadas de calar sua voz. Siga em frente companheira!
Edgar Rocha
Francisco, embora concorde com tua análise e a real possibilidade de nos tornarmos uma nação conflituosa diante de um Estado fundamentalista (oportunista, sobretudo), devo acalmá-lo e dizer sinceramente que confio no nosso taco. Se há algo com o qual o povo brasileiro (entenda-se a grande massa que se admite mestiça, descendente de negros, índios e brancos marginalizados em sua terra-natal)teve de lidar desde 1500, já com a tarimba advinda de suas matrizes africanas, indígenas e portuguesas, é o autoritarismo e segregacionismo de seus governantes. Não há nenhum rompante absolutista que não possa ser superado pela inteligência subversiva de nossa gente. Acho que falta isto aos nossos deputados. Covardia emburrece e eles têm medo de tudo. Esta astúcia é algo que já se fixou no DNA e nosso inconsciente coletivo, basta que nossos representantes deem ouvidos a sua intuição. Desenvolvemos uma sagrada casca de jacaré, uma paciência e uma astúcia incomparáveis. O que propus em meu comentário é justamente tentar supurar a hipocrisia presente na argumentação destes setores autoritários, deste lúmpen político/religioso que perverte premissas aclamadas pela sociedade em veículos para a manutenção de seu próprio descaramento. Ora, se podem instrumentalizar uma comissão em defesa das minorias, pervertendo-a em mecanismo de controle e contenção de avanços do Estado de Direito, cabe a sociedade reivindicar o controle equânime sobre esta onda fundamentalista. Se dependesse de mim, seria mais do que justo colocar em discussão a legitimidade religiosa e filosófica destas seitas, uma vez que se aproximam muito de grupos extremistas como os neo-nazistas e contribuem para a desestruturação da sociedade através de crimes cometidos à luz do dia em seus “cultos”. A sociedade deveria levar a tribunal cada uma das práticas amplamente documentadas, espremê-los até que sejam capazes de admitir que não cabe ao Estado interferir na religiosidade de ninguém, tendo por premissa garantir este direito a todos. E, sobretudo, exigir que estas seitas provem perante o estado que possuem mesmo uma finalidade religiosa e não são nada além de máfias, sob pena de prender seus praticantes por formação de quadrilha, estelionato e crimes contra a economia e direitos humanos. Uma comissão para avalizar e gerir, seria um apontamento nesta direção. Quero ver se vão correr o risco de levar adiante este golpe contra as liberdades individuais. E quero ver se vale à pena atentar contra soberania de nossas tradições, de nossa diversidade, como fazem.
Sada Akiyama
Os deputados devem denunciar proselitismo religioso no Congresso. Bancada Evangelica é mesmo que bancada de BANDIDOS , porque na verdade não são evangelicos. Se dizem evangelicos, mas não são.POR FAVOR USEM OUTRO NOME DIFERENTE DE EVANGELICOS. Eles são vergonha para EVANGELHO. Evangelicos são religiosos e respeitam seres humanos , respeitam a vida, e sabem que fé é construção individual. E SABEM MUITO BEM O PAPEL DO PARLAMENTO. Parlamento não é lugar de maquinar melhor modo de tomar dinheiro de pobres. Esses chamados evangelicos que pululam em cada esquina das cidades brasileiras são apenas chefes de caça niqueis com palavras e citações da Biblia que nem mesmo eles sabem o que significam. Embusteiros , ladrões de pessoas fragilizadas por doenças, desempregos , ou outras dificuldades financeiras. Parem com hipocrisia e botem fim nesses picaretas que usam a Biblia e roubam dinheiro dos pobres em nome de Deus dentro do Parlamento. Vejam que não estou inventando. Assistam TVs ou mesmo a fala que circula na internet e que saiu da boca desse deputado que diz ser evangelico. E respeitem os VERDADEIROS EVANGELICOS. CADA BRASILEIRO SABE MUITO BEM IDENTIFICAR NO MEIO DO POVO OS VERDADEIROS EVANGELICOS. Mas no Congresso , os deputados devem por fim a esses picaretas.
Francisco
O Candomblé e a religiosidade dos povos indigenas tem uma relação totalmente diversa ao homossexualismo e à condição feminina da que tem o cristianismo. O homossexualismo é encarado com naturalidade e, no caso das mulheres, o seu posto é de relevo – na fé e na condução da sociedade.
Ao longo da nossa história como nação, essas manifestações culturais marginalizadas, a despeito de amplamente majoritárias, atuaram num processo lento e elegante de aperfeiçoamento das formas de cristianismo aqui vigentes. Na verdade, podemos dizer sem medo de errar que os ritos afro-brasileiros (bem como a tradição indigena) contribuiram decisivamente para que o nosso país não só fosse uma terra de tolerância, mas também de fusão. Jamais veremos um cristão limpando e lavando um terreiro de candonblé, o inverso o vemos todos os anos na Bahia…
O sinal distintivo da brasilidade é a miscigenação, a “mulatice”. De tudo.
Sinto informar aos desavisados que quem não tem o corpo ou a alma, a cultura ou os valores miscigenados não tem a menor condição de se declarar brasileiro. Há que amulatar-se.
Os cultos neo-pentecostais, beneficiários das suas primeiras concessões de rádio diretamente das mãos do General Presidente Geisel, foram amplamente estimuladas pela ditadura militar a ser linha auxiliar do regime, onde os setores progressistas da Igreja Católica se negavam. Talvez dai um certo vicio pelo impositivo e pela propenção a pôr o Estado a forçar adeptos e não adeptos a adotar suas práticas. Usando os nossos impostos…
A critica ao arbitrio, feita por menbros de várias religiosidades, inclusive a protestante tradicional, se somou ao movimento social por uma Constituição Federal da ampla tolerância. Nós o povo assim a fizemos.
Não é o caso dos neo-pentecostais. Esses neofitos, recém chegados sob encomenda da ditadura, estão a querer regular um Estado de tolerância construido com muito sacrificio e renuncia, particularmente do povo negro e indigena, ao longo de séculos. Ora, paciência tem limite.
O que essas pessoas mergulhadas no próprio umbigo não se dão conta é que essa mentalidade do “tudo ou nada”, do “bullyng” e do “apartheid” é totalmente incompativel com a “mulatice”. É coisa de gringo, de gente que não consegue enxergar a realidade na sua riqueza e complexidade. Ou é homem ou é mulher e não há nada no meio do caminho. É calvinismo intolerante e incompativel com a nossa história. O povo e a cultura brasileira se fizeram mulatos como condição de existência. Quem não se amulatou aprendeu a respeitar as mulatices alheias (caso de Batistas, Adventistas, etc). E conviver.
Sem povo, cultura, arte, religião “mulata”, não há Brasil. O que há então?
Há o Oriente médio.
Se desejam perseverar nessa rota, os neo-pentecostais, não posso garantir que o “povo de santo” suporte ter seus terreiros e direitos invadidos por mais trezentos anos. Não posso garantir que homossexuais suportem mais tanto tempo sem religiosidades que lhes sejam acolhedoras – e humanitárias. Não posso garantir que as mulheres renunciem ao orgasmo por mais quatrocentos anos – ao orgasmo e à posse dos seus próprios corpos.
Portanto, mantendo-se essa rota oportunista (sendo negro e habitante deste país deste 1538 não tenho o direito à ingenuidade politica…) posso prever para todos nós um encontro próximo com os deuses, orixás e inquices.
Sim, viraremos um Oriente médio.
Eles lá, os deuses, vão decidir quem é martir e quem é algoz: quem bate ou quem apanha, quem é covarde ou quem é pacifico, quem destila ódio ou quem ama, quem aparta ou quem une.
Sábio de nossa parte seria decidir por viver a própria vida respeitando o espaço dos demais e, como dizia Voltaire “cultivar o próprio jardim”.
Edgar Rocha
Longe de qualquer atitude irônica de minha parte, ou desrespeito perante qualquer manifestação cultural, gostaria humildemente de sugerir à nobre deputada a criação de uma SUBCOMISSÃO PARA ASSUNTOS EVANGÉLICOS. Não é novidade para nenhum brasileiro que, a tão maculada Comissão de Direitos Humanos e Minorias fora alvo de uma inconsequente negociata partidária em que, ignorados os critérios de responsabilidade social perante o direito inequívoco de liberdade de culto e respeito à diversidade, entregou-a de mão beijada a parlamentares cuja pauta de trabalho, passado político e posicionamento pessoal apregoam justamente o contrário, convertendo esta que serve como maior instrumento para a preservação social e cultural dos grupos mantenedores de tão valioso patrimônio nacional num tribunal de julgamento moralista, preconceituoso e unilateral sobre grupos aos quais pretendia-se, em tese, defender e fomentar sua valorização. Não obstante, o despudor da bancada representante da minoria evangélica/fundamentalista em apossar-se de um espaço cujo o objetivo é defender a sociedade contra atitudes criminosas de segregação social de qualquer natureza (objetivo este contradiz totalmente seu discurso e seus “fundamentos”)não permite outra conclusão senão a de que o propósito de tal ocupação seja a sabotagem e anulação da referida comissão, uma vez que não lhes é interesse a garantia das prerrogativas para as quais esta se destina atender. Contudo, dadas as brechas do jogo democrático permitirem tal manobra (seria o mesmo que submeter o Ministério de Meio Ambiente a um representante ruralista, ou uma Secretaria de Saúde a um líder de tráfico de órgãos, enfim estas coisas ocorrem…), é justo pensar na máxima da teoria política e sociológica do ilustre pensador brasileiro “Seu Zé das Couves”: a dor de barriga não dói de um lado só. É inegável que a força política da bancada evangélica/fundamentalista supera em muito sua representatividade social e numérica (no que tange ao parlamento). Dada esta representatividade ser diametralmente oposta aos interesses do Estado Brasileiro, do povo brasileiro e de todo o conjunto da sociedade composto pela grande colcha de minorias que nos compõem enquanto nação e identidade cultural, nada mais justo que tal fenômeno seja visto sim, como uma questão de interesse coletivo, ao qual, por direito mais que legítimo deve ser passível de regulamentação, avaliação e escrutínio de todo o restante da sociedade. Que se forme uma comissão composta exclusivamente de não evangélicos, capazes de tratar e regulamentar (a partir das premissas legais) a ação e o impacto social desta minoria sobre o direito e atuação das demais. A razão pela qual defendo tal proposta é a defesa da laicidade do Estado e a defesa dos direitos constitucionais estendidos a todos os cidadãos, independente de raça, cor ou credo. A interferência direta das deliberações religiosas e morais de um grupo específico, embora inevitáveis no jogo democrático e republicano dado sua importância política, confere por equivalência a todo o restante da sociedade o direito de gerir e legislar sobre este grupo específico, da mesma forma que ele pode deliberar, legislar e interferir nas ações de grupos que não compartilham dos mesmos “valores” a despeito dos direitos constitucionais e das prerrogativas da comissão a qual ocupam, sendo portanto um grupo de exceção em relação ao Estado e à Constituição federal. Cabe a sociedade agir diante deste fenômeno antropológico chamado evangelismo/fundamentalismo a fim de garantir a segurança, e os direitos de todo o restante da população por eles excluída e excluível.
renato
Eu também acho, gosto muito do Jean Wyllys e Fátima Bezerra.
São duas sumidades na área do conhecimento a se transmitir
para população.
Mas,por isto, é que, eu acho que, penso que, ….
Não conseguem conversar entre si, como vão resolver os
problemas do Povo.
Não conseguem conversar, decidir, legislar,…ah, então vou
criar uma sub-secretaria.
Me poupem, eu assisto Tvs do Governo, vira só em falatório.
As decisões são feitas pelo caminho da conversa, explanação
das idéias, etc. SEM sub secretária. O dinheiro do Povo não
aguenta vocês. Decidam de onde estão….todos. Se ajeitem.
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