Breno Altman: Livre de Chávez, direita agora quer limitar atuação de Lula
Tempo de leitura: 3 minPor que a direita ataca viagens de Lula?
Liderança do ex-presidente continua importante para integração da América Latina, ainda mais depois da morte de Hugo Chávez
por Breno Altman, no Opera Mundi
Com o estardalhaço de praxe, parte da imprensa tradicional dedicou-se, na semana passada, a criticar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por suas visitas a distintos países. Além do objetivo mais evidente, de encontrar alguma forma para desgastar sua liderança popular, há outro propósito, menos aparente: limitar o ativismo internacional no qual Lula tem se empenhado desde sua primeira eleição. Talvez não haja outra agenda, no bojo da estratégia de reformas sem rupturas, na qual tenha sido estabelecida reviravolta tão profunda.
O ex-presidente, nesse tema, comandou um cavalo de pau, apoiado pelo tripé de assessores formado por Celso Amorim, Samuel Pinheiro Guimarães e Marco Aurélio Garcia. A mirada colonizada da oligarquia brasileira, sempre voltada para os países centrais do capitalismo, foi substituída por um novo programa.
Ao mesmo tempo em que foram estabelecidas medidas de defesa da soberania nacional (a mudança no sistema de exploração do petróleo e o fim da tutela do Fundo Monetário Internacional são bons exemplos), o Brasil estabeleceu como eixo de sua diplomacia a integração latino-americana, o diálogo com as nações do sul e a articulação das potências emergentes.
]Os laços de dependência financeira, comercial e tecnológica com os Estados Unidos e a Europa começaram a ser desatados. O enterro da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), desse ponto de vista, provavelmente foi o capítulo mais simbólico dessa empreitada. Mas também se destacam a criação da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) e da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), as novas relações com Rússia e China, o protagonismo na África. Novas forças na América Latina Estas mudanças não refletiram apenas os interesses brasileiros em buscar novos mercados e ampliar perspectivas para o desenvolvimento econômico.
O ex-presidente, aliado a outros líderes do continente, especialmente o venezuelano Hugo Chávez, deu forte impulso à costura de um bloco histórico que se contrapusesse à hegemonia norte-americana. O centro geográfico dessa estratégia foi identificado na América Latina, como seria natural, mas estendeu-se a outros rincões. O surgimento de instituições do subcontinente sem a participação de Washington e a incorporação de Cuba à Celac são o saldo mais visível dessa política, que abre caminho para passos ainda mais ousados. A OEA (Organização dos Estados Americanos), certa vez apelidada por Fidel Castro de ministério da Casa Branca para as colônias, vive o outono de sua existência.
Lula também comprou outras brigas, dentro e fora da região. A solidariedade com a Venezuela, durante a crise política do biênio 2003-2004, foi decisiva para deter a escalada agressiva de Bush e defender o projeto chavista contra o risco de desestabilização. A reação contra o golpe em Honduras (2009), enérgica e sem contemplação, é um contraponto inequívoco a Fernando Henrique Cardoso, que bateu palmas para Fujimori quando esse fechou o parlamento peruano e chegou a condecorar o tiranete de Lima. Agência Efe
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Sob a batuta do ex-presidente, países árabes e sul-americanos fizeram sua primeira conferência e o apoio à causa palestina virou assunto relevante nessa parte do mundo. A guerra ao Iraque foi nitidamente condenada. As represálias ilegais contra o Irã foram rejeitadas e tentou-se, junto com a Turquia, criar uma nova ponte para a saída diplomática e o respeito ao direito daquele povo à autodeterminação. No auge da crise econômica de 2008, Lula foi uma das vozes mais críticas ao modelo que havia levado os países desenvolvidos às beiras do colapso financeiro, denunciando como antipopulares as chamadas medidas de austeridade, caracterizadas por drásticas reduções dos gastos públicos, salários e empregos.
Quem irá esquecer a feição patética do ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown quando o fundador do PT disse, em reunião bilateral, que a crise tinha sido provocada pelos loiros de olhos azuis? Importância atual Estas e outras são razões de sobra para a direita querer Lula de pijama, também na atividade internacional. Sua liderança, afinal, continua a ser decisiva para a geopolítica do que o argentino Manuel Ugarte, nos idos de 1922, alcunhou de Pátria Grande. Ainda mais com a morte de Chávez e a saída de cena do chefe histórico da revolução cubana.
Diante dos ataques da mídia conservadora a suas viagens, no entanto, o ex-presidente deu resposta à altura. Gravou vídeo de franco apoio a candidatura presidencial de Nicolás Maduro, nas próximas eleições venezuelanas. A direita terá mais razões para chorar as pitangas.
*Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel
Comentários
Igor Felippe: A campanha da Folha contra a eleição de Maduro – Viomundo – O que você não vê na mídia
[…] Breno Altman: Livre de Chávez, direita agora quer limitar atuação de Lula […]
augusto2
para o breno: outro dia tive um sonho absurdo. As vezes a gente sonha coisas que poderiam acelerar a Historia,né? Delirei que com esse objetivo de aceleraçao, de repente China, Russia e Africa do sul convidam um sexto para fazer parte ativa do bloco Brics. Exatamente a venezuela.Afinal nada impede.. Em troca com seu cacife fazem a Caracas uma oferta irrecusavel. E dai? Somavam mais 290 bi de BBL de energia ao bloco mais importantes etcéteras. o que Celso amorim disso diria?E que porrada geopolitica no castelo imperial. A reaçao viria, nem imagino como.
Fernandes
Grande Lula.
FrancoAtirador
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A PÁTRIA GRANDE E A OUTRA ECONOMIA (*)
Por Valter Pomar,
Um ponto de partida: vivemos um momento de crise. Crise econômica, social, política, militar, ideológica, ambiental, energética. Alguns falam em crise civilizacional.
Naturalmente, a crise não é igual para todos. Pessoas pobres e ricas, países mais ou menos desenvolvidos, experimentam a crise de maneiras diferentes. E reagem de maneira distinta, também.
Como serão as coisas depois da crise? Não sabemos. O que sabemos é que podem ser iguais, piores ou melhores, a depender das soluções que prevaleçam aqui e agora, hoje e amanhã, para enfrentar a crise.
Não temos motivos para comemorar as crises. Nelas, quem mais sofre são os mais fracos, os mais pobres, os mais desprotegidos. Mas tampouco temos motivos para temer as crises. Da reação que tenhamos frente à crise, pode surgir um mundo melhor.
Um exemplo disto está em nossa América Latina e Caribenha. Depois da chegada dos europeus ao que hoje é nosso território, fomos convertidos em fonte de riquezas que serviram ao desenvolvimento do capitalismo na Velha Europa.
Pois bem: quando a Velha Europa entrou em crise, na época que alguns historiadores chamam de Era das Revoluções (1750-1850), o Novo Mundo experimentou a oportunidade para seguir um caminho próprio. Foi a época das Independências em nosso continente.
Passada esta época, o Velho Mundo e sua extensão (os Estados Unidos, que surgiram exatamente na época das Independências) converteram mais uma vez nosso território em fonte de riquezas, mercado consumidor e local para exportação de capitais. Antes colonialismo, agora imperialismo, mas as veias seguiam abertas e sugadas.
Mas, quando o Velho Mundo e os EUA entraram em crise (entre 1914 e 1945), com direito a duas guerras mundiais e uma grande depressão econômica, foi o momento em que parcelas importantes do Novo Mundo conseguiram industrializar-se, somando independência política com independência econômica.
Depois da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos assumiram sem contestação a direção do mundo capitalista. Era uma época de muitas novidades, tais como: o surgimento de um “campo socialista”, composto por União Soviética, vários países do Leste Europeu e China; a consolidação do chamado “Estado de Bem Estar Social” na Europa, combinando altas doses de democracia política, políticas públicas em benefício dos trabalhadores e intenso desenvolvimento econômico capitalista; o fim das colônias européias na África e Ásia, com a fundação ou independência de dezenas de países, entre os quais a Índia, o Vietnã, Angola e Moçambique; e, na América Latina, a adoção de políticas desenvolvimentistas, para tirar nossa região do atraso. Além disso e por tudo isto, foi também uma época de grandes mudanças científicas e culturais. Sintetizando tudo, alguns historiadores gostam de chamar este período de 25 anos de ouro do capitalismo (1945-1970), ou seja, quando pareceu que o capitalismo podia ser compatível com bem-estar, democracia e integração entre os povos.
Hoje sabemos que isto não era verdade, nem naquela época, nem depois. Para a maior parte dos povos do mundo, o período de 1945-1970 foi de luta contra a opressão e a exploração. O capitalismo coexistiu com certo bem-estar, apenas naquelas regiões onde as grandes empresas podiam fazer concessões aos trabalhadores locais, porque compensavam isto com a exploração de trabalhadores em outras regiões do mundo.
O pior, contudo, ainda estava por vir. Mais ou menos em 1970, o capitalismo entrou em uma nova crise internacional. E para enfrentar esta crise, os capitalistas deflagaram uma campanha ideológica, política e econômica cujo objetivo era desmontar todos os avanços e todas as conquistas que os trabalhadores e os povos haviam conseguido, depois de 1945.
Hoje, 43 anos depois, olhamos para trás e podemos dizer: a ofensiva neoliberal começou em 1970. A lista de vítimas é extensa: os países africanos, que ganharam independência política mas foram recolonizados economicamente; os países latinoamericanos, envolvidos na crise da dívida externa, tiveram suas economias destruídas, privatizadas, saqueadas; as políticas de bem-estar nos EUA e na Europa. E, entre as vítimas indiretas, o socialismo existente na URSS, que caiu sob o efeito combinado de seus próprios problemas e dos ataques do capitalismo neoliberal.
Portanto, tivemos duas crises que tiveram desdobramentos relativamente benéficas e uma crise que nos foi extremamente prejudicial. Hoje, vivemos uma quarta grande crise, a crise do capitalismo neoliberal. Saberemos aproveitar a oportunidade?
Primeiro, é preciso entender esta crise. Em poucas palavras, é uma crise composta por três grandes componentes: a crise do neoliberalismo (ou seja, da economia controlada por grandes bancos e transnacionais), a crise dos Estados Unidos (que como todo Império, chegou naquela fase em que não consegue mais financiar os custos de sua própria manutenção) e a crise do Velho Mundo (que desde 1500 hegemoniza o mundo, mas agora está vendo o poder deslocar-se em direção à outras regiões do planeta Terra).
Em segundo lugar, é preciso compreender quem somos e como estamos. América Latina e Caribenha é uma das grandes potências do mundo, não no sentido do que somos hoje, mas no sentido do que podemos vir a ser, dado o nosso potencial natural, aqüífero, biogenético, energético, humano, cultural, tecnológico e político.
Para que este potencial se transforme em realidade, é preciso fazer entender que a soma multiplica a força das partes. Se nossa região constituir um bloco regional, se instituições como a Unasur e a Celac (Comunidade estados latinoamericanos e caribenhos) funcionarem. isto poderá converter em realidade aquilo que hoje é apenas uma potência.
Mas para que a integração seja possível, é preciso que ela seja abraçada pela maioria dos povos de cada um de nossos países. Ou seja: precisamos de uma maioria política favorável a integração latinoamericana e caribenha. Mas esta maioria só vai se formar sob duas condições.
A primeira é que a maioria de trabalhadores pobres que constitui nossa população, o povo, veja na integração um caminho para melhorar nossa vida. Isto só acontecerá se formos capazes de construir outra economia, qualitativamente diferente da que se construiu ao longo dos últimos séculos em nossa região.
Em poucas palavras, sair de uma economia à serviço de gerar lucros para uma minoria, para uma economia organizada em torno do objetivo de elevar continuamente a qualidade de vida de todos. Noutras palavras, colocar a riqueza produzida por todos os latinoamericanos, à serviço de todos os latinoamericanos.
Como se faz isto?
Fácil de falar: através de políticas econômicas que garantam crescimento, emprego, salário adequado, renda para os que ainda não trabalham e para os que já trabalharam o suficiente, investimentos públicos em educação, em saúde, em habitação, em cultura. Financiadas por políticas tributárias progressivas (quem taxem mais os mais ricos) e por uma gestão econômica que elimine o controle que as transnacionais, o agronegócio e os grandes bancos mantém sobre a economia.
Difícil de fazer: pois os ricos, os poderosos, têm mil e um mecanismos para manter a economia, a sociedade e a política funcionando a seu serviço. E também difícil porque há muitas diferenças entre os países de nossa região, o que significa que os países mais ricos precisam ajudar os países mais pobres, sob pena da desigualdade prosseguir para sempre.
Difícil de fazer, mas não impossível. O que nos remete para a segunda condição a que nos referimos acima: a formação de uma consciência latinoamericana, democrática e popular, comprometida com um novo mundo.
Hoje, a maioria dos que vivem em nosso continente formam sua visão de mundo com base nas idéias difundidas pela indústria cultural, pelos grandes meios de comunicação, pelas escolas tradicionais e por visões religiosas conservadoras. Além disso, passam parte do seu dia submetidos a uma disciplina laboral concebida exatamente pelos que controlam a sociedade que queremos mudar.
Sem mudar isto, sem formar uma nova consciência popular, latinoamericana, democrática e popular, comprometida com um novo mundo, consciente de que é preciso organizar de outra forma a economia, não conseguiremos formar uma maioria política favorável a integração. E sem integração não teremos nova economia. E sem nova economia, quando a crise atual passar, nos veremos em situação igual ou pior do que a atual.
Motivos de otimismo? Sim, claro. Nunca os setores populares latinoamericanos tiveram tanta força. Basta olhar quem ocupa a presidência da maioria dos países da América do Sul, para ver a diferença. Saberemos, nós todos, inclusive nossos presidentes e presidentas, aproveitar esta força para realizar as mudanças necessárias? Ou nos consolaremos em tirar o bode da sala, reconstruindo aquilo que foi destruído pelo neoliberalismo, para ao final da operação estarmos de volta ao ponto de partida, ou seja, a como éramos e vivíamos antes do neoliberalismo, época em que nossos pais e avós lutavam por um mundo melhor, porque aquele também lhes parecia insuportável?
Estas são as questões que temos que enfrentar. Se tivermos êxito, teremos Pátria Grande.
(*) Texto escrito para a Agenda Latinoamericana (http://latinoamericana.org)
http://valterpomar.blogspot.com.br/2012/07/patria-grande-e-outra-economia.html
Maria Moreira
É fantástico como o LULA ainda mexe com esta turma do mal! Eles parecem não perceberem que o LULA só quer ver o BRASIL SER DOS BRASILEIROS E CADA NAÇÃO TER TB SEU ESPAÇOS RESPEITADO.
Simplis, humano e bom para todomundo. Acorda gente ! É tão bom ser respeitado. respeite o Homem pois ele é o cara!
Francisco
Se Lula estivesse aposentado, de pijama, em casa, iam criar caso toda vez que ele fosse na esquina comprar pão.
Há gente para quem “comunista” bom é “comunista” morto…
Estevão Zanch
Como assim “livres de Chavez”????
Ele agora é um pajarito chiquito…
Wendel
Breno, belíssima analise e quanto à direita, ela sempre fará seu papel, qual seja, defender seus interesses a todo custo, e haja o que houver!
Cabe aos governos progressistas, e a nós principalmente, ser o contraditório a esta política neo-liberal e entreguista que até recentemente impuseram aos países do Sul, com a ajuda mercenária de governos e elites saqueadoras e subservientes!
Minha preocupação atual, é se iremos conseguir consolidar os ganhos até agora conseguidos, pois vejo muito amadorismo, além de sempre subestimarem a capacidade de reação dos que possuem capital financeiro e político, pois ambos estão entranhados!
Quiça esteja eu equivocado!
Aos
mariazinha
Lula sempre age de acordo com que sonhamos. Sua ações nunca são para nos decepcionar, como alguns, por aí….
Willian
Esperamos o video de Maduro para a eleição da Dilma.
augusto2
A janela de oportunidade para esse video nao está ainda… madura. E controle sua ansiedade, willian, porque virá a seu tempo.
E o pior é que o candidato do bigode passou o video em grande comicio em zulia, e os cucarachas todos de vermelho cantaram “Ole,ole,olá, Lula-Lula-la”. Eu sei que é duro assistir da varanda da casa grande a crescente solidariedade latinoamericana em açao.
Mas o pior de tudo vem agora: o capriles radionski.. em campanha se declarou outra vez lulista, como o fizera no ano passado. (Este acesso de riso que me ataca logo de manhã me faz um bem danado)
Urbano
Também temos ainda o Presidente Rafael Correa que não amacia nem um pouquinho…
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