Candidato a papa põe movimento Comunhão e Libertação em evidência
Por STACY MEICHTRY e ALESSANDRA GALLONI, da Cidade do Vaticano, no Wall Street Journal
A forte candidatura papal de um cardeal italiano está jogando uma nova luz sobre um crescente movimento católico de base, que surgiu durante as sangrentas batalhas ideológicas dos anos 1970 na Itália.
Comunhão e Libertação é um movimento leigo com cerca de 120.000 participantes, que, depois de se tornar bem conhecido na Itália, está se expandindo na Europa, Estados Unidos e América Latina, arrebanhando um grande número de católicos através de exercícios espirituais, retiros, leituras e missas acompanhadas de música.
O cardeal Angelo Scola de Milão, um dos primeiros discípulos do fundador do movimento, é também um dos principais candidatos ao papado. O fato provavelmente vai trazer às discussões do conclave o sucesso do movimento em atrair mais católicos na Europa, mas também alguns de seus aspectos mais polêmicos, tais como seus vínculos com a política italiana, segundo vários cardeais entrevistados antes do conclave.
O movimento, abreviado como CL, incentiva seus membros a difundir o evangelho e os ensinamentos tradicionais da Igreja em áreas onde muitos líderes seculares da Europa consideram essas atividades indesejáveis: nos locais de trabalho e nas esferas do governo e da educação.
Essa estratégia ganhou elogios ao grupo por parte dos papas João Paulo II e seu sucessor Bento XVI, que tentaram conter a maré das tendências seculares no Ocidente.
Cardeais entrevistados pelo The Wall Street Journal elogiaram a CL por trazer vida nova aos bancos das igrejas europeias, em especial entre os católicos mais jovens. Outros expressaram dúvidas quanto aos laços do grupo com a política italiana.
Há cerca de 20 anos, a CL ajudou a colocar Silvio Berlusconi no mapa político da Itália, atraindo para o seu lado um segmento crucial de simpatizantes católicos, sobretudo em regiões ricas do norte, como a Lombardia.
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Hoje, os promotores públicos estão investigando se o governador da região, Roberto Formigoni, destacado membro da CL e amigo de longa data do cardeal Scola, aceitou dinheiro de um lobista para financiar despesas pessoais, acusação que o governador nega.
O cardeal Scola “está ligado demais à política”, disse um cardeal europeu, acrescentando que tenciona discutir a CL no conclave. Um segundo cardeal disse que, embora o apoio ao cardeal Scola seja forte fora da Itália, os laços do cardeal com a CL afastaram muitos simpatizantes entre os cardeais italianos e do Vaticano.
O porta-voz do cardeal Scola não quis comentar, referindo-se a observações feitas pelo cardeal a um jornal italiano no ano passado. Na entrevista, o cardeal descreveu a atenção do público sobre sua amizade com Formigoni, oriundo da mesma cidade que o cardeal, como uma tentativa de marcá-lo com “dois pecados originais”, acrescentando que não tinha nenhum envolvimento com a carreira política de Formigoni. O governador, que termina seu mandato após as eleições nacionais italianas, não respondeu a pedidos de comentários.
Roberto Fontolan, diretor do Centro International da CL, disse que “não há absolutamente nenhuma relação, seja institucional ou de outro teor, entre a CL e a política”. Ele acrescentou que a CL “não estava promovendo Scola mais do que qualquer outro candidato”.
O movimento que veio a se tornar a CL nasceu nos anos 1950 como uma associação de alunos do ensino médio de Milão reunidos em torno do Padre Luigi Giussani, teólogo e sacerdote que lecionava nessa cidade. O nome foi criado mais de dez anos depois, em resposta a grupos de estudantes esquerdistas que na época usavam a retórica da luta de classes e da revolução.
Durante a década seguinte, o terrorismo de esquerda assolou o país, com grupos anticlericais de extrema esquerda ocupando fábricas e tentando penetrar nas universidades. Embora seu objetivo não fosse político, a CL se tornou, na prática, a alternativa para as universidades italianas do norte do país.
“Passamos a ser vistos como uma alternativa às forças da esquerda, e até nos tornamos alvos da sua violência”, disse Mario Mauro, que no ano passado deixou o partido conservador de Berlusconi para entrar no partido Escolha Cívica, do primeiro ministro Mario Monti, que deixava o cargo. Mauro disse que ele e outros estudantes universitários da CL faziam orações diárias em diferentes locais por medo de ser alvo de agressões ou mesmo ataques terroristas.
Mais tarde, a CL também cultivou relações com outros setores da sociedade. O movimento organiza um congresso anual que reúne leigos do mundo político, empresarial, cultural e científico para discutir grandes temas globais. Os participantes já incluíram Madre Teresa, João Paulo II, Berlusconi e Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu.
“Há um sistema muito unificado de poder que garante a visibilidade movimento”, disse Alberto Melloni, historiador da Igreja na Universidade de Bolonha.
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Comentários
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Moacir Moreira
Missa com musiquinha é coisa do Padre Marcelo.
Talvez a intenção papal seja dar mais prestígio a essa facção da Igreja para com isso recuperar o rebanho disperso entre as diversas seitas evangélicas e também promover uma frente conservadora da classe média contra o avanço do socialismo na América Latina.
Oremos.
Isidoro Guedes
Esses movimentos tipo Comunhão e Libertação querem aparecer como uma espécie de terceira via no espectro ideológico clerical. Não querem se aproximar da esquerda cristã, mas tampouco querem ser vistos como de direita. Entretanto é inevitável que pendam para um lado ou para outro com o decorrer do tempo, e a depender do contexto político de uma dada sociedade.
Aqui no Brasil temos o exemplo da Ação Católica Operária, que em meados do século passado surgiu para fazer frente ao incipiente esquerdismo que alguns padres disseminavam entre os trabalhadores católicos, seguindo o “espírito social” do papa Leão XIII.
O resultado é que a ACO acabou flertando com o marxismo nos “Anos de Chumbo” e terminou se transformando em Ação Popular, um dos grupos que guinou para a luta armada de esquerda, no enfrentamento à cruel ditadura militar brasileira (1964-1985).
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Luís Carlos
“João Paulo II, Berlusconi e Mário Draghi”. Que turma! Só “gente boa” não? A fina flor do reacionarismo!
Fabio Passos
berlusconi e agora bergoglio.
Cruz-credo!
Nao e a toa que o PiG e so elogios. rsrs
simas
Eu ouvi; não me contaram… Aquela turma da pesada, de entrevistadores da “grobu nius”, a afirmar q agora, sim… ficaria mais fácil alcançar, o fora do alcance, na Argentina, Venezuela, Equador, etc… etc Isso, foi bostejado, agora, já à noite.
Como se pode ver, a luta política dentro do Vaticano é quase q inglória… Se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come… A variedade de clubinhos, particulares, funcionam como partidos políticos; desde a extrema direita, até à direita, mesmo… E, todos, atrelados ao mundo político, real.
Não vejo como fugir: pq, qdo se agrupam padres mais achegados e inteirados à verdade do conhecimento idealista; logo, são isolados, no espaço, qdo não, afastados de suas funções. Agora, aqueles q percebem a luta de classe, vão se aproximando de seu público, melhor situado.
Realmente, ninguém vai querer encontrar um membro da hierarquia mais alta, fora da realidade política. Os q lá se encontram devem estar comprometidos, completamente ou quase… Difícil encontrar um Cardial comprometido com a igualdade de oportunidades ou de direitos, do cidadão, por exemplo. Existe, por acaso, algum elemento q percorreu o caminho da Teoria da Libertação, velha conhecida… participante do Colégio Cardinalício? Existe? Todos estão amargando o isolamento.. pelo pecado da prática. Agora, os q se transviaram… Correm o risco, até, de serem eleitos.
Mas, convenhamos, está claro, agora, q o Santo Papa não é o escolhido por Deus, pra ser sua voz, entre nós, pobres e miseráveis mortais. Sinto mto; mas, é, assim, uma pessoa importante; um VIP ou… “famoso”.
Fabio Passos
De onde nada se espera… e que nao vem nada mesmo. rs
Na verdade ha sempre uma esperanca que a igreja va um dia seguir de fato o Cristo. Parece que nao sera desta vez.
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