Jurada de morte, irmã de Maria – assassinada com o marido no Pará – luta por proteção do governo enquanto o acusado pelo crime recebe lote do INCRA no assentamento em que vive
por Marina Amaral, na Pública
Pouco mais de100 quilômetros separam o assentamento Praialta Piranheira de Marabá, a capital da mineração no sudeste do Pará. Nas margens da PA-150, asfaltada e esburacada, as marcas do desmatamento estão em toda parte, incluindo nos arredores de Nova Ipixuna, onde prevalecem a criação de gado, as madeireiras, as carvoarias.
À medida que adentramos na vicinal de terra que leva ao único assentamento agroextrativa do Sul do Pará, a floresta se adensa, entremeada por pastos, clareiras de extração de madeira e areia, fornos de carvão. Em 1997, quando o assentamento foi criado, mais de 80% da cobertura vegetal estava preservada. Daí a opção por delimitar lotes maiores – cerca de 80 hectares – para que castanheiros e coletores de frutas como o açaí e a andiroba seguissem vivendo do jeito que aprenderam com seus pais, preservando a mata, interrompida apenas pelas casinhas, os pequenos açudes, as roças e pomares familiares.
A professora Laísa Santos Sampaio, 45 anos, é filha de castanheiros como sua irmã, Maria do Espírito Santo, assassinada em maio de 2011 com o marido, José Cláudio Ribeiro. Laísa recebeu a Pública em julho do ano passado para contar a sua história. Na casinha acolhedora entre as árvores não há água encanada nem banheiro, mas ela e o companheiro, José Maria Sampaio, o Zé Rondon, escolheram viver ali e lutar por aquela terra, cada vez mais ameaçada pelos que se aproveitam do abandono do governo federal – e da consequente pobreza dos assentados – para invadir lotes, expulsar famílias, convencer os lavradores a vender as árvores para extrair madeira de lei e queimar carvão.
Duas das filhas do casal trazem o caldeirão de açaí já fresco, as mandiocas fritas, o abacaxi doce fatiado. “É tudo daqui”, orgulha-se Laísa, enquanto a menina mais velha torce o nariz: “Aqui tudo é um sacrifício, tem de buscar água todo dia”, diz, explicando que prefere Marabá, onde estuda. Dos banhos de açude ela gosta, conta, revelando que tem um animal de estimação: um jacaré cego, que é alimentado por ela já que leva sempre a pior na competição pela pesca e caça.
As meninas estão assustadas. O assassinato dos tios faz com que levem a sério os bilhetes ameaçadores colocados na porta de casa, os recados que os vizinhos levam para os pais. Duas cachorras bravas, amarradas durante o dia, foram adquiridas depois que o antigo cachorro apareceu morto – recado típico dos pistoleiros do Pará aos que atrapalham os “negócios” de seus patrões.
Maria e José Cláudio eram visados há tempos. Militantes pela reforma agrária com a preservação da floresta, denunciavam os madeireiros e angariavam também a antipatia de outros assentados, que sobrevivem do comércio ilegal de carvão e da madeira – os projetos agroextrativistas e as roças não vão para frente sem o necessário apoio do Incra. Os dois não desistiam de implantar o projeto original.
O estopim da morte do casal foi a luta contra um grileiro que volta e meia expulsava as três famílias que ocupavam uma área que ele alegava ser sua – embora nada plantasse ali, interessando-se apenas pela derrubada da mata. Mesmo com a prisão de três dos acusados pelo homicídio duplamente qualificado, mandantes e parentes continuam no assentamento e chegaram a ameaçar Laísa na escola em que ela dava aula para a criançada, incluindo os filhos deles.
No último dia 2 de março, Antonia Nery da Silva, mulher de José Rodrigues Moreira, réu do processo, obteve do Incra a posse legal da terra, apesar desse histórico. Em nota, o Incra disse que o processo administrativo ainda não está concluído.
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A irmã de Maria e sua família continuam a viver no mesmo local dos assassinos, sem nenhum tipo de proteção legal.
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Comentários
renato
Eu não acredito que isto ocorra, mesmo nossas
autoridades sabendo. Não acredito que o Estado
Brasileiro sinta-se ameaçado por esta bandidagem.
Era para ir lá e fazer justiça rapidinho.
Tem que cuidar desta vida. Direitos Humanos vamos
fazer jus ao nome!
Força Nacional, quando for a um lugar como este, não
perca a viajem.
Apavorado por Vírus e Bactérias
Os indigenas, os extrativistas,os pequenos agricultores e todos aqueles que defendem a posse da terra para o sustento de suas famílias e pela preservação das florestas e suas culturas são mortos brutalmente. O Governo Federal Petista há muito deveria ter enviado tropas federais de confiança para acabar com a matança, para garantir a vida. Mas parece que não é com eles. Dá desânimo de ter votado nessa gente e não ter recebido nem a garantia da vida dessas pessoas mais fragilizadas pela ação brutal de fazendeiros pilantras e escravistas, madereiros nefastos e interesses econômicos de grandes corporações.
Mário SF Alves
Bom, então vai ver é essa tal omissão voluntariosa, insensível, a-histórica e incompetente que faz o PiG manifestar tanto amor pelo PT, assim como o que o faz tentar alucinadamente o assassínio moral dos Zés, ou não?
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Prezado Apavorado por Vírus e Bactérias, posso estar enganado, mas, a seguirmos por este caminho, não duvido nada que, logo, logo desembocaríamos nas circunstâncias que determinaram ao autoatentado às torres gêmeas. Ou seja: cachaça não é cerveja; assim como nem conhaque de alcatrão é catraca de canhão.
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Respeitosa, solidária e esperançosamente,
Mário.
Nedi
Se aqui no “SUL MARAVILHA” vê-se continuamente uma violência desenfreada contra os trabalhadores, imagina o que ocorre na amazônia numa terra onde as coisas são resolvidas na base da pistolagem. Todo mundo sabe, ou deveria saber, que ha lugares controlados por ONGS na amazônia onde o comandante militar da área não pode entrar…o Presidente da República Federativa do Brasil não pode entrar.
Julio Silveira
Sobre isso eu gostaria de saber mais. A proposito e o niobio brasileiro, considerado estratégico para os States, em sua industria de prospecção lá em Minas, o brasileiro pode entrar?
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