Estados Unidos: Um alerta sobre a crise

Tempo de leitura: 4 min

Um alerta soturno de Ben Bernanke

do Valor Econômico, via Vermelho

O presidente do Federal Reserve Bank, Ben Bernanke, deu um tom soturno a seu depoimento no Congresso americano esta semana e avisou que as perspectivas para a economia americana raras vezes foram tão incertas. Alan Greenspan, o ex-poderoso chefão do Fed, agora um comum mortal, apontou que a economia “bateu em um muro invisível”. A recuperação perdeu força nos EUA e um pouco também no mundo. O fim dos enormes estímulos dados para deter a crise financeira não foi sucedido por um movimento já autoimpelido de crescimento, mas por um recuo, que pode ser temporário ou se transformar em algo pior – deflação. A hipótese consta da ata da última reunião do Fed e é aflitiva. O Fed e outros bancos centrais estão perto do grau zero da política monetária, aquele em que novos estímulos têm poucas chances de dar certo e os juros não podem mais ser reduzidos.

O Fed encerrou em março seus programas de sustentação do mercado, para ver em seguida a economia desacelerar e o mercado imobiliário desabar. Para quem ainda se lembra dos empréstimos subprime, em que a encrenca começou: a inadimplência atual é de 40% no crédito a taxas flutuantes e de 20% no de taxas fixas. Além disso, a criação de emprego revelou-se insuficiente para reduzir rapidamente a taxa de desemprego, de 9,5%. Sem a melhoria no emprego, a renda não avança, o consumo patina e a economia não sai do lugar.

Os bancos ainda guardam em seus cofres grande quantidade de títulos problemáticos e continuam com perdas significativas. A oferta de crédito recuou nos últimos dois meses, com menos US$ 24 bilhões à disposição dos tomadores. Em maio, a contração foi de 4,2%. E mais do que se lançar em novas dívidas, os americanos estão pagando as velhas. A dívida total das famílias no primeiro trimestre de 2010 foi a menor em seis anos, algo equivalente a 12,5% da renda disponível.

A poupança total (famílias, empresas e governo) é hoje negativa em 2,5% do Produto Interno Bruto e sua composição conta um pouco do passo incerto da recuperação americana. O governo tem poupança negativa de 9% do PIB (o tamanho de seu déficit), enquanto a poupança privada é positiva em 7% do PIB, a maior em dez anos. O investimento em capital fixo é um dos pontos positivos da história, porque cresceu 11,5% no primeiro trimestre. Mas na construção comercial os investimentos caíram 27,5%.

A inflação, medida pela variação dos gastos pessoais de consumo, foi de 0,75% ao ano até maio, ante o dobro disso em 2009. Os preços dos bens que compõem o núcleo do índice diminuíram 1,5% no período. Com os preços em declínio e o alto desemprego, vários membros do Comitê de Política Monetária do Fed apontaram a existência de pressões deflacionárias. Outros, o risco de deflação. Como os rumos não estão claros, Bernanke decidiu proclamar que o BC americano está pronto para dar novos estímulos à economia se ela necessitar disso, sem mencionar a terrível ameaça de uma queda constante dos preços.

O roteiro para evitar a deflação é mais complicado e nele o arsenal disponível tem menor poder de fogo. Há um déficit público gigantesco e pouca esperança de aumento das receitas. A arrecadação federal americana caiu 16,5% no ano fiscal de 2009 (setembro a setembro) e a carga tributária federal atingiu no ano passado 14,5% do PIB, a menor em 60 anos. Até junho, decorridos nove meses do ano fiscal de 2010, as receitas cresceram apenas 0,5%. A dívida bruta americana atingirá no atual ano fiscal 65% do PIB, a maior em 50 anos (a do Brasil, em percentual, é a mesma).

O Fed, com os estímulos, inflou seus ativos para US$ 2,34 trilhões. Novos anabolizantes teriam efeitos provavelmente residuais. O BC cortaria a zero a remuneração das reservas bancárias, para estimular os empréstimos, e compraria mais títulos de hipotecas e outros, para reduzir a nada os juros ao consumo. Nesta altura, a remuneração dos investidores, que já é pequena – 3% em um título do Tesouro de dez anos – encolheria ainda mais. Investidores e consumidores poderiam preferir dinheiro nas mãos, porque as aplicações pouco renderiam e os preços estariam em queda. Para evitar a deflação, restaria, como disse Bernanke em seus estudos sobre a Grande Depressão, a opção derradeira: jogar dinheiro de helicóptero e esperar que alguma inflação aparecesse.

O cenário da deflação é ainda o menos provável, mas que tenha sido ventilado agora, pelo mais importante BC do mundo, é urgentemente profilático: alertar para o que está em jogo. Os governos europeus, e parte do Congresso e opinião pública americanos, tendem a caminhar na rota contrária, a do aperto fiscal, e podem precipitar o indesejável.

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O presidente do Banco Central Europeu, Jean Claude Trichet, em artigo ontem no “Financial Times”, soltou um brado de guerra diferente do de Bernanke: aumento de impostos e corte de gastos públicos deveriam ser feitos imediatamente nos países desenvolvidos. Números positivos de encomendas e produção na zona do euro, especialmente na Alemanha, levaram Trichet a uma miragem resultante de um desejo – para ele, é melhor resolver o problema dos déficits o mais rápido possível antes que o crescimento deslanche e a inflação venha correndo. O presidente do BCE não tem sido reconhecido exatamente como um homem de visão. Na verdade, perdeu as principais batalhas na quais se envolveu recentemente. Na última delas, teve de fazer o BCE engolir contra a sua vontade títulos soberanos de países sob ataque dos mercados, como a Grécia.

Trichet disse que os estímulos dados em 2009, sob pressão do Fundo Monetário Internacional e EUA, foram um erro. Diante da falsa visão de uma recuperação pujante da economia europeia a curto prazo, é bem possível que daqui a pouco o BCE saia por aí aumentando os juros.

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Comentários

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iluminando

N.W.O

Pedro Ayres

Um dos problemas para se entender o que se passa na crise gerada pelo neoliberalismo reside no fato de que a questão é tratada como simplesmente financeira. É uma fraude, pois, a crise teve e tem na desmedida acumulação financeiro-monetária o seu fulcro principal,pois nenhuma moeda ou seus derivados/derivativos têm o poder de criar a riqueza. As fantasias econometristas, tão ao gosto de nossos agentes financeiros e graduados office-boys estão esgotadas. Nos Estados Unidos, por exemplo, a crise é bem profunda em termos de estrutura sócio-econômica e é insolúvel ante a política usurária, que ao privilegiar a alta remuneração acionária dos investidores e dos executivos de suas empresas, perdeu de vista a realidade e passou a dar ao crédito uma força acima de seu real poder econômico. Assim, ao liquidar com a economia real teve que acreditar nos serviços, diversão e atividades ilegais ou não-formais como remédios para uma crise que avançava de forma inexorável. O problema é que até essas atividades precisam ter ligações com o mundo da economia real, mas, como ter tais ligações se já quase nada existe para garantir a massificação do trabalho e alguma renda/salário para a maioria de seu povo.

monge scéptico

Temos de nos dessas reservas de dinheiro ianque pôdre e, converter essses bilhões em na
compra de ouro, ou nos arriscar a ver de repente o fundo do BRASIL ficar sem fundos. Aí
iremos ao muro das lamentações, chorar e implorar a quem não sei, inutilmente. A confiaça
infantil que os governos brasileiros têm na USA e ABUSA, é um doença de incapazes de
pensar por si e desenvolver-se, idem. DESINTELIGÊNCIA E SUBMISSÃO VERGONHOSA!
ECONOMISTAS? RIRIRIRIRIRIRIRIHEHEHEHEHEHEHAI.

    José Sabino

    E vai que alguém acredita em economistas…..

franklin

Teoria da CONSPIRAÇÃO?
A NOVA ORDEM MUNDIAL, planeja uma GUERRA CIVIL nos EUA, logo logo, e o Obama, o congresso e todas autoridade do MUNDO sabe e encaminha pra isso. Tenho mais certeza agora. Veja os comentários que ninguem se imaginava nem sonhava com isso. (dos EUA e o Socialismo) isso é combustível para os radicais de direita americanos que são maioria é claro..

    José Sabino

    Franklin,

    Até poderia ser conspiração. Para os sonhadores. Mas, se dispusermos a raciocinar um pouquinho, não há nada de conspirador. É pura realidade

    José Sabino

Ed.

Será que a crise pra banca, pro mundo financeiro, vai começar pra valer?!
Será que uma hora dessas os trilhões de ajuda vão faltar em algum lugar?
Vamos torcer para que o socorro aos que causaram a crise continue "dando certo", mas…
"Coitado" do Madoff. Pensou poder montar uma maratona de NY na prisão e, talvez, consiga montar um time de vôlei…

O Brasileiro

Sabem por que há tantos economistas envolvidos em análises políticas?
Porque sabem que a economia depende da política.
Vejam a visão divergente dos bancos centrais americano e europeu descritas no artigo. A economia não é uma ciência exata porque depende do humor das pessoas. Quem está certo?
E se ficassem no meio termo, e ao mesmo tempo cortassem gastos públicos e diminuíssem os impostos, deixando o déficit dos governos como está? Deixaria de entrar (corte dos gastos do governo) mas ao mesmo tempo deixaria de sair (menos impostos), e o dinheiro em circulação permaneceria estável. E ai, ai, novamente entraria em campo o humor das pessoas, pois deste dependeria o estímulo para produzir mais e para gastar o pouco que têm!

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