Lungaretti: Mais uma falha da Folha

Tempo de leitura: 3 min

MAIS UMA FALHA DA ‘FOLHA’: SUAS INTRIGAS DÃO NA VISTA…

Celso Lungaretti (*)

Saiu na Folha de S. Paulo da última 6ª feira (16): Ex-prisioneiros cubanos criticam Lula.

Numa entrevista coletiva dos dissidentes recém libertados, a colaboradora da Folha em Madri recebeu a tarefa de indagar qual a sua opinião sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O jornal apostou em que ainda estariam indignados com a posição de Lula face à greve de fome que culminou na morte de Orlando Zapata. Não deu outra.

“Em Madri, [os dissidentes libertados] chamaram o presidente de populista e afirmaram que ele podia ter salvado a vida do preso político Orlando Zapata, que morreu por greve de fome no dia em que Lula visitava Cuba.

‘Só que o Lula se aliou ao crime e não à justiça’, declarou o dissidente cubano Omar Rodríguez.

“As críticas, feitas ontem em entrevista coletiva…”

A forma como a Folha apresentou o assunto me levou a comentar, num artigo que redigi de batepronto ainda na madrugada do dia 16, que os ex-presos tinham se deixado levar pela emoção, incorrendo num desabafo compreensível, mas também num exagero: não havia como, honestamente, responsabilizar Lula por uma morte ocorrida no próprio dia de sua visita.

Ele e todos os outros presidentes e premiês do mundo, além do Papa, deixaram de intervir em tempo hábil, apelando por Zapata enquanto sua salvação ainda era possível; na enésima hora não adiantaria fazer mais nada. E também não era Lula o único governante estrangeiro capaz de influenciar decisões dos irmãos Castro.

Depois, entretanto, fiquei sabendo que não era bem isso que Omar Rodrigues Saludes havia dito, mas sim:

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“[Lula] aliou-se ao crime e não à Justiça. Orlando Zapata podia ter tido, mesmo que remotas [grifo meu], possibilidades de sobreviver se Lula tivesse intercedido pessoal e publicamente por ele”.

Ou seja, a Folha fez parecer que Saludes e os outros opositores de consciência haviam responsabilizado integralmente Lula pelo desfecho trágico da greve de fome de Zapata, quando, na verdade, o dissidente reconheceu sensatamente que, fosse qual fosse a atitude do nosso presidente, as chances de sobrevivência eram ínfimas — conforme eu destaquei no meu artigo.

É de se supor que os demais tenham igualmente feito ressalvas, não incorporadas na notícia da Folha; e que não tenham sido todos que qualificaram Lula de “populista”, mas apenas um deles.

Comparação indefensável – Na verdade, a greve de fome de Zapata não chamava atenção até o desfecho fatal, mesmo porque vem sendo um recurso utilizado em demasia pelos opositores de consciência cubanos. Deveriam preservá-lo para situações extremas.

Então, o mais provável é que Lula nem sequer soubesse de sua existência.

O grande pecado do nosso presidente foi, ao ser surpreendido por um acontecimento imprevisto, deitar falação sobre o que não lhe dizia respeito:

“A greve de fome não pode ser utilizada como pretexto de direitos humanos para libertar pessoas. Imagina se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade!”

Deveria, simplesmente, alegar que se tratava de assunto interno cubano, sobre o qual não lhe cabia se manifestar.

“Pessoalmente, admiro Lula e sua trajetória. Mas foi infeliz na comparação com os detentos de São Paulo e nos deve desculpas”, disse outro dissidente, Pablo Pacheco. Corretíssimo.

A Folha também foi à caça, por telefone, de um desabafo do Guilherme Fariñas, que deve ser o recordista mundial em quantidade e duração de greves de fome (nunca imaginei que cubanos se igualassem em determinação aos militantes do IRA…).

Com todo respeito que sua luta merece, ele também deu exemplo de incontinência verbal:

“O Lula é um mal-agradecido. Esqueceu-se de sua essência humana. Sorte para o povo brasileiro que já não pode mais ser eleito”.

São palavras ofensivas para o “povo brasileiro”, pois dão a entender que este faria a escolha errada se não tivesse a “sorte” de Lula não poder mais ser reeleito.

É outro que deitou falação sobre o que não lhe diz respeito

O outro lado – Por último, os leitores devem ter estranhado o parágrafo final:

“Ouvido pela Folha, o Palácio do Planalto afirmou que não irá se manifestar sobre as declarações dos ex-presos”.

Dá impressão de falta, ou de profissionalismo, ou de argumentos para responder às acusações. Mas, omitiu-se um detalhe importante: o Planalto foi “ouvido” quando e como?

No tempo em que eu trabalhava na Coordenadoria de Imprensa do Governo paulista, o serviço propriamente dito acabava por volta das 21h, mas sempre um de nós ficava de plantão até mais tarde, para qualquer eventualidade.

Acontecia de jornalistas ligarem no fim da noite, querendo saber a posição do governador face a qualquer notícia ou declaração adversa, para publicação na edição que estava fechando.

Era pura má fé: sabiam que não havia a menor chance de obtermos um retorno do governador em tempo hábil.

Meus colegas de trabalho respondiam que era impossível atender a essa solicitação e o repórter, satisfeito, colocava na matéria que o Palácio dos Bandeirantes não tinha se manifestado.

Eu era mais ousado: de tanto processar entrevistas do governador, estava careca de saber qual seria sua reação face ao que estava sendo perguntado.

Então, não só transmitia ao repórter a posição “do Palácio dos Bandeirantes”, como o fazia, vingativamente, da forma mais vagarosa possível, saboreando a aflição do jornalista do outro lado da linha, ansioso por entregar o quanto antes sua matéria…

*  Jornalista e escritor. http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/

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Comentários

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Armando do Prado

E, agora, criticam a pp. Espanha que os recebeu, o que demonstra que são apenas oportunistas.

Marat

Falha – Folha… pleonasmo… Se fosse só falha tudo bem, mas o "jornal" é impregnado de má-fé e péssimo jornalismo. Muitos que escrevem ali merecem menos crédito que aquilo que é conversado num bar…

Ed.

Shit (oops, Sheet) of SP: um jornal que não dá pra se ler!
Tão neutra quanto um pisca pisca de automóvel (com a lâmpada esquerda queimada).
Tão moderna quanto nos tempos da ditabranda.
Tão plural quanto 1.

Herminio

O presidente Lula só é responsável por qualquer coisa errada que acontece no mundo afora, para aqueles que são de oposição ao seu governo (pig e simpatizantes,além é claro dos filiados aos demo/tucanos), nós simples brasileiros mas conhecedores das coisas boas que aconteceram e acontecem na gestão do governo do preseidente Lula estamos com o presidente e não concordamos que qualquer líder se envolva em questões internas de qualquer que seja o pais, pois isso no meu ponto de vista é intrometer-se em assuntos dos outros, a não ser que tenha sido chamado pelas partes para resolver a questão o que não foi o caso. O que acontece é que a folha, estadão(esse só publica comentários ofencivos ao Lula), globo etc. fazem de tudo pra confundir a opinião pública, essa é a verdade, felizmente temos os blogs independentes e muito mais pessoas acessam a internete e as mentiras deles logo são desmascaradas.

Celso Lungaretti

Tiago,

sou o último articulista ao qual se possa apostar viés favorável ao Lula. Faço questão de ser tão imparcial quanto possível, já que há exageros de parte a parte em tudo que se refere a ele.

Mas, como jornalista veterano, nunca me escaparia a tendenciosidade com que a mídia tentou inculpá-lo por um acontecimento lamentável, é verdade, mas decorrente da omissão de muitos e muitos. Começando pelo Papa, que tinha obrigação de interceder pelo Orlando Salazar.

Então, eu não "apontei erros" na reportagem da Folha; provei que foi uma flagrante e pouco sutil tentativa de manipulação jornalística.

O jornal continua viajando na maionese, sempre que ataca de aprendiz de feiticeiro. Já foi totalmente desmoralizado quando quis inculpar Dilma Rousseff por um sequestro que não houve e também quando vendeu como algo sério um mero gracejo de mau gosto do Lula sobre estupro.

Não aprendeu a lição. Continua obcecado em fabricar notícias que possam gerar consequências políticas, invés de simplesmente noticiar os fatos políticos que ocorrem.

beattrice

A FALHA precisa de reforma de conteúdo, mas o Tavinho só se interessa pela reforma estética.

    Jairo_Beraldo

    Acho que ele não quer gastar…os anos de chumbo, pode entrar de novo lá pela alameda barão de limeira…pela porta da frente, e sem a violencia de outrora… violencia covarde que ceifou vidas inocentes e de guerreiros patriotas…..

Tiago

Com o devido respeito ao articulista, esse texto está péssimo. Tenta desesperadamente desqualificar e apontar erros na reportagem do jornal, para dizer que "eles" são os vilões, e o "nosso presidente" é que agiu corretamente. O articulista tenta fazer um mea culpa dizendo que Lula errou, mas ele mesmo justifica a falha em nome do "nosso presidente": "Então, o mais provável é que Lula nem sequer soubesse de sua existência.". Impossível, uma vez que a greve de fome citada já estava sendo citada na semana da viagem à Cuba. Bom, o erro de Lula já começou errando neste caso a demonstrar apoio a um governo de ditadores com uma visão própria da "democracia". E é grotesto encontrar articulistas como esse que o defendam de maneira cega.

Ronald CURY TIBA

virgindade e credibilidade só se perde uma vez……e a credibilidade da nossa merdia impressa já foi perdida a muito tempo……..

Sidnei Brito

Os jornais brasileiros são muito preocupados com os Direitos Humanos. Mas só em Cuba!
E por falar em greve de fome, e no devido respeito que os que apelam a essa medida extrema merecem, que tal o tratamento que a Folha Online, em uma de suas famosas enquetes, deu ao movimento iniciado por Anthony Garotinho em 2006? Vejam só:
"01/05/2006 – 15h55
A greve de fome de Garotinho
Você concorda com a decisão do ex-governador do Rio Anthony Garotinho de fazer greve de fome para protestar contra uma suposta perseguição política?
(…)
40% – 14.742 votos. Talvez. Além de perder peso, Garotinho ainda consegue se manter no noticiário, o que pode ser válido para sua estratégia de marketing." http://polls.folha.com.br/poll/0612101/results

Ainda bem que a Folha amadureceu e, de maneira geral, parece tratar de forma mais humana e respeitosa os que fazem greve de fome em Cuba, sem, em nenhum momento, acusá-los de estarem fazendo marketing e sem congratular-se com eles por estarem perdendo peso.

dedinho

Tanto faz. Ninguém mais lê esse jornal mesmo.

e claro, o Serra assina essa porcaria para várias repartições públicas, mas…

Nilson Moura Messias

A Falha de São Paulo, ratificou uns "principíos" inexistente no seu famigerado "manual de redação". Quanto cinismo!

kimparanoid

A Falha de SP daqui pra frente deveria figurar na lista semanal dos 10 títulos mais vendidos, categoria Ficção.
Nada melhor para aquela elite saudosista do tempo em que o Brasil dizia amén diligentemente a tudo que vinha de Washington, que se encastela nos shoppings e na literatura PiGiana.

O Brasileiro

O que vocês esperam de uma mídia golpista que serve (é servil mesmo!) a um país claramente interventor na política interna de vários países do mundo?
A mídia golpista quer mesmo é que os EUA invadam novamente Cuba, mas antes lançem bombas e mísseis até destruir até o último hospital e até a última escola da ilha ainda comunista!
A pauta editorial da mídia golpista não difere muito daquela que critica, a de Fidel Castro. Querem o fim das liberdades, embora empunhem essa bandeira!

Marat

Gostaria que a Folha tivesse o mesmo zelo com os torturados de Guantánamo. Poderia entrevistar alguns dos que foram soltos do famigerado campo de concentração…

Carlos Cruz

O governo brasileiro prima pelo respeito à soberania das nações. Não cabe intromissão na política interna de qualquer país, seja ele de direita, esquerda, centro, etc. Aos que atacam peço que olhem para seus próprios umbigos. Quem apoiou ditadura e emprestou carro para tortura não tem moral para apontar o dedo a quem quer que seja. Rabo de papel…

Luciano Prado

A Folha de São Paulo está de hímen novinho comprado no Paraguai. Jura que não é falsificado.

“Folha reafirma princípios editoriais
Projeto Editorial determina jornalismo crítico, plural, apartidário e moderno, compromisso firmado desde 1984
A Folha não apoia nenhuma candidatura; parâmetros ajudam a fazer cobertura isenta, sem deixar de ser crítica”
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po18072010

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