Amir Khair: Quem fala em impacto negativo do mínimo tem visão míope

Tempo de leitura: 3 min

por Vitor Nuzzi, Rede Brasil Atual

Publicado em 29/12/2012, 13:48

São Paulo – Para o professor Amir Khair, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a crítica ao aumento do salário mínimo é mais ideológica do que técnica. Segundo ele, quem fala em impacto negativo “é porque não conhece contas públicas, só tem visão míope para despesa e não consegue enxergar que o salário mínimo gera arrecadação pública”.

Da mesma forma, o mestre em finanças públicas considera positivo o anúncio de isenção de Imposto de Renda para parte dos pagamentos de participação nos lucros ou resultados (PLR). “As políticas que garantem mais renda para os assalariados são progressistas. Esse aumento da renda vai para o consumo ou para a poupança. Em ambos os casos, você está criando uma circulação de riqueza, que é a essência da atividade econômica”, afirma.

S mínimo média-ano (Arte: Júlia Lima/RBA)

Em edição extra do Diário Oficial da União na quarta-feira (26), foram publicados o Decreto 7.872, que fixa o salário mínimo em R$ 678 a partir de 1º de janeiro (aumento de 9%), e a Medida Provisória 597, sobre a tributação progressiva da PLR. Pagamentos até R$ 6 mil estarão isentos. O governo também enviou mensagem submetendo a MP ao Congresso.

Khair considera o mínimo uma “referência fundamental” na economia, por proporcionar aumento do poder aquisitivo e mais equilíbrio na distribuição de renda. “A crítica tem mais caráter ideológico do que técnico. Sempre acham ruim quando há qualquer tipo de política que amplie os ganhos na base da pirâmide.”

O Dieese divulgou nota técnica na qual destaca a política de valorização do salário mínimo em vigor nos últimos dez anos. Nesse período, o aumento real (acima da inflação) atingiu 70,5%. Em abril de 2002, o mínimo era de R$ 200. O instituto diz que 45,5 milhões de pessoas têm o mínimo como referência no rendimento. Desse total, pouco mais de 20,7 milhões são beneficiários do INSS e 12,6 milhões empregados no mercado de trabalho, além de 7,7 milhões de trabalhadores por conta própria, 4,2 milhões de trabalhadores domésticos e 202 mil empregadores.

Ainda segundo o Dieese, que atualizou a série histórica do salário mínimo, levando as médias anuais para reais de janeiro de 2013 (deflacionados pelo ICV calculado para o município de São Paulo), os R$ 678 representarão o maior valor real da série desde 1984.

Refém da inflação

Apoie o VIOMUNDO

(Arte: Júlia Lima)

Khair considera preocupante a interrupção do ciclo de cortes na taxa básica de juros, conforme decisão da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em 2012. “A grande barreira para um crescimento econômico firme é o governo ficar refém do fantasma da inflação, que é um fenômeno mundial. Existe mais ou existe menos dependendo de como o mundo está organizado”, observa. “O governo só tem controle sobre os preços administrados. Fora isso, o que comanda a inflação é o fator externo. A Selic não tem nada a ver com a inflação. A Selic deveria ficar no nível da inflação (aproximadamente 5%), que é o que fazem os países emergentes. O regulador da inflação é o preço internacional.” A taxa básica foi mantida em 7,5% ao ano. A próxima reunião do Copom ocorrerá em 15 e 16 de janeiro.

Segundo Khair, o mercado externo responde por 60% da inflação. Outros 20% vêm dos preços administrados, caso das tarifas públicas – nesse item, ele critica a política do governo em relação aos combustíveis, que ao segurar o preço teria colocado a Petrobras “de joelhos”. Os 20% restantes são dos serviços. “Não vou sacrificar o desenvolvimento econômico por causa de apenas 20%.”

Evolução sal mín (Arte: Júlia Lima/RBA)

Leia também:

Alex Solnik: A vanguarda popular da direita sai do armário

Estados Unidos imprimem dinheiro e o mundo paga a conta

Richard Duncan: Por um salário mínimo mundial (a crise vista por eles)

Vagner Freitas: Chega de medidas paliativas!

Saul Leblon: O jogral da mídia contra a política econômica

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Carta Maior: Governo precisa dar à crise o seu nome « Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Amir Khair: Quem fala em impacto negativo do mínimo tem visão míope […]

luana

acho vantagioso o aumento do mínimo, até pq sou agrônoma e existe um piso salarial a ser cumprido de 8,5 salários mínimos por mês, o aumento do mínimo sempre será maior do que o da classe na empresa que eu trabalho, ou seja… quem está a 10 anos na empresa ganha o mesmo do que quem está entrando…. é estranho mas pelo menos o salário aumenta todo janeiro, aí a vantagem das lutas de classe por garantir pisos profissionais básicos. Vejo o problema é no imposto retido na fonte todo mês, é muito pesado para classe trabalhadora, no meu caso são todo mês 580 reais, fora os 422 de inss! acho um abuso!

henrique de oliveira

Não existe país rico com povo pobre.

fdo

Salario mínimo tem que ser justo,o problema é que tem gente , e eu mim incluo nessa categoria, que recebe na casa dos 3000,00 e que vem tendo reajustes insignificantes ao longo dos ultimos anos(2012, 5,5%) e que tem que pagar sálario minimo para empregada doméstica.A DIFERENÇA EU TIRO DA ONDE NAO SOU PROFISSIONAL LIBERAL, RECEBO CONTRA XEQUE TODO MES.

Julio Silveira

Não existe miopia nenhuma, o que existe é má intenção mesmo. Sou cético quando a inocência dos que pregam essa premissa, nenhum economista sério pode defender a idéia de que menos renda é capaz de gerar mais movimento economico. Menos ainda aqui no Brasil onde a cidadania já está calejada desse discurso dos arautos do atraso e da dependência colonizante pré concebida. Tivemos, durante muito tempo, em consequência dessa esdruxula visão, uma baixa estima na cidadania muito caracteristica alem de uma inveja deturpada e deturpante da sociedade americana, já que lá o salário minimo é bem elevado, o que já depõe, até mesmo, contra todas as argumentações dos proprios enamorados deste estado. O que enfraquece de fato a economia é a gestão irresponsável, a má gestão que pode ser até mesmo fraudulenta como ocorreu com o próprio States. Lá, pagam o preço de terem retirado seus recursos das mãos de um gestor responsavel, como foi o Clinton, e repassado para as mãos de um gestor irresponsavel e perdulário movido pelos próprios interesses afundando seu país e seu povo, o tal Bush.
Mesmo assim tem muita sorte, aliada a juizo, já que sempre estiveram trabalhando em seu colchão para calamidades. Colchão esse formado justamente por seus admiradores e seguidores externos, esses que defendem de salarios minimos irrizórios e economias nacionais fracas, para que o fluxo de capital dos estados concentrado nas mãos de poucos possa correr sempre para o emissor do lastro mundial, do dono da verdade economica, dando o sangue dos povos a esse povo, tranferindo potenciais economicos para essa economia. Afinal para onde se pode correr quando o mercado de seu estado está fraco? certamente para onde as oportunidades de ganhos sejam mais garantidas. Realmente sorte deles que no mundo tenha muita gente doutrinada acostumada fazer o que dizem, mas não o fazem. Pelo menos de uns tempos para cá alguns Brasileiros mais brasileiros e cidadãos, antenados, estão realizando o contrário, fazendo menos o que dizem e mais o que fazem.

Urbano

Os chiadores gostariam mesmo que o sistema fosse de serviço escravo… Em boa parte deles, as iniciativas para o negócio só o suficiente para que o fluxo seja o mais potente possível em direção ao seu bolso particular.

Deixe seu comentário

Leia também

Política

Roberto Amaral: Basta de banditismo militar e recuo republicano

Governo Lula tem a chance de escapar do corner

Política

Manuel Domingos Neto: Questões correntes

Comandantes militares golpistas, kids pretos, prisões, Múcio, Lula…