Para onde vai São Paulo?

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Para onde vai São Paulo?

por Márcio Pochmann, na Folha de S. Paulo, em 15.06.2010

A estabilidade monetária alcançada a partir do Plano Real, em 1994, abriu nova perspectiva para que o Estado de São Paulo voltasse a protagonizar novo ciclo de expansão econômica e social, já que respondia por quase 37% da população ocupada não pobre do país. Para isso, contudo, deveria impulsionar, em bases inovadoras, a sua estrutura produtiva, especialmente industrial, com a finalidade de potencializar o avanço das fontes contemporâneas de riqueza, cada vez mais presentes no interior do setor terciário da economia.

Esse processo de modernização constituiria peça fundamental na promoção e difusão do conhecimento, ou seja, a educação, as tecnologias de informação e comunicação e o trabalho imaterial como o esteio central da geração da riqueza e do bem-estar social.

Paralelamente, o esforço governamental voltado à expansão e integração da infraestrutura urbana e social poderia estimular decisivamente a economia de serviços para o crescente atendimento da demanda interna e externa. As decisões governamentais que poderiam operar como faróis a iluminar o futuro foram sendo transformadas em lanternas de freio a clarear o passado.

Pelas informações geradas pelo IBGE para a contabilidade dos Estados brasileiros, verifica-se o retrocesso paulista na fase recente da estabilidade monetária alcançada pelo país. O setor industrial paulista regrediu de 43% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional em 1996 para menos de 35% em 2007.

No mesmo sentido, o setor da construção civil teve sua participação relativa diminuída de 37% para 27% no mesmo período de tempo, assim como no caso do setor produtor e distribuidor de eletricidade e gás, de água e esgoto e de limpeza (de 45% para 27%); do comércio (de 41% para 33%); da administração pública (de 21% para 19%); e de serviços (de 35% para 34%).

Apesar dessas quedas relativas na participação econômica do Estado de São Paulo na produção nacional, percebe-se que houve crescimento do peso paulista em outros setores, não necessariamente estimulantes em termos da construção exitosa do seu futuro.

O setor da agropecuária ampliou sua participação de 8,6%, em 1996, para 11,7%, em 2007, e o de intermediação financeira teve ampliação de 49,9% para 51,4% no mesmo período de tempo. Mesmo reconhecendo a importância dos setores agropecuários e financeiros, sabe-se que eles não são suficientes para contribuir decisivamente na construção de uma sociedade superior.

O que se verifica, inclusive, são sinais de decadência, com a queda da importância relativa de São Paulo na economia nacional, de quase 36% em 1996 para 33% em 2007, e a queda da importância paulista no conjunto da população brasileira não pobre, de 37% para menos de 32%. Ademais, observa-se que as escolhas governamentais mais recentes apostam mais no passado do que no futuro.

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Em geral, a trajetória do desenvolvimento capitalista tem sido a evolução da sociedade agrária para a sociedade urbano-industrial, e desta para a pós-industrial.

No caso paulista, entretanto, constata-se a sinalização de interrupção na passagem da sociedade industrial para o pós-industrial, com importante retorno ao velho agrarismo.

O setor agropecuário gera riqueza empregando cada vez menos mão de obra, enquanto a intermediação financeira opera com crescente tecnologia de informação poupadora de força de trabalho, o que compromete o futuro de inclusão e coesão social paulista.

Marcio Pochmann, economista, é presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp. Foi secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo (gestão Marta Suplicy)

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Comentários

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Pitagoras

Para onde vai eu não sei; para onde foi há muito tempo, aí eu sei: pro buraco. E não tem mais saída. É irreversível a péssima qualidade de vida nesta megalópole. Uma mistura explosiva sem nenhuma visão de equilíbrio, harmonia, bom-senso e sobrando interesse próprio, aliado a uma inegável alienação, ignorância, duma população que só cresce transformaram São Paulo num inferno de concreto, asfalto, poluição sonora, atmosférica, estética, regado a corrupção endêmica. E o pior é que as demais cidades elem este lixo como paradigma positivo em vez de negativo.
Não tem jeito, sô, só mesmo Bin Laden!

beattrice

Se São Paulo não reagir, duvido que setores produtivos resistam a mais dois mandatos do tucanato, porque eles contem os mandatos de dois em dois na dinastia tucana.

Gerson Carneiro

Urge São Paulo descer do pedestal e sentir-se, de verdade, sem hipocrisia, integrado à Nação.
Politicamente São Paulo já está isolado. Em assim permanecendo não irá a lugar nenhum.

Marat

Deve mais ao FMI e ao Tio Sam… – rsrsrsrsrs

Marat

Pensando bem, com o PSDB/PFL o Brasil não pode mais, o Brasil DEVE mais…

Marat

Com a turma do PSDB/PFL o Brasil pode mais: Pode mais é se danar!!!

Marat

Antigamente ACM (de triste memória) era considerado um coronelzão lá na Bahia… São Paulo hoje é um feudo pessedebista. Um feudo cercado por pedágios…

Guanabara

Sou grande fã do Márcio Pochmann, mas considero a interpretação dos numeros exagerada. Sem querer passar a mão em cabeça de tucano, mas analisando uma proporção dentro do todo brasileiro, temos que ponderar o forte crescimento de outras regiões antes esquecidas do país. SP poderia ter "feito mais"? (não resisti, hehe) Talvez, se tivesse tido governos que governassem progressistamente e não que só pensassem em atacar politicamente quem estava efetivamente "fazendo mais" pelo país. Verdade seja dita, SP, sozinho, ainda é responsável por 1/3 de todo o PIB brasileiro, e não é pouca coisa não…. Vejo essa queda na proporção como algo positivo. SP não precisa encolher, mas também não deve, em hipótese alguma, ser o único estado forte da federação.

Carlos

Aguardem resposta de Serra, "doutor em economia"…

Jairo_Beraldo

"O setor agropecuário gera riqueza empregando cada vez menos mão de obra"
Essa afirmação deixa duvidas. O setor PECUÁRIO, sim. Mas o setor AGRÍCOLA, não. A agricultura exige muita mão de obra. A pecuária quase não precisa, e dependendo do tamanho da propriedade, basta os proprietários e sua família.

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