3/3/2010
“A devastação de Gaza pelos israelenses, contra uma população civil cercada – e usando bombas, dinheiro e cobertura diplomática dos EUA – foi tão brutal e horrenda que mudou para sempre o modo como o mundo vê o conflito no Oriente Médio” [Glenn Greenwald, blogueiro de Salon.com, durante a guerra de Gaza].
por Norman Finkelstein, em Counterpunch
A indignação mundial gerada pela invasão de Gaza não nasceu do nada nem foi repentina. De fato, foi a culminação de uma curva que há muito tempo marcava o crescente declínio do apoio a Israel em todo o mundo. Como mostram dados de pesquisas recolhidos nos EUA e Europa, todos os públicos, de judeus e não-judeus, foram-se tornando cada vez mais críticos das políticas israelenses ao longo de toda a última década. As imagens horrendas de morte e destruição mostradas pela televisão em todo o mundo durante a invasão de Gaza aceleraram aquele processo. “A frequência brutal e sempre crescente de guerra naquela região volátil fez mudar a tendência da opinião internacional” – escreveu o britânico Financial Times em editorial, um ano depois da invasão de Gaza –, “fazendo lembrar que Israel não está acima da lei. Israel não pode continuar a ditar os termos dessa discussão.”
Pesquisa feita nos EUA logo depois do ataque israelense a Gaza mostrou que o número de eleitores norte-americanos que se autodefiniam como apoiadores de Israel havia caído de 69% antes do ataque, para 49% em junho de 2009; e o número de eleitores que acreditavam que os EUA deveriam continuar a apoiar Israel, caiu de 69% para 44%.
Consumida pelo ódio, cheia de arrogância e confiante de que poderia controlar ou intimidar toda a opinião pública, Israel atacou Gaza com fúria de assassino que confia que jamais será apanhado, mesmo que promova assassinatos em massa à luz do dia. Mas, embora o apoio oficial a Israel não se tenha alterado no ocidente, a carnificina fez crescer uma onda sem precedentes de indignação popular em todo o mundo. Seja porque o ataque contra Gaza veio depois da devastação que Israel provocou no Líbano, ou por causa da incansável perseguição contra o povo de Gaza, ou seja, porque o ataque a Gaza foi ataque covarde, fato é que o ataque a Gaza em dez.-jan. 2009, parece ter marcado um ponto de virada na opinião pública em relação a Israel. O mesmo tipo de mudança aconteceu também depois do massacre de negros em Sharpeville, em 1960, na África do Sul.
Nas organizações oficiais da diáspora judaica, que têm laços antigos com Israel, o apoio continuou como sempre, cego. Ao mesmo tempo, contudo, organizações de judeus progressistas começaram a afastar-se de Israel, umas mais, outra menos. Enquanto, antes, todos os judeus mais conhecidos no mundo sempre apoiaram as guerras de Israel, muitos, dessa vez, mostraram-se ambivalentes durante a invasão, com uma maioria mais idosa e declinante que saiu em defesa de Israel e uma minoria crescente, mais jovem, que declaradamente fez oposição à invasão de Gaza. Entre o crescente incômodo dos mais jovens em face do belicismo israelense e as muitas vacilações ante a tarefa de apoiar Israel, o massacre de Gaza marcou uma primeira grande fissura no, antes, irrestrito apoio dos judeus a todas as guerras de Israel. Muitos constataram que, ao mesmo tempo em que em todo o ocidente as manifestações contra os ataques a Gaza foram sempre multiétnicas (com a presença de muitos judeus), as demonstrações ‘pró’ Israel sempre reuniram quase exclusivamente judeus.
A evidência de que a oposição ativa à política de Israel – por exemplo, nas universidades – já extrapolou os limites do mundo árabe-muçulmano e já alcançou públicos aos quais antes não chegava, ao mesmo tempo em que encolheu o apoio ativo a Israel, já confinado a uma fração do núcleo mais conservador dos judeus étnicos, é importante indicador da direção para a qual as coisas estão andando. A era da “bela” Israel já passou, parece que para sempre; foi substituída por uma Israel desfigurada que, nos últimos tempos ocupa a consciência pública e provoca embaraço cada dia maior. Não se trata apenas de Israel agir ainda mais mal do que antes, mas, sobretudo, de as ações de Israel terem ultrapassado o limite do que as consciências toleram.
Já não é possível negar ou desqualificar o que todos veem. A documentação do conflito árabe-israelense estabelecida por historiadores conhecidos conflita com versões popularizadas por livros como Êxodo de Leon Uris. Há evidências de inúmeras violações por Israel dos direitos humanos básicos dos palestinos, todas documentadas por organizações conhecidas; essas evidências não confirmam os discursos israelenses e o muito alardeado compromisso com “a Pureza das Armas” [heb. Tohar HaNeshek; ing. Morality in Warfare; é o código ético do Exército de Israel: “moralidade/pureza na guerra”]. As deliberações de corpos políticos e jurídicos respeitados manifestam graves dúvidas quanto ao alardeado compromisso de Israel com a resolução pacífica de conflitos. Por muitos anos, os ‘apoiadores’ de Israel conseguiram evitar o impacto da documentação que se foi acumulando; na maioria dos casos, ocultaram-se por trás de duas espadas gêmeas sempre em riste: o Holocausto e um “novo antissemitismo”.
Houve quem dissesse que os judeus não poderiam ser avaliados pelos padrões morais/legais comuns, depois do inexcedível sofrimento pelo qual passaram durante a II Guerra Mundial e que toda e qualquer crítica às políticas de Israel seriam sempre motivadas por um jamais extinto ódio aos judeus. Quanto a isso, além do desgaste que sofrem todos os argumentos excessivamente usados, esse argumento perdeu muito da eficácia que algum dia teve quando as críticas às políticas de Israel chegaram, afinal, às correntes mais amplas da opinião pública. Incapazes de responder àquelas críticas, os apologistas de Israel conjuram hoje as mais bizarras teorias para explicar o ostracismo ao qual se condenaram. Para George Gilder, guru ‘econômico’ do governo Reagan, o sistema de livre mercado teria modo específico para desencadear os potenciais humanos; e que portanto, sob sistemas de livre mercado, os judeus deveriam “estar sempre representados não proporcionalmente nos escalões superiores”, porque seriam seres humanos naturalmente mais bem dotados que outros. Inversamente, se os judeus não estiverem no comando, comprovar-se-ia que o sistema econômico não alcançou a perfeição.
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O antissemitismo brotaria do ressentimento provocado pela “superioridade e excelência dos judeus” e pela “manifesta supremacia dos judeus sobre todos os demais grupos étnicos”; e o ódio contra Israel, do fato de Israel ter evoluído (sob a inspirada tutela de Benjamin Netanyahu) num perfeito sistema de livre mercado que “concentra o gênio dos judeus,” fazendo de Israel “uma das potências capitalistas mundiais líderes” e inveja do mundo: “Israel é odiada sobretudo por suas virtudes.”
Se há judeus que criticam Israel, tratar-se-ia de pura inveja: “os judeus destacam-se tanto e tão rapidamente nos campos intelectuais, que deslocam e derrotam todos os rivais antissemitas.” O ocidente deve tratar, isso sim, de proteger Israel e os israelenses contra “as quimeras mundiais de soma-zero e as fantasias de vingança e morte dos jihadistas”, e contra “as massas bárbaras”, porque foram os talentos e dotes dos judeus que levaram a humanidade “a crescer e prosperar”; em conclusão, porque os judeus são “decisivos para a raça humana”.
E prossegue: “se Israel for destruída, toda a Europa capitalista morrerá; e os EUA, epítome do capitalismo criativo e produtivo empurrado pelos judeus, estará sob grave risco”; “Israel é a vanguarda da próxima geração de tecnologia; está na linha de defesa de uma nova guerra racial contra o capitalismo, contra a individualidade e o gênio judeu”; “Assim como o livre mercado é necessário à sobrevivência das populações humanas sobre a face da Terra, a sobrevivência dos judeus é necessária para garantir o triunfo das economias livres. Se Israel for calada ou destruída, todos sucumbiremos ante as forças que hoje combatem o capitalismo e a liberdade em todo o mundo.”
Do outro lado do Atlântico, Robin Shepherd, diretor de assuntos internacionais da Henry Jackson Society, sediada em Londres, garante que Israel foi alvo de críticas fortes pelo ocidente, não porque seja campeã da defesa dos direitos humanos, mas porque é Estado capitalista democrático obrigado a lutar na linha de frente, ao lado dos EUA, contra o islã radical que seria “ameaça civilizacional”: “Israel tornou-se inimiga não por algo que tenha feito”, mas “porque estava do lado errado das barricadas”. A “principal plataforma de energização no ocidente” para essa “maré incontrolável de histeria, mistificação e distorções contra o Estado judeu” são “os marxistas totalitários e a esquerda liberal, viajantes que, desapontados pelo proletariado ocidental e desiludidos das lutas de libertação do Terceiro Mundo, uniram-se em causa comum com “o islã militante” para destruir a ordem mundial liberal-capitalista. Embora esses críticos de Israel não sejam antissemitas no tradicional sentido “subjetivo” de desprezar os judeus por serem judeus, são agentes de um antissemitismo “objetivo”, porque Israel tornou-se fator central da identidade dos judeus no mundo contemporâneo.
Mas a oposição a Israel também emanaria dos ‘sangue-azul’ do antigo regime que sonham com restaurar as hierarquias do velho mundo, devolvendo-as ao ponto em que teriam sido rompidas pelos arrivistas judeus. Essa conspiração neoantissemita reuniria “quase todos” os que acusam Israel de ter cometido crimes de guerra e de outras violações das leis internacionais. Evidentemente, deve-se entender que, por trás da condenação de Israel pela Anistia Internacional e pela Corte Internacional de Justiça, Jimmy Carter e Mairead Corrigan Maguire ganhadores do Prêmio Nobel, o Financial Times e a BBC, age a mão oculta da gangue dos radicais esquerdistas fanáticos aristocratas islâmicos. Para os que queiram saber mais, Shepherd recomenda “fortemente” que leiam The Case for Israel, de Alan M. Dershowitz.
Embora falte credibilidade a essas explicações para o isolamento de Israel, não há dúvidas de que as ações de Israel entraram em queda livre. Embora Israel tenha conquistado muitos simpatizantes ocidentais depois de fulgurante vitória de junho de 1967, a verdade é que, nos anos mais recentes, já está reduzida a Estado pária, sobretudo entre os europeus. Pesquisa de 2003 feita pela União Europeia, classificou Israel como principal ameaça à paz do mundo. Em 2008, pesquisa de opinião pública global classificou Israel como o principal obstáculo à paz no conflito Israel-Palestina. Em pesquisa do BBC World Service, feita imediatamente depois da invasão de Gaza, 19 dos 21 países pesquisados manifestaram opinião negativa sobre Israel.
Simultaneamente, sob o título “Second Thoughts about the Promised Land” [“Pensando melhor sobre a Terra Prometida”][1], a revista The Economist reporta em 2007 que “embora a maioria dos judeus da diáspora ainda apóiem Israel, aumentaram as dúvidas e a ambivalência.” Vozes de judeus discordantes começam a fazer-se ouvir na Grã-Bretanha, na Alemanha e em outros países, desafiando a hegemonia das organizações judias oficiais que repetem como papagaios a propaganda israelense. Nos EUA as tendências ainda não são muito claras, mas nem por isso menos significativas. Avaliando-se pelos dados de pesquisa, pode-se dizer que os norte-americanos sempre tenderam consistentemente mais a favor de Israel que dos palestinos. Mas os norte-americanos cada vez mais claramente também apóiam que os EUA trabalhem para mediar o conflito; mais recentemente, já há pesquisas que mostram “níveis equivalentes de simpatia” pelos dois lados, e minoria já substancial opinou que as políticas dos EUA favorecem (ou favorecem muito) Israel; uma robusta maioria de norte-americanos “opinaram que Israel não está fazendo bem a parte que lhe cabe de esforços para resolver o conflito”; e já há muitos norte-americanos que pregam o uso de sanções para conter Israel.
Significativamente, a maioria dos norte-americanos também apoiaram um acordo de dois Estados sobre as fronteiras demarcadas em junho de 1967, com total retirada dos israelenses dos territórios ocupados na guerra de junho. “Sim, as pesquisas mostram forte apoio a Israel,” observou em 2007 M. J. Rosenberg, diretor de análises políticas do Israel Policy Forum, a respeito das tendências de então; contudo “esse apoio a Israel, como mostram as pesquisas, é amplo mas não é muito profundo.” Esse fenômeno observa-se quase todos os dias nas “Cartas do Leitor”. Cada vez que aparece alguma coluna sobre Israel, sobretudo se critica Israel, aparecem várias cartas de leitor. A maioria apoia a posição israelense. E quase sem exceção as cartas são assinadas por judeus. A vasta maioria [de não judeus norte-americanos] que se supõe que sejam também favoráveis às posições de Israel não escrevem. Conforme pesquisa de 2007 feita pela Liga Antidifamação [ing. Anti-Defamation League (ADL)] a opinião de norte-americanos a favor de Israel é acentuadamente menos favorável do que suas opiniões favoráveis pró Grã-Bretanha e Japão; e é praticamente tão favorável quanto as opiniões pró Índia ou México. Quase a metade dos respondentes entendem que os EUA devem trabalhar aliados a Estados árabes “moderados”, “mesmo que isso contrarie Israel”.
Metade ou mais dos norte-americanos pesquisados culpam igualmente Israel e o Hizbollah pela guerra do Líbano, no verão de 2006, e apoiaram uma posição (mais) neutra dos EUA. Além disso, em anos recentes, vários grupos religiosos, como a Igreja Presbiteriana dos EUA, o Conselho das Igrejas, a Igreja Unida de Cristo e a Igreja Metodista Unida têm apoiado iniciativas, inclusive a favor do desinvestimento em corporações, para forçar o fim da ocupação da Palestina. Em pesquisa de 2005, feita por Steven M. Cohen, judeu, constatou-se que “a ligação dos judeus norte-americanos com Israel enfraqueceu de modo mensurável nos últimos dois anos, (…) seguindo tendência que se observava há muito tempo.” Menos respondentes, em relação a pesquisas anteriores, declararam prontamente seu apoio a Israel, que conversavam sobre Israel ou que participavam de atividades de apoio a Israel.
Significativamente, não houve declínio semelhante em outras mensurações de identificação com os judeus, incluindo práticas religiosas, observação de preceitos religiosos ou afiliação comunitária. A pesquisa mostrou 26% que se declaram “muito” emocionalmente ligados a Israel, menos que os 31% que se viram em pesquisa de 2002. Cerca de 2/3, 65%, declararam que acompanham de perto o noticiário sobre Israel, menos que os 74% da pesquisa de 2002; e 39% disseram que conversam regularmente com amigos judeus; menos que os 53% de 2002.
Israel também caiu nas pesquisas como componente da identidade judaica pessoal dos respondentes. Quando lhes eram mostrados vários fatores, entre os quais religião, justiça social e comunidade, ao lado de “preocupação com o destino de Israel”, e perguntados “quanto, de cada um desses fatores, pesa no seu sentimento de ser judeu?”, 48% responderam que Israel pesa “muito”; em 2002, foram 58%. Apenas 57% afirmaram que “a preocupação com o destino de Israel é parte muito importante do meu sentimento de ser judeu”; em pesquisa idêntica, de 1989, foram 73%. Pesquisa de 2007, feita pelo Comitê Judeu Norte-americano [ing. American Jewish Committee] mostrou que 30% dos judeus sentiam-se “distantes” ou “muito distantes” de Israel. “No longo prazo”, prevê Cohen, haverá uma “polarização nos judeus norte-americanos: um grupo cada vez menor de judeus mais fortemente religiosos cada vez mais ligados a Israel; e um grupo maior, que se afastará do grupo menor.”
Pesquisa de 2006 mostrou que, entre os judeus norte-americanos de menos de 40 anos, 1/3 declarou-se “distante” e “muito distante” de Israel; pesquisa de 2007 mostrou que, entre os judeus de menos de 35 anos, 40% declarou “fraca ligação” com Israel (apenas 20% declararam “forte ligação”). Surpreendentemente, menos da metade dos respondentes responderam “sim; a destruição de Israel seria vivenciada como tragédia pessoal.” O ex-presidente da Agência Judaica [ing. Jewish Agency] fez soar sinal de alarme, ao divulgar que “menos de 24% dos judeus norte-americanos jovens participam de organizações judaicas. Menos de 50% dos judeus norte-americanos com menos de 35 anos sentem-se profundamente ligados ao povo judeu. Menos de 25% dos judeus norte-americanos com menos de 35 anos autodefinem-se como sionistas.”
Nas universidades norte-americanas, observa-se a queda no apoio a Israel não só entre os alunos judeus em geral, mas também, e principalmente, entre os sionistas reunidos nos Hillels [ing. Hillel Foundation for Jewish Campus Life][2]. “Alunos universitários judeus são claramente menos ligados a Israel hoje do que em gerações anteriores”, dizem vários relatórios de organizações de propaganda pró-Israel. “Israel está perdendo a disputa pelos corações e mentes dos judeus.” De fato, dos cerca de meio milhão de alunos judeus que frequentam instituições de ensino superior, “apenas 5% mantêm qualquer conexão com a comunidade de judeus.”
Observa-se a conversão da ambivalência em aberta oposição em relação a Israel também em outros setores influentes da sociedade norte-americana, mesmo entre as vacas-madrinhas da vida intelectual nos EUA e no público de leitores. Pesquisa recente descobriu que uma maioria de líderes de opinião nos EUA apóiam Israel “movidos sobretudo por insatisfação com os rumos dos EUA” em todo o mundo. Em ensaio publicado em 2003 na New York Review of Books, o historiador judeu Tony Judt escreveu que “a Israel de hoje não é boa para os judeus” e pôs em dúvida tanto a viabilidade quanto a desejabilidade de um Estado judeu. John J. Mearsheimer, da Universidade de Chicago e Stephen M. Walt da Harvard Kennedy School são co-autores de um importante ensaio, de 2006, no qual atacam a imagem idealizada da história de Israel e afirmam que Israel está convertida em “risco estratégico” para os EUA. Livro do ex-presidente Jimmy Carter, provocativamente intitulado Palestine: Peace Not Apartheid, lamenta a política de Israel para os Territórios Palestinos Ocupado e culpa integralmente Israel pela deterioração do processo de paz.
Apesar dos contra-ataques vitriólicos que o lobby pró-Israel lançou contra aquelas intervenções – o discurso usual que acusa todos de serem negadores do Holocausto e antissemitas –, dessa vez os contra-ataques não foram eficazes.
Quando em 2006 as pressões do lobby levaram ao cancelamento de uma das palestras já agendadas de Tony Judt, o caso tornou-se imediatamente cause célèbre nos círculos intelectuais dos EUA. Críticos de Judt, como Abraham H. Foxman da ADL, foram descritos como “gente que se esconde atrás de acusações sem sentido de antissemitismo” e como “anacrônicos”. Carter, por sua vez, foi acusado de plagiador, de haver sido subornado por xeiques árabes, de ser antissemita, de fazer apologia do terror, de simpatizante dos nazistas, e pouco faltou para ser acusado de negar o Holocausto.
Mesmo assim, o livro de Carter chegou rapidamente à lista dos mais vendidos do New York Times e lá permaneceu durante vários meses, tendo vendido mais de 300 mil cópias encadernadas. Embora duramente criticado pelo presidente da Universidade Brandeis, o ex-presidente Carter foi recebido pelos estudantes com uma retumbante ovação, ao chegar para falar naquela universidade judaica tradicional. (E metade da plateia levantou-se e saiu quando Alan M. Dershowitz, professor de Direito de Harvard, levantou-se para discursar em resposta à palestra de Carter.) Mearsheimer e Walt contrataram a publicação de seu livro com a editora Farrar, Straus and Giroux, e seu livro, The Israel Lobby and U.S. Foreign Policy, também esteve por muito tempo na lista dos mais vendidos do Times.
Demonstração extra de que a sorte de Israel está mudando é que, durante o mandato do primeiro-ministro Ehud Olmert, nem Foxman nem Elie Wiesel, perene apoiador de Israel responderam publicamente à evidência de que Israel não se dedicava suficientemente em busca da paz. A crescente insatisfação pública em relação à política de Israel nos últimos anos chegou a ponto de ebulição e converteu-se em indignação manifesta durante a invasão de Gaza. Apesar da cuidadosamente orquestrada blitz de propaganda israelense; apesar de a cobertura jornalística ter sido, como sempre, marcadamente tendenciosa pró-Israel, sobretudo nos primeiros dias do ataque; e apesar do apoio oficial do ocidente ao ataque contra Gaza – apesar de tudo isso, houve enormes manifestações de rua por toda a Europa Ocidental (na Espanha, Itália, França e Grã-Bretanha), tão grandes que encobriram as pequenas manifestações de apoio a Israel.
Estudantes ocuparam universidades por toda a Grã-Bretanha, inclusive nas universidades de Oxford, Cambridge, Manchester, Birmingham, na London School of Economics, na School of Oriental and Asian Studies, Warwick, King’s, Sussex e Cardiff. Mesmo em tradicionais bastiões de apoio a Israel, como no Canadá, onde é particularmente intenso o viés de apoio a Israel da extrema direita e do establishment político e da mídia, os mais diferentes grupos de opinião pública manifestaram-se contra o ataque a Gaza; e o Sindicato Canadense de Servidores Públicos [ing. Canadian Union of Public Employees] aprovou moção em que pede um boicote acadêmico contra Israel.
Declarando depois do cessar-fogo que “os eventos em Gaza nos chocaram profundamente”, um grupo dos 16 juízes e investigadores mais experientes do mundo – entre os quais Antonio Cassese (Primeiro Presidente e Juiz do Tribunal Criminal Internacional para a ex-Iugoslávia e Chefe da Comissão de Investigação da ONU para o Darfur) e Richard Goldstone (Promotor-chefe do Tribunal Criminal Internacional da Comissão de Investigação da ONU para o Kosovo) – pediram que se instalasse “investigação internacional que examine as graves violações da legislação internacional de guerra cometidas pelos dois lados no conflito de Gaza.”
Como sempre, invariavelmente, os apologistas de Israel atribuíram ao crescimento do antissemitismo a crescente indignação contra a ação israelense em Gaza. Deve-se registrar que, como regra geral, quanto mais profundamente violenta é a conduta criminosa de Israel, mais aumentam, em decibéis, as ‘denúncias’ de antissemitismo. Os judeus estariam enfrentando “uma epidemia, uma pandemia de antissemitismo”, declarou Abraham H. Foxman. “É a pior, a mais intensa, a mais global onda de antissemitismo que nossa memória registra.” Não que esse tipo de diagnóstico seja novidade para Foxman que, em 2003, não se cansava de repetir que “a ameaça à segurança do povo judeu é tão grande hoje quanto foi nos anos 30s.”
Como no passado, sempre aparecem dados de pesquisa que confirmam esses exageros, chamados “indicadores” das “mais perniciosas noções de antissemitismo”; por exemplo, uma pesquisa que descobriu que “grandes porções da opinião pública europeia continua a achar que os judeus falam demais sobre o que lhes aconteceu no Holocausto.” Segundo um “filósofo” midiático francês, Bernard-Henri Lévy, qualquer um que ponha em dúvida que o holocausto nazista “foi um ponto de virada irreversível da história da humanidade” deve ser considerado antissemita. Na Europa, poucas das manifestações ditas antissemitas foram além de manifestações covardes ou apenas desagradáveis, como emails ou graffiti, porque o antissemitismo europeu, por mais que se deixe ver vez ou outra, empalidece completamente se comparado à islamofobia no continente. (Observou-se de fato, recentemente, oposição crescente a judeus e muçulmanos – as duas curvas parecem estar correlacionadas –, resultado provável do ressurgimento do etnocentrismo entre os europeus mais velhos, menos letrados e de orientação política mais conservadora.)
Apesar de tudo, parece ser verdade que a execução, por um autoproclamado Estado judeu, de vários ataques assassinos no Líbano e em Gaza, e o apoio que esses ataques receberam de organizações oficiais de judeus em todo o mundo, determinaram um muito lamentável – embora absolutamente previsível – efeito de “respingamento” sobre todos os judeus, que parecem estar começando a ser, todos, considerados culpados. Se, como o Fórum Israelense de Coordenação da Luta contra o Antissemitismo [ing. Israeli Coordination Forum for Countering Anti-Semitism] afirmou “houve claro aumento no número e na intensidade de incidentes antissemitas” durante o massacre de Gaza; e se “com o cessar-fogo, houve marcado declínio no número e na intensidade dos incidentes antissemitas”; e “outro ataque semelhante à operação em Gaza determinará novo surto de atividade antissemita contra comunidades em todo o mundo”, então, método eficaz de combater o antissemitismo parece ser conseguir que Israel suspenda a prática de massacres.
Também é verdade que o crescente fosso entre apoio oficial aos belicistas israelenses e a rejeição popular aos mesmos belicistas parece estar servindo de combustível a mais teorias antissemitas conspiratórias. Na Alemanha, por exemplo, o establishment político e a mídia dominante não dão espaço a qualquer crítica contra Israel por causa do “relacionamento especial”, ideia que cresce na Alemanha, a partir do que se entende que seja “a responsabilidade histórica” da Alemanha. A chanceler Angela Merkel antecipou-se a outros líderes europeus na defesa de Israel durante a invasão de Gaza. Mesmo assim, pesquisas recentes mostraram que 60% dos alemães rejeitam a ideia de que os alemães tenham qualquer especial obrigação com Israel (entre os jovens, a porcentagem chega a 70%); 50% veem Israel como país agressivo; e para 60% Israel persegue seus interesses mediante métodos cruéis.
Em termos mais gerais, Gideon Levy lembrou “a cena surreal, no auge do brutal ataque contra Gaza, quando chefes de Estado da União Europeia vieram a Israel e jantaram com o primeiro-ministro, em manifestação de apoio unilateral ao lado que promovia matança e destruição.” E embora tenha sido Israel a quebrar o acordo de cessar-fogo e lançar a invasão, os líderes europeus fizeram coro aos EUA (e ao Canadá) e pregaram o desarmamento, não dos assassinos, mas das vítimas. É questão de tempo, e os europeus começarão a preocupar-se – se já não começaram – com os interesses que se escondem por trás das políticas internacionais de seus respectivos governos.
A acusação de antissemitismo contra os não-judeus que se indignaram contra o massacre de Gaza parece cada dia mais sem sentido e mais mal-intencionada, face à indignação crescente e claramente manifesta também entre os judeus. Ao mesmo tempo em que organizações oficiais de judeus lançavam manifestos de apoio a Israel na invasão de Gaza, por todos os lados surgiam manifestações contra o massacre de Gaza, e assinadas também por organizações de judeus.
Muitos judeus de alto prestígio na vida das comunidades judaicas criticaram também Israel, embora nem sempre essas falas tenham sido muito claras ou muito divulgadas. Quando Israel passou à ofensiva por terra, depois de uma semana de ataques aéreos, um grupo dos mais destacados judeus britânicos, que se autoapresentaram como “apoiadores profundos e apaixonados” de Israel, manifestaram-se “horrorizados” ante o crescente número de mortos dos dois lados” e conclamaram Israel a cessar imediatamente qualquer operação militar em Gaza. Em tom muito mais contundente, o deputado e ex-ministro de relações estrangeiras do “Shadow Cabinet” Gerald Kaufman declarou em debate na Casa dos Comuns sobre Gaza: “Minha avó estava de cama, doente, quando os nazistas chegaram à cidade dela, Staszow. Um soldado alemão matou-a a tiros, na cama. Minha avó não morreu para dar cobertura a soldados israelenses que assassinem avós palestinas em Gaza.” E acusou o governo de Israel de “explorar cruel e cinicamente o sentimento de culpa dos não-judeus pelo massacre de judeus no Holocausto, como justificação para o massacre de palestinos.”
Quase ao mesmo tempo, na França, Jean-Moïse Braitberg, escritor judeu muito popular exigiu que o presidente de Israel removesse o nome de seu avô do memorial no Yad Vashem dedicado às vítimas do holocausto nazista, “para que o nome do meu avô não continue a ser usado para justificar o horror praticado contra os palestinos.”
Na Alemanha, Evelyn Hecht-Galinski, filha de um ex-presidente do Conselho Geral dos Judeus na Alemanha, escreveu “Não o governo eleito do Hamás, mas o brutal exército ocupante (…) deve ser levado às barras do tribunal internacional de Haia”, ao mesmo tempo em que a seção alemã da organização Judeus Europeus a Favor de uma Paz Justa lançou manifesto em que se lia: “Os judeus alemães dizem NÃO à matança praticada pelo exército de Israel”.
No Canadá, oito mulheres judias que ocupavam o consulado de Israel conclamaram “todos os judeus a manifestar-se contra esse massacre”. E Anton Kuerti, aclamado pianista canadense declarou que “Os inacreditáveis crimes de guerra que Israel está cometendo em Gaza (…) fazem-me sentir vergonha de ser judeu.” Na Austrália, dois romancistas premiados e um ex-deputado assinaram declaração em que, como judeus, condenam “o ataque tão violentamente desproporcional de Israel contra Gaza”.
O governo Bush e o Congresso dos EUA deram absoluto apoio a Israel durante a invasão. Resolução culpando integralmente o Hamás por todas as mortes e pela destruição de Gaza foi aprovada unanimemente no Senado e por 390 votos a favor e 5 contra, na Câmara de Deputados. Praticamente toda a mídia corporativa nos EUA também ofereceu, sem qualquer pejo, total apoio a Israel. “No Dia de Ano Novo, o esquadrão de louvação a Israel ocupou todas as páginas de colunas assinadas de todos os principais jornais nos EUA, como se fossem quintal seu”, observou o jornalista Max Blumenthal. “De todas as colunas assinadas publicadas no Washington Post, no Wall Street Journal e no New York Times desde o início da guerra contra Gaza, apenas uma coluna manifestava alguma dúvida quanto à correção e justeza do assalto.”
O máximo em matéria de ouvir os dois lados, para o New York Times, consistiu em publicar, lado a lado, os delírios de Jeffrey Goldberg sobre o mal absoluto representado pelo Hamás, e os conselhos de Thomas Friedman, para que Israel infligisse “pesadas dores à população de Gaza”. O rival novaiorquino do Times, o New York Daily News publicou coluna assinada pelo rabino Marvin Hier que conclamava os líderes mundiais a “nunca mais reconstruir Gaza”, apesar do sofrimento de “muitos civis”, porque “terroristas e gente que apóia terroristas não merecem qualquer mercê por sua desumanidade, crimes e cumplicidade.” Hier é fundador e líder do Centro Simon Wiesenthal e do Museu da Tolerância. Na névoa desse esquadrão de linchamento, até organizações de defesa dos direitos humanos dedicaram-se a condenar pesadamente o Hamás.
Apesar dessas doses massivas de veneno, pesquisas de opinião pública mostraram que, embora a maioria criticasse sempre muito pesadamente o Hamás, apenas 40% dos norte-americanos aprovavam o ataque israelense; e entre os eleitores do Partido Democrata (onde há grande número de judeus), a aprovação caía a 30%. Numa dramática manifestação de independência, que fez lembrar Jimmy Carter ao publicar seu Palestine Peace Not Apartheid, um ícone liberal, Bill Moyers, criticou Israel em seu programa de grande audiência, “Bill Moyers Journal”: “Ao matar indiscriminadamente idosos, crianças, famílias inteiras, ao destruir escolas e hospitais, Israel fez exatamente o que fazem os terroristas.”
Como Carter, Moyers imediatamente se tornou também alvo preferencial de Abraham H. Foxman, que o acusou de “racismo, revisionismo histórico e complacência com terroristas”; e do professor de Direito em Harvard, Alan M. Dershowitz, que escreveu sobre a “falsa equivalência moral” que Moyers teria construído entre o terrorismo do Hamás e o exército de Israel que “inadvertidamente matou alguns poucos civis palestinos usados como escudos humanos pelo Hamás.” Mas, outra vez como Carter, Moyers não cedeu e, depois que vários outros liberais saíram em sua defesa, conseguiu emergir sem arranhões, dessa fuzilaria de críticas e calúnias.
Enquanto avançava a invasão de Gaza, e as imagens de uma carnificina chocante transmitidas ao vivo pela rede Al-Jazeera já não podiam ser ignoradas, começaram a surgir fissuras na corrente dos apoiadores de Israel ditos ‘moderados’. Sob o título de “A Solução dos Dois Estados perdeu a hora e a vez?” o programa “60 Minutos”, dos mais vistos nos EUA, levou ao ar matéria sobre colonos judeus na Cisjordânia, em que se viam “residências de famílias árabes ocupadas por soldados do exército de Israel”. A página dos editoriais do Wall Street Journal, tradicionalmente de direita, publicou artigo assinado pelo professor de Direito George E. Bisharat sob a manchete “Israel comete crimes de guerra.” Roger Cohen, colunista do New York Times e incansável defensor de Israel, confessou em várias colunas que “estou envergonhado de ver as ações de Israel”. Noutra coluna, Cohen especulava: “a continuada expansão das colônias, o bloqueio contra Gaza, o muro de separação na Cisjordânia e o recurso à tecnologia de guerra” parecem ter sido planejadas precisamente para “humilhar os palestinos, quebrar-lhes a resistência e a autoestima, até que desistam de lutar por seus sonhos legítimos de alcançar um Estado, cidadania e dignidade.”
Para Andrew Sullivan, ex-editor de New Republic e autor conservador, o ataque dos israelenses contra Gaza “está longe do que se pode considerar atitude moral (…), nessa guerra que parece ser guerra de um lado só”. E chamou de “bárbaros” os judeus de direita que defendiam “a terrível carnificina que Israel pratica hoje (financiada em parte pelos EUA).” Philip Slater, autor de The Pursuit of Loneliness, estudo sociológico, declarou que “A Faixa de Gaza é pouco diferente de um grande campo de concentração comandado por israelenses, nos quais os palestinos são perseguidos e atacados, morrem de fome, não têm nem gasolina, nem água, nem energia elétrica – não encontram nem materiais de primeiros socorros. (…) Difícil, isso sim, seria respeitar os palestinos se não reagissem, pelo menos, com alguns foguetes de fabricação caseira”.
Enquanto isso, o Conselho Municipal de Cambridge, Massachusetts, enclave liberal, que abriga a Universidade de Harvard, adotou resolução “condenando os ataques contra e a invasão de Gaza pelo exército de Israel e os ataques com rojões de fabricação caseira lançados contra a população de Israel”; e um grupo de professores universitários nos EUA lançou campanha nacional conclamando ao boicote acadêmico e cultura contra Israel. Pesquisa feita pela organização American Jews descobriu que 47% dos entrevistavam apoiavam fortemente o ataque israelense, mas – em violento contraste com a ideia de que haveria massiva solidariedade a Israel – 53% dos entrevistados mostraram-se ambivalentes: 44% aprovavam ou desaprovavam “com reservas”; e 9% declararam-se “absolutamente contrários”.
Analistas experientes da comunidade dos judeus norte-americanos já detectam “mudanças pós-Gaza”. À parte “o segmento dos mais conservadores da comunidade pró-Israel”, observou M. J. Rosenberg do Fórum Israel Policy, “poucos manifestam abertamente apoio àquela guerra. Em Nova York, cidade na qual, no passado, se reuniram multidões de 250 mil pessoas em manifestações de ‘solidariedade’ a Israel, apenas 8 mil foram a Manhattan para uma manifestação “de judeus” num domingo de sol. Em confronto público com a liderança tradicional da comunidade, organizações de judeus consideradas hegemônicas, embora menos conhecidas, como a J Street, ficaram a meio caminho e “reconhecem que nem os israelenses nem os palestinos têm qualquer monopólio dos certos e errados”; e recomendaram “que se evitem as posições estreitas de ‘nós contra eles’, em todas as questões do Oriente Médio. ”
Fundada em 2008, a organização J Street aspira a ser um contraponto liberal ao American Israel Public Affairs Committee (AIPAC). É cedo demais para saber se J Street – que trabalha atualmente numa agenda vagamente progressista, embora também se defina como “mais próxima” do Kadima, partido político israelense liderado por Tzipi Livni – chegará a firmar-se como “oposição leal” ou se aprofundará o teor das críticas contra a política israelense à medida que se aprofundar o fosso que separa os judeus norte-americanos e o atual governo de Israel.
Por sua vez, o grupo American Jews for a Just Peace divulgou manifesto conclamando os soldados israelenses “a porem fim à prática de crimes de guerra”. Outro grupo (“Judeus dizem não!”) reuniu-se em manifestação em frente da sede da Organização Sionista Mundial e dos escritórios da Agência Judia. E o grupo “Judeus contra a ocupação” distribuiu panfletos no West Side em Nova York, em que se lia “”Israel, saia de Gaza, AGORA!” Nos círculos intelectuais judeus liberais, só os apoiadores perpétuos de Israel, a maioria dos quais foram arregimentados depois da guerra de junho e já passam hoje dos 70 anos, ousaram manifestar-se em defesa da invasão de Gaza.
Para Michael Walzer, filósofo, pareceu óbvio que Israel exaurira todas as alternativas não violentas antes de atacar; e culpa do Hamás, se morreram civis. Para Walzer, a única “questão relevante” seria se Israel fez tudo que poderia ter feito para diminuir o número de baixas entre os civis.
Como sempre, para Alan M. Dershowitz, Israel “empreendeu seus melhores esforços para não matar civis”, estratégia que falhou porque o Hamas investiu na “estratégia de matar bebês”, para forçar Israel a matar crianças palestinas e, assim, conquistar a simpatia da comunidade internacional.
Também como sempre, para Martin Peretz, editor de New Republic, que examinou os sapatos dos palestinos, o bloqueio de Gaza seria benigno: “É preciso examinar os pés dos palestinos, para ver que usam tênis novos e, evidentemente, caros.”
Paul Berman entendeu como óbvia “uma possibilidade” de que o Hamás algum dia venha a promover o genocídio de judeus, “se se permitir que o Hamás continue a prosperar, e se seus aliados do Hezbollah e do governo iraniano conseguirem prosseguir com seus planos para construir bombas atômicas”. Sendo isso óbvio, Berman conclui que Israel, sim, tem todo o direito de atacar os palestinos, como medida de prevenção. (…)
Mas houve um influente contingente de intelectuais públicos liberais judeus que não se calou: a nova geração de bloggers judeus liberais e colaboradores regulares dos websites liberal-Democratas (p. ex., Salon.com e Huffington Post). Quase todos, são editores, anunciantes, patrocinadores, animadores de redes sociais, todos judeus, mas que falam por uma geração que, em larga medida amadureceu em mundo no qual a mitologia sionista já havia sido deslocada e superada por pesquisa histórica sóbria. O establishment político israelense é hoje magro e reacionário. As práticas de Israel no quesito Direitos Humanos já foram acuradamente analisadas pelos especialistas em direitos humanos.
A paranóia induzida pelo Holocausto e o ‘argumento’ do antissemitismo colidiram contra a realidade cotidiana de uma triunfante assimilação dos judeus em toda parte, da Ivy League a Wall Street, de Hollywood a Washington, do clube de campo ao altar de casamento. Profissionalmente, mentalmente e emocionalmente emancipada dos antolhos do passado, esse judeus íntimos da internet partiram para a ofensiva contra a invasão de Gaza desde o primeiro momento.
Há aí um simbolismo que não se pode ignorar. Onde os apologistas mais linha-dura a favor de Israel, como Walzer, Dershowitz e Peretz embarcam ainda no barco dos sionistas, os mais jovens, uma geração de intelectuais públicos judeus que hoje fazem nome e currículos na internet já saltaram dele. “Tenho pena deles, que desprezam sua herança”, sibilou Peretz. “São fedelhos barulhentos.”
Aqui estão alguns dos fedelhos barulhentos, representados por mensagens redigidas por eles.
Ezra Klein (25 anos; blogueiro da página American Prospect), em msg postada no 2º dia da invasão de Gaza: “Os rojões lançados pelos palestinos com certeza “perturbam profundamente” os israelenses. Os postos de controle, os bloqueios nas estradas, a restrição ao direito de ir e vir, a desesperadora falta de empregos, a opressão cada dia mais cruel, as humilhações diárias, as colônias ilegais – desculpem, “os assentamentos” – tudo isso perturba muito mais profundamente os palestinos; e são agressão muito mais grave. E os 300 palestinos mortos, esses, então, nos deveriam perturbar mais profundamente, a todos.”
Adam Horowitz (35 anos; blogueiro de Mondoweiss) escreveu, no 4º dia da invasão, em resposta à coluna de Benny Morris no New York Times: “É evidente que ele só vê as reações, não a causa. Lista respostas a Israel e a ininterrupta colonização da Palestina histórica, sem mencionar que há um elefante na sala; que, se Israel está encurralada, foi Israel quem buscou essa situação.”
Matthew Yglesias (28 anos; blogueiro de Think Progress) escreveu, no 6º dia: “Enquanto Israel diz que quer deixar os palestinos em paz em seu enclave minúsculo, superpovoado, economicamente inviável, o ‘desengajamento’ de Gaza [em 2005] jamais significou que os palestinos passariam a controlar suas fronteiras ou exercer qualquer soberania significativa sobre a área. A proposta, de fato, foi clara: os palestinos abdicam da violência armada contra Israel e, em troca, a Faixa de Gaza será tratada como reserva de índios.”
Dana Goldstein (24 anos; blogueira de American Prospect) escreveu, no 12º dia: “Quero ainda acreditar que a experiência histórica, coletiva do judaísmo e do sionismo pode levar a alguma coisa melhor – algo mais humano – do que o que vi no Oriente Médio semana passada!”.
Glenn Greenwald (42 anos; blogueiro de Salon.com) escreveu no 13º dia: “Não é uma guerra. É o massacre de um lado pelo outro”. E depois, dia 30/1/2010: “É simplesmente impossível fazer progresso real nos objetivos domésticos de restaurar a Constituição e reverter as expansões militares e de espionagem dos israelenses, se, simultaneamente, continuarmos a apoiar cegamente as muitas guerras de Israel (porque acabamos nos afundando, nós mesmos, naquelas guerras).”
Dia 20/2/2009, Greenwald respondeu insinuação de Jeffrey Goldberg de que ele seria “odiador de judeus”, “carrasco de Israel”:
“Pessoas como Jeffrey Goldberg” (…) respondeu Greenwald, “já abusaram, manipularam, exploraram tanto as acusações de “odiador de judeus”, “carrasco de Israel” e acusações de ‘antissemitismo’, sempre para fins desavergonhadamente pessoais, sempre impróprios, que, hoje, aquelas expressões já nada significam, perderam todo o conteúdo crítico, foram trivializadas até se converterem em caricaturas. (…). De fato, pessoas como Goldberg vão se tornando cada vez mais ácidas, mais rançosas, mais agressivas naquela sua retórica, precisamente porque sabem que seus aparelhos de sevícia e tortura retóricas já não servem para nada.” (…) “Há mudança definitiva e importante nos debates políticos nos EUA sobre Israel”, concluiu Greenwald. “Eles já não conseguem semear cada vez mais discórdia com suas táticas de intimidação; e já sabem disso; por isso é que subiram o volume dos seus ataques e dos palavrões e xingamentos. A devastação de Gaza pelos israelenses, contra uma população civil cercada – e usando bombas, dinheiro e cobertura diplomática dos EUA – foi tão brutal e horrenda que mudou para sempre o modo como o mundo vê o conflito no Oriente Médio”. (…)
A metamorfose generacional em relação a Israel é ainda mais evidente nos campi universitários. “Em alguns campi universitários houve mudança profunda em direção a sentimentos mais claramente pró-palestinos ou anti-Israel”, lia-se no Inside Higher Ed, que continua: “Essa mudança foi provocada, em parte, pela guerra do último inverno em Gaza”. Anfiteatros lotados para assistir palestras de comentaristas que se opunham firmemente ao massacre dos habitantes de Gaza. Os grupos ‘pró’-Israel manifestavam dentro dos anfiteatros ou à entrada, sempre grupos pequenos, muitos dos quais nem foram vistos.
Alunos da Cornell University atapetaram as trilhas do campus com 1.300 bandeiras negras, uma para cada palestino morto em Gaza. (Depois, a instalação foi depredada.)
Nas universidades de Rochester, de Massachusetts, de New York, na Columbia University, no Haverford College, no Bryn Mawr College e no Hampshire College, os alunos organizaram abaixo-assinados, manifestações e ocupações [ing. sit-ins] exigindo que se oferecessem bolsas de estudo para alunos palestinos e ações de desinvestimento em indústrias fabricantes de armas e empresas que negociassem com as colônias ilegais exclusivas para judeus. No Hampshire College, os alunos conseguiram que os acionistas e patrocinadores da escola se manifestassem a favor de desinvestir em corporações norte-americanas que auferissem lucros diretamente da ocupação da Palestina.
Embora as organizações ‘pró’-Israel tenham repetido que “colégios e universidades (…) tornaram-se caldo de cultura para o crescimento de uma nova cepa de antissemitismo”, em praticamente todas as principais instituições os alunos judeus participaram ativamente das manifestações pró-palestinos, em comitês locais de “Estudantes pela Justiça para a Palestina” e de “Anarquistas na luta contra o Muro” [ing. Anarchists Against the Wall, além de participações individuais, como de Anna Baltzer, autora de “Testemunha na Palestina”, que visitou várias escolas, para falar pessoalmente do que vira acontecendo na Palestina.
Os laços de solidariedade que se criaram entre jovens judeus e jovens muçulmanos que se opõem à ocupação – em várias universidades, os grupos mais militantes reúnem radicais judeus não-religiosos e mulheres muçulmanas – permitem ter esperança de que será possível construir uma paz duradoura.
Depois de uma palestra que fiz numa universidade canadense, sobre o massacre de Gaza, recebi de presente dos organizadores um broche em que se lia “I ♥ GAZA.” Prendi o broche na minha mochila e parti para a aeroporto. Na fila para o embarque, um passageiro atrás de mim disse-me baixinho “Gosto do seu broche”. Vejam só, pensei eu, the times they are a-changing, como cantou Bob Dylan. Horas depois, pedi um copo d’água ao comissário de bordo. Ao me servir a água, o rapaz curvou-se e disse “Gosto do seu broche”. Hmm, pensei comigo, alguma coisa já está acontecendo por aqui.
* Nota dos editores:
Esse artigo é excerto de um capítulo do novo livro de Norman Finkelstein sobre o conflito de Gaza, This Time We Went Too Far – Truth and Consequences of the Gaza Invasion, publicado esse mês pela editora OR Books. Para comprar o livro, visite http://www.orbooks.com/. O livro não está à venda em livrarias nem em distribuidores de livros por internet.
[1] Em http://www.acbp.net/About/PDF/ARTICLE-Second%20thoughts%20about%20the%20Promised%20Land.pdf
[2] Organização de judeus, ativa em todos os campus universitários em todo o mundo; para conhecer, por exemplo, o Hillel de São Paulo, ver http://www.hillel.org/about/news/2003/20030520_new.htm
O artigo original, em inglês, pode ser lido aqui.
Tradução de Caia Fittipaldi
Comentários
francisco.latorre
pergunta inconveniente…
quantos judeus brasileiros protestaram contra o massacre em gaza?…
…
Cristiana Castro
" Os sionistas são os Demotucanos de Israel" Arrasou, Marcos Neves.
Marcos
hahah!! É ilário todo este artigo! Onde ficam as repressões à Israel por parte dos árabes? Não existe não é? Hahaha!!!
O ataque à Gaza foi resposta aos mísseis muçulmanos à seu território e não devido seu ódio exacerbado e desmotivado como revela este. Todos sabemos que muçulmanos simplesmente matam e exterminam aqueles q estão no seu caminho, caso não fujam. É este o resumo da ópera! Israel não vai fugir com o rabinho entre as pernas de seu território!
Isso tá virando insanidade, não é admissível! Abram os olhos e vejam!
Ismo
Concordo plenamente com você, Israel não vai fugir. Muito simples, ela não tem para onde fugir. Ben-Gurion já falou “É bom Morrer por Israel”
A batata de vocês esta bem assada
Boa noite
Marcos
Resisti e não zuei. Mas vcs quem? rs
É tão fácil rotular, ainda q nem mesmo tenha declarado, mas parece já tê-lo feito em mente não é? rs
Não tem pra onde fugir mesmo. Ali é terra prometida, ainda q não reconheçam. Viveriam em paz caso os muçulmanos nao fossem como são, dominadores intransigentes. Eles nunca aceitam "infiéis" junto à eles. Este é o problema! A partilha foi justamente por isso, mas ainda assim eles não aceitaram não é mesmo? Eles querem tudo, o mundo para eles, os disso vcs não sabem?
Leider_Lincoln
"Mísseis"? Mísseis, meu caro Marcos, são aquelas coisas que a aviação israelense disparou contra hospitais e escolas em Gaza. O que os palestinos lançam, são rojões, em terras que eram deles, antes dos israelenses roubarem-nas. Você deve ser dos que leram o famoso artigo "imagine se alguém entrasse em sua casa e blá blá blá". Imagine você se alguém entrasse em sua casa, dizendo que há 80 gerações atrás, os ancestrais dele eram donos do terreno, ocupassem-na, expulsassem você para o canto mais sujo do quintal e ainda te humilhasse todo dia? Esta é a situação dos palestinos.
A pergunta que cada vez mais gente se faz é a seguinte: se foram os alemães que realizaram o Holocausto, porque não pegaram um pedaço da Bavária e deram aos sionistas? O que os paçestinos tiveram com o Holocausto?
E outra:se os EUA e a URSS gostavam tanto assim dos pobres judeus, por que não cederam um espaço dentro de seus iimensos países aos sionistas, ao invés de darem muma terra que não era deles?
Por fim: mataram 6 milhões de judeus na SGM, mas não mataram igualmente, 25 milhões de russo e 15 milhões de chineses? Por que o sangue judeu vale mais do que o sino-russo?
Abra os olhos vocês, meu caro. Essas perguntas já estão sendo feitas por cada vez mais pessoas e chegará a hora em que a retórica vazia não mais as responderá…
Marcos
Olá. Bom, ok, mísseis ainda nao, kazam's por enquanto entao.
Como vc nao respondeu NADA do q comentei, pq deveria eu te responder?
Abraços.
Ahh, mas os muçulmanos (se der tempo) chegarão aqui, ainda q não nos nossos dias, assim nao sentirão na pele. É só olhar para todo oriente e ásia, onde há muçulmano há conflito, vide Índia, q tem resistido ao domínio deles.
Napoleao Souza Jr
O que dizer dos locais sagrados para o Islam? Não existe Jerusalém! A Mesquita de Al Aqsa e o Domo da Rocha em Jerusalém representam o 3º lugar mais sagrado do Islam? Não é verdade. O Corão não diz nada referente a Jerusalém. Menciona Meca centenas de vezes. Menciona Medina por vezes incontáveis. Nunca menciona Jerusalém. Por uma boa razão. Não há qualquer evidência histórica que Maomé tenha visitado Jerusalém alguma vez. Então, como Jerusalem se tornou o terceiro local mais sagrado para o Islam? Vão enganar outro!
Ismo
Para O Napoleão Popuzão
Eu realmente não tenho condições de fazer um debate sobre a historia com alguém que mistura a historia com pilantragem. Todo que eu posso dizer, a malandragem esta na central rapaz.
Agora que você esta passando por um teólogo também, ou melhor, um grande Ayat Allah. Ai malandro, vou te explicar uma coisa que você não entende:
ALLHO AKBAR
A tradução quer dizer Deus é Maior.
Sabe o que quer dizer isso?
Deus é maior que suas mentiras
Deus é maior que sua “democracia”
Deu é maior que suas aramas
Deu é maior que essa coisa chamada “Israel”
Deus é maior que a ONU
Deu é maior…
São duas palavras, e nos sempre vencemos com essas duas palavras…
Com essas duas palavras vamos levantar de novo a bandeira da verdade… da justiça… do Islã…
A batata de vocês esta bem assada, e a contagem regressiva já começou…
Boa noite
Leider_Lincoln
Isso, está assando e virá temperada com alcaparras.
Vida longa a Teerã!
E por falar nisso, olhem que lindo país: http://www.estadoanarquista.org/blog/?p=1472
Leosfera
não tem evidência histórica de porra nenhuma que está no antigo testamento, ou no novo, aliás. o que importa a população etnicamente árabe que vive na região e quer viver em paz.
Marcos
Se não inventassem isso, não teriam chances (ao menos tentaram) de executar o plano de sua religiao, dominar o mundo. Jerusalem é local reservado! Eles sabiam que seria o território mais complicado de conquistar.
Fernando Marques
(Continuação)
Fica claro que não existirá nenhum esforço real pela Paz por parte destes israelenses, enquanto a disparidade de forças militares entre israelenses e palestinos se mantiver no patamar atual.
Os imprevidentes belicistas sionistas confiam demais na sua supremacia bélica (e de seus aliados), bem como nos seus medonhos e execráveis ataques preventivos.
O grande problema surgirá quando, e se, este enorme desequilíbrio de forças se reverter. Depois de tantos crimes perpetrados, depois da acumulação de tantos ódios, a vingança poderá acabar num apocalíptico neo-holocausto e numa nova indesejável e atabalhoada diáspora. É sempre bom lembra que nenhum império conquistador durou para sempre.
Fernando Marques
É fácil compreender porque a Israel não interessa a busca sincera pela Paz. Este estado de coisas interessa aos Sionistas mais radicais, por ser a única forma de se conquistar a “Grande Israel”.
Eles nunca ficaram satisfeitos com a conquista no tapetão de umas minguadas faixas de terra na Palestina.
Do tapetão partiram para a ação armada, com amplo apoio do lobby yankee, e iniciaram o violento colonialismo, atrasado no mínimo um século, na região.
A expansão da minguada Israel para a dos tempos atuais e muito provavelmente do futuro foi feito em cima da expulsão e inominável miséria imposta sobre milhares de famílias palestinas.
(Continua)
francisco.latorre
gaza foi a primeira derrota midiática de israel em milênios.
momento histórico.
vale uma reflexão.
a máquina de informação emperrou…
e a rede venceu o midião.
novos tempos. revolucionários.
…
O Brasileiro
Há algo que os israelenses parecem não ter entendido: a condenação do Holocausto não foi por um sentimento pró-semita, foi contra um ato, o genocídio! E essa condenação viria mesmo se as vítimas do genocídio tivessem sido muçulmanos, ou budistas, ou hindus!
Os cristãos foram massacrados em Roma!
Os muçulmanos foram massacrados em Jerusalém!
Os judeus foram massacrados na Alemanha!
Portanto, o Holocausto não dá carta branca para Israel promover assassinatos, e nem torna os israelenses melhores do que os outros povos do mundo! Ah, e antes que me esqueça, a “genialidade” deles também não! Queiram ou não os israelenses, é cada vez maior a integração entre as pessoas, independente de sua religião!
Não é que a religião tenha perdido valor, ela apenas não está se sobrepondo às reais virtudes humanas! Daí a condenação veemente da pedofilia ocorrida dentro da igreja Católica!
O que o Holocausto devia ter ensinado, mas não ensinou, é que o genocídio não vai ser tolerado, porque ninguém sabe quem será a caça e quem será o caçador amanhã!
Jair de Souza
Parte 2:
O texto de Norman Finkelstein deixa mais que patente que os judeus dotados de sentimento humanitário não podem apoiar a máquina de guerra de Israel. Somente uma visão racista e deturpada pode levar alguém a justificar crimes tão abomináveis como os que o nazi-sionismo israelense vem cometendo desde que os ashkenazis (judeus europeus de origem khazariana, com nenhuma vinculação étnica com os antigos habitantes da região hoje conhecida como Palestina) decidiram levar adiante seu projeto nacionalista e colonialista para ocupar as terras ocupadas milenarmente pelo povo hoje chamado de palestino, tratando de expulsá-lo de lá ou exterminá-lo.
Assim como Norman Finkelstein, há inúmeros outros judeus humanistas empenhados em que a paz e a justiça chegue àquela região. Mas, isso só se concretizará com a derrota política do nazi-sionismo.
francisco.latorre
é…
os ashkenazis são mesmo eslavos.
a crônica do império khazar confirma.
…
Jair de Souza
Parte 1:
Bem, o imperador francês neonazista, o homem da Segunda Lei da Termodinâmica, está de volta para cumprir com sua missão de defender o estado assassino de Israel. Cabe uma pergunta, entre a pregação de um judeu humanista como Norman Finkelstein em favor da paz, da justiça e da solidariedade, e as palavras de ódio racista do imperador francês neo-nazista e amante da Segunda Lei da termodinâmica, qual deles poderia representar algo de positivo para a tradição humanista do judaísmo? Mas, este imperador neo-nazista é muito insignificante para que percamos mais de um parágrafo com ele.
(cont.)
Marko
Excelente artigo;
Os textos escritos pelos próprios fundadores do Estado d Israel como os d Ben Gurion nunca esconderam o caráter racista e colonialista d tal Estado. No entanto foram necessários mais d 60 anos p/ q o mito da democracia israelense caísse por terra, máscara tirada irônicamente pela própria Etnocracia dos generais d gravata d Israel.
Napoleao Souza Jr
Não há uma língua conhecida como "Palestino". Não há uma cultura Palestina diferenciada. Nunca houve uma terra conhecida por Palestina governada por palestinos. Palestinos são árabes, indistinguíveis de Jordanianos (outra invenção recente), Sirios, Libaneses, Iraquianos, etc.Os árabes detém o controle sobre 99,9% das terras do Oriente Médio. Israel representa um decimo de 1% (ou seja, 0,1%) do total de terras. Mas, ao modo de ver dos árabes, isto é muito. Eles querem tudo. E é essa a razão da briga em Israel hoje. Ganancia, Orgulho, Inveja. Não importando quanto de concessão de terras os israelenses fizessem, jamais seria suficiente.
Emilio GF
Ora, ora, ora… Não é que encontrei um defensor do Panarabismo de Nasser onde menos esperava?
Além disso, o argumento é velho. Hitler, seu mentor, já afirmava que a Alemanha não tinha "espaço vital" (Lebensraum) para se desenvolver.
Marat
Israel cometeu "excessos"? Sabem o que vai acontecer? Eles receberão uma reprimenda dos representantes de deus na terra (os EEUU); a comunidade internacional vai dizer que não se pode fazer isso; a ONU vai convocar uma reunião (que não vai dar em nada). Na semana que vem, os assentamentos vão aumentar mais e mais e em seguida Israel vai bombardear Gaza e matar dezenas de civis. Se alguém reclamar, toda a impren$$$a vai lembrar do holcausto e tudo ficará por isso mesmo…
Joel Stein
O sionismo é racista e nogento. Israel está cavando a própria cova, até quando a comunidade internacional aturará isso?
marcos
Aqui em Porto Alegre, aos domingos de manhã, a rádio bandeirantes AM transmite o programa " a Hora Israelita ", e é bem fácil confirmar todas as assertivas expostas no texto: quanto mais cai o apoio às ações genocidas do Estado de Israel, mais aumenta a histeria e paranóia antissemita dos apresentadores !
Não fosse profundamente triste e deprimente, seria hilário o descompasso entre o que as pessoas percebem sobre a situação nos territórios ocupados e o que pregam os " pacifistas" de Israel !
Marcos C. Campos
É a industria bélica que alimenta, de todas as maneiras, o ódio entre os povos …
mariazinha
Isto aqui foi incrível! O estado de Israel cava sua própria ruína.
lIBERDADE, PARA OS PALESTINOS, JÁ!
Bonifácio
O Marco Leite está muito mergulhado em amargura…Ele não pode ver os milhares de componentes do Exército de nordestinos que está construindo a ferrovia transnordestina a todo vapor. Não pode ver os engenheiros e soldados de nosso próprio grande Exército Brasileiro construindo canais, duplicando estradas e abrindo picadas na selva indômita, para defender nossas fronteiras. Não pode ver as crianças viajando através dos sertões para estudarem. Não pode ver nosso exército de agricultores e pecuaristas madrugando para cumprirem sua bendita faina de produzir alimentos para matar nossa fome e trazer riquezas para o pais. Não pode ver homens domando rios gigantescos para que tenhamos energia elétrica. Estes, sim, são os exércitos de que o Brasil dispõe e com que o Brasil conta. Não são a meia dúzia de gatos pingados que ele, em sua amargura, descreve como sendo exércitos poderosos.
Marcos Neves
Os sionistas são os Demotucanos de Israel… de besteira em besteira deixaram o País em uma situação péssima.
Clarissa
Libertem a Palestina!!!
Mc_SimplesAssim
Olá, Azenha e amigos leitores,
A este respeito já escrevia Voltaire em seu "Dicionário Filosófico" publicado no século XVIII:
"HISTÓRIA DOS REIS JUDEUS E PARALIPÔMENOS
Todos os povos escreveram sua história, desde que o puderam fazer. Os judeus também escreveram a sua. Antes que tivessem reis viviam sob o regime teocrático; eram julgados e governados pelo próprio Deus.
Quando os judeus desejaram um rei como os povos seus vizinhos, o profeta Samuel declarou-lhes da parte de Deus que eles rejeitavam o próprio Deus: assim findou a teocracia entre os judeus quando teve princípio a monarquia.
Poder-se-ia, pois, dizer sem blasfemar que a história dos reis judeus foi escrita como a dos outros povos, e que Deus não se deu ao trabalho de contar, ele mesmo, a história de um povo que já não governava.
É com extrema desconfiança que se aventa essa opinião. O que a poderia confirmar é que os Paralipômenos contradizem freqüentemente o Livro dos Reis na cronologia e nos fatos, assim como os nossos historiadores profanos se contradizem algumas vezes. Demais, se Deus sempre escreveu a história dos judeus, será preciso crer, portanto, que continua a escrevê-la, porque os judeus continuam a ser o seu povo querido. Eles dever-se-ão converter um dia e parece que então estarão também no direito de considerar a história de sua dispersão como sagrada, assim como têm direito de dizer que Deus escreveu a história dos seus reis.
Pode-se ainda fazer uma reflexão: é que, tendo sido Deus o seu único rei durante longo tempo e em seguida seu historiador, deveremos ter para com todos os judeus o mais profundo respeito. Não há algibebe judeu que não esteja infinitamente acima de César e Alexandre. Como evitar prosternar-se diante de um adelo que vos prova que sua história foi escrita pela própria Divindade, enquanto as histórias gregas e romanas não nos foram transmitidas senão por profanos?
Se o estilo da História dos Reis e dos Paralipômenos é divino, as ações relatadas nessas histórias nada têm de divino. Davi assassina Urias; Isbosete e Mifibosete são assassinados; Absalão assassina Amão; Joabe assassina Absalão; Salomão assassina Adonias, seu irmão; Baasa assassina Nadabe; Zambri assassina Ela; Amri assassina Zambri; Acabe assassina Nabote; Jeú assassina Acabe e Jorâm; os habitantes de Jerusalém assassinam Amazias, filho de Joas; Selum, filho de Jabes, assassina Zacarias, filho de Jeroboão; Manaêm assassina Selum, filho de Jabes; Faceu, filho de Romélio, assassina Facéia, filho de Manaêm; Ozeu, filho de Ela, assassina Faceu, filho de Romélio. Silenciamos outros cardápios de assassínios. É preciso compreender que se o Espírito Santo escreveu essa história, não escolheu um assunto muito edificante."
Abraços
francisco.latorre
grande voltaire.
sempre atual.
esse foi o cara. é o cara.
esculachou a religião.
revolucionário voltaire.
…
Emilio GF
E tem história de Abraão, prostituindo a própria mulher, duas vezes, que só lendo o Dicionário Filosófico, para a avaliar a verve de Voltaire.
Fernando Frota
A análise desse senhor George Gilder é muito importante. É prova suficiente da interface do Nazismo com o Neoliberalismo aprofundado por Reagan, onde o livre mercado encontra suas contradições na questão do mando, ou do comando. Estas contradições se resolvem no condicionamento da democracia ou com o direito subjacente de manipular a democracia, fazendo uso dela para que ao fim só os predestinados possam ter sempre o mando. E pretende entender que toda a civilização ocidental deve submeter-se e ser levada a este pensamento único. A questão da predestinação, que é fundamental na ética protestante descrita por Max Weber e que distingue os protestantes predestinados dos outros cristãos, os danados, tirando-se protestantes predestinados e pondo-se judeus predestinados, na visão de Gilder, tem-se o mesmo enfoque e a mesma continuidade.
Observe-se que, no Nazismo, Hitler acolheu todas as confissões, desde que professassem o Cristianismo Positivo. No caso, os predestinados eram a própria raça germânica, que deveria estar em toda e qualquer posição de mando.
Eugênio
Sem contar que NINGUÉM fala mais do caso MOSSAD/DUBAI
Bonifácio
Ví no blog de um tal de Pedro Porfírio estas duas fotos:
http://1.bp.blogspot.com/_6vMNomUP3xc/SW_hG3jMrUI…
http://1.bp.blogspot.com/_6vMNomUP3xc/SW_gCvplEUI…
Fiquei estupefato. Jamais poderia imaginar que judeus ortodoxos podem ser pessoas de paz e estarem prontos a militarem pelo entendimento e o diálogo com iranianos e palestinos..
Emilio GF
Trata-se do pessoal da Naturei Karta. Judeus que honram o humanismo judaico.
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