por Luiz Flávio Gomes
De que maneira o chamado Triângulo Norte centroamericano, formado por Honduras, El Salvador e Guatemala, se transformou na zona mais violenta do planeta? De que maneira a guerra do Estado contra o narcotráfico dizimou a vida de 60 mil pessoas em 5 anos no México? Que coincidências existem entre essas tragédias e o repentino e brutal aumento da violência em São Paulo?
A primeira coincidência passa pela forte presença do narcotráfico que, como todo crime organizado, seja em Honduras ou no Brasil, busca e vive do lucro. O aumento do poder aquisitivo do brasileiro incrementou o próspero “negócio” das drogas. Qualquer interferência do poder público (polícia) ou do poder paralelo (milícias) representa menos ganhos e, consequentemente, mais violência (em razão da disputa de espaços). Se em Honduras se constata a forte presença dos cartéis mexicanos, no Brasil (especialmente em São Paulo) o comando da distribuição das drogas está (majoritariamente) nas mãos do PCC. Tanto lá como cá, não há como negar o império do crime organizado.
Uma outra coincidência diz respeito à debilidade das instituições estatais, que não estão conseguindo controlar o crime organizado. Muitas mortes já ocorreram, mas até agora nada de concreto se anunciou sobre o desmantelamento do poder econômico do PCC. Sem levar o crime organizado à miséria nenhum combate será efetivo. É o poder econômico que lhe faz forte (para comprar armas, para arregimentar “soldados”, para disputar territórios, para corromper autoridades públicas etc.).
Os mortos retratam a terceira coincidência entre Honduras e Brasil (91 mortes para cada 100 mil habitantes, em 2011, contra 27,3, no Brasil; El Salvador 69 e Guatemala 39). Honduras é mais violento que o Brasil, mas não podemos esquecer que ocupamos a 20ª posição nesse item no ranking mundial. Ou seja: nosso País também é extremamente violento.
Tanto o Brasil como Honduras são “pontes” entre os produtores das drogas e os EUA (um dos maiores consumidores de todo planeta). Se Honduras se transformou em um porto (quase) seguro para o desenvolvimento dos negócios dos cartéis mexicanos, o Brasil não só é um país de passagem como apresenta a vantagem de ser também um grande consumidor de drogas. Em ambos a impunidade dos barões das drogas é praticamente absoluta. Os “traficantes” representam hoje 24% dos presidiários brasileiros, mas sua quase totalidade é constituída dos pequenos entregadores.
A proliferação das armas de fogo ilegais, nos dois países, constitui outro fator comum, que também passa pelo desemprego dos jovens, pela desigualdade, péssima educação etc. A renda per capita no Brasil é maior, mas eles se igualam no item corrupção. Ambos apreendem muita droga, mas não o suficiente para evitar o tráfico ou mesmo reduzir a potência do crime organizado. Nos dois países o controle da lavagem de capitais é muito precário.
Não apresentamos a instabilidade política de Honduras, que viveu em 2009 um golpe de Estado (queda do presidente Zelaya), mas é bastante peculiar a nossa instabilidade inter-institucional, seja nas relações entre as polícias (que fica mais complexa onde existem as milícias), seja entre os entes federativos (União, Estado e Municípios). Com frequência os estados e a União batem-cabeça sobre o problema da violência.
Cabe ainda considerar que quanto cai o lucro com as drogas, naturalmente o crime organizado já instalado (e isso se passa nos dois países) começa a explorar outras áreas de sustentação (sequestros, roubos, roubos de veículos, extorsão, tráfico de armas e de pessoas etc.). Ainda que houvesse diminuição no tráfico de drogas, isso poderia não significar redução da violência.
A diminuição da violência em El Salvador (vizinho de Honduras) só ocorreu quando os chefes das drogas fizeram um acordo entre eles. No Estado de São Paulo afirma-se que os homicídios só diminuíram quando os chefes do PCC, em troca de não irem para o RDD, passaram a comandar os presídios, impedindo rebeliões e mortes dentro deles, assim como assassinatos fora dos seus muros. Se o governo de São Paulo negava ou não dava importância (até pouco tempo) nem sequer para a existência do PCC, que dirá esse bombástico acordo que o mundo acadêmico (Guaracy Mingardi, por exemplo) insiste em “denunciar”.
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Luiz Flávio Gomes é jurista e professor. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil e coeditor do atualidadesdodireito.com.br. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001).
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Comentários
roberto
Finalmente o “chuchu” tomou uma atitude de “hómi” e botou o Pinto prá fora…
Novo secretário (minúsculo mesmo) deverá ser o “Grela”.
Trocou 6 por meia-dúzia.
Urbano
E quando os bandidos são informados pelos seus comparsas sobre as ações do Estado, então a vaca fica mais propensa a ir pro brejo.
Marcos Monteiro
Não vi ninguém criticar a militarização do combate ao crime.
Militar é treinado para matar. Por isso mesmo, lugar de militar é no quartel.
O Estado precisa de outros mecanismos para lidar com o cidadão – trabalhador ou criminoso.
jorge
Ola tenho um pouco de conhecimento ref ao crime organizado se são Paulo ,e posso afirma com certeza o porque da onda de ataques , explico ,grassas a incompetência do nosso governador que não intende nada de segurança colocou um secretario e deu carta branca para ele atuar por suas vez tbm deu carta branca para a rota ,encobrindo e sendo conivente com erros de seus subordinados exemplos a rota faz abordagens e se alguém tem passagens pela justiça eles policiais dão um jeitinho de torturar o abordado para que ele de serviços denuncie outros criminosos caso não obtenha êxito ai eles forjam drogas pois a maiorias das viaturas de rota possuem um estoque grande de drogas e armas e também nos armário do batalhão Tobias de Aguiar ROTA, quem e abordado pela ROTA E TEM PASSAGENS PELA JUSTIÇA MORRE OU VAI PRESO MESMO NÃO DEVENDO PRA JUSTIÇA, o PCC diante dessas e outras muitas injustiças que não vem a publico ,tomo a decisão de fazer com que os pms experimente do seu próprio veneno , eu desafio a qualquer um a andar de carro em 3 pessoas ou mais e coloque um com passagens pela justiça e vera oque acontece ,aproveita e tente discutir com um deles pms em lugar a esmos e veras o resultado.., a policias do brasil não aceita ser contestada eles acham que tem a verdade sabida .isso e o fim …
RodrigoR
Segundo portal G1/Estadão/UOL, o Secretário de Segurança Pública pediu p sair……
Começou o desmonte, é 2014 chegando…
Opus Dei
NOTÍCIAS DA GUERRA CIVIL EM SÃO PAULO
Grande São Paulo tem chacina, ônibus incendiado e dez mortos na madrugada
Do UOL, em São Paulo
“Pelo menos 10 pessoas foram mortas e 13 ficaram feridas a tiros entre o início da noite de terça-feira (20) e a madrugada desta quarta-feira, na região metropolitana de São Paulo. O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) vai investigar os casos. Os crimes ocorreram em um intervalo de apenas oito horas, entre as 18h e a 1h.”
Onde está a piada do texto? Está neste trecho: “O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) vai investigar os casos”.
Jose Mario HRP
Na madrugada de ontem para hoje 20 baleados e 12 mortos nos bairros de São Paulo capital, a maioria mortos por PMs disfarçados.
O PCC atira em PMs sem farda e policiais civis e os grupos de exterminio da PM atira a esmo!
Em Gaza muitas mortes a menos…….
E não estamos em guerra civil!
PSDB…….VERGONHA NACIONAL!
RESPONDA RÁPIDO:
VOCE VOTOU NO ALCKIMIN?
NÃO?
ENTÃO QUEM VOTOU?
damastor dagobé
o crime organizado só se sustenta com o apoio ativo e entusiasmado de instituições “respeitáveis” que lhe suportam sua atividade: Bancos para lavar dinheiro e advogados para garantir a liberdade dos criminosos (os celulares não podem ser retirados dos presídios por pressão da OAB que tem como função garantir a lucratividade de seus, digamos, membros)…
sandro
Bizarro, mas apenas em hipótese um triângulo: PCC – Sp – Cachoeira?
Coloquei Sp no centro, e as devidas máfias de cada lado. Máfias
necessitam de acordos e acordos devem ser cumpridos.Será que……..?
Rose PE
Conclusão: nós , moradores de São Paulo estamos vivendo no caos na Segurança Pública sem fim para terminar. E agora? Quem poderá nos defender?
francisco pereira neto
Bem, teses qualquer um pode formular para tentar explicar essa escalada de violência em São Paulo.
Do meu ponto de vista, essa tese não se sustenta.
Eu quero saber porque só nos governos do geraldinho o PCC faz peraltices?
O desempenho economico do país melhorou nos governo Lula/Dilma, mas quando Serra governou São Paulo, o PCC não era manchete de jornais. E nem por isso o poder aquisitivo das classes emergentes cairam.
A pergunta a ser respondida é essa:
Qual é a bronca do PCC com o geraldinho?
É essa a resposta que nós queremos.
Comparar Brasil com México, Honduras, El Salvador, Nicarágua… é coisa para discussão da criminalidade em Congresso. Coisas para falar e não sair do lugar.
O que eu quero saber é porque o PCC não gosta do geraldinho.
José de Almeida Bispo
Suspeito que o PCC esteja se enraizando em todo o país; e não somente como crime organizado, mas também como alternativa de controle político a partir de São Paulo. Daí o porque de ser tão tolerado em São Paulo.
Roberto Locatelli
A questão central a ser discutida é a descriminalização das drogas.
Não uso drogas. Sou contra o uso de drogas. Mas sou a favor da legalização.
O capitalismo, em sua infinita hipocrisia, libera o uísque, o vinho, o cigarro, o café, o chá preto, mas proíbe a maconha e a cocaína.
Uma latinha de energético contém uma dose cavalar de cafeína, a qual é um alcalóide poderoso, próxima ao LSD. No entanto, é vendida livremente.
Quem é contra a legalização das drogas?
– os traficantes, claro, pois teriam que mudar de ramo;
– os fabricantes de armas, pois os traficantes de drogas são grandes consumidores de armas e munições;
– os juízes corruptos, pois sua renda cairia muito;
– os policiais corruptos, pelo mesmo motivo: propina faz parte da sua renda;
– a velha mídia a serviço do capitalismo;
– e, claro, parte da classe média, cujas opiniões são moldadas pela velha mídia.
Enquanto algumas drogas forem proibidas (maconha, cocaína, etc) enquanto outras são liberadas (álcool, cigarro, café, etc) a violência vai aumentar.
Diego
Caro Roberto.
Acrescentaria mais um dado em sua análise, a qual compartilho.
Ao se liberar as drogas, acabando com o poder financeiro do tráfico, e as vendendo legalmente, pode haver um aumento no consumo e possivelmente mortes. Mas esse aumento seria extremamente compensado pela queda de assassinatos devida a guerra ao tráfico.
Mas porque então esse benefício assusta tanto a classe média?
Porque justamente esse aumento no consumo se dará nas camadas que tiverem dinheiro sobrando para comprarem mais droga, ou seja, nos filhos da classe média, enquanto quem deixaria de morrer seriam os filhos dos pobres.
Para a nossa classe média, antes 30 filhos de pobres mortos do que o filho deles usando mais drogas.
Marcos Monteiro
Aumento do consumo? Duvido. Em Portugal, por exemplo, o consumo diminuiu.
Mortes também se tornam improváveis com a venda controlada de cocaína.
Overdose de maconha não existe.
angelo
Em países que não mais criminalizam o uso de substâncias o que acontece, num primeiro momento, é uma equivocada sensação de leve aumento no consumo. Acontece uma curva ascendente suave. Que se deve, na verdade, não ao aumento do consumo, mas sim ao relaxamento de usuários que passam a assumir o uso quando respondendo pesquisas. Em seguida, a curva desce, indicando real diminuição de uso.
José Ruiz
liberem as drogas e acabem com o tráfico.. usem parte dos zilhões de dólares gastos no combate ao tráfico para educar as pessoas quanto ao uso de drogas, de cocaína ao BBB..
ZePovinho
E se aqueles 40 agentes da DEA/CIA, que Evo Morales expulsou da Bolívia em 2008,estiverem em contato com o PCC?????
ZePovinho
Ele vieram para o………..o……..Brazil!!!!
Jorge
Duas coisas horríveis: o aumento da violência e as explicações ou justificativas que o governo Alckmin dá para ela. Fascismo puro.
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