Fátima Oliveira: Por que o Dia da Consciência Negra tem razão de existir
Tempo de leitura: 3 minpor Fátima Oliveira,no Jornal OTEMPO
Médica – [email protected]
Na tarde do feriado do dia 15, fui bater pernas num shopping, coisa não habitual, pois gosto de comprar em lojas de rua! Todavia, foi uma das coisas prazerosas que fiz ultimamente. Dei de cara com duas lojas puro encanto. Tem razão quem diz que, mesmo para quem não é de natureza consumista – o meu caso; sou de poucos desejos -, olhar vitrines tem valor terapêutico.
Nada comprei, mas desejei quase tudo na L’’Occitane. Estar ali é passear pela Provença e seus cheiros. Embora aconchegante, o ambiente é minúsculo e falta um banquinho para a gente sentar e se envolver nas fragrâncias provençais… Na Granado, fundada em 1870 pelo português José Antônio Coxito Granado, foi uma imersão no passado. Diante do Polvilho Antisséptico Granado, criado em 1903, vi vovó passando-o em meus pés de criança antes de dormir à noite – coisa obrigatória para não ter chulé! Saí cheia de latinhas, uma colônia e dois sabonetes de alfazema, meu cheiro de adolescência antes de ser viciada em Promessa, da Myrurgia, e Fleur de Rocaille, da Caron.
À noite, em casa, olhando os mimos da Granado, bateu saudade apertada e até senti o cheiro do Sabão Aristolino, que, bem antes da existência e da popularização do xampu, era a única coisa líquida espumante para banhos e para lavar cabelos. No internato do Colégio Colinense, cada menina possuía o seu Aristolino, até para escovar os dentes e como medida número um de higiene “naqueles dias”; e até quem não gostava do cheiro usava-o, obrigatoriamente, durante a menstruação!
O Sabão Aristolino foi criado pelo médico de Paquetá dr. Aristão Gonçalves Neves (1891-1934), que também era “prático de farmácia”, ofício que exerceu, desde quase menino, até a formatura em medicina. Continuou a manipular os remédios que receitava. Ficou famoso graças a duas fórmulas de sua lavra: o Xarope Broncholino e o Sabão Aristolino.
Saudosa, passeei com o Google e encontrei vários reclames (publicidade no rádio) e anúncios em revistas desde o começo do século XX. O Sabão Aristolino era pau para toda obra: “Para aformosear a pele, para o banho das crianças e para a barba, use sempre Sabão Aristolino”.
Uma de 1918: “Não estraga a pelle e o cabello. O melhor para manchas, sardas, espinhas, rugosidades, cravos, vermelhidões, comichões, frieiras, caspa, queda do cabello, erysipelas, darthros, queimaduras. O preferido, o mais perfumado, antisséptico, antiparasitário”.
“Sabão Aristolino: o tipo ideal para a senhora ou a senhorita não é o loiro ou o moreno, é o cavalheiro de bom gosto que possui cabelos sedosos e brilhantes, pele fresca e acetinada.
Assegura para si o tipo ideal, entregando ao Sabão Aristolino a tarefa de embelezar sua pele e os seus cabelos. Sabão líquido medicinal Aristolino evita cravos, espinhas e manchas, que tanto prejudicam sua beleza, ao mesmo tempo em que limpa sua cabeça e dá maciez aos seus cabelos. Aristolino, sabão de beleza, sabão de saúde”.
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Vi várias publicidades, até despertar do sonho saudosista: “Para branquear a pele, usai o sabão Aristolino!”. Um susto, porque eu desconhecia a suposta propriedade, que, no fundamental, é racista e de forte e falso apelo ao embranquecimento como único valor desejável e diz muito de por que o 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, tem razão de existir no Brasil.
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Comentários
Domenica Amendola
Aristolino, rijo e escorregadio!
Helder Amendoeira
Ao fim e ao cabo a mulher levou pra casa os sabonetes.Viva o sabonete Aristolino!Vamos ao Dia do Sabonete!
Depaula
Caro Helder, tem certeza que leu a crônica? Releia e veja a ratada que deu
Romão Lustosa
Abaixo o sabonete!
Mário de Oliveira Pinheiro
Por quê alguém que queira “branquear a pele” com sabonete ou coisa que o valha é “fundamentalmente” racista?Atenção, gente, o que está acontecendo no Brasil, fundado por portugueses de pele branca?Cidadão de pele branca, precate-se, porque se for visto comprando sabonete “Aristolino” na “Granado” corres o risco de que alguém acompanhado de duas testemunhas(só duas basta), um matusquela qualquer, um afromilitante,poderá chamar a polícia, registrar um BO e preparar uma ação.Agora,uma figura que diz não ser “de natureza consumista”, que foi “bater pernas num shopping”, onde diz que encontrou “lojas encantadoras”, que acha que vitrines “têm valor terapêutico”,que “desejou quase tudo na´L`Occitane”(?). Bah! Ô, Stanistau, prepara um samba de enredo!
Benedita Maia
Mário, o Sabão Aristolino nunca foi da Granado. Leia a crônica da Fátima Oliveira outra vez. Sobre a Granado ela fez muitos elogios.
O fabricante do Sabão Aristolino era o Laboratórios Raul Leite S/A. Aliás eu não sei se tal sabão ainda é fabricado, mas não faz muito tempo eu o vi em um supermercado.
Mário de Oliveira Pinheiro
Desculpe,Sr. Carlo , não tenho interesse em sabonetes ou quem os fabrica.Isso pode até ser preocupação de intelectuais, eruditos, etc. Apenas achei que o texto que fala de “embranquecimento”,o uso do sabonete para essa finalidade, etc. poderia dar um samba de enredo. Por isso evoquei o saudoso Stanislau Ponte Preta, autor do “samba do crioulo doido”. Gosto da história de meu país, da origem de seus fundadores(isso bem claro), de seu crescimento, da contribuição de gente de todas as origens, da história bonita que está sendo feita por todo povo na luta para ampliar a democracia, da luta pelo reconhecimento das injustiças cometidas em passado mais próximo e mais distante.
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Abel
Parece que lá na Índia ainda vendem um similar desse Sabão Aristolino. Ou pensaram que essa história de branqueamento só existiu no Brasil?
Ana Paula
Não vejo isso como evidência de racismo, acho um exemplo ruim.
Caso fosse racismo teríamos que tirar das prateleiras os bronzeadores também, pois prometem escurecer a pele.
Todo apoio ao dia da Consciência Negra, as medidas de ação afirmativa, à cidadania do negro na sociedade brasileira, que é nitidamente racista, mas daí a dizer que o sabonete é racista é demais, não convence e enfraquece a seriedade do dia.
Ana Paula
Para não mecionar os alisadores de cabelo e os produtos que garantem permanente (cabelo enrolado), etc. As lentes de contato que prometem que você fica com olho claro, os branqueadores de dentes, etc. A indústria cosmética sempre terá a mais ampla gama possível de produtos pra “alterar” o ser humano, simplesmente porque dá lucro.
Josilda Brandão
É pra rir ou pra chorar senhorita Ana Paula? Desde ontem por aqui dando uma d epapagaio de pirata nos textos de Fátima Oliveira. Se esperte amiga! Tá dando vexame. Vá escrever, disputar ideias. Mas dá trabalho não é? Se não entendeu um texto com palavras tão cristalinas, vá estudar senhorita
Ana Paula
O nível do debate na internet é baixíssimo. Em nenhum momento ataquei a integridade ou a capacidade da Fátima Oliveira, demonstrei concordar com ela em alguns pontos e discordar em outros e pronto: surgem os ataques pessoais. Não vou me dignar a responder a estas colocações meramente passionais, quando quiser um debate educado, centrado em argumentação sem ataques pessoais, estou sempre disponível.
Depaula
“Não vejo isso como evidência de racismo, acho um exemplo ruim”.
Ana Paula, tem certeza que escreveu tamanha insanidade? É triste, doloroso.
Se uma publicidade promete embranquecer a pele de alguém e acaba tendo um apelo comercial grande, qual o significado pra você, sobretudo sabendo-se que é uma publicidade mentirosa? Sociologicamente tem qual significado?
trombeta
Gente, em quase todo o Brasil hoje é feriado do dia da consciência negra.
No RS, não pois a elite gaudéria não achou importante a data por que NÓS NÃO SOMOS RACISTAS!
Minha singela homenagem ao “grande teórico da igualdade” Ali Kamel.
hehehe…
KARLO BRIGANTE
Pior é aqui em Salvador. Capital formada por 80% de Negros ou Pardos.
Posso estar enganado, mas Salvador é a cidade fora da Africa com maior número de Negros!!!! Aqui não é feriado!!! Pense num absurdo, na Bahia tem precedente. Ô Estado atrasado…
Mardones Ferreira
Sensacional!
O dia de hoje é fundamental, pois precisamos manter viva a memória dos acontecimentos que nos tornaram o que somos hoje: uma democracia incompleta.
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