Dr. Rosinha: Contestação a nomes de ruas, avenidas e praças

Tempo de leitura: 3 min

Dr. Rosinha, especial para o Viomundo

Ruas e avenidas têm nomes. Aliás, dar nome a logradouros públicos é só o que sabem fazer a maioria dos vereadores e alguns dos deputados estaduais. Eu sou um dos curiosos que, às vezes, busca saber quem foi a pessoa que dá nome a determinada rua, avenida ou praça. O que o cidadão fez de tão importante para merecer a homenagem?

Aqui em Curitiba há uma avenida com o nome de João Gualberto. João Gualberto foi o coronel que comandando 58 soldados do Regimento de Segurança do Paraná atacou a localidade de Irani, município de Palmas, no dia 22 de outubro de 1912 – o início da Guerra do Contestado. No ataque morreram 21 pessoas, entre elas o monge José Maria e o próprio coronel. Hoje o coronel é nome de rua, e o monge? Bem, o monge, dizem alguns, virou santo e faz milagres.

Demorei a saber quem foi João Gualberto, por falha da educação pública paranaense. A história do Paraná ainda é pouco ensinada. Mesmo dentro dela pouco se fala, e quando se fala é com preconceito, sobre a Guerra do Contestado. Por isso, foi com alegria que constatei que a edição de outubro da Revista de História da Biblioteca Nacional, número 85, traz um “Dossiê Contestado, 100 anos”. Dia 22 deste mês fez um século do início da guerra, ou melhor, do massacre.

Foram vários os fatores que levaram à Guerra do Contestado. Registro três: 1) havia um território sendo disputado entre os estados do Paraná e Santa Catarina; 2) a construção da estrada de ferro São Paulo–Rio Grande, que expulsava de suas terras os posseiros, gente pobre que, sem indenização, não tinha para onde ir; 3) os “coronéis”, que no início do século passado submetiam social, economica e politicamente as pessoas pobres e miseráveis. A miséria alimentava a religiosidade desse povo, que seguia o catolicismo rústico dos “monges”. Cerca de 50 deles perambulavam pela região à época do conflito.

No texto “Tragédia anunciada”, da página 17 a 21 da revista, Paulo Pinheiro Machado conta que o “grupo de José Maria chegou ao Irani (então município de Palmas no Paraná) vindo de Taquaruçu (município de Curitibanos, Santa Catarina), de onde tinha sido expulso a mando do prefeito local, o coronel Albuquerque, homem conhecido por sua arrogância e autoritarismo”.

“Diante da ameaça do coronel Albuquerque, o monge José Maria dispersou os seus seguidores, dirigindo-se ao Irani com um grupo reduzido…”. “As autoridades paranaenses interpretaram a migração como uma ‘invasão de catarinenses’ no território contestado (daí o nome da guerra)”.

As perseguições ao monge José Maria “foram motivadas pelo temor da concentração de gente pobre do campo. As autoridades locais e estaduais, em sua maioria grandes fazendeiros e oficiais da Guarda Nacional, sentiam que tinham como missão subjugar os sertanejos que não se submetiam mais aos seus respectivos coronéis”. E assim fizeram.

Nesta guerra, que durou de outubro de 1912 a janeiro de 1916, mais de 10 mil pessoas morreram vitimadas pelos confrontos, pela fome e por doenças, principalmente as epidêmicas. Entre março e abril de 1915, o exército chefiado pelo general Setembrino de Carvalho derrotou os sertanejos. Os redutos foram destruídos por militares e grande número de “vaqueanos civis”, que nada mais eram que capangas a soldo dos coronéis. A rendição final ocorreu no início de 1916 e ficou conhecida como “açougue”, pois foi marcada por massacres e degolas de combatentes já rendidos.

Recomendo: leiam o dossiê e procurem saber quem são os personagens que dão nome às ruas, avenidas e praças dos municípios. Pode ser que necessitemos contestar alguns.

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Dr. Rosinha, médico pediatra, é deputado federal (PT-PR) e vice-presidente brasileiro do Parlamento do Mercosul. No twitter: @DrRosinha

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Comentários

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bia

minha nossa senhora vcs nao tem mas o q fazer do q ler esa besteira.

Dr. Rosinha: “Rua Delegado Fleury, torturador e matador” « Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] avenidas e praças [2] No dia 30 de outubro, o Viomundo publicou (e agradeço muito) o artigo Contestação a nomes de ruas, avenidas e praças, de minha autoria. O texto teve uma repercussão acima do esperado, ou pelo menos do esperado por […]

Jaimão

Numa cidade do interior de SP (declino o nome)existe uma rua que homenageia o Delegado Fleury, aquele torturador do Dops. Precisa mais.

Willian

Florianópolis é em homenagem ao Pres. Floriano Peixoto. Vamos mudar também.

    Bonifa

    Existe outra Floriano na Bahia. Deixou seu belo nome de Colônia de São Pedro de Alcântara para se tornar Floriano. Devia recuperar o antigo nome.

Mário SF Alves

Pois é. Enquanto isso: Guarani-Kaiowá, Pyelito Kue, Mbarakay, território sagrado; até os nomes são lindos. Será que só ficaremos com eles (com os nomes, na mais pura e triste lembrança)?

Renato

E pensar que a maioria das Casa Inglesas do início do século passado foram construídas com madeiras de Araucárias derrubadas e extraídas dessa região.

Em relação aos nomes de praça pública e de rua, eu concordo e digo mais. Tem que tirar o nome do Getúlio Vargas de todas as ruas, avenidas e praças do país inteiro.

Bonifa

A Guerra do Contestado e a Guerra de Canudos são irmãs, filhas da mesma ideologia sanguinária de consolidação da República Velha a ferro e fogo. Em Canudos o governo federal atendeu ao chamamento dos coronéis latifundiários e no Contestado atendeu à empreiteira dos Estados Unidos, uma vergonha para aquele país, que construia a estrada de ferro e estava com dificuldades para desapropriar terras e para controlar empregados semiescravos. Embora aos poucos se vá recompondo a História, fraudada durantes décadas para esconder estes acontecimentos tenebrosos, certamente alguns próceres de hoje ainda ainda diriam que tudo isso foi “um mal necessário”.

Fabio Passos

O Dr. Rosinha é fera.
A vida inteira falei de João Gualberto sem ter idéia de quem foi o sujeito agraciado com o nome da avenida.

Por mim mudava o nome da avenida para Monge José Maria.

Ernani Mundstock

Caro Deputado Dr. Rosinha.
Meu avô materno sempre falou sobre esse episódio do Contestado, pois teve vários conhecidos perseguidos pelas forças de repressão dos governos daquela época. Um fato pouco comentado é que, naquele episódio, pela primeira vez, na América Latina, foi utilizado o avião como máquina de guerra, com o lançamento de bombas e uso de metralha contra os “insurgentes” (por coincidência todos brasileiros natos). Evidente, tais aviões eram pilotados por norte-americanos contratados pela Lamber com o beneplácito dos governantes daquela época. A FAB viria se constituir só lá pelos idos da 2a. Guerra Mundial. Agora, fato estarrecedor, é que sucessivos governos estaduais de Santa Catarina, no passado, tinham como política educacional, PROMOVER O ESQUECIMENTO da Guerra do Contestado, pois catarinenses de gerações recentes desconheciam este episódio ocorrido em sua própria terra, obtido em conversas informais, e cuja politica DE ESQUECIMENTO também foi executada no Paraná, conforme relato. Como tragédias de grande repercussão, com milhares de mortos, não se apagam da memória coletiva e são transmitidas por sucessivas gerações, há cerca de uma década atrás ou um pouco mais, este episódio foi incluido no currículo escolar. Até hoje interesses economicos, políticos e manutenção de privilégios atuam sobre fatos históricos, apesar de transcorridos 100 anos. No Rio Grande do Sul ocorreu massacre classificado como genocídio, lá pelos idos da década de 1930. Assunto para outro comentário.

    Roberto Locatelli

    Vergonha! A elite reescrevendo a História ou, no caso, apagando a História.

Pelika

Dr Rosinha, francamente… Os verdadeiros Brasileiros não estão preocupados com os nomes das ruas. Que tal canalizar todo o seu conhecimento e experiências para por em pratos limpos a PRIVATARIA TUCANA??

rodrigo

‘Cêis querem algo pior que Avenida JORNALISTA roberto marinho?

http://goo.gl/maps/xZua7

    FrancoAtirador

    .
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    Pior… Acho que não tem.

    Mas na Região Sul tem ‘coisas’ parecidas:

    SANTA CATARINA
    Em Florianópolis-SC,
    há a Rodovia Jornalista Maurício Sirotsky Sobrinho

    RIO GRANDE DO SUL
    Bagé: Rua Maurício Sirotsky Sobrinho
    Caxias do Sul: Avenida Maurício Sirotsky Sobrinho
    Pelotas: Rua Maurício Sirotsky Sobrinho
    Rio Grande: Rua Jornalista Maurício Sirotsky Sobrinho
    Porto Alegre: Parque Maurício Sirotsky Sobrinho.
    Na capital do RS, há ainda, a Rua Zero Hora
    (jornal do Grupo RBS da famíglia Sirotsky)
    .
    .

    rodrigo

    Franco, dá uma olhada no homenageado do link. É uma figura bem pior do que lembrar das Águas Espraiadas e até hoje não engulir o que fizeram com o “Buraco Quente” e toda a parafernália propagandística/marketeira em cima da exploração imobiliária da Berrini, sede da Goebbels aqui em SP.

    FrancoAtirador

    .
    .
    Caro Rodrigo.

    Que vereadores de São Carlos-SP, e em que época,
    homenagearam o delegado Sergio Paranhos Fleury,
    o torturador sanguinário e sádico da Ditadura ?

    É de se pesquisar.
    .
    .

    FrancoAtirador

    .
    .
    AMNÉSIA HISTÓRICA

    SE NÃO HÁ REGISTRO ESCRITO,
    O TEMPO APAGA A MEMÓRIA.
    E, SE HÁ E NINGUÉM LÊ,
    QUEM LEMBRARÁ A HISTÓRIA?
    E UM POVO SEM LEMBRANÇA
    É ESCRAVO DA CIRCUNSTÂNCIA.

    “O delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury, o torturador mais notório da ditadura militar, é nome de rua em São Carlos, no interior de São Paulo…

    Deve-se o tributo ao prefeito Antônio Massei, que ocupou o cargo por três vezes e baixou o decreto-lei em maio de 1980, um ano depois de Fleury morrer afogado em Ilhabela, no litoral norte paulista.”
    .
    .
    Torturador na via pública

    O delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury, o torturador mais notório da ditadura militar, é nome de rua em São Carlos, no interior de São Paulo.

    Saindo da universidade federal, a UFSCar, a via é a primeira da zona urbana.

    “Ninguém precisa ser carbonário para se horrorizar com essa homenagem”, diz o professor de filosofia Bento Prado Neto, filho de Bento Prado Júnior, falecido professor emérito da universidade, cassado pelo regime no qual Fleury foi peça-chave.

    Com duas quadras de asfalto gasto, a rua tem pouco mais de 200 metros. O delegado, que também criou o esquadrão da morte paulistano, nos anos 60, está em duas placas.

    Deve-se o tributo ao prefeito Antônio Massei, que ocupou o cargo por três vezes e baixou o decreto-lei em maio de 1980, um ano depois de Fleury morrer afogado em Ilhabela, no litoral norte paulista.

    Com numeração irregular, a rua Fleury tem quinze imóveis térreos, três dos quais estão fechados, um deles com uma placa de aluguel.

    Soma pouco mais de vinte moradores, incluídos os universitários que alugam quitinetes em duas repúblicas.

    Pela lei do município, só a Câmara Municipal pode mudar o seu nome. Para tanto, é obrigatório que 75% dos moradores concordem com a troca.

    Lineu Navarro, um ex-trotskista de 50 anos que militou na corrente estudantil Libelu e é formado em história, está no terceiro mandato como vereador do PT.

    Ele só atentou para o nome da rua no início do ano, quando o professor e escritor Deonísio da Silva publicou na internet um protesto.
    Navarro promete apresentar em breve um projeto de mudança.
    “Não será tão fácil quanto parece”, avalia.

    Em março, entregou uma carta, de porta em porta, com o seguinte texto:

    “O delegado Fleury foi um dos mais cruéis torturadores que atuaram em São Paulo durante a ditadura militar.
    Comandava o temido Dops e participava pessoalmente das bárbaras sessões de tortura a presos políticos.
    Hoje não faz sentido homenagear um torturador que simbolizou um período sombrio da história.”

    Em São Carlos, também é nome de rua uma vítima direta do delegado Fleury: o comunista Carlos Marighella, um dos líderes terroristas da esquerda (SIC), assassinado em 1969, em São Paulo, numa operação comandada pelo delegado.
    É uma rua de terra malcuidada, na periferia, que nem placa tem.

    O aposentado David Ribeiro da Silva, de 57 anos, é dono da casa de número 49 da Fleury, uma ampla construção térrea de cor rosa-flamingo, com vaga para dois carros na garagem. Mora ali há 25 anos.

    Num sábado à tarde, de bermuda e camiseta na porta de casa, ele disse:

    “O nome da rua nunca me incomodou. Mudar agora vai causar transtorno, vai ter que alterar o registro do cartório, a correspondência, o cartão de crédito.”
    Ele define Fleury como “um cara aproveitador do sistema, que foi do esquadrão da morte e fazia o que bem entendia”.

    Silva toparia a mudança do nome se fosse “para homenagear alguém de São Carlos”.

    E quem poderia substituir o torturador nas placas?

    “O meu pai, Osvaldo Ribeiro da Silva, que pintou o forro da igreja matriz e fundou a banda da cidade”, respondeu ele.

    No número 20, uma casa de fachada verde, vive há mais de três décadas Josefina Casarini Godoy. Ela está com 59 anos e mora com a filha. Achava que o nome da rua era homenagem a algum parente do ex-governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho. Soube que era o outro pela carta distribuída por Navarro. “Essa discussão é uma bobeira, uma perda de tempo”, afirma. Quando lhe perguntam se é contra ou a favor da mudança, contenta-se em responder: “Para mim, tanto faz.”

    Numa das esquinas, o amarelo berrante das paredes chama a atenção para o bar e mercearia São João, vulgo “Primeiro Gole”, estabelecimento plantado ali há trinta anos. O filho da proprietária, Luiz Roberto Ferreira, lê, atento, um Dicionário Bíblico Universal. “Ouvi falar que esse Fleury era um ditador, mas não conheço”, diz. “Se for atrapalhar o inventário do meu pai, sou contra a mudança.” Dona Orlanda, a viúva, tem 80 anos e compartilha a opinião. Bem-disposta, é ela quem dirige o bar: “Esse Fleury já fez, já aconteceu. Deixa ele pagar onde estiver.”

    Por enquanto, entre os proprietários, o vereador Navarro só conta efetivamente com o aposentado João Graciolli, de 69 anos.
    “Mesmo que dê despesa com a papelada, temos que tirar o nome do torturador”, ele acha.
    Nos fundos de seu terreno, Graciolli construiu duas casinhas de um cômodo e banheiro, e as aluga para estudantes por 250 reais ao mês.

    Um dos inquilinos é Julio Cesar Bastoni.
    Aos 21 anos, alto e barbudo, matriculado no curso de letras da UFSCar, confessa que não sabia quem batizava a rua quando foi morar lá, em 2004.
    Descobriu no ano seguinte, ao editar um livro sobre a ditadura militar.
    “Eu fiquei louco”, conta. “Esse Fleury foi um canalha.”
    Bastoni diz que lutará ao lado de Navarro pela derrubada do nome.
    Além de exibir clássicos da literatura – as obras completas de Émile Zola e Aluísio de Azevedo -, a biblioteca de Bastoni está repleta de livros de Marx, Engels e Lênin.
    A quitinete em que mora, pequena e desarrumada, lembra um apartamento das antigas, como aqueles que o delegado Fleury adorava invadir.
    .
    .
    A matéria acima, publicada na Revista Piauí nº 20, foi escrita pelo jornalista Maklouf de Carvalho (aquele que ‘descobriu’ a Lurian para o debate de 1989), um notório antipetista e contumaz perseguidor de Lula desde a época em que o metalúrgico exercia dignamente a profissão de torneiro mecânico no ABC paulista e havia se transformado no maior líder sindical da América Latina, lutando pela Democracia e pelos direitos dos trabalhadores brasileiros.

    É de se notar que a reportagem, embora traga alguns dados históricos objetivos dos envolvidos na questão, tende maliciosamente para a manutenção do status quo.
    Com claro viés para a desinformação, o esquecimento, o desconhecimento ou a ‘não-lembrança’ da História, a matéria foi direcionada através de entrevistas com meia dúzia de residentes da Rua Fleury, cuja maioria absoluta – como amostra da população brasileira – desconhece o passado sangrento dos agentes da Ditadura Militar no Brasil,
    tratando, ora com ironia, ora com desprezo, a todos os que, cientes da importância e do significado histórico da mudança do nome da rua, se opõem radicalmente a essa absurda homenagem feita pelos próprios representantes da Ditadura Militar ao delegado torturador sádico assassino sanguinário Sergio Fleury.

    Minhas sinceras homenagens ao vereador Lineu Navarro, ao professor de filosofia Bento Prado Neto, ao aposentado João Graciolli e ao estudante Julio Cesar Bastoni, por haverem tomado esta iniciativa de luta, na cidade paulista de São Carlos, tão importante para todos os brasileiros: o resgate da Verdade Histórica do Brasil.

    VIVA CARLOS MARIGHELLA!
    VIVA CARLOS LAMARCA!
    .
    .

Hildermes José Medeiros

Claro que desse mal padecem quase todas as cidades brasileiras. No Rio de Janeiro, temos de engolir a Ponte Costa e Silva (Rio-Niterói), Avenida Primeiro de Março, Praça Presidente Emílio Garrastazu Médici e por aí vai. O que tem de inimigo do povo nominando logradouros no Brasil… Deveria, não sei quando, mas é muito bom já se ir pensando em fazer uma Revolução Cultural e banir aqueles sem qualificações para receber qualquer homenagem em nome do povo, já que para este prestaram na realidade um desserviço, com agressões de toda ordem, inclusive eliminação física. Destes, um dos mais crueis militares de todos os tempos, covarde na essência, que atuou em vários embates sangrentos,inclusive na Revolta da Armada. Investiu contra populares, pessoas simples, na Guerra de Canudos, no Nordeste. Falo do Coronel Moreira César, cujos préstimos de crueldade foram utilizados nessa guerra suja em que se envolveu nosso Exército, onde foi morto. Era conhecido como treme-terra, o corta cabeças, que era o que fazia com muitos prisioneiros, segundo crônicas da época, fatos suficientes para deslustrarem quaisquer méritos militares que tivesse. Há logradouros de Norte a Sul do país em nome dessa triste figura, nas palavras de Euclides da Cunha, que descreveu suas características físicas em Os Sertões.

FrancoAtirador

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Nunca me soou bem o fato de darem nome de pessoas falecidas às ruas, praças, escolas, estádios, ginásios… Muito menos de pessoas vivas ou, pior, de ‘vivarachas’ (Estádio João Havelange) e ‘genocidas’ (Avenida Castelo Branco, Rua Presidente Médici, Travessa Costa e Silva).

Sempre me perguntei por que não deixam as ruas e demais espaços públicos com os nomes populares que adquiriram no decorrer do tempo.

Querem nome mais belo e significativo do que “Praça do Sol”?

O POVO AO PODER
(Castro Alves)

Quando nas praças s’eleva
Do povo a sublime voz…
Um raio ilumina a treva
O Cristo assombra o algoz…

Que o gigante da calçada
Com pé sobre a barricada
Desgrenhado, enorme, e nu,
Em Roma é Catão ou Mário,
É Jesus sobre o Calvário,
É Garibaldi ou Kossuth.

A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor
É o antro onde a liberdade
Cria águias em seu calor.

‘Senhores’!… pois quereis a praça?
Desgraçada a populaça
Só tem a rua de seu…
Ninguém vos rouba os castelos,
Tendes palácios tão belos…
Deixai a terra ao Anteu.

Na tortura, na fogueira…
Nas tocas da inquisição
Chiava o ferro na carne
Porém gritava a aflição.

Pois bem… nest’hora poluta
Nós bebemos a cicuta
Sufocados no estertor;
Deíxai-nos soltar um grito
Que topando no infinito
Talvez desperte o Senhor.

A palavra! vós roubais-la
Aos lábios da multidão
Dizeis, senhores, à lava
Que não rompa do vulcão.

Mas qu’infâmia! Ai, velha Roma,
Ai, cidade de Vendoma,
Ai, mundos de cem heróis,
Dizei, cidades de pedra,
Onde a liberdade medra
Do porvir aos arrebóis.

Dizei, quando a voz dos Gracos
Tapou a destra da lei? (!!!)
Onde a toga tribunícia
Foi calcada aos pés do rei? (!!!)

Fala, soberba Inglaterra,
Do sul ao teu pobre irmão;
Dos teus tribunos que é feito?
Tu guarda-os no largo peito
Não no lodo da prisão.
No entanto, em sombras tremendas
Fria e treda, como o morto,
Descansa extinta a nação.
E vós, que sentis-lhe o pulso
Apenas tremer convulso
Nas extremas contorções…
Não deixais que o filho louco
Grite “oh! Mãe, descansa um pouco
Sobre os nossos corações”.

Mas embalde… Que o direito
Não é pasto do punhal. (!!!)
Nem a patas de cavalos
Se faz um crime legal… (!!!)

Ah! não há muitos setembros…
Da plebe doem os membros
No chicote do poder,
E o momento é malfadado
Quando o povo ensangüentado
Diz: já não posso sofrer.

Pois bem! Nós que caminhamos
Do futuro para a luz,
Nós que o Calvário escalamos
Levando nos ombros a cruz,

Que do presente no escuro
Só temos fé no futuro,
Como alvorada do bem,
Como Laocoonte esmagado
Morreremos coroado
Erguendo os olhos além.

Irmãos da terra da América,
Filhos do solo da cruz,
Erguei as frontes altivas,
Bebei torrentes de luz…

Ai! soberba populaça,
Rebentos da velha raça
Dos nossos velhos Catões,
Lançai um protesto, ó povo,
Protesto que o mundo novo
Manda aos tronos e às nações.

(Recife, 1864)
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“EXISTE AMOR EM SÃO PAULO”

PRAÇA ROSA (ex-Roosevelt)

sebastiao

Aqui em Sao Bernardo do Campo temos: R.Dep.Carlos Mariguela,Capitao Carlos Lamarca,Josue de Castro,Jorge Amado,Olga Benario,Simone de Beuvoir,Clara Zetkin,Alexandra Kolontai,Wladimir Herzog,Maria Margarida Alves,Elisabete Lobo Garcia,Nora Astorga,Paulo Freire,Chico Mendes…

Mas temos tambem(infelizmente): Filinto Muller,Av.31 de Março,credo!!!

Murdok

Caro Deputado Dr. Rosinha. Trabalho justamente na região do contestado. Conheço um pouco daquilo ali. Recomendo também conhecer o museu do contestado na cidade de Caçador/SC.
O município sede da Lamber, Calmon, foi aonde iniciou-se a guerra do contestado. Na época era um dos municípios mais ricos de SC. Hoje é um dos mais pobres, se não for o mais pobre.
A região continua sendo caracterizada pela exploração florestal, fumo e grãos. O pequeno agricultor virou refem das grandes indústrias de celulose, entregando suas terras no processo de fomento florestal ou seja, ele da a terra para que as indústrias plantem o pinus e fica como empregado assalariado,na própria terra, cuidando da floresta. Nos intervalos atua como bóia fria na safra do fumo e da soja.
Em razão desse processo a região também está inclusa, no Ministério do Trabalho, com empresa que praticam o trabalho escravo.
O interessante também a ser notado é que os municípios da região, em razão da influência histórica do estado do Paraná, tem a cidade de Curitiba como a capital, e não Florianópolis. Isso também foi condicionado pela distância mais próxima de Curitiba, evidente.
Mas a angústia também é nossa. Por exemplo o município de Matos Costa leva o nome do capitão João Teixeira de Matos Costa. Morreu na luta depois de trucidar centenas de pelados. tem outro mnicípio que leva o nome de Frei Rogério. Foi um padre católico que na guerra infiltrou-se junto aos pelados para denúnciá-los às forças militares. Foi o grande dedo duro da guerra.
Nesse período da construção da estrada de ferro, a cidade de Calmon registrou a primeira greve de trabalhadores no Brasil. A Lamber instalou lá as máquinas mais modernas para a época.
Sugiro a visita ao munseu do Contestado na cidade de Caçador.

Elvio Rocha

O que dizer, então, de “Floripa”, homenagem ao Floriano de negro passado? E das incontáveis avenidas, ruas, centros esportivos, escolas, aeroportos etc.que ainda rendem louros aos generais da ditadura?
Como disse o autor do texto, coisa de vereadores e deputados que acham que “legislar” é homenagear amigos, padrinhos políticos, empresários, sem qualquer critério de merecimento ou aprovação dos demais cidadãos. Já vi ginásio de esportes de cidade grande com nome de viciado em cocaína e de aeropoto com nome de filhinho de papai (rico, muito rico) que nunca teve ligação alguma com o município. Neste casos, a “caixinha” prometida pelos interessados para a aprovação dos “seletos” nomes costuma fazer com que os tais projetos sejam aprovados por unanimidade, nas cãmaras municipais e ALs. Mas, como ninguém se levanta contra, ninguém “contesta” a coisa prospera e vai revelando mais e mais absurdos.

    Mário SF Alves

    Subdesenvolvimento é isso, também.

José Ricardo

Em São Gabriel/RS, as ruas centrais têm o nome de militares que combateram na Guerra do Paraguai. Sem polemizar sobre a guerra, indago que serventia tem homenagear militares e se esta não é uma visão distorcida da história.

Renato Mocellin

Caro Doutor Rosinha.
Muito oportuno o seu artigo sobre a Guerra Sertaneja na região do Contestado. Como bem destacou Adeodato, o último líder sertanejo, esta foi uma guerra dos “ricos contra os pobres” dos “peludos” contra os “pelados”. O Coronel João Gualberto foi um fanfarrão que tinha pretensões políticas (sonhava em ser prefeito de Curitiba)e pretendia trazer o monge “amarrado para a capital do Estado”. Deu-se mal, acabou sendo trucidado pelos sertanejos. A causa principal da guerra foi a luta pela terra. O Governo Federal, bem como os Governos dos Estados de Santa Catarina e do Paraná ficaram do lado das companhias estrangeiras, dos coronéis e das forças da repressão. A propósito, o Vice-Presidende do Paraná, o Dr. Affonso Camargo era o advogado da Lumber em nosso Estado, já o Dr. Nereu de Oliveira Ramos (futuro Presidente da República)defendia os interesse da companhia norte-americana, junto ao Governo de Santa Catarina que estava nas mãos do seu pai, o senhor Vidal de Oliveira Ramos.
Recomendo uma obra clássica sobre o tema: “Messianismo e conflito social: A Guerra Sertaneja do Contestado” de Maurício Vinhas de Queiroz. Editora Ática. Um outro ótimo livro: “Lideranças do Contestado” de Paulo Pinheiro Machado.Editora Unicamp.

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