De dentro pra fora: será que São Paulo está valorizando mais seus espaços públicos?
Por Raquel Rolnik | Habitat – qui, 25 de out de 2012
Recentemente tenho observado que vem se desenvolvendo em São Paulo uma nova cultura do uso dos espaços públicos da cidade. Depois de um intenso período de valorização do uso dos espaços fechados, que começou com a construção de shoppings nos anos 1970 e viveu sua explosão nos anos 1980 e 1990, parece haver agora alguns sinais de um movimento no sentido oposto, de retomada de uso mais permanente das ruas, praças e calçadas da cidade.
Os parques estão sempre lotados. Basta que a área tenha um mínimo de qualidade e cuidado que se enche de gente. Nos finais de semana, não apenas nos parques, mas também nas praças, sempre tem gente fazendo piqueniques. Até festa de aniversário de criança eu vi em algumas praças da cidade. Isso me chamou a atenção porque significa uma diferença radical com relação aos tradicionais buffets infantis.
Uma festa infantil na praça tem outra lógica: se outras crianças estão presentes, imediatamente elas fazem parte da festa. Afinal de contas, uma festa num espaço público é necessariamente uma festa aberta.
Na Vila Madalena, na Praça das Corujas, um grupo está implantando uma horta colaborativa. E, ao que parece, este não é o único… de acordo com seus promotores, várias outras iniciativas deste tipo estão acontecendo neste e em outros bairros da cidade. Na Avenida Paulista e na Rua Augusta são muitos os trechos ocupados por gente tocando música, artistas de rua, jovens…
Também percebo que existe uma movimentação no sentido de promoção de atividades e eventos nas ruas, como a festa junina colaborativa no Minhocão, os saraus em ocupações no centro ou em frente a prédios públicos, as atividades promovidas pelo pessoal do movimento Baixo Centro.
Aliás, é disso que se trata o evento que ocupou – com milhares de pessoas – a Praça Roosevelt domingo passado, transformada em Praça Rosa. Batizado de Festival “Existe Amor em SP”, o evento reuniu moradores de São Paulo que reivindicam, essencialmente, mais espaços e serviços públicos, de qualidade e bem cuidados, e mais liberdade e criatividade em suas formas de ocupacao.
Todos estes exemplos que eu dei sinalizam para uma possível mudança de cultura – ou pelo menos para o desejo de mudança – que valoriza a ideia do convívio, do compartilhamento do espaço público, do uso destes lugares para algo mais do que a circulação.
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O problema é a necessária e urgente transformação na cultura da gestão da cidade, para que também transite nesta direção. Isso requer não apenas a priorização do cuidado com a qualidade de implantação e manutenção destes espaços, mas, sobretudo, a transformação de seu uso coletivo como prioridade, na contramão de uma visão securitária e funcionalista de cidade.
PS do Viomundo: Existe um livro interessantíssimo, The Fall of Public Man, de Richard Sennett, que tenta responder a perguntas interessantes. Estamos tão auto-centrados que temos pouco interesse no mundo que vai além de nossas próprias vidas? Ou a vida pública não dá mais espaço para a participação dos indivíduos?
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Comentários
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FrancoAtirador
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É a “via pública” que não dá mais espaço
à participação coletiva dos indivíduos.
A Vida é só trabalho, salário e consumo.
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