Como Serra perdeu o debate – e a eleição
Por Eduardo Guimarães, em seu blog
Quem esperava que do debate ontem na Band entre os candidatos a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad e José Serra, decorresse algum fato espetacular capaz de mudar os rumos da eleição, por certo não está atento ao processo político que se desenrola na cidade.
Em um embate de idéias em que o tempo entre perguntas e respostas é tão curto e no qual não há como aferir as afirmações de parte a parte, incluindo números que ninguém teria como checar na hora e que tampouco alguém checará depois, o que pesa é o que as palavras não dizem.
Haddad e Serra, pois, esgrimiram dados que se anularam, e os dois candidatos equivaleram-se em mise en scène, trocando ironias e frases de efeito em igualdade de condições, sobretudo de desempenho.
O que é, então, que o eleitor pôde extrair de um embate direto entre dois contendores que têm produzido discussões tão ácidas? A resposta é: impressões subjetivas. O que sejam, conclusões que se tiram da forma como cada contendor se insere no contexto da disputa.
Se eu tivesse que escolher uma frase para definir a postura de Serra não só no debate, mas na campanha inteira e em sua propaganda eleitoral, diria que quero viver na São Paulo que o tucano pinta.
Mais cedo, horas antes do debate, assisti aos programas eleitorais dos dois candidatos. Já ali, chamou-me a atenção o que, horas mais tarde, continuaria chamando.
Na propaganda de Serra, vejo, entre outras fantasias, um trem de metrô vazio, com a usuária, representada por uma mulher negra e de aparência humilde em um vagão vazio – igualzinho ao que o paulistano se acostumou a andar, sabe, leitor? – dizendo maravilhas sobre “trens com ar-condicionado”…
Poderia citar muito mais de irreal nas palavras e nas propagandas de Serra, mas basta essa imagem para que se possa avaliar o grande erro que o derrotou no debate em questão.
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Não foram as perguntas, respostas ou ironias que o petista esgrimiu tanto quanto o adversário que fizeram diferença, mas a completa ausência de entendimento de Serra sobre o sentimento de São Paulo quanto à gestão de seu pupilo, o prefeito Gilberto Kassab.
Nesse aspecto, Haddad ajudou, sim, Serra a perder o debate ao ironizar afirmação dele de que o adversário estaria se preocupando excessivamente com o prefeito paulistano, sugerindo, inclusive, que estaria se preocupando ao ponto da “obsessão”.
A resposta de Haddad foi fenomenal. Disse que, ainda que o adversário parecesse não conseguir entender, ele citava Kassab a todo momento simplesmente porque se trata do PREFEITO DE SÃO PAULO (grifo do candidato do PT).
E Haddad disse mais: que queria viver no “mundo maravilhoso” que Serra pinta, como se saúde, educação, transporte, tudo estivesse uma maravilha em uma cidade em que cerca de setenta por cento da população afirmou, em pesquisa recente, que deseja “mudança de rumo”.
Serra é um profissional da política. É claro que não passou recibo – a cara-de-pau é sua grande característica. Mas Haddad, por sua vez, não se abalou: manteve-se sereno, usou as palavras com eficiência e proficiência invejáveis e soube equilibrar as ironias do adversário com as próprias.
O fato, porém, é que Serra não disse nada ao eleitor que ele já não saiba – mensalão, taxa do lixo e todo um rosário de acusações de cunho pessoal.
As pesquisas – inclusive aquela que o Datafolha adiou a divulgação para não “contaminar” o debate – mostram que o eleitor paulistano não está se sensibilizando com essas acusações. Tanto no Ibope divulgado anteontem quanto no Datafolha não divulgado ontem, o petista tem vinte pontos de vantagem sobre o tucano.
Haddad ainda atendeu a sentimento do eleitorado que pesquisas de seu partido apontam, de que está cansado de brigas e acusações e quer saber como cada postulante pretende resolver tantos problemas.
Haddad marcou um tento ao sugerir a Serra um pacto para que ambos passem os últimos dias da campanha discutindo propostas em vez de trocarem ataques. Serra tentou inverter os fatos dizendo que o petista é que estaria baixando o nível, mas a memória de Malafaia ainda está fresca na mente do eleitor…
Ah, você acha que estou torcendo? As pesquisas mostram que não. Serra despencou por conta dos ataques pessoais, do mantra sobre mensalão, tudo isso enquanto fala sobre a gestão Kassab como se a maioria que o rejeita fosse composta de idiotas.
Quem rejeita a administração kassabiana por certo se sentiu insultado.
Serra, com sua alienação sobre o sentimento do paulistano quanto à sua cidade, perdeu o debate e, no entender deste blogueiro, com a reafirmação dessa postura naquele mesmo debate, e usando uma arrogância revoltante, também perdeu a eleição.
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Comentários
Antonio Santos
Confesso que o primeiro debate que vi nessa eleição foi esse de ontem na Band.
E a impressão que me ficou foi de o Serra ter se saído melhor.
Estou avaliando somente a performance pessoal, o desempenho do “ator”, do “personagem”.
Nessa minha avaliação nem de longe entra o mundo maravilhoso pintado pelo Serra nos programas diários. Muito menos qualquer análise das expectativas dos eleitores.
Só estou avaliando o desempenho do ator e não a qualidade do roteiro, do cenário ou do filme pronto.
O Haddad entrou no jogo do Serra. Um erro.
Acho que no próximo debate deve se concentrar em apontar problemas e propor soluções. Ignorar ou, no máximo, responder muito rapidamente os ataques. E em seguida avaliar o problema e propor solução. Inclusive deixando claro que não tem todas as informações ainda. Depende do que vai encontrar de fato lá na prefeitura.
Transporte – prioridade para metro, ônibus, etc … Chega de gastar dinheiro com Marginal. Muitos corredores de ônibus, vias expressas.
Saúde – tem muito equipamento sub utilizado. Muito hospital com prédio e equipamentos mas que não opera 24 horas por dia. Muito equipamento de Tomografia que só opera 3 horas por dia. Falta mão de obra, profissionais para botar tudo para funcionar.
Se o Serra falar em Zé Dirceu avisar que o Zé já está cheio de problemas pessoais. Que ele não é candidato a nada nessa eleição, que não faz parte da solução dos problemas em São Paulo. O que interessa agora é propor soluções viáveis para os problemas da população.
Tucanos criam site falso de Haddad « Viomundo – O que você não vê na mídia
[…] Eduardo Guimarães: Uma análise do debate da Band […]
abolicionista
Com todos os defeitos, ainda é dez vezes melhor do que o debate da Globo.
Francisco de Assis
Haddad não vai ao debate da Globo
“Haddad não vai ao debate da Globo” deveria se tornar provocativa palavra de ordem e tema em discussão na Blogosfera Progressista nesta semana restante da campanha. Neste sentido, duas razões devem ser observadas.
Por um lado, o poder avassalador a que chegou o Império Globo (e seus satélites Veja, Folha e Estadão, entre outros), que há três meses colocou e mantém de quatro o Supremo Tribunal Federal, suposta instância máxima de justiça no Brasil, rebaixando-o vergonhosamente a mero instrumento eleitoral, em mais uma desonra para nosso País, que se segue à infame absolvição, por este mesmo tribunal, dos crimes contra a espécie humana cometidos pelos agentes da ditadura.
De outro lado, a pujança de um povo em construção que, em meio aos gritos histéricos de juízes, jornalistas e outros jagunços, zurrando por linchamento, foi às urnas, manteve a calma e soube dizer-lhes “não, senhores, voto de cabresto não”.
Seria uma semana em que reconstituiriamos em detalhes todos os crimes cometidos por estes senhores da imprensa contra a democracia brasileira, começando pela ocultação dos 154 cadáveres de cidadãos brasileiros da tragédia da Gol em 29 de setembro de 2006, impiedosa e abjetamente usados para benefíciar eleitoralmente um partido político.
O objetivo não seria o de impedir a escolha do candidato de ir ou não ao debate. Isto seria o de menos, embora não custasse perguntar-lhe, na véspera ou no dia, por que iria debater em lugar tão fétido.
O objetivo seria o de jogar luz intensa e concentrada sobre toda a podridão deste Império midiático e todo o mal que causa à democracia brasileira. Inibir assim qualquer golpe eleitoral em andamento, vacinando a sociedade inteira para esta possibilidade.
Aproveitar este momento em que o Império foi desmoralizado pelo povo, embora bem sucedido na pequena “sala de justiça de Gotham City”, para tomar a ofensiva e infligir-lhe dura derrota, numa resposta política uníssona e rotunda a estes sequestradores da liberdade de expressão.
E mostrar à sociedade e ao governo que precisamos regular este poder se queremos manter e aperfeiçoar a democracia que conquistamos até aqui.
SILVA
O que está em jogo nesta eleição é o segundo julgamento do LULA. O primeiro julgamento o povo já o fez. Saiu com 88% de ótimo/bom e 8% regular num total de 94% de aprovação e de letra elegeu DILMA.
No segundo julgamento dia 28.12.2012 será julgado mais uma vez nas urnas em São Paulo. A vitória de HADAD consolidará este grande líder que é LULA.
Julgar um mensalão do PT em plena campanha eleitoral é covardia. De um lado juízes dando espetáculos sob os holofotes do PIG.
Dia 28.10.2012, serão julgados: de um lado LULA através da eleição vitoriosa de HADDAD e de outro os juízes do s.t.f., o p.s.d.b e o PIG.
Nada como o tempo, porque o tempo é o senhor da razão.
Alias, e o julgamento do mensalão do PSDB, compra de votos de F.H.C., doação da VALE, privataría tucana,rodovias,hidroelétricas,ferrovias…?
Mário SF Alves
Cara! E não é que os comentários no Viomundo estão ficando excepcionais. Verdadeira escola de educação política. Maravilha, Silva. Maravilha. Idem para o Francisco de Assis. Tá vendo só? É tudo uma questão de tempo, de jeito, de boa vontade e oportunidade.
Valdeci Elias
Do mesmo modo, que quanto mais o PIG batia em Lula, mais Lula crescia nas pesquisas. Quanto mais Serra citar o mensalão, mais Haddad vai crescer.
Mário SF Alves
Eles são mentirosos. São enganadores. São só frios e calculistas. A retórica deles é viciada e o povo já sacou isso. Não têm nem sequer mais paciência de aguardar uma possível tragédia econômica. Agora, só no golpe, mesmo. E viva o PT de Lula. E viva o PT dos brasileiros. E viva o PT(P3), o PT dos trabalhadores, dos petistas, dos pretos pobres e das prostitutas pobres.
Mário SF Alves
São tão medíocres que se fosse dado a eles a oportunidade de escolhor entre a possibilidade de encontrar deus e a ova de estrujão, certamente escolheriam o caminho que leva a ova de estrujão. Caviar é a síntese de mundo da imensa maioria deles.
claudio
Belíssima e aguda análise do blogueiro progressista Eduardo Guimarães, mostrando o que os números agora só fazem comprovar: a irreversível derrota do conservadorismo e dos politiqueiros retrógrados. Avante, povo de São Paulo; que se faça no dia 28 de outubro uma nova independência.
PedroAurelioZabaleta
O “coiso” se supera a cada dia: 52% de rejeição.
Giovani Blumenau SC
BINGO
JULIO/Contagem-MG
A mesma BAND, que nos engolir o chato do datena, com o cidade alerta, mos
trando o caos do transito e a violencia de sumpaulo, assuntos dos quais,
aqui na grande BH, não temos nenhum interesse, pois bem, para nós no horá
rio do debate, ela colocou no ar policia 24H, ficamos privados desse deba
te, que é de interesse nacional. Na verdade, a BAND, escondeu, o que todo
já sabe, a fraqueza e falta de programa do seu candidato, çerra. É como di
ria aquele ex-ministro tucanalha, ricupero, o que é ruim a gente esconde,
o que é bom, a gente fatura!!!
Jairo Beraldo
Aqui em Goiania assisti na BANDNEWS. Foi muito bom ver o Haddad dar umas lapadas no coiso caradepau! Mas, quanto às pesquisas, pode ser um golpe, pois ainda temos muitos eleitores, acho que a grande maioria, que não querem “perder seu voto”, e temo que nos 3 ultimos dias, soltem pesquisas com “a virada do Zé”. Todo cuidado é pouco, pois os MMM- Mensalão, Malafaia e Marcelo, não sensibilizaram votar no Coiso!
xacal
Um luxo de texto.
Fiquei com algumas impressões:
01. O resultado da industrialização das campanhas eleitorais, cada vez mais caras, o “iluminismo iluminado” dos marqueteiros(que afinal, têm que dizer que são mais relevantes que são para justificarem ser quem são-e isto resulta em campanhas “criativas”), a judicialização e criminalização da agenda política e, enfim, o empobrecimento das esferas públicas de debates: partidos, sindicatos, associações de moradores, e a própria mídia partidarizada, criou uma agenda “paralela”, um universo em suspensão, onde a política parece ser exercida em outros ambientes de temperatura e pressão.
Em outras palavras, a disputa eleitoral, expressão mais visível do processo democrático, deixou de ser um meio, e passou a ser um fim em si.
02. Há uma dimensão real (ou diferente) habitada pelo eleitorado, que carrega a sua noção do que são estas dimensões, que não raro, parecem se chocar.
03. Parece ser capaz de vencer o candidato que consegue transitar entre estes dois mundos.
Mas não há dúvidas: se houve algum tempo em que estes mundos se hierarquizaram, ou melhor, que o mundo dos candidatos do tipo çerra imaginavam pautar o eleitor, este tempo acabou, definitivamente.
Neste mundo daqui embaixo, as pessoas de várias classes sociais, principalmente as que sempre estiveram mais embaixo, fazem suas contas, escolhem modelos que tragam benefícios diretos e imediatos, mas que projetem algum cenário de mudança para a estabilidade futura.
Aquilo que os cretinos chamam de apego clientelista aos programas sociais deve ser entendido como a percepção de que o Estado DEVE distribuir renda aos que foram excluídos da possibilidade de auferi-la autonomamente.
São escolhas e repasses tão legítimos quanto os subsídios e incentivos fiscais para os empresários, afinal, é tudo dinheiro público para algum fim, e não me parece que sobreviver propriamente falando seja menos relevante que sobreviver no mundo dos negócios, ainda mais se a fonte for a mesma: o orçamento.
O eleitor é que MANDA, ele que percebe se a cidade está bem ou está mal, e consegue filtrar suas impressões ainda que toda propaganda oficial diga o contrário.
Este eleitor, cada vez mais, é capaz de saber QUEM vai ser mais beneficiado caso este ou aquele candidato ganhe. Por mais estranho que pareça, de forma pragmática e empiricista, sabe divisar entre direita e esquerda, ainda que não chame pelo nome, e que nem tenha noção desta divisão.
O desafio da práxis política representada na ação eleitoral dos partidos e candidatos é aproximar, ou melhor, realizar a mistura destas dimensões para que os atores cada vez mais sejam capazes de falar a mesma linguagem, formar laços de credibilidade, itens indispensáveis na construção da grande dimensão: A democrática.
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