Gilson Caroni Filho: A linha do tempo da barbárie

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Através de um acordo mediado pelos EUA, a OLP aceitou deixar o Líbano, se asilando na Síria e na Argélia. Para trás ficaram milhares de refugiados civis. Receberam garantia de israelenses e do próprio governo americano de que não seriam atacados. Vamos esquecer aquele junho de 1982?

por Gilson Caroni Filho, em Carta Maior

Trinta anos depois, é preciso indagar novamente. Vamos esquecer aquele junho de 1982, em que Begin e Sharon não pestanejaram ao perpetrar o genocídio? Ao mesmo tempo em que massacravam as populações palestina e libanesa, restringiam ao máximo a manifestação de quaisquer segmentos contra a guerra, acabando com a ilusão de vários setores da sociedade israelense que acreditavam nas maravilhas de viver na “única sociedade democrática do Oriente Médio”.

Desta forma, paralelamente a uma ação de pinças visando estabelecer no Líbano um estado títere – chefiado por um grupo fascista cristão, aliado incondicional de Israel – que assinasse a “pax beginnis” (como fez o Egito em Camp David), isolando a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), foi deflagrado um processo que terminaria numa ocupação com a tomada da capital Beirute.

Num primeiro momento, a ação de Beguin alcançou seus resultados. A OLP e a população libanesa foram totalmente abandonadas por seus “aliados”. Síria e Jordânia, entre outros, saíram de cena, deixando que todo o peso da ação militar fosse sustentado por palestinos e libaneses. Com total proteção de Washington, o exército sionista cometeu toda sorte de atrocidades. Milhares de mortos, desaparecidos ou feridos. Um milhão de pessoas sem teto. Foram varridos da face da Terra: três cidades, 32 povoados libaneses e 14 acampamentos de palestinos. Contra cidades foram lançadas bombas de fragmentação: fosfóricas, de napalm e bengalas.

Para matar crianças, os invasores, armados e manobrados por Ronald Reagan, usaram as chamadas “minas e armadilha” e “minas-surpresa”, que explodiam ao leve toque da mão infantil. O Líbano, palco de tragédias de colonialismos e neocolonialismos, guerra fria e lutas internas com intervenção de potências externas, seria o último solo das vítimas de uma solução final para o “problema palestino”.

Frente à barbárie, os estados árabes recusaram-se até mesmo a receber os militantes palestinos, com medo do impacto de sua organização e nível de consciência em suas próprias populações – como ocorreu na Jordânia em 1970.

A pressão sobre a OLP foi, então, enorme. Enquanto sua direção buscava um recuo organizado que lhe permitisse conservar a unidade territorial dos combatentes palestinos, evitando um banho de sangue maior, os “aliados” pressionavam para uma “solução diplomática” que espalhasse os palestinos por vários países e destruísse sua direção.

Estava claro que a nova diáspora era carta jogada não só para os países árabes como para os dirigentes sionistas. Begin e Sharon não aceitariam, na verdade, qualquer solução que preservasse um mínimo de organização do movimento palestino, que mantivesse intactas as possibilidades de unificação de um movimento anti-imperialista em toda a região. Os novos kaisers de Israel sabiam que a destruição total obedecia a uma estratégia geopolítica de domínio pleno.

Através de um acordo mediado pelos EUA, a OLP aceitou deixar o Líbano, se asilando na Síria e na Argélia. Para trás ficaram milhares de refugiados civis. Receberam garantia de israelenses e do próprio governo americano de que não seriam atacados. Como relembrou o jornalista Diego Cruz, em artigo sobre os 24 anos do massacre:

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“No entanto, na madrugada de 16 de setembro, a Falange, milícia libanesa cristã aliada de Israel, sob o comando direto do então Ministro da Defesa judeu, Ariel Sharon, invadiu os campos de refugiados de Sabra e Chatila, no subúrbio de Beirute, protagonizando um verdadeiro genocídio. Cerca de 3.500 mulheres, crianças e idosos foram cruelmente mortos com tiros e facadas.”

A sorte estava lançada. Begin quis destruir a OLP como foco de organização e polarização das forças revolucionárias. Ao destampar essa garrafa, o líder israelense liberou um vinho que, se num primeiro momento, produziu o que lhe pareceu um excelente perfume, liberou poderosos gases, forças sociais com as quais Israel terá que se haver até que o direito à existência soberana seja reconhecido. Enquanto isso não ocorrer, a democracia israelense será uma ficção preservada por muros e pela proteção estadunidense.

Não é sobre corpos de mulheres, crianças e idosos que se constrói um país democrático. Israel deveria, pela linha do tempo da memória coletiva, saber disso há mais de 60 anos.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro.

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Maria Libia

O pior é que este Estado sobrevive do financiamento dos judeus, no mundo todo, que ao fazer isto são tão cumplices destes assassinatos como o próprio Israel. Toda vez que converso com um judeu, não consigo deixar de pensar no que eles estão fazendo na palestina. Estima-se que de 2.000 para cá cerca de 7.500 crianças palestina foram presas e processadas. Um país que destrói outro para poder existir JAMAIS poderá ser considerado uma democracia.

dukrai

se Hitler e a Alemanha nazista não tivessem sido destruídos estariam executando a mesma política de extermínio de Israel nos territórios ocupados e Moscou seria hoje o que é Jerusalém.

Jair de Souza

Obrigado, Gilson Caroni, por nos lembrar dessa atrocidade abominável cometida sob o patrocínio e amparo de um Estado assassino e de uma ideologia racista e supremacista. É claro que eu me refiro ao Estado assassino de Israel e ao sionismo. Sei que ainda está muito longe o dia em que a maioria dos judeus e judias do mundo entendam que o sionismo é uma ideologia nefasta que deveria ser lançada na lata de lixo da história, junto com sua equivalente: o nazismo, mas o fato de que as principais figuras do humanismo judaico da atualidade repudiem com veemência o sionismo nos dá grandes esperanças. Que nomes como os de Ilan Pappe, Amira Hass, Joel Kovel, Jeff Halper, Shlomo Sand, Naomi Klein, Noam Chomsky, Gideon Levy, Marc H. Ellis, Lenni Brenner e tantos outros representem para nós a essência da tradição humanista do judaísmo, e não os defensores de uma ideologia racista e perversa.

Nelson

Por que será que o, segundo dizem, isento TPI não se ocupa também desses genocidas.

Nelson

Pois os mesmos perpetradores desse genocídio e seus sequazes são os que, com o uso insistente do aparato midiático, tentaram nos convencer de que atacaram a Yugoslávia, o Iraque e a Líbia para salvar seus povos das garras de um ditadores sanguinários.
E são também os mesmos que querem que acreditemos que, quando exigem a saída de Assad, estão, altruisticamente, pensando no bem do povo sírio.

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