por Marcos Coimbra, em CartaCapital
Por coincidência, justamente quando o julgamento do mais famoso “mensalão”, que alguns chamam “do PT”, foi marcado, a Procuradoria-Geral da República encaminhou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) sua denúncia contra os acusados de outro, o “mensalão do DEM” do Distrito Federal.
Trata-se mesmo de um acaso, pois a única coisa que os dois compartilham é o nome. Equivocado por completo para caracterizar o primeiro e inadequado para o segundo.
Naquele “do PT”, nada foi provado que sugerisse haver “mensalão”, na acepção que a palavra adquiriu em nosso vocabulário político: o pagamento de (gordas, como indica o aumentativo) propinas mensais regulares a parlamentares para votar com o governo. No outro, essa é uma das partes menos importante da história.
Alguns acham legítimo – e até bonito – empregar a expressão como sinônimo genérico de “escândalo” ou “corrupção”, mas isso só distorce o entendimento. O que se ganha ao usar mal o português? No máximo, contundência na guerra ideológica. Chamar alguma coisa de “mensalão” (ou adotar neologismos como “mensaleiro”) tornou-se uma forma de ofender.
Fora o nome errado igual, os dois são diferentes.
Ninguém olha o “mensalão” de Brasília como se tivesse significado especial. É somente, o que não quer dizer que seja pouco, um caso de agentes políticos e funcionários públicos, associados a representantes de empresas privadas, suspeitos de irregularidades.
Por isso, se o STJ acolher a denúncia, o processo terá tramitação normal. Sem cobranças para que ande celeremente. Sem que seja pintado com cores mais fortes que aquelas que já possui. Sem que se crie em seu torno um clima de “julgamento do século” ou sequer do ano.
É provável que aconteça com ele o mesmo que com outro mais antigo, o “mensalão do PSDB”. Esse, que alguns dizem ser o “pai de todos”, veio a público no mesmo período daquele “do PT”, mas avança em câmera lenta. Está ainda na fase de instrução, sem qualquer perspectiva de julgamento.
Por que o que afeta o PT é mais importante?
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A resposta é óbvia: porque atinge o PT. Se os “mensalões” da oposição são tratados como secundários e se outros são irrelevantes (como os que a toda hora são noticiados em estados e municípios), deveria existir no do PT algo que justifique tratamento diferente.
Há quem responda com uma frase feita, tão difundida, quanto vaga: seria o “maior escândalo da história política brasileira”. Repetida como um mantra pelos adversários do PT, não é substanciada por nenhuma evidência, mas circula como se fosse verdade comprovada.
“Maior” em que sentido? Os recursos públicos movimentados seriam maiores? Mais gente estaria envolvida?
É difícil para quem lê as alegações finais do Ministério Público Federal (MPF) compreender o montante que em sua opinião teria sido desviado e como. O documento é vago e impreciso em algo tão fundamental.
Essa indefinição pode ser, no entanto, positiva: deixa a imaginação livre. Qualquer um pode inventar o valor que quiser.
O “mensalão do DEM”, ao contrário, tem tamanho especificado: 110 milhões de reais. Nele, o MPF não se confundiu com as contas.
Se o critério para considerar maior o petista for a quantidade de envolvidos, temos um curioso empate: dos 40 acusados originais, número buscado pelo MPF apenas por seu simbolismo, restam 37, tantos quanto os denunciados no escândalo de Brasília.
E há diferenças notáveis. No “mensalão do DEM”, os agentes públicos foram citados por desviar dinheiro para enriquecimento pessoal, o que, em linguagem popular, significa roubar. No “do PT”, nenhum.
De um lado, valores certos, acusados em número real, motivações inaceitáveis. Do outro, o oposto.
Quando o procurador-geral declarou que “a instrução comprovou que foi engendrado um plano criminoso para a compra de votos dentro do Congresso Nacional”, esqueceu que nem sequer uma linha de suas alegações o demonstrou. Arrolou 12 deputados (quatro do PT), que equivalem a 2% da Câmara, número insuficiente para sequer presumir que houvesse “um esquema de cooptação de apoio político”, a menos que inteiramente inepto.
No caso de Brasília, nada está fantasiado, é tudo visível, o que não significa que tenha sido provado de forma juridicamente correta.
No fundo, essa é a questão e a grande diferença entre os dois. Quando a hora chegar, o “mensalão do DEM” deverá, ao que tudo indica, ser analisado de maneira técnica. Se o “do PT” o fosse, pouco da acusação se sustentaria.
Tomara que os ministros do STF consigam independência para julgá-lo de maneira isenta, livres das pressões dos que exigem veredictos condenatórios.
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Comentários
Nelson
Acredito que tenha havido corrupção no governo Lula, assim como há no de Dilma. Digo isto porque creio, também, que seja muito difícil para um governo, seja ele de direita, centro ou de esquerda, escapar totalmente isento da corrupção. A máquina governamental é sempre grande demais e, por mais esforços que sejam feito, dificilmente se consegue de cerrar todas as brechas que permitem a existência de corrupção.
Porém, o que vejo, a partir da nossa mídia hegemônica e de seus (de)formadores de opinião é, fazendo uma analogia, o seguinte:
Digamos que toda a corrupção que tenha ocorrido no governo Lula caiba em uma carreta três eixos. Digamos que a corrupção que grassou no governo FHC, descomunal – lembremos da privataria (Vale do Rio Doce, Telefonia, etc.) – só possamos carregá-la em um navio petroleiro de 400.000 toneladas; e olhe lá.
Pois, da forma como divulgam os fatos,repetidamente, insistentemente, mídia hegemônica e (de)formadores de opinião fazem com que enxerguemos exatamente o oposto: que a corrupção de FHC cabe em, apenas, uma carreta três eixos e a de Lula nem mesmo um petroleiro de 400 mil toneladas consegue comportá-la.
Em tempo, antes que me acusem de lulista, petista ou coisa que o valha. Vejo a corrupção como algo execrável, seja ela pequena ou grande, seja ela lulista ou fhceana, ocorra ela em um governo de esquerda ou de direita.
Marcos Sousa
A oposição brasileira não tem discurso e está perdida. De propriedade do grande capital, a mídia tradicional tenta se apegar a qualquer pretexto para ajudar os seus prepostos da política, no intuito de enganar a população, principalmente em ano de eleição. O chamado mensalão é um desses pretextos.
Sobre o tema, leia mais em: http://mticianosousa.blogspot.com/2012/05/oposicao-brasileira.html
Agradeço desde já os comentários.
Wálter Maierovitch: Supremos momentos « Viomundo – O que você não vê na mídia
[…] Marcos Coimbra: Os “mensalões”, um comparativo […]
acmsouza
Caro Marcos Coimbra, se não estou enganado, se estiver peço vênia, pouco antes de estourar o dito mensalão, em um discurso da tribuna do senado, o então senador ACM, com voz eivada de rancor e raiva, como era de seu feitio sempre que atacava o PT, falou da riqueza deste, e, foi de uma convicção forte que tal riqueza em breve seria mostrada ao povo, e, que o PT aguardasse, pois dali sairia muitas verdades. Está nos anais do senado, embora com outras palavras, porem com o devido conteúdo.
Foi uma profecia de quem sabia o que estava sendo urdido.
Almir
Dá pra ver que você NÃO LEU o texto. No mensalão do DEM/DF/Arruda, os investigadores já apuraram, mediram e pesaram o tamanho do rombo aos cofres públicos: R$ 110 milhões. Isso porque havia PROVAS. E no “mensalão do PT”, lá se vão SETE ANOS de investigações diuturnas, e qual o tamanho do suposto rombo? ZERO. Sabe por que isso? Porque não há rombo algum. Entendeu?
lulipe
O Procurador-Geral que ofereceu a denúncia e o STF que a recebeu estão errados, quem está certo é o autor que entende tanto de direito quanto o lula entende de física quântica!!!Impossível defender o indefensável, a não ser que existam outros interesses em jogo.Vai saber….
Ulisses
Por que simplesmente ele foi nos autos do processo. Viu o inquérito e não é o primeiro que contradiz a imprensa,que não cansa de dizer que é o maior escândalo do século, mas sem explicar em qual parâmetro. Você, se fosse menos manipulável pela imprensa que está em guerra contra o PT desde o dia que assumiu o Lula, tentasse realmente analisar o que ocorre no Brasil? Mas será realmente que você não sabe?
C. Roberto
O PGM nunca pode ser citado como exemplo em oferecer denuncias para nada; senão, não se sentaria em cima do processo do Cachoeira, que só veio ao lume devido a pressões de congressistas. Por outro lado, não é necessário conhecer o Direito ao fundo para saber que se roubaram dinheiro publico, esse deve ter saido de algum lugar. O processo diz qual a sua procedência? Você sabe? Então, nada disso existe!!! É tudo fruto do delírio de quem praticou o maior roubo de uma nação (privataria). Neste caso sabe-se o valor,de onde saiu a grana, quem fez e onde foi parar (no Caribbe). Por acaso o procurador já ofereceu alguma denúncia sobre isso??? Ora, porque o amigo não vai lamber sabão???
C. Roberto
PGR, digo.
Eduardo Raio X
Azenha! Se podemos dizer o que foi o tal “Mensalão” tão divulgado pala imprensa que denominamos PIG?! E como ele foi dimensionada pelos meios de comunicação, tenho que fazer uma outra indagação?! E no tempo da ditadura nos seus 21 anos de silêncio, censura, perseguições, deturpações e a tal corrupção que era feita na surdina em todos os sentidos, vulgo PIG sabendo nunca divulgou nem depois da abertura política??? A resposta é simples, o PIG lavou a égua, pois, recebeu o seu e ficou bem caladinho! Realmente o mensalão tem outras história ocultas que já mais teremos acesso! V
Serrano
Prezado Eduardo,
Concordo plenamente com você, precisamos saber também dos empresários que se locupletaram com a ditadura e nós pagamos a conta. Aliás até sabemos alguns ou todos? do segmento de telecomunicações e radiodifusão.
Acabei de ler o “Memórias de uma guerra suja” e o autor do livro fala textualmente que diversos usineiros de Campos/RJ receberam recursos via BNDES para apoiar o regime. Somente a ponta do Iceberg…
Aliás foram até mais longe para beneficiar alguns eles asfixiaram economicamente outros empresários.
Temos que desmistificar de vez o período ditatorial.
Julio Silveira
PT, DEM, PSDB, PSB, PCdoB, PPS e seus congeneres é tudo um saco de gatos.
TeoFranco
Neste artigo esqueceu-se de mencionar os milhões de reais de dinheiro público desviados (lavagem) através das empresas de Marcos Valério do esquema manobrado pelos dirigentes do PT. Tanto o (quase ex) Senador Demóstenes quanto o (antigo) PT posaram de ÉTICOS e demonstraram ser muito piores do que aqueles que sempre eram atacados pelos atalaias da moral e virtude. Portanto, o que sobressai nesse contexto é a hipocrisia. No entanto, nem um (PT) ou outro (DEM) são maiores ou menores. Em resumo: são farinha do mesmo saco, que causam ASCO.
Jorge Nunes
Marcos Valério lavou dinheiro desviado de onde? Dinheiro público sempre sai de algum lugar como o da privatização. De onde saiu o dinheiro para Marcos Valério lavar?
Onde está Marcos Valério? Cadê a secretária dele que disse que ele não sabia nem usar a agenda de celular? Por que a mídia (fora a Record) nunca entrevista os envolvidos ou acusados do “mensalão”? Nisso por que a mídia procura confundir e nunca esclarecer?
No caso do PT as perguntas que seriam lógicas nunca são feitas.
Gersier
As mentiras engedradas contra o PT pelo PIG e pelos “éticos” da oposição,se tornam verdades mesmo não se comprovando.Tanto que muitos acreditam nelas.
Já as verdades comprovadas contra a oposição se tornam “intrigas” praticadas pelos “petistas”.
Julio Cesar
Voce se esqueceu de citar o Mensalão do psdb (PARTIDO SÓCIO DO BICHEIRO) que é o pai de todos os mensalões, e tambem pai da MAIOR PRIVATARIA DA HISTÓVIA DO BRASIL.(alias a única coisa que fhc consegue ser pai de verdade.
Mancini
Azenha: Política virou sinônimo de negócio, ou pior, sempre foi assim e a nossa percepção está aumentada agora… Vejo, desde o Caso Collor um aumento exponencial da corrupção. O mensalão mineiro engavetado e por ai vai. Depois fica difícil cobrar politização. http://refazenda2010.blogspot.com
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