Samuel Pinheiro Guimarães: Direto ao ponto sobre as razões dos neogolpes

Tempo de leitura: < 1 min

Dois dias antes de renunciar ao cargo, o alto-representante-geral do Mercosul, Samuel Pinheiro Guimarães, deu entrevista à CartaCapital.

Como esse neogolpismo é caracterizado?

Na América do Sul, onde a concentração de renda e riqueza é extraordinária e há regimes democráticos presidencialistas, os candidatos têm de adotar plataformas populares que prevejam a distribuição de renda. E, eventualmente, a redistribuição da propriedade. Candidatos a cargos majoritários são eleitos com votos da maioria da população, que é pobre. Por outro lado, nos legislativos, as forças hegemônicas tradicionais se fazem representar. Se compararmos o tamanho da bancada ruralista a representar interesses de grandes proprietários de terra no Congresso Brasileiro ao da bancada de apoio aos trabalhadores rurais, quantos defendem o segundo grupo? Talvez meia dúzia. Os trabalhadores rurais são, no entanto, a maioria da população no campo, mas não estão representados no Congresso. Isso ocorre em todos os países da região. O neogolpismo reconhece que os governos foram eleitos democraticamente, mas argumenta que eles não governam democraticamente. Cria imagens desses governos como ditaduras e gera um clima que justifique o golpe de Estado, inclusive por meios não militares. Então, governos são chamados de populistas quando tentam fazer programas sociais. Essa é uma situação muito complexa.

PS do Viomundo: Eu, Azenha, acrescentaria que a situação se tornou ainda mais complexa com a fuga do capital internacional para o campo, expressa na alta dos preços das terras no Brasil e em várias partes do mundo. Agora o capital externo tem motivos concretos para se juntar às bancadas ruralistas e “praticar o golpe”. O dinheiro dele está em jogo.

 

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Alvaro cesar willy guimarães

Azenha,

Estou preocupado. O vice presidente do Uruguai já se manifestou contrário à entrada da Venezuela no Mercosul. Mujica tem que se cuidar. Por outro lado, aqui no Brasil não sei se algum repórter já perguntou ao Michel Temer (vice da Presidenta Dilma)sobre a entrada da Venezuela no Mercosul? Cuidado Dilma, Temer é de temer.

Gerson Carneiro

Domingo, no Fantástico: especialistas mostram como a estrela do PT se aproxima e rouba os gases das outras.

Marc

Capital externo ruralista = Monsanto, Industrias de fertilizantes, pesticidas…

Bonifa

Antes de mais nada, devemos lutar intransigentemente pelo financiamento público exclusivo de campanha. É o caminho para o aperfeiçoamento democrático com progresso social e livre das Deltas da vida. O “caixa dois” poderá então, em lugar de ser apenas um mero deslize eleitoral, ser considerado um golpe contra a Democracia, e deverá ser guindado à categoria de crime hediondo.

Sagarana

Apenas um “detalhe”: direito de propriedade privada é cláusula pétrea em TODAS as Constituições de países democráticos.

    abolicionista

    Tá de brincadeira, né? só pode…

Lucas Cardoso

“Populista” era como os aristocratas romanos chamavam os políticos democratas, que atendiam aos desejos dos plebeus, e não apenas aos da oligarquia. A palavra é usada de forma similar hoje em dia. Apenas os interesses dos plutocratas são legítimos das atenções do governo, todos políticos que tentam beneficiar o povo são tachados de “populistas”.

RicardãoCarioca

Se um candidato comprovadamente honesto e com boas intencões se candidata e recebe 6 milhões de votos, vai ajudar os representantes ruralistas da sua coligacão a se elegerem com 30, 100 votos. Então, mesmo que tivéssemos uma populacão altamente consciente na política, o sistema iria trazer os corruptos a cabo.

Roberto Locatelli

Esse “PS” do Azenha no final do artigo é preocupante…

    abolicionista

    Sim, e o Stédile disse a mesma coisa na entrevista para o R7…

Jotace

Caros companheiros,

Informações muito interessantes sobre o tema Mercosul estão na matéria no. 27205 intitulada‘Cristina y Dilma fuerzan ingreso de Venezuela’ publicada na data de hoje (02. 07.12) pelo jornal uruguaio 180.com.uy . O site dele é http://www.180.com.uy/articulo/27205_Cristina-y-Dilma-fuerzan-ingreso-de-Venezuela .

A matéria é longa, mas o primeiro parágrafo diz muita coisa divertida. Vejam só: ‘Las cancillerías de Uruguay y Brasil se oponían al ingreso de Venezuela al Mercosur. Luis Almagro y Antonio Patriota llegaron a Mendoza con la idea firme de suspender a Paraguay y de rechazar el pedido de Argentina de ingreso de Venezuela. Sin embargo, cuando Dilma Rousseff llegó desconoció a su diplomacia y presionó a José Mujica para apoyar ese ingreso, confiaron a No toquen nada fuentes del gobierno.’ Abraço geral, Jotace

Jotace

Boas indagações, e análises como a do Jair, quanto ao problema que vivencia o Brasil, como de resto a quase totalidade das nações sul-americanas e caribenhas. Aos governantes (refiro-me aos chefes dos Executivos) é, como ele diz, mais conveniente usufruir do Poder com o seu grupo e fugir ao cumprimento das promessas feitas ao povo – ou em alguns casos se desligarem de um passado bem intencionado de lutas patrióticas – do que correrem o risco de perderem as atrações do poder ou serem marginalizados no tempo e na história. Ao favor deles, é preciso notar que a ‘grande’ mídia fiscaliza os seus passos nos mínimos detalhes e instila no povo o temido desprezo quando não o ódio àqueles presidentes sempre que demonstrem qualquer sentimento do dever perante a coletividade. Quanto aos legislativos, é como na análise do Embaixador Samuel Guimarães: seus integrantes representam as forças hegemônicas tradicionais, oligarquias, concessionários das grandes cadeias de televisão e rádio e filiadas em todo o país, latifundiários, grandes comerciantes, banqueiros, transnacionais etc. O Poder Judiciário é manietado, dominado por essas forças e age conforme o interesse delas. Esta democracia é assim uma fantasia, o povo dela não participa e o agrupamento de forças que a dirige é tão corrupto como o de qualquer ditadura. A busca de uma solução para tudo isso deveria começar pelos legislativos, nos quais o povo deveria ter uma melhor e maior participação. Organizações como a CUT, MST etc. deveriam ser mais atentas na escolha dos seus representantes nos legislativos e tentar ampliar o seu número. Enfim, uma luta pacífica pelas necessárias alterações da constituição visando uma ‘democracia participativa e protagônica’. Leva tempo, mas não é algo utópico e que pode ser obtido pela conscientização do povo. Para isto teria transcendental importância o trabalho patriótico e inteligente que já desenvolve a mídia não convencional, os nossos blogs, multiplicados em número, e atuantes em todo o país. Uma vez que a aprovação da Lei dos Meios parece constituir uma quimera, conviria eles se movimentarem mais no sentido de conseguirem recursos e todo o apoio para tornarem realmente efetiva sua missão. Jotace

Paulo Reis

Um belo exemplo é atual senadora Ana Amélia Lemos, eleita pelo Rio Grande do Sul, com expressiva votação: “só que ela representa os interesses dos latifundiários gaúchos”… Vai entender o que se passa na cabeça do eleitor ou pior, foi muito bem enganado por ela, isso claro, com uma bela ajuda da RBS…

Jaime

Antigamente o voto era censitário e os critérios de posses determinavam a capacidade de votar. Caiu porque foi considerado antidemocrático. Veio o voto universal, o das mulheres, o dos detentores de qualquer poder econômico e finalmente o dos analfabetos. Mais recentemente, cogitou-se estabelecer cotas para mulheres nos parlamentos, semelhante ao que se faz com as cotas para negros, índios, deficientes, nas universidades, e isso é chamado de ação afirmativa, visando a reduzir o passivo provocado por políticas de outrota. Acho que está na hora de criar uma outra ação afirmativa e estabelecer cotas de representatividade baseadas exatamente no poder econômico, de modo que as camadas da população identificadas como pobres tenham uma representatividade correspondente no Congresso.

    Jotace

    Caro Jaime,

    Há que conscientizar primeiro o povo, nem que seja para tirar dele o verniz da ignorância política que o recobre no momento, penso eu. Pois imagina, quem elegeu como senadora a Kátia Abreu em Tocantins? Cordial abraço, Jotace

    Werner Piana@SAGGIO_2

    sem usar de tempo em radios e tvs em cadeia nacional, isto não tem a menor chance de acontecer…
    :/

    Carlos Antonio Sousa

    Bom dia, concordo com a sua proposição. Inclusive ajustar-se ao que se de nomina de DEMOCRACIA REPRESENTATIVA. Acrescento: está na hora de se fazer um movimento nacional contra a REELEIÇÃO no Congresso Nacional.
    No Maranhão, por exemplo, o Sarney filho está no sétimo mandato consecutivo de Deputado Federal.
    Outro ponto que deve ser rediscutido é sobre as EMENDAS PARLAMENTARES. Dinheiro público consignado aos parlamentares para realização de obras. Além de outras coisas, desequilibra a competição entre DEPUTADOS e não DEPUTADOS, pois, os em exercício de mandato têm recurso para fazer “obras”, extrapolando o seu papel de fiscalização, essencialmente.

ccbregamim

e o que aconteceu que ele saiu do cargo?

maria olimpia

Sempre achei que as eleições parlamentares não é e nunca foi de interesse da maioria da população. Votamos para os cargos majoritários e não há interesse por aqueles que diretamente nos irão representar. Acho isso uma pena e uma barbaridade. Vereadores, deputados estaduais e federais (não falo sobre senadores, mais visíveis na mídia em época de eleições) têm uma exposição medíocre na mídia, na maioria das vezes repetindo tal qual “papagaios” uma frase idiota, que por serem engraçados ou bonitinhos, têm grande votação, além de não representarem nada nem ninguém. É o cúmulo que isto ainda aconteça. Temos que realmente conhecer nossos representantes por suas idéias, por seus feitos na área pública e pelos programas de seus partidos. Do jeito que são apresentados e como muitos obtém votos, não é â toa que pratiquem política miúda. Portanto, que nos interessemos mais e que, de alguma maneira, sejam dados â conhecer, para que a população vote melhor em seus parlamentares.

    maria olimpia

    Desculpe,
    …que as eleições parlamentares não são e nunca foram de….

Francisco

Interrogações:

O modelo de poder ocidental foi concebido pelo pensamento liberal de Rousseau, Montesquieu, Voltaire… Esse modelito cabe numa sociedade que não tem o desenho social europeu, pelo menos do século XVIII?

Porque um terço do Congresso não é formado por sorteados entre brasileiros que se “candidatassem a sorteio”? Brasileiros que cumprissem todos os requisitos eleitorais, inclusive o de ser filiado politico, para serem sorteados pelo número do título de eleitor?

Já ajudava a desequilibrar a coisa, não? Porque não pode? Porque não pode a reforma politica? Porque não pode financiar grandes cooperativas de brasileiros para atuar em setores hegemonizados pelo capital gringo, inclusive no campo? Porque a esquerda tem que assistir inativa os desastres acontecendo?

Porque tão pouca criatividade? Porque tanto colonialismo nosso, conosco mesmo? Porque não inovar? Porque não criar a nossa “BBC”? Porque não botar essa “BBC” no novo orçamento de 10% do PIB para a educação?

Porque tanto medo de ser feliz?

assalariado.

Vezes fico pensando, tomamos o poder na base das armas (revolução),ou tomamos através do voto, via parlamento. Como diria Antonio Gramsci: “… guerra de posição, …” Enquanto Karl Marx defendia: “… guerra de movimento, …” que não é o caso, neste comentário. Sim, estou falando de hegemonia, correlação de forças, dentro do congresso nacional, que é onde se materializam, através das leis, os interesses de classe entre os exploradores x explorados. Na medida que o povo vai percebendo que os candidatos, em sua imensa maioria, é da burguesia capitalista, ou seja, do campo patronal, da cidade ou do campo, e não dos assalariados. Devido que, aquilo (a constituição), é um alçapão para governos que querem voar para além do status quo, pré estabelecidos.

Nesta carta, temos varias ciladas, digo leis e suas brechas, não por acaso, desenvolvidas pelo parlamento burgues que, sempre foi, -(e é)-, controlado pelo capital. Certeza, golpes e neogolpes -(nas colonias)- são uma constante dentro da visão imperialista das elites e de suas liberdades. Nestes casos, quando a esquerda ‘ganha’ o governo mas, nunca ganha o Estado, pergunto eu: Qual é a tática mesmo? Usar o parlamento para mudar a carta magna em favor dos assalariados e do povo explorado, segundo o conceito de democracia dos socialistas/ comunistas, ou vamos simplesmente administrar o Estado burgues.

Aí me vem outro pensamento: quantas vezes as esquerdas ganharam no voto, logo em seguida ou, mais um pouco, foram dados golpes civis e militares, ou os dois juntos enfim, … Para eu, está claro, a segunda hipótese (guerra de posição), foi o caminho escolhido pela maioria da chamada esquerda brasileira. Agora só falta avisar os donos do capital do campo e da cidade, que vivemos sob o Estado de Direito. Direito, de quem mesmo?

Saudações Socialistas.

Julio Silveira

Eu diria que são armadilhas da estruturação do poder, principalmente no Brasil, que é onde vivo. Mudá-la democraticamente exigiria coragem do governante. Mas os objetivos reais nunca foram esses, por que o sistema também oportuniza benefícios para os grupos que chegam ao poder. E nesse ínterim o importante e salvar o clã. Os cidadãos de fora desse contexto são acessórios. Massa de manobra para chegar a esse fim. Apenas o poder nada reformador mas aproveitador.

Deixe seu comentário

Leia também