Parceria entre Agência Brasil e Valor Econômico traz graves problemas
Tempo de leitura: 2 minNota da Diretoria do Sindicato dos Jornalistas do DF sobre a parceria entre a Agência Brasil e o Valor Econômico
A Empresa Brasil de Comunicação firmou parceria com o jornal Valor Econômico para a troca de conteúdos entre este e a Agência Brasil.
Na semana passada, a ABr simplificou o acesso de notícias dela para publicação na página eletrônica do referido jornal, dando como contrapartida a publicação de até cinco reportagens semanais do impresso na página da agência. A Diretoria do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal vem a público se manifestar criticamente sobre a iniciativa.
Em primeiro lugar, ela incorreu em uma deficiência quanto ao método. Não houve discussão com os profissionais da Agência Brasil e com o Conselho Curador. No caso deste, faz-se ainda mais estranha a atitude uma vez que a ABr figura entre o rol de temas que o órgão está discutindo neste momento. Por fim, ela se deu sem a definição de uma política específica para este tipo de parceria, uma vez que o Manual de Jornalismo da empresa ainda está sendo finalizado.
Em segundo lugar, a iniciativa traz graves problemas de mérito. O papel de uma empresa pública de comunicação é fornecer informações exatas e de qualidade aos cidadãos, mostrando a diversidade e a pluralidade do país e estimulando a reflexão sobre os temas de relevância e interesse da sociedade. Entre os grandes diferenciais das TVs, rádios e agências públicas estão não haver orientação segundo vontades de governos de plantão e objetivo de obter lucro, escapando da pressão dos anunciantes.
A parceria da Agência Brasil com o jornal Valor Econômico chancela um conteúdo produzido por um órgão de imprensa com finalidades lucrativas, sujeito, portanto, à pressão dos anunciantes. E abre espaço para que uma empresa comercial, atuante no mesmo ramo da agência, divulgue sua produção e sua marca em um veículo público, mantido pelo dinheiro da população. Ela também faz com que a EBC difunda textos produzidos por uma orientação editorial que não é a da Empresa.
Se a Empresa Brasil de Comunicação identifica a importância de determinadas temáticas, a resposta deve ser o investimento nessas áreas com a contratação e a qualificação de profissionais. As mídias da EBC devem ter autonomia para conseguir cumprir sua missão. Para isso, o conteúdo veiculado deve seguir exclusivamente as definições editoriais da empresa.
Outro agravante é o fato da iniciativa abrir um precedente para a ocupação por outros meios de comunicação do espaço dos veículos da EBC. Não se trata aqui de avaliar a qualidade ou não do Valor Econômico ou das informações produzidas pelo jornal, mas sim da presença de outros meios de comunicação nos veículos da empresa.
Neste sentido, a diretoria do SJPDF defende que a direção da EBC ouça os trabalhadores da Agência sobre o assunto, reconsidere a decisão e suspenda a parceria feita até uma decisão definitiva do Conselho Curador.
Brasília, 28 de maio de 2012.
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Diretoria do Sindicato dos Jornalistas do DF
Comentários
Ana
O que é isso? terceirização oficial da imprensa pública!
Bonifa
Foi por brechas como essa que Berlusconi penetrou e entregou todo o sistema estatal de comunicação da Itália a sí próprio e a seus companheiros da comunicação privada, destruindo todos os grandes programas da televisão pública, inclusive fantásticos programas de humor político. A justiça lhe deu ganho de causa, diante de ações desesperadas de cidadãos conscientes. Estabeleceu, assim, o pensamento único na televisão e na imprensa italiana. Este pessoal perigosamente pensa que o momento atual é eterno, este é o grande erro dos que não acreditamm na continuidade da História e na posibilidade sempre presente de mudança dos ventos políticos. No fundo, se vão pela máxima neoliberal imediatista que aproveitou frase de Madame Pompadou: “Depois de mim, o dilúvio!”
Ronaldo Curitiba
O que o Valor Econômico irá publicar sobre os futuros candidatos Gleisi e Hibernardo?
Daniel Pires
Um pequeno passo para introduzir um idéa colonizadora.Idéia essa que é aos poucos ocupa espaço privado e privilegiado em um veículo de interesse público.Que em vez de viabilizar projetos educativos de qualidade e informações imparciais e tranparentes, em uma silada matreira faz acordos imorais desvirtuando o verdadeiro papel de uma TV estatal, o de oferecer conhecimento e informação factual para o seu povo.
Bonifa
O Governo Federal se iguala, com essa atitude, ao Governo do Estado de São Paulo por sua contaminação ideológica privatista em empresa pública de informação e cultura. Parcerias deste tipo nunca podem ser neutras, transportam sempre forte influência de idéias, que em empresa privada tendem a ser empresariais, patronais, economicamente liberais. Está afastada a idéia de imparcialidade e democratização da informação.
Ronald
A TV Cultura de SP pode? Me parece que a família Frias tem horário exclusivo na emissora. O sindicato se manifestou a respeito deste assunto? Gostaria muito de saber…
Roberto Locatelli
Extremamente negativa essa parceria. Jornal Valor Econômico defende o interesse de banqueiros e especuladores. É o pior do privado se infiltrando no público.
Rasec
Ah! Bem que eu desconfiava… Observem as reportagens lá publicadas. Mando várias mensagens reclamando para a ouvidoria deles. A Agência Brasil foi uma das convocadoras da Marcha Contra Corrupção quando Demóstenes ainda era o príncipe da oposição! Aquela marcha de setembro foi convocada também pela Agência Brasil. Além disso, adoram entrevistar especialistas com visões negativas sobre projetos implementados pelo Governo Federal. E, é muito frequente dá voz a Alckmin, Kassab e por aí vai.
A Ouvidoria até q responde e tal, mas é conivente! Observem e vocês verão!
Panambi
Com esta iniciativa a EBC caminha para ser uma GRANDE empresa de comunicação PÚBLICA…sob a batuta dos Marinho´s boys e do Frias…e VIVA O BRASIL!!!!
Mardones FErreira
Apoiado! Misturar o interesse público com o privado é certeza de prejuízo ao primeiro.
Willian
Se o Valor Econômico, como uma empresa privada, estaria sujeito à pressão dos anununciantes, a que tipo de pressão estaria sujeita uma empresa jornalística ligada ao governo federal, ou estadual, como a TV Cultura?
Elton
Tem toda razão. Como vemos hoje a cobertura unilateral do caso cachoeira feita VEJA, GLOBO, ABRIL, e porque não dizer o silêncio completo da grande mídia com exceção dos blogueiros sujos que nos trazem informação plural a esse respeito.
Isso não ser concretizado. Não confio em banqueiro.
Paciente
É. Isso não pode. Tem que ser cancelado ou abre precedente para um milhão de outras situações análogas e esdruxulas. A sub-locação dos hospitais públicos pelos tucanos de São Paulo teria um precedente decisivo, por exemplo.
Dai a imaginar juiz de direito usando propaganda de anunciante na toga é um pulo. Duvida? Pergunta ao Gilmar…
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