Túlio Muniz: O “suicidado” político

Tempo de leitura: 2 min

por Túlio Muniz

A propósito de manobras da grande (grande?) imprensa e de políticos diante da enxurrada que pode advir da CPMI do Cachoeira, é interessante refletir acerca de um personagem gerido pela política e pela mídia brasileira, o “suicidado político”, que é:

Aquele que perde o senso do real em delírios auto-celebratórios de grupelhos ocupantes eventuais da gestão do estatal.

Aquele que se cerca de assessores truculentos e intimidadores, autênticos bandoleiros e “pistoleiros” de gabinete, e de uma legião de acomodados na condução do rito administrativo.

Aquele que se enforca na própria gravata e nos botões ornamentados, apetrechos dos quais não se pode mais livrar por conta do hábito, do costume, inimigos mortais da criatividade e da negociação necessárias à democracia.

Aquele que renega o ativismo em prol da mera intervenção nos parlamentos e nos seus microfones.

Aquele que acredita em relatórios e balanços positivos elaborados pelos gestores de setores colapsados que não correspondem aos anseios da população (saúde, educação, segurança, mobilidade, arte, lazer, urbanismo, e etc ,etc, etc…).

Aquele que em nome de interesses pessoais, ou familiares, ou religiosos renega a própria história de combate a esses mesmos interesses.

Aquele que se perde no moralismo das posições egocêntricas, ainda que situando-se num campo político partidário “progressista”.

Aquele que, renegando a política do cotidiano, teme mais do que a morte o fortalecimento,pela via da reciprocidade, das relações sociais e interpessoais, dos méritos pessoais e individuais (tão ou mais importantes que os coletivos), e dos seus potenciais ofensivos à mediocridade,  tão necessários à resistência contra as políticas meramente institucionais ou filantrópicas, que cobram daqueles a quem “ajudam” a liberdade de opinião, de deslocamentos e de pensamento.

Apoie o VIOMUNDO

Aquele que, detentor do poder institucional, perde o  bom senso nas  obsessões  que  interditam o debate acerca de “grandes projetos” (“Grandes” para quem? Para “o que”?).

Aquele que, de tanto andar em carros luxuosos com vidros esfumaçado conduzidos por outrem, perderam a visão e a capacidade de caminhar por si mesmos entre as pessoas, a cidade, a vida.

Aquele que quer subordinar os anseios sociais, a criatividade, a arte, o pensamento ao planejamento estatal, em vez de potencializar àqueles pela via deste.

Aquele que promove um “Estado contra a sociedade”.

Aquele que acredita que o poder encontra-se somente nas instituições, desconsiderando suas “circularidades”.

Aquele que se ascende na carreira político-partidária a custa de imbróglios e desonestidades que lhes são incorporados à trajetória pessoal tal qual uma assinatura, um sobrenome.

Aquele que se reveste de poder formal,  mas lhe falta “vontade de potência” para compartilha-lo ou geri-lo.

Aquele que dissimula dentro dos labirintos institucionais e perante a “opinião pública” para não evidenciar os envolvimentos espúrios aos quais se ligou, quase nunca inadvertidamente, ao longo da trajetória política.

Aquele que se fia em manifestações únicas de poder fora do poder apenas pela mídia convencional, invisibilizando a rizomática eclosão de opiniões nos universos paralelos e simultâneos nas possibilidades tecnológicas do tempo presente.

As caracterizações são infindáveis, seria interessante incorporar os que surgirem de outras opiniões…

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!

Deixe seu comentário

Leia também