Isabel Bressan alerta: “Compra da Amil pela UnitedHealth forçará a adoção no Brasil do modelo americano de saúde”
Tempo de leitura: 3 minpor Isabel Bressan, no Blog do Cebes
Pouco tempo depois da Inglaterra mostrar ao mundo, na abertura das Olimpíadas de Londres, o orgulho nacional por seu sistema de saúde público universal e igualitário, vemos com vergonha a assistência à saúde de cinco milhões de brasileiros ser vendida para uma empresa americana atraída pela grande expectativa de lucro do mercado de planos de saúde brasileiro que não para de crescer.
Orgulho inglês por um sistema de saúde que acolhe nos momentos de dor e sofrimento, que salva da morte, que cuida sempre e não deixa ninguém para trás. Vergonha brasileira por um mercado que barganha “vidas” em busca do lucro fácil. Que ameaça nossa soberania como cidadãos de um país vendo sua aposta na garantia assistencial sendo colocada nas mãos de estrangeiros imperialistas, que querem tomar de assalto a Saúde no Brasil, atraídos por “um mercado de crescimento dos planos de saúde com políticas de estímulo em favor do setor de saúde suplementar” como exaltou Stephen J. Hemsley, presidente e CEO da UnitedHealth Group. Ele quer investir maciçamente em planos para as classes C e D, até que o Brasil fique igual aos EUA, onde 80% da população possui esses planos e onde não há crime algum em colocar na rua doentes que não podem mais pagar a conta no hospital.
Será que precisaríamos passar por esse vexame de ser outra vez o quintal americano? Não, se o investimento público em saúde no SUS fosse decente e nos acolhesse a todos no nosso sistema de saúde público universal e igualitário, o SUS. Em vez disso prosperam as tais “políticas de estímulo em favor do setor de saúde suplementar” como o pagamento de planos privados para funcionários públicos as isenções de impostos para pessoas e empresas que pagam planos de saúde, os equipamentos caros que o governo compra para uso dos planos de saúde, o uso dos serviços dos SUS pelos beneficiários dos planos que não são cobrados das operadoras, etc. Tudo em nome de estímulos ao crescimento do mercado privado de planos, para quê? Para ter nossa vida colocada nas mãos de mercadores estrangeiros? Para ter informações estratégicas sobre a necessidade brasileira de medicamentos e insumos nas mãos de estrangeiros?
É interessante notar que, recentemente, surgiram pressões para que a Lei dos planos de saúde fosse alterada de modo a permitir a venda de planos com cobertura limitada a consultas e exames mais simples, o que se tornaria rapidamente na grande porta de entrada torta do SUS. Ou para permitir o lançamento de planos individuais com alto percentual de co-pagamento dos beneficiários para internações, tratamentos de câncer etc, levando as pessoas a buscar esse tratamento no SUS para que não empobreçam pagando suas dívidas com as operadoras.
Tudo em nome de atrair investidores para o mercado brasileiro. Ou talvez para diminuir os gastos das operadoras cobrando dos “aposentados e hipocondríacos que não têm o que fazer e vão aos centros médicos tomar café e se consultar”, como o dono da Amil definiu seus clientes para um grupo de analistas financeiros, segundo publicou o Jornal O Povo do Ceará.
Certamente o investidor americano acredita que caminharemos para ser como nos EUA, onde o governo paga por planos mequetrefes para pobres e idosos, garantindo para as empresas de saúde uma renda imensa gerada pelo subsídio público. Não por coincidência há um projeto de lei nesse sentido, de uma deputada federal do Ceará, que propõe o pagamento de um adicional em dinheiro para quem recebe Bolsa Família, para aquisição de plano de saúde. Há também uma sugestão de representantes das seguradoras de saúde de que o governo complemente o pagamento de planos para idosos como forma de compensar os preços exorbitantes que cobram das pessoas com mais de 60 anos. Tudo com o dinheiro que certamente faltará ao SUS e aumentará o lucro das empresas.
Outros estímulos já estão surgindo no meio parlamentar como aquele projeto de um senador que propõe que os gastos com planos de saúde pelas empresas possam ser deduzidos do valor do recolhimento para a Previdência Social, fora as desonerações que já estão tirando dinheiro que deveria ir para a seguridade social incluindo o SUS.
Enfim, trata-se de uma nova ameaça à conquista de nosso efetivo sistema público universal e gratuito como a Constituição Brasileira manda que seja a Saúde no Brasil, pois conforme destacou um considerado consultor empresarial, a compra da Amil por essa empresa americana deverá forçar a adoção de um novo modelo de saúde no Brasil – o modelo americano.
UnitedHealth, go home!
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Isabel Bressan é diretora do Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes).
Comentários
Chaiana de Lara
Espero que a Amil não desapareça, eu acho um bom plano de saúde.
Laura
Peraí Celso. Então, que se estraçalhem os consumidores que foram forçados a correr para os planos de saúde? Afinal, quem regimenta isto, para que o consumidor não perca e saia no prejuízo?
O final desta história, sabe qual é? O SUS arca com os doentes crônicos, os de alto custo, os de longa internação, os hipercomplicados, enquanto os planos de saúde, agora sob esta novíssima ótica, usufruem dos atendimentos mais simples e banais, negando a seus segurados atendimentos de média e alta complexidade. Quem paga esta conta, hein? Adivinha? E quero ver a ANS dar conta disto.
Celso Carvalho
Menos, Isabel, menos. De fato o mercado brasileiro vem crescendo muito, e a demanda pelo serviços das operadoras de medicina de grupo tornaram o mercado brasileiro muito atrativo. O grupo Amil, assim como outros que tentaram monopolizar o mercado brasileiro, acabaram se dando mal. Não é novidade nenhuma os investimentos nesse setor de capital estrangeiro. A Sul América, por exemplo, capitalizou-se associada a AETNA, que investiu pesado no setor e depois da regulamentação acabou saindo fora do mercado. Bradesco também conta com sócios estrangeiros nesse setor. Mas o Brasil, por incrivel que pareça, hoje está oferecendo um serviço público melhor que muitas empresas de seguro saúde. As cooperativas médicas como a Unimed, em que pese várias irregularidades na administração e desvios de pacientes para atendimento público, também é um forte contraponto a empresas estrangeiras. Os americanos não se dão bem neste setor por estas pairagens; vem sempre perdendo para as empresas brasileiras. Se o investimento público no SUS aumentar, se a ANS cumprir corretamente suas funções, na minha opinião, não há muito o que temer. A não ser que haja mudanças na atual legislação.
Abraço.
Alberto
O alerta da Isabel é muito bom e sério, no entanto acho que a UnitedHealth se comprou a Amil esperando que o SUS mude, entrou pelo cano. De qualquer modo trata-se de uma negociação espúria e o país não poderia ter permitido
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