Brasil de Fato: As Forças Armadas e a Comissão Nacional da Verdade

Tempo de leitura: 3 min

Editorial  da edição 475 de Brasil de Fato

A história demonstra que cada geração une o passado e o presente de forma original. Os elementos e as contradições do presente são imprescindíveis para a construção de novos processos históricos. No entanto, ao mesmo tempo em que os elementos do presente são imprescindíveis, também são insuficientes, sendo a síntese dialética das contradições do passado e do presente fundamentais para a construção das mudanças sociais.

O historiador francês Jean Chesneaux afirma que os povos, particularmente os subalternos do mundo, deviam “libertar o passado”. Atualmente, viabilizar concretamente a Comissão Nacional da Verdade no Brasil significa contribuir para lcibertar o passado e avançar na construção de uma sociedade comprometida com a memória, com a verdade e com a justiça. O apoio e a solidariedade de diversos setores da sociedade com as recentes ações do Levante Popular da Juventude em defesa da Comissão da Verdade indica que está em construção um clima político favorável para que o governo brasileiro avance na concretização dessa comissão, proporcionando-lhe plenas condições de trabalho.

É um processo complexo. Precisamos saber de fato quem é o nosso inimigo. Conhecer suas táticas e armadilhas conjunturais. É fundamental nesse momento fazer algumas reflexões para a esquerda e para a sociedade brasileira. Os militares da reserva, protagonistas dos crimes da ditadura civil-militar e que fazem uma guerra suja contra a Comissão da Verdade, não falam em nome das Forças Armadas brasileiras. Encurralados e isolados, a tática dos milicos, nesse momento, passa por potencializar o sentimento corporativista das Forças Armadas. Aliás, os militares da reserva já foram, recentemente, desautorizados de falar em nome das Forças Armadas brasileiras.

Também é importante ressaltar que as Forças Armadas não são inimigas do povo brasileiro. Suas posturas diante dos fatos históricos são produto das contradições de seu tempo. Portanto,  não são um corpo homogêneo e sem contradições. Quem disse que os jovens oficiais concordam com os atos de perseguição e de tortura praticados durante a ditadura militar?

Aliás, em diversos momentos da História brasileira os militares tiveram posturas identificadas com os interesses do povo brasileiro. Exemplo disso foi a postura política do exército brasileiro no processo da abolição da escravatura, colocando-se contra a continuidade da escravidão no Brasil logo após a guerra do Paraguai. Esse posicionamento do exército minou as bases da Monarquia, abrindo espaço para a proclamação da República. A Coluna Prestes é produto das contradições das Forças Armadas brasileiras e do sonho da jovem oficialidade em mudar o Brasil. Importante lembrar também que, para Juscelino Kubitschek assumir a Presidência da República, o General Lott teve que intervir para garantir o cumprimento da Constituição. As Forças Armadas com todas as suas contradições também tiveram papel importante na campanha “o petróleo é nosso”, na garantia da posse de João Goulart. O objetivo ao ressaltarmos essa postura das Forças Armadas nesses fatos históricos (muitos deles arranjos políticos pelo alto, sem protagonismo popular) não é reproduzir uma abordagem positivista da história, mas sim evitar posicionamentos cristalizados sobre o papel delas  na sociedade.

Claro que as Forças Armadas também têm no seu histórico a repressão violenta ao movimento popular de Canudos, a ação golpista de 1937, o golpe militar de 1964, dentre outros. Aliás, as mudanças estruturais de cunho popular no Brasil não se darão através de quarteladas. Sabemos que a solução está na mobilização popular de milhões. Ressaltamos, portanto, a importância de dialogar com os setores das Forças Armadas, particularmente a jovem oficialidade, comprometidos com seu papel constitucional de assegurar as instituições democráticas e com o desenvolvimento de uma nação livre e soberana.

As contradições da realidade podem levar o povo brasileiro a prestar contas com um processo de redemocratização incompleto e marcado pela predominância de arranjos políticos construídos pelo alto. O protagonismo popular do período da redemocratização sofreu um refluxo na década de 1990 e não foi suficiente para efetivarmos, na prática, diversas reivindicações de natureza democrática, nacional e popular. Uma nova geração de lutadores e lutadoras do povo certamente prestará contas a esse “desenvolvimento capitalista deformado e perverso” no dizer de Florestan Fernandes.

Nesse xadrez que começa a se formar, percebemos posturas como o constrangimento, a conivência e a oposição aberta de setores da classe dominante brasileira à Comissão da Verdade. Isso porque existe um temor de que a Comissão da Verdade seja a ponta do iceberg. Um temor de que a sociedade brasileira, particularmente a juventude, se mobilize para completar a redemocratização inacabada. Um temor de que o povo brasileiro resolva traçar os destinos da nação.

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Comentários

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Sidnei Pereira

Compactuo minhas idéias com o Plácido Pereira.
O fato é que, estamos vivendo reversos do ideal de democracia. Depois que os partidos de esquerda assumiram o poder, querem desenterrar assunto antigos e punir hoje, senhores cuja idade já se faz adiantada. Estamos vendo um pais atolado em crises políticas originadas na corrupção, mal este que se perpetua. O país vem sendo dominado com o crescimento do crime organizado que, aos poucos vem arregimentando jovens de todas as classes para suas fileiras, dominando inclusive posições políticas para lhes facilitar os atos ilícitos de toda a natureza. Ora, convenhamos, querem desenterrar um passado que sequer a juventude atual fez parte e está pouco se linchando, pois não recebe sequer uma cultura de qualidade no tempo presente para saber distinguir o que são os meandros da política. Onde estão as aulas de civismo, de patriotismo, valor a bandeira. Isso tudo, os tais militares, os mesmos que agora são perseguidos e que terão dor de cabeça com a tal “Comissão da Verdade”, nos ensinavam, o verdadeiro valor da pátria. Não é desenterrando um passado por questões revanchistas que mudaremos o futuro, pois o futuro é fruto do que fazemos hoje, certos de que os erros passados não se repitam.

Luis

Ô governinho covarde esse nosso que até agora nada fez e nada faz para, sequer, nomear a Comissão, ai que inveja da Argentina.

luiz claudio

Cadeia já para estes caras,o governo tem que entender que não pode furtar de leva-los aos tribunais, estes assassinos dizem que os comunas optaram pela luta,que eles assaltaram,roubaram bancos,mas convenhamos ,quem financiou e deu o golpe foi os banqueiros,Magalhães Pinto,junto com os empresários,ou vocês acham que o milicos foram os golpistas,foram apenas capachos,pau-mandados,marionetes,seres sem capacidade de pensar,kkkkkkkkkkkk,e todos obedecendo ordens do nosso "grande irmão do norte",então as ações deles eram legais,pois foram contra os usurpadores do estado de direito,foram heróis,pois lutaram contra estes bandidos.Presidenta seja fiel ao seu passado,punição já.

verdade

toda verdade seja mostrada.
todo culpado seja punido.
que sirva de exemplo a tortura imposta dentro dos quarteis.

José Antero Silvério

"Ressaltamos, portanto, a importância de dialogar com os setores das Forças Armadas, particularmente a jovem oficialidade, comprometidos com seu papel constitucional de assegurar as instituições democráticas e com o desenvolvimento de uma nação livre e soberana."

Esse diálogo agora parece mais fácil de se conseguir. Os militares não criaram um partido político, o PMB – Partido dos Militares do Brasil?

Plácido Pereira

Realmente os militares da reserva não falam em nome das forças armadas, isto é um fato. Agora, é um erro achar que a caserna – incluída aí a jovem oficialidade – não comunga dos mesmos ideais. Essa retórica de democracia inacabada, que a esquerda brasileira tenta incutir na cabeça de todo mundo, se restringe aos mesmos barbudinhos de sempre, agora inspirados também em boas baforadas canabianas, e também aos mesmos desocupados que insistem em falar em nome do povo ordeiro e trabalhador, que está realmente muitíssimo preocupado com esse "clamor" revanchista e barato. Podem aguardar sentados ou espernando, a escolha é de vocês.

Ronald

Assim como Lula, Dilma vai cozinhar tudo que ela puder, inclusive esta comissão! Com o PT, é só chamar às falas que o caldo desanda.

Victoria

Não quero me algongar demais porque a emoção tomará conta do meu depoimento. Perdi um irmão e a sua esposa, assninados na Guerrilha do Araguaia. Espero a Comisssão da Verdeade (de verdade) para que os fatos sejam apurados. Não quero vingança, quero justiça. Por favor, abrancem essa causa. Minha mãe já faleu, como a maioria dos pais dos mortos e asssinados pela Ditadura. Se a sociedade não abraçar essa causa, a quem restarar a visão da realiadade? TAmbém estou envelhencendo, peço que mie ajudem nisso. Nâo é uma causa pessoal. Eles não morreram por nós, familiaresl, mas por termos uma sociedade mais justa. Que a história os julgue e não os seus vergudos.

    Ronald

    O meu apoio é irrestrito à esta causa, difícil é esperar algo do PT quando o assunto afeta a elite.

renato

Isto é motim e como motim seus direitos devem ser tirados.
Seus salários não podem mais ser passados de pai para filho.Isto já acabou não!
Eles tem que dar exemplo ao país, aos jovens que pretendem seguir carreira militar que é bonita.Que é útil ao país, enobrece o ser humano,isto quando se trabalha para o Brasil.
Mas velho encardido enchendo o saco ninguém aguenta.

pperez

O Governo e a autoridade da Presidenta Dilma tem sido afrontados pelos generais de pijama inconformados com a direção democratica que o País tomou, após a derrocada do golpe!
Além disso, o governo mantem ouvidos moucos aos apelos internacionais para que, como já fizeram dezenas de paises, leve as barras dos tribunais os militares responsaveis pela tortura,morte e desaparecimento de dezenas de pessoas.
Diante dessa inercia irritante cabe a sociedade se mobilizar, como os jovens nas recentes manifestações, para que sua coragem de apontar os torturadores sirva de coragem para o governo fazer o seu papel.

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