Ana Cardoso Silva: O que Lampião pensaria do uso privado de Maria Bonita e cinco irmãs?
Tempo de leitura: 3 minpor Ana Cardoso Silva
Anos atrás, para alegria de todos, o bibliófilo José Mindlin doou parte de seu acervo à Universidade de São Paulo. Para abrigar o acervo, e disponibilizá-lo ao público, foi criada, como órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, tendo seu regimento baixado em finais de 2004(http://www.usp.br/leginf/resol/r5172c.htm).
As informações acerca da referida Biblioteca – cujo prédio deverá ser inaugurado, segundo dados disponibilizados pela grande imprensa, no começo do segundo semestre de 2012 – estão disponíveis no site www.brasiliana.usp.br.
Lê-se nesse sítio que a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin divide espaço com a Brasiliana Digital (www.brasiliana.usp.br/node/505), uma Biblioteca Digital USP destinada a “tornar irrestrito o acesso aos fundos públicos de informação e documentação sob sua guarda”.
Tal iniciativa, cujo projeto piloto foi iniciado, segundo o próprio site, em 2009, resulta de uma pareceria entre a Biblioteca Brasiliana e o “KNOMA – Laboratório de Engenharia de Conhecimento do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais” da Escola Politécnica da mesma Universidade de São Paulo.
A iniciativa contou com recursos do Ministério da Cultura (MinC) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) que, entre outras coisas, financiou a compra do primeiro ROBÔ “digitalizador” da Brasiliana USP, candidamente apelidado de MARIA BONITA.
Segundo normas da FAPESP, tal robô deveria ser utilizado para os serviços da própria Brasiliana e, quando “ocioso”, por outras unidades da Universidade de São Paulo, gratuitamente.
No início deste ano, como noticiado no próprio site (www.brasiliana.usp.br/node/888), Maria Bonita ganhou 5 Irmãs, ou seja, cinco novos robôs, dois deles pertencentes ao SIBi (Sistema Integrado de Bibliotecas da USP), também “resultado de um apoio da FAPESP”, e outros três com verba do BNDES.
Maria Bonita e suas irmãs deveriam estar sendo utilizadas para digitalizar – graciosamente – o acervo doado pelo bibliófilo e também as coleções de obras raras de outras unidades da USP, caso, segundo publicizado, de obras da Faculdade de Direito e da Escola Politécnica da mesma Universidade. Nada mais justo, uma vez que foram compradas com dinheiro público e são operadas por funcionários e estagiários pagos pela USP (uma equipe de “mais de quarenta profi ssionais”, quando da instalação do projeto piloto em 2009, segundo noticia o site).
Eis que, em meio a esse processo, surge uma nova figura. Esta sim estranha à estrutura e ao controle da USP: o Instituto Brasiliana (http://institutobrasiliana.com/home.html ou http://institutobrasiliana.org.br/home.html). Uma associação que visa aproximar “o poder público, o meio acadêmico”, o público em geral e “os investidores privados”, como se lê no site dessa associação cuja institucionalidade não está bem esclarecida.
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Comparando-se o site da Brasiliana/USP e o do Instituto Brasiliana nota-se uma clara identificação entre seus dirigentes: ver páginas www.brasiliana.usp.br/node/503 – no canto direito – e http://institutobrasiliana.org.br/equipe.html.
Tal Instituto não parece ter sede “física” ou sequer telefone, uma vez que o único contato disponível é o e-mail [email protected]. Mais curioso ainda é o fato de que todas as imagens que ilustram os referidos sites – institutobrasiliana.com ou institutobrasiliana.org.br – foram “gentilmente cedidas pela Brasiliana USP”.
O referido Instituto parece ter feito sua estreia online em setembro de 2011, quando seu logotipo apareceu, entre outros – vale dizer entre instituições ou bem vinculadas à USP, ou a outros organismos públicos –, como um dos patrocinadores do seminário “Frei Mariano Veloso e a Tipografia do Arco do Cego”, organizado pela Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, evento divulgado no site www.brasiliana.usp.br/SM2011/.
Entre os malefícios da falta de transparência do que é de fato a Brasiliana/USP e da morosidade de sua institucionalização junto à Universidade de São Paulo, está a alimentação de rumores. Como, por exemplo, o rumor de que o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, em troca da digitalização de parte de seu acervo, estaria pagando o Instituto Brasiliana pelo serviço. Ora, isso possibilita uma “transferência” de recursos entre “órgãos” da Universidade, uma vez que seus estatutos proíbem tal tipo de “empreendimento”; a despeito do fato de que o trabalho esteja sendo feito em dependências da USP, por funcionários e estagiários pagos pela própria USP, e com uso de equipamentos financiados por agências públicas, a Maria Bonita e as suas Irmãs.
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Comentários
Pall Kunkanen
Isso é só mais um caso das fundações dentro da USP (mina de ganhar dinheiro). Sim a USP compra os equipamentos, paga os funcionários, suprimentos e energia. Cobra pelos serviços, a grana é depositada numa conta desta fundação que por sua vez cobra a taxa de 10% do valor para "administrar" este dinheiro. Detalhe, é proibido solicitar compra de equipamentos e suprimentos para a fundação. Estes quem deve providenciar é a USP. Talvez seja por isso que esta fundação tem orçamento para 2012 de 1 bilhão de reais.
Bonifa
Vou dizer o que ele faria, antes que o Gerson Carneiro o diga: Passaria a peixeira na garganta dos responsáveis.
beattrice
Vamos ver:
o equipamento adquirido por financiamento público, via FAPESP e BNDES, foi terceirizado para uma instituição privada e vem sendo operado por funcionários públicos, sendo que a mesma instituição pública de cujo patrimonio ele consta – USP – o aluga da terceirizada e paga a ela que sequer paga algo à adquirente – USP – pelo uso, de resto indevido do mesmo?
Como tem grana federal – BNDES – se quiserem cabe acionar o MPF.
joão33
tem maracutaia aí , provocar a justiça urgente.
Leider_Lincoln
Provocar a "Justiça" paulista? Só se for para tomar um tapa na cara, né?
Luiz
Lendo isso me lembrei de um filme onde havia guerra serrada entre bibliófilos, sempre tentando conseguir livros raros em algum lugar do mundo. A história era meio mágica mas dava ênfase de que nesse meio também existe máfias atuando.
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