Jeferson Miola: Hugo Motta em modo Eduardo Cunha e Arthur Lira

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31 de janeiro de 2025, jantar de despedida de Arthur Lira (PP-AL) da presidência da Câmara. Na festa, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) conversa seus principais padrinhos na disputa à presidência da Casa. O próprio Lira e o ex-presidente Eduardo Cunha (Republicanos-RJ). Foto: Reprodução Mariana Haubert/Poder 360

Hugo Motta em modo Eduardo Cunha e Arthur Lira

Por Jeferson Miola, em seu blog

Apenas terminaram os rapapés institucionais com aqueles sorrisos rituais, tapinhas nas costas e promessas insinceras de convivência harmônica entre os poderes, Hugo Motta então tirou a pele de cordeiro que escondia a persona real por trás do rapaz que unta o cabelo com Gumex para aparentar honorabilidade e credibilidade.

Arthur Lira foi metódico –e também insidioso– na construção do seu sucessor no comando do parlamentarismo de achaque e rapinagem.

Classificado pelo governo e pela maior parte da crônica política como um “pato manco” no início de 2024, último ano do seu mandato, Lira mostrou toda sua força e poder no processo sucessório. E mostrou, ainda, que continua com muito poder – agora como um ator oculto poderoso, assim como Eduardo Cunha.

Depois de trair e descartar Elmar Nascimento, amigo íntimo e parceiro de todas as horas e de muitas emendas ao orçamento, Lira se jogou de cabeça na candidatura de Hugo Motta à presidência da Câmara.

Hugo [o “HuGumex”] foi envelopado pelo seu mentor e padrinho político com o rótulo de um presidente imparcial e equilibrado, que serviria igualmente a dois senhores ao mesmo tempo – ao governo Lula e à oposição bolsonarista e antipetista.

O então candidato foi adestrado para fingir imparcialidade e não se posicionar sobre questões essenciais para a democracia e os interesses nacionais.

Entretanto, e por tratar-se de um personagem traiçoeiro e inconfiável, o milagre da lealdade ao acordo não se concretizou.

Já sentado na mesma cadeira que Ulysses declamou ódio e nojo à ditadura, Hugo Motta assumiu claramente o lado de um dos senhores a que prometera servir, que é o lado daqueles que tentaram dar um golpe de Estado para novamente instaurar uma ditadura. Um estelionato político de manual. E com notas de negacionismo.

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O recém-eleito presidente da Câmara, tergiversador durante sua campanha, agora se posicionou a favor da revisão da Ficha Limpa e do projeto de Anistia a golpistas para beneficiar diretamente Bolsonaro e outros criminosos bolsonaristas. E também anunciou prioridade às pautas oposicionistas e extremistas.

Para o governo, de outra parte, Hugo Motta sinalizou com uma banana na discussão sobre a isenção do imposto de renda até cinco mil reais e na tributação mínima de super-ricos. E também adotou um tom crítico, chegando até mesmo ao nível que pode ser interpretado como de pressão e ameaça.

Bolsonaro agradeceu. “Que Deus continue iluminando o nosso presidente Hugo Motta […]. Essa anistia não é política, é humanitária”, declarou.

No discurso de posse, Hugo Motta citou 14 vezes o nome de Ulysses. Não por compromisso honesto com a democracia e a boa convivência entre os poderes da República, mas com o objetivo único de dar ares de legitimidade e constitucionalidade ao esquema corrupto de emendas parlamentares que só em 2024 representou um assalto de quase R$ 50 bilhões ao butim do Orçamento da União.

Afinal, “Executivo e Legislativo são o governo”, filosofou HuGumex, revirando Ulysses no fundo do oceano, onde seu corpo jaz.

O governo tem razões de sobra para se preocupar com o biênio de Hugo Motta na presidência da Câmara. Idem a Suprema Corte, que integra a aliança de governabilidade com o governo para a sobrevivência da democracia e a contenção do fascismo.

Durante o processo da sucessão de Arthur Lira, os líderes governistas na Câmara optaram por uma alienação voluntária em relação à trajetória política de Hugo Motta e seus vínculos genuínos com Eduardo Cunha.

Neste momento, entretanto, diante da postura assumida por Hugo Motta seria perigoso, e, inclusive, fatal, o governo menosprezar os riscos que esta cria política de Cunha e Lira representa para a metade final do mandato do presidente Lula e para a escalada do extremismo e do fascismo no Brasil.

*Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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