Pedro Pinho: Mundo neofeudal, ‘engraçadinho’ como Trump ou trágico como a guerra?
Tempo de leitura: 5 minPor Pedro Augusto Pinho*
As manifestações a respeito da posse na presidência da Venezuela, dia 10 de janeiro, de Nicolás Maduro desencadeou verdadeiro show de estupidez, lugar comum, falta de inteligência em todos programas jornalísticos nas televisões brasileiras. Seríamos tão imbecis?
Estaria a profissão, como vem ocorrendo com o saber em tudo mais, sob o domínio do poder neoliberal, ficado cada vez mais obtuso, menos capaz de reflexões minimamente inteligentes?
Yanis Varoufakis, ex-ministro das Finanças da Grécia, em 2015, lançou instigante expressão em seu último livro: “Technofeudalism: What Killed Capitalism” (setembro/2023).
O que significa?
Com a palavra Varoufakis:
“É assim que termina o capitalismo: não com um estrondo revolucionário, mas com uma lamúria evolucionária. Como deslocou o feudalismo gradualmente, sub-repticiamente, até que um dia o grosso das relações humanas se baseou no mercado e o feudalismo foi varrido, o capitalismo hoje está sendo derrubado por novo modo econômico: o tecnofeudalismo”.
Prosseguindo:
“Esta é uma grande reivindicação que vem no calcanhar de muitas previsões prematuras do fim do capitalismo, especialmente a partir da esquerda. Mas desta vez pode muito bem ser verdade. As pistas já são visíveis há algum tempo. Os preços dos títulos e das ações, que deveriam estar se movendo em direções nitidamente opostas, têm disparado em uníssono, caindo ocasionalmente, mas sempre no mesmo passo firme de marcha. Similarmente, o custo do capital (o retorno exigido para possuir um título) deveria estar caindo com volatilidade; ao invés disso, ele tem aumentado à medida que os retornos futuros se tornam mais incertos”.
“Talvez o sinal mais claro de que algo sério está em curso tenha aparecido em 12 de agosto do ano passado (2022). Naquele dia, soubemos que, nos primeiros sete meses de 2020, a renda nacional do Reino Unido havia diminuído mais de 20%, bem acima até mesmo das previsões mais obscenas. Alguns minutos depois, a Bolsa de Valores de Londres saltou mais de 2%. Nada comparável havia até então ocorrido. As finanças tinham se tornado totalmente dissociadas da economia real”.
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Curiosamente, procurando a situação que retratasse a nova divisão do mundo, não mais pelos Estados Nacionais, já eliminados pelos “mercados”, também chegamos à Idade Média, onde os feudos não seriam identificados territorialmente mas pelos objetivos dos “gestores de ativos”, individualmente ou em consórcios.
Exemplificado: feudo das fontes de energia primária, espalhando-se por continentes, pertencentes a meia dúzia de gestores de ativos, tipo BlackRock, State Street, Vanguard, J.P. Morgan etc.
Porém, o que se pretende aqui refletir é sobre a comunicação. Neste mundo descrito por Varoufakis e muitos outros perspicazes estudiosos, a comunicação é capítulo importantíssimo, da maior relevância.
Miguel Nicolelis, o genial neurocientista brasileiro, escreveu “O Verdadeiro Criador de Tudo; como o cérebro humano esculpiu o universo como nós o conhecemos” (Editora Planeta, SP, 2020), onde separa as mensagens, que vem e vão do cérebro, conforme possam ser digitalizadas, shannoniana (devidas a Claude Shannon – 1916-2001) ou tratadas de modo analógico, gödeliana (Kurt Gödel – 1906-1978).
Além dos tratamentos das mensagens, cada vez mais sofisticados como se sabe pelas novas armas utilizadas nas diversas guerras do século XXI, há, também, suas aplicações na conquista do espaço e dos planetas, satélites, enquanto o Brasil abre mão de sua Base de Alcântara (Estado do Maranhão) demonstrando governos subservientes ao interesse estrangeiro e onde fica o poder aqui dirigente.
O dano mais profundo da ideologia neoliberal que chega ao Brasil por pressão do capital financeiro na sucessão do presidente Ernesto Geisel, que denomino o terceiro golpe do período 1964-1985, duração dos governos militares autoritários do século XX.
O primeiro (1964) foi para afastar o vice-presidente eleito, João Goulart; o segundo (1967-1979) para nacionalizar a governança, entregue pelo primeiro aos Estados Unidos da América (EUA); e o terceiro (1979) para impedir a continuidade do nacionalismo tenentista daquela fase, impondo presidente discordante, porém de pouca capacidade gerencial para sucessão.
Valeram-se as finanças, para chantagear Geisel, da dívida externa entre outras razões para suportar a importação de petróleo, cujo consumo cresceu com o “milagre brasileiro”, e o preço do barril com as crises, igualmente forjadas pelas finanças, na década 1970.
Verifica-se que, excluindo os Centros Integrados de Educação Pública, os CIEPS de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro no Rio de Janeiro, nada foi feito para melhorar a qualidade do ensino no Brasil. Ao contrário, os professores continuariam sendo profissionais mal remunerados e, socialmente, não dos melhores avaliados.
Hoje já se discute o uso da inteligência artificial para exames de redação no vestibular às universidades. Mais um passo para o sepultamento do saber e se tornar comentarista político na televisão aberta.
Qual o embate deste século XXI
É fundamental entender o que está em questão para avaliar as estratégias das partes.
O mundo neoliberal financeiro começou a mostrar-se vencedor da disputa pelo poder mundial com as desregulações financeiras obtidas em duas grandes praças, Londres e Nova Iorque, ainda na década de 1980. Este período conclui com aprovação de importante documento, a nova Bíblia, a Constituição Mundial, o “Consenso de Washington (CW)”.
Armados pelas desregulações que decuplicou o número de “paraísos fiscais” em menos de trinta anos, e pelo CW, tratou de dar o empurrão (financeiro, é claro) para demolir a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1991.
Fim da industrialização e fim do socialismo, era a vez das finanças apátridas colocarem a ignorância a seu serviço, cavalgando, como inteligentes que são, a ideologia neoliberal, misturada com figuras conhecidas do liberalismo clássico e do iluminismo.
E fazendo propositais confusões com membros da Escola de Viena (Carl Menger, Ludwig Von Mises, Friedrich von Hayek, o estadunidense Milton Friedman) e os liberais clássicos e iluministas (Adam Smith, David Hume, John Locke, Jean-Jacques Rousseau, Diderot).
A deseducação estava preparada e foi profunda e profusamente aplicada. Em menos de trinta anos temos este resultado trágico nos EUA, na Europa, nas Américas e Ásia, com algumas exceções.
Os EUA (maior expressão de poder ocidental) elegem presidente um tipo de marionete, que há uns setenta anos era conhecido por “mané-gostoso”, fazia rir e divertir as crianças.
Hoje falam em comprar Estados Nacionais ou territórios de outros países, no que dá razão a Varoufakis.
Mas há que se esperar reações, mesmo que sejam de disputas. E há expectativa de guerra, morte, miséria, migrações, fome e desespero.
Estamos diante de uma gracinha e da tragédia anunciada?
Afinal, quem sabe os limites do Estado Judeu aprovado no Congresso da Basileia (Suíça), em 29/08/1897. Theodor Herzl seu mentor escreveu:
“Se eu tivesse que resumir o Congresso de Basileia numa só frase, ela seria “em Basileia eu fundei o Estado Judeu”.
O que será dos palestinos e islâmicos que moram há mais tempo do que os judeus nestas mesmas terras?
Mas Trump quer comprar países como quem compra supermercados; para ampliar seus negócios. E o ditador é Maduro?!
E a Europa? Onde estão lideranças que orgulhavam o país, das mais distintas ideologias políticas?
Diga o caro leitor em que países o responsável pela gestão é o presidente e onde é o primeiro-ministro? Ambos figuras atualmente inexpressivas. Não pelos méritos pessoais mas pela necessária submissão aos capitais financeiros.
Realmente, l’état est fini!
Não é caso de desesperança, mas do mínimo de compreensão e nenhuma sabujice. Há um outro mundo se formando, menos midiatizado, o que não significa ser menor nem mais fraco: o multipolar.
Quem são lideranças no mundo multipolar? A China e Índia de quase um bilhão e meio de habitantes, Indonésia de perto de 300 milhões, Rússia, com 150 milhões.
A China, conforme o estadunidense Fundo Monetário Internacional (FMI), tem seu Produto Interno Bruto (PIB) avaliado para 2024 em US$ 18 trilhões, a Índia, US$ 4 trilhões, a Rússia US$ 2 trilhões, a Indonésia US$ 1,5 trilhão.
Estes quatro países estão no BRICS alargado, apenas a Indonésia ainda não pertence à Organização para Cooperação de Xangai (OCX), mas muitos outros já participam, fazendo da Iniciativa do Cinturão e Rota (a Nova Rota da Seda) um grupo de países que já forma quase outra Organização das Nações Unidas (ONU).
Quem pensa que ficará sozinho, entre derrotados, se engana. A força multipolar já representa mais da metade da população da Terra, recursos em proporção semelhante e, o que é mais importante, soberania de cada Estado Nacional e o interesse na paz, na humanidade.
Já o mundo dos subservientes, do mané-gostoso, da unipolaridade, afunda na desigualdade, nas guerras e na miséria da maioria. E EUA e aliados ainda insistem: ditador é Maduro!
*Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado.
*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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Comentários
Zé Maria
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A Posse do Führer Ocidental será o Convescote
da Extrema-Direita NeoFascista Mundial.
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