Ubiratan de Paula Santos: O ano de 2025 promete, não há tempo a perder
Tempo de leitura: 3 min2025 PROMETE
Por Ubiratan de Paula Santos*
Será um ano onde acontecimentos globais e por aqui poderão ser decisivos.
A aposta dos EUA e subalternos europeus na guerra, na desestabilização de nações, tem com Trump tudo para se confirmar em linha com a política externa de Biden e seu partido.
Conflitos e guerras como na Ucrânia, Palestina, Líbano, Síria, provocações na Geórgia, Eslováquia, Romênia, Taiwan, além da permanente intervenção/provocação/asfixiamento financeiro contra Cuba, Venezuela e Irã, têm como objetivo central tentar impedir o avanço da China rumo a ser o país mais desenvolvido, com economia pujante, capacidade militar e influencia global, decorrente do vertiginoso progresso científico e tecnológico.
Querem impedir a consolidação dos BRICS+, o desenvolvimento da Rota da Seda, da Cooperação de Xangai, soluções pacíficas para o Oriente.
Não é uma tarefa fácil pelo que já acontece nos Estados Unidos, como:
— fratura social e redução da unidade política interna;
— avanço do conservadorismo político, cultural e científico (basta ver os secretários de Trump);
— infraestruturas em desalinho com as mais modernas tecnologias como podem ser vistas na China, Rússia e Índia;
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— avanço das desigualdades com a crescente apropriação da renda e patrimônio por um grupo de bilionários das finanças, das Big Techs.
Há tempos os EUA vêm tendo perdas em sua hegemonia cultural e científica, que, combinada com o porrete, lhes garantiram exercer com pouca contestação o papel de donos do século 20.
O Brasil — com evidentes progressos na economia, crescimento do PIB acima da régua do mercado, geração de empregos, aumento da renda, ampliação de investimentos, programa para revitalizar a indústria — pode jogar importante papel na presidência dos BRICS.
Só que, para isso, é preciso ganhar músculos, cérebros e enfrentar dificuldades.
Temos limitada força no Congresso Nacional e brutal perda de governança na esfera municipal (onde fomos exemplos nos anos 1980-2010), mesmo em estados onde governamos por 3 a 5 mandatos seguidos.
Isso sem falar do estado de São Paulo, onde tivemos êxito em apenas quatro cidades: Mauá (425 mil hab), Matão (81 mil hab), Santa Lúcia (7 mil hab) e Lucianópolis (2,3 mil hab). Juntas, elas somam menos de 1 % da população do Estado!
São desafios a superar — para o PT, os partidos de esquerda e o Governo.
Estamos entregando muito aquém do necessário e possível em praticamente todas as áreas: políticas sociais, saúde, programas de assistência social, cultura, recuperação das universidades federais, atendimento do direito à moradia, reforma agrária, políticas centradas em normas que limitam o desempenho do aparato público (esvaziado desde o golpe de 2016), baixo volume de recursos para investimentos.
É preciso melhorar o governar e o time no comando dos ministérios.
É preciso conversar com o país sobre as metas e propostas para 2025.
Isso implica o governo explicar a política econômica, suas opções e por que não é diferente, como o apresentado na campanha eleitoral de 2022.
É preciso que o povo que diariamente rala duro no trabalho volte a sentir esperança.
Não se reconstrói a esperança nem se reaviva a combatividade dos movimentos sociais e dos trabalhadores sem confrontar os que tentam impedir a realização de nossas políticas.
As pessoas precisam ser informadas e ouvidas para entender o que se passa e o que podem fazer.
No 1º semestre de 2025, o PT realiza o seu Congresso.
O Partido dos Trabalhadores e o governo deveriam aceitar esses desafios.
Não há tempo a perder. Temos que começar a agir já.
*Ubiratan Paula Santos é médico em São Paulo.
Veja também
Paulo Nogueira Batista Jr: Dilemas e paradoxos da política econômica brasileira
Natália Bonavides: ‘Sou do PT e votei contra o pacoete fiscal do governo’
Comentários
Nelson
Li um texto recente em que o professor Heitor Scalambrini Costa fala sobre a necessidade urgente de reestatizar o setor elétrico brasileiro.
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O governo Lula III vai ouvir os argumentos do professor Scalambrini Costa? Ou vai ceder gozosamente aos interesses do dito mercado e renovar a entrega geração de energia elétrica para lucros de grandes grupos privados, em prejuízo de 98
% do povo brasileiro?
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Creio que ele está totalmente correto, até porque, para que o tal projeto de “neoindustrialização” do Brasil se materialize realmente, saia do papel e não fique somente nas boas intenções, esse novo “parque industrial” vai necessitar de insumos os mais baratos possíveis, sendo a energia elétrica só um deles.
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Com uma infraestrutura que está vastamente privatizada e caminhando para a privatização total, numa lógica que privilegia os lucros individuais, a serem acumulados por uns poucos, em detrimento de um projeto nacional, coletivo, de desenvolvimento, não haverá como garantir que esse “parque industrial” possa vicejar.
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Veja bem. Nem estou aqui a falar de socialismo e do direito à energia elétrica. Falo da necessidade de energia o mais barata possível, essencial para o desenvolvimento das forças produtivas do país, ainda sob a lógica de desenvolvimento capitalista.
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Esse desenvolvimento vai ser irremediavelmente inviabilizado pela lógica incontornável da obtenção de lucros imediatos e sempre maiores que se instalou no setor elétrico a partir das privatizações.
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