Por Pedro dos Anjos
Sessenta anos separam os dois acontecimentos, os quais a memória não vai desbotar.
Em 1964, teve lugar a prisão de nove membros da missão chinesa, que se encontrava legalmente no Rio de Janeiro.
Em 2024, acaba de ocorrer a primeira visita de um presidente da China ao Brasil.
No século passado, a violência aconteceu logo após a quartelada do 1º de abril.
Os chineses foram vilipendiados, presos e torturados no Rio de Janeiro pela recém imposta ditadura civil-militar.
Eles eram jornalistas e negociadores, que tinham sido convidados pelo presidente João Goulart.
Iriam dar seguimento a acordos e intercâmbios comerciais.
Para os golpistas, todavia, vieram para envenenar o ditador Castello Branco e iniciar a revolução comunista aqui – uma viscosa peça de propaganda, bem à moda estadunidense.
Condenados a 10 anos de prisão, sem terem sido absolvidos, foram expulsos do Brasil depois de um ano encarcerados.
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E eis que a história vem cambalhotar para frente, recusando de modo resiliente o seu sepultamento.
Entra o século 21 e eis que Lula recebe o presidente Xi Jinping.
Muito além da pompa e circunstância, teve palco um evento marcante.
O Brasil se vê diante de uma oportunidade potencial de grande envergadura estratégica: na indústria, no comércio e na agricultura, na infraestrutura, na ciência e tecnologia, na saúde, na educação, na cultura e na geopolítica.
A janela aí aberta, no entanto, pode ser abruptamente fechada pelo velho inimigo de 64, redivivo atualmente através das suas viúvas ressentidas.
Entre outras, o próprio inelegível e indiciado por plano de assassinato e golpe de Estado, caso consiga se viabilizar eleitoralmente outra vez, se inclina a fechá-la ou a mantê-la aberta apenas um pouco.
A propósito, o golpista mor acaba de reaparecer em peça publicitária desavergonhadamente veiculada pelo UOL (pergunta que não cala: o grupo Folha pretende ser uma mídia ultrarreacionária como a Fox News?)
Para mais além de sua enganosa calma cortando cabelo, sua ridícula admiração pelo filho “poliglota” e de seu costumeiro deboche, convém fazermos uma leitura mais ampla.
Sua assessoria internacionalizada parece inspirada no modelo Roy Cohn, que inspira o Trump desde sempre (veja PS).
Lá atrás, o advogado e empedernido ativista anticomunista Cohn dera orientação jurídica basilar ao empresário Laranja, para que este nunca nunca reconhecesse seus inúmeros crimes, partindo sempre pra cima dos seus acusadores.
O inelegível está fazendo o mesmo aqui, acumulando força, sem esperar a posse do seu ídolo nos States.
É preciso estarmos atentos e fortemente atuantes para impedir que a história dê cambalhota para trás.
PS: O advogado Roy Cohn, que militou no marcartismo e na defesa de mafiosos, foi considerado por muitos como a “personificação do mal”.
*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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