Lelê Teles: Suvako da Gata e a pélvis não morreu

Tempo de leitura: 2 min
Array

Por Lelê Teles

Por Lelê Teles*

nova sensação da cena undergroud nordestina, “suvaco da gata” é uma banda feminina e feminista, de siriri, interior de sergipe.

suas músicas são uma celebração orgástica, carregadas de estripitismos e estripulias.

elas dizem que estão trocando a his-story pela her-story, “agora é noise“, dizem elas.

as letras escrotas, escritas pelas quatro jovens garotas, abordam temas como sexualidade, papel de gênero, aborto, menstruação, tpm, feminicídio, estupro, maternidade, rebeldia e revolta feminina.

carro-chefe da banda, a música “kaos klitoriano” é um grindcore violento que fala sobre tesão sem tensão, desejo, prazer e orgasmos múltiplos.

a música “prexekaos” traz à tona a revolta feminina, “a revolução não será telemusionada”, diz o refrão.

as letras são um verdadeiro esguicho na cara da plateia.

“suvako da gata” faz um samba-punk da melhor qualidade.

abusadas, as gatas extraordinárias meteram uma cuíca no punk e uma distorção no cavaquinho.

Apoie o VIOMUNDO

o resultado é uma contração vúlvica, encachaçada e pombagírica que não deixa ninguém parado.

dá pra ouvir o barulho das cadeiras se quebrando em requebros nervosos e rebolations.

sim, senhoras e senhores, pélvis não morreu.

a banda tem variações sonoras inusitadas, como “fogo no rabo” que é um forrócore pé-de-serra libidinoso e esfregante.

já a sensacional “plug anal” é um brega funk de arrepiar os pelos pubiânus.

já “quengaceiras” é um xaxado heavy metal cheio de chiado de chinelas e faz uma linda homenagem à dadá e maria bonita.

mas as meninas também sabem ser delicadas, no repertório há espaço para as sofrências cotovêlicas.

“grandes lábios”, por exemplo, é uma baladinha molha calcinha, uma canção acústica úmida, entumescida e saliente, feita só com lambidas, vozes sussurrantes e ukulelê.

já a barulhenta “kamassurta” é sobre a posição da mulher nas posições sexuais, colocando equilíbrio no lugar da submissão.

“meia nove”, uma música yin-yang, é sobre circularidades, tempo espiralar e moto contínuo.

“nós somos o útero da revolução, as parteiras da rebeldia, faremos a revolta feminina ganhar a luz e os holofotes num parto natural e primitivo”, lê-se no manifesto escrito à quatro mãos pela baterista dona prikita e a guitarrista xibiu seboso.

bruxas envassouradas, as piriguetes usam um visual erótico e emputecido: batons molhados, minissaias minúsculas, meias arrastão multifuros, botas longas e leggings rasgadas.

chicote, algema e corda de alpinista.

no início, uma das integrantes sugeriu que a banda se chamasse “raimundas” e propôs que a banda fosse uma versão inversa dos raimundos.

mas a vocalista, ígnea xavaska, foi contra: “o raimundos é uma banda misógina, machista e racista, uma versão inversa disso não é feminismo, é machismo de calcinha.”

“o que propomos é um rebuceteio”, diz a baixista autista xana xota.

xota diz que os raimundos são o que ela define como puer aeternus, “é o universo quinta série masculino, com letras carregadas de preconceito disfarçado de gracinhas, uma versão stand up baixo nível musicada.

elas se dizem influenciadas pelas sanadoras indígenas como a guatemalteca lorena cabnal e a boliviana adriana gúzman, e também pela antropóloga argentina rita segato.

elas ressaltam e redefinem o papel de mulheres ao longo da história como lilith, medusa, eva, dalila,  nzinga, antígona, as matriarcas do samba, as mães de santo, a magia das majés e das curandeiras da floresta, etc.

as meninas se conheceram em uma oficina de siririca, em siriri, com outras sirigaitas, inclusive a banda se chamaria sirigatas, mas elas perceberan que, além de visões de mundo muito parecidas, elas também tinham em comum o cultivo de pelos coloridos nas axilas, por isso decidiram ressaltar esse aspecto da sua feminilidade no nome da banda.

as meninas se apresentam essa semana no instagramável festival feminino “rock in reels” e prometem um golden shower musical com muito palavrão, cusparada, xingamentos, dedo no cu e gritaria.

imperdível, quem não for não vai.

palavra da salvação.

*Lelê Teles é jornalista, publicitário, roteirista e mestre em Cinema e Narrativas Sociais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Apoie o VIOMUNDO

Array

Lelê Teles

Lelê Teles é jornalista, roteirista e mestre em Cinema e Narrativas Sociais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!

Deixe seu comentário

Leia também