Valter Pomar: Mercadante, não se deve confiar em banqueiros. Nem nos do Partido!

Tempo de leitura: 3 min
Aloizio Mercadante, presidente do BNDES. Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Mercadante: não se deve confiar em banqueiros. Nem nos do Partido!

Por Valter Pomar, em seu blog

Graças ao camarada Vaccari, eu pude ler as Obras Completas do Lênin, de ponta a ponta. E assim pude confirmar que não era fake news: Lênin realmente disse que não se devia confiar nos advogados, especialmente naqueles que diziam ser membros do Partido.

Claro que, como tudo em Lênin, aquela boutade dizia respeito a uma situação muito concreta, impossível de detalhar aqui.

Lembrei dessa história ao ler a matéria (aqui).

Se for verdade o que se atribui, nesta matéria, ao companheiro Aloizio Mercadante, ele seria merecedor de um troféu “zuper” da Associação de Pioneiros Comunistas da República Democrática Alemã.

Pois só no finado socialismo real alguém poderia dizer, sem corar, que um partido devia sustentar um governo “em qualquer cenário”. Especialmente em se tratando de um governo de frente amplíssima.

Aliás, chega a ser engraçado ler este tipo de declaração, vinda de quem dizia o que dizia na época da queda do Muro de Berlim. Mas tudo bem, coerência e memória são mercadorias escassas nestes tempos bicudos.

O essencial, contudo, é que Aloizio faz diversionismo. Pois o que está em jogo não é definir a posição do partido frente a uma posição já adotada pelo governo.

O que está em jogo é definir qual será a posição do governo. Esta posição está sendo decidida em meio a uma imensa disputa.

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E o que Aloizio está propondo é que, nessa disputa, o Partido fique de boca calada e assine um cheque em branco para alguns petistas que estão no governo, a quem caberia decidir, em nome do Partido, o que seria melhor.

Também é diversionismo afirmar que caberia ao Partido “sustentar a narrativa sobre os excelentes resultados na economia”.

Se Aloizio se deu ao trabalho de ler o Manifesto que ele critica, constatará que essa “narrativa” está lá.

Portanto, o que está em jogo é outra coisa, a saber: perceber que, apesar dos “excelentes resultados”, podemos por tudo a perder se aceitarmos ceder às pressões da Faria Lima.

Aliás, também faria bem a Aloizio reler o que ele próprio escreveu acerca do que seria o governo Biden e contrastar suas previsões com os fatos, especialmente com a derrota de Kamala Harris, derrota que confirmou, entre outras coisas, que índices não definem os resultados políticos e eleitorais.

Como diria o Olaf Scholz, Aloizio utiliza uma linguagem “obscura” quando afirma que “precisamos ter uma trajetória previsível das despesas obrigatórias, para garantir o investimento. O crescimento vai melhorar as condições para a estabilização da dívida pública”.

O que Aloizio está realmente dizendo é que para ter crescimento, precisaríamos (supostamente) reduzir direitos. Que essa é a história predominante no nosso país, todos sabemos.

Acontece que o PT nasceu e cresceu lutando contra isso.

Para além disso, Aloizio deveria lembrar que a maior ameaça à “estabilização da dívida pública” vem – não das “despesas obrigatórias” – mas dos juros e da especulação, sem esquecer dos subsídios ao andar de cima.

Mas, pelo visto, Aloizio aderiu à máxima haddadiana segundo a qual “a Faria Lima tem razão”.

Claro que é direito platônico de Aloizio “confiar” que “a equipe econômica terá uma decisão sábia sobre o tema do ajuste fiscal”.

Da mesma forma, é direito de qualquer petista perceber que a “sábia” equipe econômica errou (para não dizer coisa pior) quando garantiu que o arcabouço fiscal não resultaria em contingenciamentos e cortes de direitos.

Resultou. Mas um erro não precisa levar a outro.

PS1. Que Aloizio pense mesmo o que está publicado na imprensa não me surpreenderia. Afinal, noutros tempos ele também saiu em defesa da política de Palocci. Sem falar de sua participação no ocorrido em 2015. Sua fidelidade à política econômica “em qualquer cenário”, ademais de sincera e compreensível, é também conveniente no caso de ser necessário substituir alguém.

PS2. Como a realidade é sempre concreta e toda regra sempre tem exceção, a boutade sobre os banqueiros não vale, por exemplo, para a presidenta Dilma, que – ao contrário de outros integrantes de sua equipe – parece ter aprendido com os erros, especialmente os de 2015, e consegue combinar a função de presidenta de banco com uma cabeça de estadista, não de planilha.

PS3. Desenvolvimento num país como o Brasil exige coordenação estatal e investimento público. Se nosso passado tivesse dependido do investimento privado, não se salvaria nem mesmo nossa lavoura. Nosso futuro não pode continuar prisioneiro da mediocridade.

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Comentários

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Nelson

“Desenvolvimento num país como o Brasil exige coordenação estatal e investimento público. Se nosso passado tivesse dependido do investimento privado, não se salvaria nem mesmo nossa lavoura. Nosso futuro não pode continuar prisioneiro da mediocridade.”

Bingo. Está tudo aí, explicado.

Na verdade, eu complementaria afirmando que a receita vale para qualquer país, não apenas o nosso. Como de há muito nos alerta Noam Chomsky, todos – sem exceção – os países que atingiram níveis mais elevados de desenvolvimento só chegaram lá porque tinham, e continuam tendo, um Estado forte a dar os rumos a serem seguidos pela nação.

E diria ainda que não é por outra razão que os países ricos, se utilizando bastante do duo FMI/Banco Mundial, embalaram a estrondosa campanha do “Estado mínimo”.

O objetivo nunca foi o de promover o desenvolvimento dos países e de seus povos aliviando-os do peso do Estado. Pelo contrário, o objetivo sempre foi o de evitar que esse desenvolvimento, que só pode ser impulsionado por um Estado forte, acabasse por trazer mais competidores – algo indesejado pelos, quem diria, defensores do tal “livre mercado” – à arena capitalista.

Então, passaram a denegrir por completo a atuação do Estado pelo mundo afora, para assim fazer com que os próprios povos passassem a acreditar, piamente, que o Estado “gordo demais”, “pesado”, “corrupto”, “ineficiente”, seria a principal, quando não a única, fonte dos nossos problemas.

Temos um exemplo muito claro, bem vivo. A China optou por desconhecer e não aplicar o receituário dos liberais, o “Estado mínimo”, e assim chegou à posição em que se encontra hoje na economia mundial.

Zé Maria

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Teria sido também Vladimir Ilyich “Lênin” Ulianov que afirmou

que “Quem Não Tem Ideologia é Escravo da Circunstância”.

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