Trump está de volta (e adivinhem quem o ajudou)
Por Mirko Casale, AhíLes Va I Transcrição I Tradução ao português e legendas de Jair de Souza*
Trump retorna à presidência dos Estados Unidos. E ele faz isso graças à ajuda inestimável de um aliado inesperado em sua carreira rumo à Casa Branca.
Não, não estamos falando do Kremlin ou de hackers russos, nem nada parecido, mas do Partido Democrata.
Nos minutos seguintes analisaremos por que aconteceu o que aconteceu. E o motivo pelo qual, pese a não ser nada surpreendente, isso merece uma análise cuidadosa.
Aí vai.
Quando uma multidão de apoiadores de Donald Trump invadiram à força o Congresso em janeiro de 2021 para ignorar os resultados eleitorais que davam a vitória a Joe Biden, muitos viram ali o fim da carreira política do bilionário estadunidense.
E não era loucura pensar assim. Nada sequer remotamente semelhante tinha acontecido nos quase 250 anos de história da autoproclamada “maior democracia do mundo”.
Por mais de um ano, Trump, banido das principais redes sociais, se isolou do mundo enquanto lambia as feridas de sua derrota e ruminava uma estratégia para retornar triunfante. Não era uma tarefa fácil. No entanto, ele voltou. E de que forma?
O ex-presidente, e agora presidente eleito, alcançou o melhor resultado do Partido Republicano em 20 anos, superando seu rival democrata tanto nos votos dos delegados quanto nos votos populares.
Melhorou confortavelmente o seu resultado de 2016, quando tinha derrotado Hillary Clinton nos votos de delegados, mas tinha ficado para trás nos votos da população total.
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Desta vez ele superou Harris em ambos quesitos e com números melhores que então. Como se estes dados não bastassem, nesta ocasião, além disso, o Partido Republicano retomou o controle do Senado e poderia fortalecer o que já tinha no congresso.
A ala conservadora do bipartidarismo estadunidense não alcançava uma vitória tão ampla desde a época de Ronald Reagan. Desde a época do presidente Ronald Reagan, não do ator Ronald Reagan, para esclarecer.
Embora os próximos meses seremos inundados com análises de “copiar e colar” de que a vitória de Trump se deveu a fábricas obscuras de fraudes, eleitores facilmente manipulados e interferência não demonstrável, o certo é que o melhor aliado do candidato republicano não foi outro senão o seu maior rival.
Porque sem tentar desvirtuar a sua campanha ou ofender os que tinham apoiado Trump, a verdade é que esta esmagadora vitória republicana é, acima de tudo, um árduo trabalho do Partido Democrata.
Por um lado, a política econômica dos últimos 4 anos, chamada de Bidennomics pelos apoiadores do Partido Democrata, estava longe de melhorar a realidade dos cidadãos comuns.
Apesar de ter baixado a taxa de desemprego que herdou no início do seu mandato, o número deixado pela administração de Joe Biden é pior do que o que Trump tinha alcançado pouco antes da pandemia.
A inflação média desde 2021 foi a pior em 40 anos, com especial destaque para alimentação, que aumentou mais de 20% durante a gestão do democrata na Casa Branca.
O que sim melhorou na economia dos EUA durante a administração democrata, assim como na de Trump, foram os índices de ações em bolsa.
Então você pode imaginar o pouco efeito que isso terá tido nas pessoas comuns. Ainda mais vindo de um partido que se apresenta como o fiel representante das elites.
Acrescente a isso o compromisso do Partido Democrata em, primeiro, manter como candidato à reeleição alguém que em cada comício parecia mais perdido do que um gif de John Travolta e, segundo, em substituí-lo de forma improvisada por uma candidata que provocava mais rejeição do Partido Republicano do que apoio do seu próprio.
Ou deixar-se arrastar para a extrema polarização que o candidato republicano procurava, ecoando seu discurso de que se o rival vencesse seria o fim dos Estados Unidos. Ebulição social que levou a uma tentativa de magnicídio, que aumentou ainda mais a popularidade de Trump.
Mas não só na política interna, os democratas estenderam um tapete para os republicanos, um tapete vermelho, obviamente, como a cor que identifica o partido de seus rivais.
Também, e não menos importante, na política externa, Biden e Harris fizeram tudo o que precisava ser feito para que Trump triunfasse.
Por um lado, os bilhões e bilhões de dólares enviados à Ucrânia para uma guerra inconsequente para os cidadãos estadunidenses, e que já há algum tempo se considera perdida, que impactou no aumento dos preços e num descaso ainda maior com amplas camadas da população estadunidense, que á vinha sendo negligenciada desde muito antes de 2022. Um apoio interminável prestado a Kiev, que os Democratas nunca souberam explicar e os Republicanos não deixaram de aproveitar.
Mas onde os Democratas fizeram o trabalho realmente fácil para os republicanos na política externa, foi com a sua abordagem a Gaza, uma questão sobre a qual Trump e os seus seguidores, a priori, tiveram muita dificuldade em obter ganhos eleitorais entre os seus rivais.
Mas Biden, Harris, Blinken e companhia mostraram que não são pessoas que se deixam abater na hora de piorar o que parece “impiorável”.
Historicamente, no ranking pró-Israel da política estadunidense, embora o Partido Democrata sempre tenha sido extremamente pró-Tel Aviv, o republicano sempre foi ainda mais extremamente favorável a Tel Aviv do que seus rivais.
Além disso, Netanyahu, da ala mais conservadora do sionismo, sempre se sentiu mais identificado com a ala conservadora do bipartidarismo estadunidense, do que com seu ramo progressista, e vice-versa.
Portanto, o Partido Democrata teve uma grande oportunidade de mostrar o que diz ser, mas, em vez disso, ele se mostrou mais do que nunca como realmente é.
Porque como sempre foi comum na política estadunidense, aquela suposta diferença entre republicanos e democratas em sua abordagem dos assuntos israelenses nunca é percebida quando se trata de algo sério e transcendente, como, por exemplo, um genocídio.
Ou seja, boa parte do eleitorado progressista estadunidense esperava do governo democrata, insisto, partidário supostamente menos ferrenho de Tel Aviv do que os republicanos, uma posição, se não hostil, pelo menos crítica, mesmo que fosse morna, relativamente ao massacre israelense contra civis palestinos.
Enviar menos armas, censurar Netanyahu, mesmo que de forma construtiva, alguma coisa, fosse o que fosse. Mas nada, nem mesmo uma nuance. Diferença zero com o que se poderia esperar de um governo republicano perante uma circunstância semelhante.
E isso, logicamente, teve também o seu impacto eleitoral.
Em outras palavras, se Trump renasceu das cinzas do incêndio político que ele próprio tinha provocado durante seu mandato anterior, foi em grande parte devido à maneira tão primorosa com que seus rivais as regaram e cultivaram, dando-lhes uma chance de brotar com novos brios.
Seja como for, o certo é que em janeiro haverá sequela do mais imprevisível e controverso presidente que já passou pela Casa Branca.
Seguramente, vocês estão se perguntando: O que vai acontecer agora? E vocês não são os únicos. Mas isso é objeto de outra análise que, com todas suas incertezas, vamos abordar em alguns dias.
Estejam pendentes de nossas contas nas redes sociais que deixamos no final do vídeo.
E por falar em análise, já para concluir, a importância de analisar como Donald Trump conseguiu regressar a Washington e por que ele fez isso com a margem que fez, apesar de suas polêmicas ações e declarações, vai muito além da política interna estadunidense.
Porque, embora esteja em plena fase de decadência, o sistema estadunidense continua dando o tom de muito do que acontece política, mídiática e eleitoralmente em outros países, particularmente naqueles colonizados, mental ou literalmente, seja de forma consciente ou não.
E, agrade a quem agradar e desagrade a quem desagradar, é muito possível que o que vimos nestes dias se repita em outras latitudes.
Portanto, esse fenômeno deve ser analisado com a cabeça e o coração frios. Aqueles que não entendem, ou não querem entender, por que aconteceu o que aconteceu continuarão procurando explicações vitimistas e auto-satisfatórias que os levarão a colidir exatamente com o mesmo muro com o qual acabaram de se chocar aqueles que tinham dado Trump como acabado.
*Mirko Casale é o roteirista, apresentador e diretor do programa Ahí les va! (Aí, está!), que há cinco anos a RT transmite para países de língua espanhola.
*Jair de Souza é economista e mestre em linguística pela UFRJ.
*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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Josué Medeiros: Três razões para a vitória de Trump (e um alerta à esquerda brasileira)
Comentários
Zé Maria
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“Musk Começa a Receber os Juros e Dividendos
investidos no eX-Twitter na Campnha de Trump”
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https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2024/11/000_36LP3JH.jpg
“Presidente Eleito Donald Trump anuncia Elon Musk
para chefiar Departamento de ‘Eficiência Governamental’
dos Estados Unidos da América (EUA)”
https://www.cartacapital.com.br/mundo/trump-anuncia-elon-musk-como-chefe-do-departamento-de-eficiencia-governamental-dos-eua/
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Zé Maria
Excerto
“O Partido Democrata teve uma grande oportunidade de
mostrar o que diz ser, mas, em vez disso, ele se mostrou,
mais do que nunca, como realmente é.
Porque, como sempre foi comum na política estadunidense,
aquela suposta diferença entre republicanos e democratas
em sua abordagem dos assuntos israelenses nunca é percebida
quando se trata de algo sério e transcendente, como, por exemplo,
um GENOCÍDIO.
Ou seja, boa parte do eleitorado ‘progressista’ estadunidense
esperava do governo democrata, partidário supostamente
menos ferrenho de Tel Aviv do que os republicanos, uma posição,
se não hostil, pelo menos crítica, mesmo que fosse morna,
relativamente ao MASSACRE israelense CONTRA CIVIS PALESTINOS.
Enviar menos armas, censurar Netanyahu, mesmo que de forma
‘construtiva’, alguma coisa assim, fosse o que fosse.
Mas nada, nem mesmo uma nuance.
Diferença zero com o que se poderia esperar de um governo republicano
perante uma circunstância semelhante.”
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