Natália: A esquerda que não tem medo de dizer o seu nome. VÍDEO

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Natal: a esquerda que não teve medo de dizer o seu nome

Por Cesar Sanson e Gabriel Vitullo*, em agência Saiba Mais

“Nem toda derrota eleitoral é uma derrota política”, afirmou Natália Bonavides, candidata a prefeita pelo PT em Natal diante de centenas de militantes na noite de domingo.

(Vale a pena ouvir o discurso de Natália; a íntegra está ao final)

A afirmação, que poderia ser interpretada como mero jogo retórico, no caso específico da capital potiguar assume outro significado quando comparada a disputas da esquerda em outras capitais brasileiras.

Natália foi derrotada com um programa de esquerda. Em nenhum momento tentou disfarçar nem abriu mão de suas convicções políticas.

A principal delas: ser de esquerda só tem sentido se for para combater a desigualdade social.

Era recorrente em seus discursos e em seu programa eleitoral falar das/dos invisibilizados, das/dos esquecidas/os, daquelas e aqueles que sofrem no cotidiano das periferias, abandonados pelo poder público. Com claro recorte de classe, afirmava que o seu mandato seria direcionado a esses, e não aos ricos.

O programa apresentado à cidade de Natal por Natália é um programa de esquerda. E não apenas na área social.

Nesse programa, e na cristalização deste em suas múltiplas propostas, ela contemplava as mais diversas áreas, incluindo outro tipo de modelo econômico e de desenvolvimento urbano, outra relação com o meio-ambiente e a irrestrita defesa dos direitos humanos.

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Um caso emblemático foi a de ser acusada – o que lhe causou significativos estragos na campanha – de defender os que furtam. Natália foi uma das signatárias do projeto de lei de furtos famélicos, furtos resultantes de necessidade, de valores insignificantes, não puníveis com prisão.

O candidato governista – com o maciço e insistente apoio da mídia local – transformou isso em uma gigantesca fake news, afirmando que a candidata defendia ladrões de celulares.

Em momento algum Natália recuou. Muito pelo contrário, procurou didaticamente explicar o projeto, assim como a diferença existente entre roubo e furto. Ao mesmo tempo em que deixava em evidência a injustiça que significa que os crimes cometidos pela turma do grande capital não sejam punidos com prisão.

Da mesma forma foi duramente atacada – lembrando muito do que aconteceu com Manuela D’Avila em 2018 – pelos defensores da pauta “moral”. “Abortista”, “defensora de gays e de maconheiros” faziam parte dos ataques recorrentes de cunho bolsonarista onipresentes no esgoto do submundo das redes sociais.

Natália, com muita serenidade, também enfrentou este debate, sem novamente abrir mão de suas convicções, o que muitas vezes contrastou com um candidato supostamente mais à esquerda que, por moderar o seu discurso e buscar alcançar o “centro”, acabou se descaracterizando, como foi o caso de Guilherme Boulos em São Paulo.

Daí que um dos traços mais emblemáticos do resultado do domingo tenha sido, precisamente, o fato de ser derrotada com um programa de esquerda e não com um programa adocicado, como ocorreu com a derrota do PSOL/PT na maior cidade do país e outras grandes cidades.

É neste contexto que deve ser compreendida a afirmação de Natália diante de quantidade expressiva de militantes neste domingo à noite: “Nem toda derrota eleitoral é uma derrota política”.

Lição que fica para as centenas que fomos para as ruas, bravamente, a realizar uma linda, empolgante e criativa campanha; uma campanha protagonizada por vários coletivos que, horizontalmente, foram além das estruturas partidárias e dos formatos de campanha tradicionais, num corajoso enfrentamento contra o candidato da lumpem-burguesia local e do grande capital.

Ser derrotado faz parte do jogo político, mas ser derrotado abrindo mão de um programa de esquerda é ser duplamente derrotado, como aconteceu em Cuiabá, onde a esquerda já tinha perdido muito antes mesmo da eleição, quando decidiu selar aliança com o agronegócio e seu maior expoente: Elusmar Maggi e família.

Natália é uma ascendente liderança política no país. Um “foguete [que] não tem ré”, como informava de forma bem-humorada uma das músicas da campanha. Prestemos atenção nela e nas suas escolhas políticas, pois Natália é a esquerda que não tem medo de dizer o seu nome!

*Cesar Sanson e Gabriel Vitullo são professores da UFRN

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