Lelê Teles: Ferreira Gullar e o açúcar branco que adoça o café em Ipanema
Tempo de leitura: < 1 minPor Lelê Teles
Lelê Teles revisita Ferreira Gullar*
”O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro e afável ao paladar,
como beijo de moça,
água na pele,
flor que dissolve na boca.
Mas este açúcar não foi feito por mim,
este açúcar veio da mercearia da esquina e
tampouco o fez, Oliveira,
dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.
Em lugares distantes,
onde não há hospital, nem escola,
homens que não sabem ler
e morrem de fome aos 27 anos,
plantaram e colheram a cana,
que viraria açúcar.
Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura,
produziram este açúcar,
branco e puro,
com que adoço meu café
esta manhã em Ipanema.
Ferreira Gullar
palavra da salvação.
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*O açúcar, poema de Ferreira Gullar, está na obra Dentro da Noite Veloz, Civilização Brasileira, 1975.
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Lelê Teles
Lelê Teles é jornalista, roteirista e mestre em Cinema e Narrativas Sociais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).
Comentários
Zé Maria
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Zé Maria
Os Racistas Escravocratas arrumaram
um jeito de Branquear até o Café Preto,
quando não com Açúcar, com Leite.
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