Jair de Souza: Censura dos EUA a veículos russos, liberdade de expressão e a luta de classes

Tempo de leitura: 4 min

A liberdade de expressão e a luta de classes

Por Jair de Souza*

Os Estados Unidos acabaram de tomar drásticas medidas com vistas a impedir que os meios de comunicação russos possam continuar levando suas mensagens ao público estadunidense, assim como aos dos países suscetíveis à influência geopolítica dos Estados Unidos.

Dentre esses meios, foram alvos de censura os veículos Rossiya Sevodniya (A Semana Russa), TV-Novosti, Ruptly, Sputnik e o canal televisivo RT.

No caso específico de RT (muito seguido no Brasil através de sua versão em língua espanhola www.actualidad.rt.com), a alegação esgrimida para justificar este flagrante ato de censura é que a atividade jornalística por eles desenvolvida está a serviço da política da Federação Russa, uma vez que tem conseguido impedir que a visão geopolítica cultivada pelo establishment estadunidense se faça valer da maneira como seus promotores gostariam que ocorresse.

Como alguém que costuma acompanhar regularmente as transmissões de RT, devo dizer que é impossível não reconhecer que os ideólogos dos Estados Unidos estão totalmente corretos sobre a capacidade de influenciar em seus espectadores.

Basta fazer um pequeno teste prático dedicando-se a sintonizar as emissões de RT por um determinado período de tempo e confrontar o conteúdo e as formas de difusão observados com aquilo que os meios identificados com o “American way of thinking” transmitiram no mesmo intervalo de tempo.

De fato, quase que tão somente aqueles que já estavam plenamente ideologicamente ganhos pela visão política das classes dominantes afinadas com o capitalismo made in the USA serão capazes de se manterem incólumes em seus posicionamentos após terem sido expostos a essa outra maneira de ver os acontecimentos do mundo.

Mais especificamente, as autoridades estadunidenses se queixam de que sua visão sobre o conflito na Ucrânia tem sofrido enormes entraves para se impor, mormente em função da narrativa contraposta oferecida através de RT.

Sendo assim, está mais do que comprovado que os que defendem a continuidade da hegemonia dos Estados Unidos no mundo estão cobertos de razão para estarem preocupados.

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Porém, o que é mais curioso em toda esta história é que os Estados Unidos pretendem ser tidos como os paladinos da defesa da liberdade de expressão no mundo.

Por isso, sempre que algum governo de alguma nação toma alguma medida que interfira com as práticas de seus grandes oligopólios midiáticos, eles se levantam de imediato para tachar a quem assim agiu de ser um censurador infame e inimigo da liberdade de expressão.

Em consequência, buscam validar sua condenação internacional através de fortes campanhas de desprestígio.

Para ilustrar o que mencionamos no parágrafo anterior, podemos trazer à tona o recente caso em que o Judiciário brasileiro ordenou o bloqueio em nosso país das transmissões da plataforma X (ex-Twitter), de propriedade do multibilionário de nacionalidade estadunidense Elon Musk, por sua recusa em cumprir com as determinações da legislação brasileira.

Em tal oportunidade, os defensores da “liberdade de expressão” à la Estados Unidos não vacilaram em botar a boca no trombone para acusar o responsável por tomar essa decisão de censurador e violador dos direitos de expressão, ou seja um ditador.

De todos esses acontecimentos, deveríamos extrair uma lição muito valiosa. A de que, em um mundo composto por classes com interesses confrontantes, a liberdade de expressão, assim como a liberdade de modo geral, depende essencialmente dos embates travados no processo de luta de classes.

É que cada classe social apenas aceita, valoriza, respeita e defende voluntariamente aqueles aspectos da liberdade de expressão que não firam suas aspirações e seus interesses maiores, ou seja, que não ponham em risco aquilo que a classe em questão considere como justo e desejável para si.

Quando assim não ocorrer, a difusão de mensagens e ideias que ameacem suas estruturas só será tolerada se a correlação de forças na sociedade em questão não lhe possibilitar seu bloqueio.

Não devemos nutrir nenhuma ilusão com respeito ao que será ou não permitido ao campo popular no tocante à liberdade de expressão. Nada do que existe em termos de comunicação em favor das classes trabalhadoras em nosso país e em todos os demais países capitalistas advém de concessões voluntárias dos grupos dominantes.

Só por meio de sua permanente e incansável luta ao longo do tempo, os trabalhadores do Brasil e do resto do mundo foram ganhando condições para fazer com que algumas de suas reivindicações viessem a ser respeitadas. É o que se dá, evidentemente, na questão da liberdade de expressão em sociedades de classes antagônicas.

Não nos resta a mínima dúvida de que a liberdade de expressão plena é o ambiente mais favorável para que as forças populares possam travar suas lutas dentro do capitalismo.

Mas, de nenhuma maneira deveríamos entender isso como nos obrigando a sair em defesa da liberdade de expressão dos grandes conglomerados dos oligopólios midiáticos.

Cabe aos trabalhadores lutar e zelar pelos direitos de livre expressão para os próprios trabalhadores, e nunca para seus grandes opressores.

Portanto, considero equivocada a ideia de que deveríamos ter condenado, por exemplo, a limitação imposta à máquina mundial do fascismo representada por X de Elon Musk, para evitar criar condições para que medidas similares sejam aplicadas contra nós no futuro.

Estou mais do que convencido de que o grande capital e seus agentes nunca vão precisar de nenhum precedente para justificar que se aplique contra as organizações populares algum golpe de força.

Tudo o que eles vão precisar para tal é que a correlação de forças no citado momento lhes viabilize a movimentação em tal sentido. As justificativas e explicações para que normalizem e tornem aceitável a situação serão encontradas e usadas em conformidade com as circunstâncias da ocasião.

Em meu entender, a maior e única garantia para que não sejamos alvos de limitações em termos de liberdade de expressão será conquistada através da intensificação do nível de organização e de conscientização de nosso povo, aprofundando nossa inserção junto ao mesmo, para que sejam as massas populares o grande fator que nos venha a prestar solidariedade ativa em nossa defesa no caso de que sejamos ameaçados.

*Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Zé Maria

“Explosões de pagers no Líbano foram causadas
por explosivos implantados”, diz TV Al Jazeera

Publicado por Caroline Saiter, no DCM Online

As Explosões Coordenadas de Pagers no Líbano
foram Provocadas por Explosivos Implantados
nos Dispositivos”, de acordo com a Emissora de
TV Árabe Al Jazeera.

O governo do Líbano e o Hezbollah responsabilizaram isRéu pelo ataque,
que matou 11 pessoas e deixou 4.000 pessoas feridas nesta terça-feira (17).

Segundo a Al Jazeera, fontes de segurança libanesas afirmaram que
os pagers que explodiram foram importados pelo grupo político libanês
há cinco meses.

Dentro dos equipamentos, foram encontradas cargas explosivas
de até 20 gramas.

De acordo com a agência norte-americana Associated Press,
os pagers foram comprados pelo Hezbollah após o líder do grupo
ordenar a suspensão do uso de celulares para evitar que Israel
rastreasse informações.

Um membro do Hezbollah relatou à agência que os pagers
esquentaram antes de explodir e que os equipamentos
eram de uma marca não comumente utilizada pelo grupo.

https://bsky.app/profile/dcmonline.bsky.social/post/3l4ezrcwx3p2v

Zé Maria

SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DO TETRANITRATODE PENTAERITRITOL (PETN)
http://www.conferencias.ulbra.br/index.php/sic/sic24/paper/viewFile/11366/4744

Zé Maria

https://bsky.app/profile/anovademocracia.bsky.social/post/3l4ee3zkvim2p

“O dia 16 de setembro assinalou o dia em que, em 1982,
milhares de palestinianos foram brutalmente massacrados
nos campos de refugiados de Sabra e Shatilla, no Líbano,
uma atrocidade considerada uma das mais hediondas
da história moderna.”

https://anovademocracia.com.br/neste-dia-42-anos-do-massacre-de-sabra-e-shatila/

.

Zé Maria

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2.750 civis libaneses ficaram feridos e 9 pessoas morreram
– dentre as quais uma menina e dois integrantes do Hezbollah –
nesta terça (17), após explosões em sequência de pagers
(dispositivo eletrônico de comunicação) em todo o Líbano.

Mojtaba Amani, embaixador do Irã no Líbano, foi um dos feridos
na explosão sofrendo ‘danos leves’, de acordo com o órgão de
representação diplomática iraniano no País.

Uma menina e dois integrantes do Hezbollah estão entre
as vítimas fatais das explosões sequenciais.

Uma câmera de segurança flagrou o momento em que
aparelhos explodiram em um supermercado.

Os pagers são comumente usados por membros do
Hezbollah, grupo político baseado no Sul do Líbano,
que atua em defesa da fronteira ao Norte de isRéu.

O Hezbollah acusa isRéu de uma ação coordenada.

O Mossad teria posto explosivos nas baterias dos pagers,
que detonariam quando aumentasse a temperatura das
baterias em funcionamento.

A introdução do material explosivo nos aparelhos foi
realizada antes mesmo que os pagers chegassem às
mãos dos consumidores, o que pode significar que
a cadeia de abastecimento do produto foi invadida.

Os sionistas usaram PETN [PentaErythritol TetraNitrate],
explosivo mais potente que o TNT.

A onda de explosões em sequência durou cerca de uma hora
em todo o País.

[Com informações de DCM e SkyNews em Árabe]

.

Zé Maria

.

“A imposição de novas medidas unilaterais
dos Estados Unidos da América contra
meios de comunicação russos evidencia a
hipocrisia de um governo que se posiciona
como o maior defensor e promotor da
liberdade de imprensa.
Não se pode censurar a verdade.”

Bruno Rodríguez Parrilla
Ministro das Relações Exteriores de Cuba
https://noticiabrasil.net.br/20240916/sancoes-dos-eua-contra-midia-russa-mostram-hipocrisia-do-governo-diz-chanceler-cubano-36504121.html

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Zé Maria

A Visão dos EUA para Democracia e Ditadura
em Relação aos Demais Países do Mundo
foi simplificada nas Definições do Sábio
Escritor Brasileiro Millôr Fernandes:

“Democracia é quando
eu mando em você;
Ditadura é quando
você manda em mim.”

.

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