Venezuela: e agora Celso, para onde?
Lembrando os acontecimentos da primeira temporada: aconteceu a eleição, o CNE divulgou os resultados, houve contestação, um dos candidatos foi à Justiça pedir que a controvérsia fosse dirimida.
Quem foi à Justiça foi quem afirma ter havido “fraude”? Não, pois os que reclamam “fraude” não acreditam na justiça venezuelana e só admitem uma hipótese: sua própria vitória.
Quem foi à Justiça foi o candidato proclamado vencedor pelo CNE, Nicolás Maduro, que recorreu ao Tribunal Supremo de Justicia, o equivalente ao nosso Supremo Tribunal Federal.
O Tribunal convocou, então, partidos e candidaturas a se apresentar. Dos 38 partidos concorrentes, 33 atenderam.
Dos dez candidatos, nove atenderam. Edmundo González Urrutia, também conhecido como Guaidó II, preferiu desacatar a justiça.
Em seguida, o Tribunal realizou uma peritagem nos documentos e no sistema informatizado do Conselho Nacional Eleitoral.
Finalmente, no dia 22 de agosto, o Tribunal Superior de Justiça divulgou a seguinte resolução: “Con base en los resultados obtenidos en el proceso de peritaje, podemos concluir que los boletines emitidos por el CNE respecto a la Elección Presidencial 2024, están respaldados por las actas de escrutinios emitidas por cada una de las máquinas de votación desplegadas en el proceso electoral y, asimismo, estas actas mantienen plena coincidencia con los registros de las bases de datos de los centros nacionales de totalización”.
Ou seja, o Tribunal confirmou a vitória de Nicolás Maduro.
Apoie o VIOMUNDO
O Tribunal também decidiu que o Conselho Nacional Eleitoral deve “publicar los resultados definitivos del proceso electoral celebrado el 28 de julio de 2024, para la escogencia del Presidente de la República Bolivariana de Venezuela en la Gaceta Electoral de la República Bolivariana de Venezuela, según lo previsto en el artículo 155 de la Ley Orgánica de Procesos Electorales”.
Do ponto de vista institucional, isso encerra a novela estritamente eleitoral (e a primeira temporada). Do ponto de vista político, não.
Os defensores da legalidade, chavistas e não chavistas, dentro e fora da Venezuela, vão ter que avaliar o ocorrido, que traz muitos ensinamentos para quem quiser aprender.
A extrema-direita e seus apoiadores mundo afora vão continuar berrando fraude. Mas vão ter que decidir se escalam (por exemplo através das modalidades levante, golpe, intervenção estrangeira e desobediência civil) ou se permanecem no terreno da disputa política à espera da próxima eleição.
Já os que tinham e seguem tendo dúvidas, vão ter que decidir se reconhecem ou não o resultado.
No caso do cidadão sem funções oficiais, vale o livre pensar. Mas no caso do governo brasileiro, a questão é diferente.
Não reconhecer o resultado implicaria questionar a legalidade do ordenamento jurídico da Venezuela. E, do ponto de vista prático, significaria algo cujas consequências até agora ninguém explicou direito.
Se nossa diplomacia tivesse sido mais contida, talvez o problema fosse menor. Mas como nossa diplomacia desta vez foi muito loquaz, a solução será mais difícil.
Acompanharemos com atenção a segunda temporada, cujo primeiro episódio já tenha começado quando o leitor tiver terminado a leitura deste artigo.
*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
Comentários
Zé Maria
É a Cabeça Irmão!
(Silvio Brito)
Por Silvio Brito (Part. Gilliard, Nil Bernardes)
https://youtu.be/gYKW1iU_ap8
https://open.spotify.com/intl-pt/track/4JhdG7BXLSUUMDOoxnn0Me
Do Álbum “Uma História Bonita e Feliz”:
https://open.spotify.com/intl-pt/album/5jyTn8V5zYa4PCQUrBrJjP
Zé Maria
José (1942)
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
(31/10/1902 – 17/08/1987)
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/7748059/mod_resource/content/2/Poemas%20de%20Drummond%20-%20Sentimento%20do%20mundo%5EJ%20Jos%C3%A9%20e%20A%20rosa%20do%20povo.pdf
“No Meio do Caminho Tinha um ‘Maduro’
Tinha um ‘Maduro’ no Meio do Caminho”
https://wp.ufpel.edu.br/aulusmm/2016/08/13/no-meio-do-caminho-carlos-drummond-de-andrade/
.
Bernardo
De fato é isso, a sequência de fatos está bem colocada e cronologicamente correta. Também a posição do Brasil será bem fácil nesse caso uma vez que reiteradamente foi comentado que o que valeria seria o resultado oficial ( as tais Atas eleitorais insistentemente cobradas) o que agora está finalmente divulgado. E a ação do Brasil, ao contrário do que muitos dizem, ganhou tempo e evitou um mal maior na Venezuela por uma possível guerra civil. O telefonema com o Biden foi providencial para acalmar seu Secretário de Estado que queria colocar fogo no circo. Agora é reconhecer oficialmente e deixar a Venezuela tocar sua vida de seu jeito.
João Ferreira Bastos
Ou declara guerra a Venezuela ou pede desculpas e enfia a viola no saco
Deixe seu comentário