Lula ainda não reconhece Maduro como presidente eleito da Venezuela
Tempo de leitura: 3 minLula ainda não reconhece Maduro como presidente eleito da Venezuela
Presidente disse que Nicolás Maduro deve explicações ao mundo
Por Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil – Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta quinta-feira (15), que ainda não reconhece o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, como vitorioso nas eleições realizadas no dia 28 de julho no país.
“Ainda não. Ele [Maduro] sabe que está devendo uma explicação para a sociedade brasileira e para o mundo”, disse Lula ao ser questionado se reconhecia o resultado do pleito.
O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela declarou Maduro reeleito com 51,21% dos votos.
O principal candidato opositor, Edmundo González Urrutia obteve 44,2% dos votos.
A oposição e várias nações questionam a legitimidade da vitória e cobram transparência no processo, incluindo o Brasil, com a divulgação das atas de cada uma das mais de 30 mil seções eleitorais.
“As urnas na Venezuela, quando você vota em uma máquina eletrônica como aqui, tem um tíquete; aquele tíquete é colocado em uma urna. Então, você tem o voto eletrônico e você tem a urna. O que nós queremos é que o Conselho Nacional que cuidou nas eleições diga publicamente quem é que ganhou nas eleições, porque até agora ninguém disse quem ganhou”, disse Lula em entrevista à Rádio T, em Curitiba, no Paraná.
Atas eleitorais em posse dos partidos que apoiam o governo da Venezuela foram entregues ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) do país.
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A campanha do candidato Edmundo González também publicou na internet atas eleitorais que estão em posse dos partidos que o apoiam, que indicam uma vitória de González.
“Tem que apresentar os dados, agora os dados têm que ser apresentados por algo que seja confiável. O Conselho Nacional Eleitoral, que tem gente da oposição, poderia ser, mas ele [Maduro] não mandou [as suas atas] para o conselho, ele mandou para a Justiça, para a Suprema Corte dele”, disse Lula, afirmando que não pode julgar a atuação da Suprema Corte de outro país.
O presidente brasileiro defendeu que seja estabelecido um governo de coalização no país vizinho, com participação da oposição, ou ainda, que novas eleições sejam convocadas.
Maduro estará na Presidência até o dia 10 de janeiro de 2025, data marcada para que o vencedor do pleito assuma o novo mandato.
“Muita gente que está no meu governo não votou em mim e eu trouxe todo mundo para participar do governo”, disse Lula, lembrando a coalização de partidos que apoiaram a sua eleição em 2022.
“Se ele [Maduro] tiver bom senso, ele poderia tentar fazer uma conclamação ao povo da Venezuela, quem sabe até convocar novas eleições, estabelecer um critério de participação de todos os candidatos, criar um comitê eleitoral suprapartidário que participe todo mundo e deixar que entrem olheiros do mundo inteiro para ver as eleições”, acrescentou.
Ontem (14), Lula e o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, conversaram sobre o impasse político na Venezuela.
Os dois países tentam fazer uma mediação para tentar resolver a crise que já levou à prisão mais de 2 mil opositores de Nicolás Maduro.
“Eu não quero me comportar de forma apaixonada e precipitada, ‘[dizer] eu sou favorável a fulano ou sou contra’. Não, eu quero o resultado [factível]”, disse.
“O que eu não posso é ser precipitado e tomar uma decisão. Da mesma forma que eu quero que respeitem o Brasil, eu quero respeitar a soberania dos outros países”, acrescentou o presidente.
Lula ainda não falou com Maduro após o processo eleitoral na Venezuela.
Ele e o presidente Venezuelano conversaram a última vez, por telefone, em junho, e, antes, pessoalmente, durante a cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), em Kingstown, capital de São Vicente e Granadinas.
“Eu conversei pessoalmente com o Maduro antes das eleições dizendo que a transparência do processo eleitoral dele e a legitimidade do resultado eram o que iria permitir a gente continuar brigando para que fossem suspensas as sanções contra Venezuela”, lembrou Lula.
A Venezuela enfrenta, desde agosto de 2017, um bloqueio econômico internacional que limita o acesso ao mercado de crédito global e, desde janeiro de 2019, também ao mercado de petróleo e outros minerais.
Edição: Juliana Andrade
*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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Comentários
Zé Maria
Lula Não Reconhece a Eleição de Lula e Exige as Atas do TSE.
Nelson
“Este é um governo que não fala fino com os Estados Unidos nem grosso com a Bolívia”, afirmava o grande Chico Buarque, há quase dez anos, se referindo ao governo do PT chefiado por Dilma Roussef.
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Certamente, Lula e Dilma agora estão a decepcionar o Chico com seu posicionamento diante da Venezuela. Dilma declarou, em tom de crítica nitidamente reprovatória, que Chávez procurou se aproximar das forças armadas e trazê-las para seu lado.
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Ao mesmo tempo, a crítica da ex-presidente soou como se estivesse a desdenhar do peso que a mobilização e a participação populares desempenham, praticamente desde o início, no avanço da Revolução Bolivariana.
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Pegou muito mal, Dona Dilma. De tão patética e juvenil, ficou parecendo uma declaração feita para agradar ao Departamento de Estado dos EUA.
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O que Hugo Chávez deveria fazer, ele que era um militar? Deveria deixar as forças armadas em seu canto, totalmente suscetíveis aos “encantos” e “seduções” de que os governos dos Estados Unidos já haviam se utilizado em décadas anteriores para cooptá-las, em inúmeros países?
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Mas Chávez optou por reconverter as forças venezuelanas a sua nação, a um projeto de país. E teve enorme sucesso em sua empreitada, pois, não fosse isto, ele não teria recuperado a presidência depois do golpe de Estado de 2002.
Zé Maria
https://images02.brasildefato.com.br/250d0fc513f2904a563aeb5a8a0ffddc.webp
PIB Venezuelano terá o Melhor Desempenho da América Latina em 2024
e Argentino, o Pior, diz CEPAL
Relatório Prevê Crescimento da Economia Venezuelana de 5 % neste ano;
Argentina caiu 3,6%
https://www.brasildefato.com.br/2024/08/14/pib-venezuelano-tera-o-melhor-desempenho-e-argentino-o-pior-da-america-latina-em-2024-diz-cepal
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Venezuela Registra Inflação de 0,7% em Julho/2024,
Menor Resultado Desde 2008
A Inflação Acumulada nos Últimos 3 Meses foi de 3,2%,
Variação Comparável à Observada em 1985.
https://multipol.blog/post/758459588231233536/venezuela-registra-infla%C3%A7%C3%A3o-de-07-em-julho
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Zé Maria
BRICS e a Luta contra a Hegemonia [Norte-]Ocidental:
Bloco se Consolida como Fórum da Diplomacia Mundial?
Sputnik News
Em meio a um xadrez político global cada vez mais multipolar,
a perda da liderança dos Estados Unidos e da União Europeia
abre caminho para a consolidação do BRICS como principal
fórum da diplomacia mundial, apontam especialistas à
Sputnik Brasil.
Mesmo com sanções entre parte dos membros,
grupo mostra a força no contexto internacional.
Na América do Sul, o Brasil se consolida como um dos principais mediadores
de impasses e conflitos, a exemplo das eleições na Venezuela contestadas
sob a liderança dos Estados Unidos, que chegaram a reconhecer a vitória
do candidato da oposição, enquanto Brasília mantém diálogo aberto com
Caracas.
Já no Oriente Médio, a China mediou um acordo histórico que fez
Irã e Arábia Saudita retomarem as relações diplomáticas após anos
de rompimento. E, desde o início do conflito na Faixa de Gaza, que já
deixou mais de 39 mil mortos, a Rússia se oferece para ajudar nas
negociações para encerrar a crise entre palestinos e israelenses,
principalmente com a defesa da criação do Estado da Palestina.
Todos esses países formam um dos grupos mais pujantes da atualidade:
o BRICS, que além de Brasil, China e Rússia, conta também com Índia,
África do Sul, Arábia Saudita, Irã, Egito, Emirados Árabes Unidos e Etiópia.
Vitor de Pieri, professor do Instituto de Geografia da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), defende à Sputnik Brasil que
o conjunto é um “instrumento de equilíbrio político e econômico
fundamental em um mundo cujas instituições supranacionais sofrem
com o desrespeito ao direito internacional, especialmente de algumas
potências ocidentais em decadência que se baseiam em estratégias
da geopolítica clássica”.
Para o especialista, o principal objetivo do mundo ocidental é conter
a presença e a influência dos países do Sul Global, cada vez mais pautados
pela multipolaridade “em questões voltadas à segurança, finanças e outros
temas internacionais”.
E são justamente essas nações que têm ecoado as denúncias de genocídio
em um dos conflitos que mais preocupa o mundo ultimamente e que também
marca a inércia da Organização das Nações Unidas (ONU):
os bombardeios israelenses que destruíram praticamente todo o enclave
palestino.
“Os países do BRICS têm feito a diferença no que tange ao genocídio
promovido pelo governo Netanyahu.
Brasil e África do Sul, e também a China, possuem uma postura mais
incisiva na crítica aos crimes contra a humanidade.
Por outro lado, tem buscado juntar todos os atores direta e indiretamente
envolvidos no conflito para uma solução definitiva.
Creio que podem fazer a diferença frente a um apoio incondicional à Israel
por parte de alguns países ocidentais, em especial, dos Estados Unidos”,
acrescenta.
Quais as principais características do BRICS?
Após a entrada dos novos membros este ano e da demonstração de
interesses de cada vez mais países em fazer parte do grupo, como Turquia
e Venezuela, o BRICS já representa 31,5% do Produto Interno Bruto (PIB)
mundial e supera até o G7, composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.
Além disso, os membros concentram 45% da extração diária de petróleo
e contam com importantes reservas como lítio, essencial para as novas
tecnologias.
“São países com enorme influência política e econômica na atualidade,
com suas diversas potências militares, especialmente nucleares.
Também detêm um percentual do PIB mundial bastante considerável,
e os territórios dos países signatários possuem as maiores reservas
de recursos naturais do planeta.
Esses e outros elementos transformam o BRICS em um contraponto
à ordem internacional imposta pelo mundo ocidental”, pontua.
Outra questão é a ampliação de instrumentos multilaterais que o grupo
gera em todo o mundo, como o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD),
o banco do BRICS, que busca fazer um contrapeso à atuação de organismos
como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, além da
Nova Rota da Seda, liderada pela China, que deseja “influenciar nas
transformações de um mundo mais multipolar no que tange às questões
políticas, econômicas e financeiras internacionais”.
O que quer dizer um “Mundo Multipolar”?
Nas relações internacionais, um mundo multipolar é caracterizado
pela presença de vários “polos de poder” a nível mundial, em detrimento
da hegemonia de uma potência ou um grupo.
Marcos Cordeiro Pires, professor de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e especialista em assuntos
ligados a Pequim, lembrou à Sputnik Brasil que o fortalecimento do BRICS
ocorre em um momento em que Estados Unidos e UE tentam a todo custo
defender a ordem internacional estruturada no século passado, após a
Segunda Guerra Mundial.
Além disso, segundo o especialista, estão envolvidos em praticamente
todos os conflitos da atualidade.
“Por exemplo, a mediação de um conflito na Ucrânia, seria muito difícil de
imaginar que se organizaria uma reunião em Kiev em que a Rússia
não fosse convidada.
Mas, por outro lado, a gente observa que Estados Unidos e União Europeia
são partes da questão, apoiam a Ucrânia e não teriam uma visão neutra
para buscar um tipo de consenso.
Outro tema interessante diz respeito à própria questão do Irã, que fez
um acordo com os EUA em 2015 e foi abandonado pelo ex-presidente
Donald Trump.
E o Irã perde a interlocução com os Estados Unidos, mas acaba encontrando
interlocução com a China justamente para mediar a aproximação política
entre os dois principais países do Oriente Médio, que são o Irã e a Arábia
Saudita”, resume.
Além disso, lembra que Brasil e China já se disponibilizaram como possíveis
mediadores para discutir a paz na Ucrânia, com Kiev e Moscou na mesa de
discussões.
“Então, esse papel do BRICS é muito importante porque é criado outro eixo
político, outro eixo de poder que efetivamente busca a aplicação das normas
internacionais garantidas na ONU, que não são mais perseguidas pelos
países que supostamente defendem um mundo baseado em regras”, declarou.
Inclusive, no G20, argumenta o especialista, os países que fazem parte
dos dois grupos têm levantado pautas “que dizem respeito ao interesse
da maioria da população mundial”.
“A própria questão da África do Sul [sobre os crimes de Israel contra a Faixa
de Gaza], uma atuação decisiva em defesa dos direitos humanos e contra
o genocídio, que levou à condenação de líderes israelenses no Tribunal Penal
Internacional.
Uma questão importante para pensarmos na diplomacia diz respeito
a outros poderes estruturais, que não apenas a questão política, mas
também a questão produtiva, a questão tecnológica, a questão financeira.
Se nós pensarmos no mundo que foi criado em 1945, praticamente só existia
uma potência no mundo, que eram os Estados Unidos.
Os países da Ásia e da África não tiveram quase representação nenhuma
na criação da ONU, porque eram colônias de países europeus.
Nesses 80 anos que nos separam desde o fim da Segunda Guerra Mundial,
é importante notar que o peso econômico dos países do Sul Global
aumentou de maneira significativa”, finaliza.
https://noticiabrasil.net.br/20240807/brics-e-luta-contra-a-hegemonia-ocidental-grupo-se-consolida-como-forum-da-diplomacia-mundial-35940845.html
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