Marcelo Zero: Que vergonha!

Tempo de leitura: 3 min
Jogos Olímpicos de Paris 2024. Foto: Flickr/Nicolas Michaud

La Honte!

Por Marcelo Zero*

Como se sabe, as olimpíadas surgiram na antiga Grécia como forma de buscar paz e conciliação entre as diferentes cidades-estados.

A competição pelos jogos visava substituir a competição pela guerra.

As chamadas olimpíadas modernas, ressuscitadas pelo Barão de Coubertin, também seguiam o mesmo princípio.

Como havia escrito em artigo anterior que publiquei em março deste ano (“A Morte do Espírito Olímpico”), o espírito olímpico começou a morrer quando os EUA e aliados boicotaram as Olimpíadas de Moscou de 1980, alegando, como motivo, a intervenção soviética no Afeganistão.

Uma hipocrisia sem tamanho, vinda de um país tão intervencionista quanto os EUA, o qual, por uma dessas ironias da história, passou mais de duas décadas invadindo o mesmo Afeganistão.

Milhares de atletas foram prejudicados severamente. Anos e anos de treinos duros foram jogados fora. Patrocínios foram cancelados. Sonhos viraram pesadelos.

Em 2020, o então presidente o Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, que fora atleta na época das Olimpíadas de Moscou, comentou sobre o clima da época:

O então chanceler alemã, em um debate sobre o tema, iniciou a reunião com militares de alto escalão para mostrar o mapa onde havia tanques, oleodutos e tudo mais, e construindo um cenário onde ele então disse no final algo como: “E se você quiser arriscar uma Terceira Guerra Mundial, então é melhor ir para Moscou.”

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A pressão política contra essas olimpíadas foi enorme. Thomas Bach não conseguiu competir. Em nenhum momento, a opinião dos atletas foi consultada.

Agora, nas Olimpíadas de Paris, atletas russos e bielorrussos podem até competir, mas em condições humilhantes, que contrariam o espírito olímpico.

Tais atletas, além de não poderem usar uniformes de seus países, não poderem envergar quaisquer símbolos vinculados às suas nacionalidades e não poderem ouvir seus hinos, não podem também ter manifestado qualquer apoio a seus países, em relação ao conflito com a Ucrânia.

Na prática, é um novo boicote aos atletas. Saliente-se que, por força dessas circunstâncias, apenas 15 atletas russos vão competir em Paris, um número absolutamente ridículo. Normalmente, são centenas.

Entretanto, surgiu agora um novo boicote, ainda mais grave: o boicote aos jornalistas russos e bielorrussos.

Alegando razões de segurança e medo de espionagem, a França negou credenciais para muitos jornalistas e bielorrussos.

Tais alegações são um tanto ridículas. O que esses jornalistas iriam fazer? Transmitir informações sigilosas sobre as táticas dos times de outros países?

Na realidade, é retaliação política pura e simples. Uma retaliação que, obviamente, contraria compromissos internacionais da França.

Por exemplo, a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), da qual a França faz parte, dedica-se, entre outras coisas, a promover a liberdade de informação e de imprensa.

Independentemente da opinião que se possa ter do atual governo russo ou do conflito na Ucrânia, os jornalistas russos e bielorrussos deveriam ter o direito de trabalhar, assim como os atletas deveriam ter o direito de competir de forma livre, independentemente de nacionalidade e de quaisquer posições políticas que possam ter.

Estranhamente, instituições que defendem usualmente a liberdade de informação e de imprensa permanecem silentes.

Mas há aí um problema de fundo, que é o do comprometimento da neutralidade de instituições internacionais.

Esse boicote se assemelha bastante ao boicote financeiro contra a Rússia pelo sistema SWIFT, o qual, em tese, deveria ser neutro.

Por óbvio, as olimpíadas deveriam também ser neutras, respeitando os princípios que as fundaram. Não deveriam ser terreno para disputas geopolíticas, boicotes e sanções.

À luz do direito internacional, enfatize-se, quaisquer sanções só são legítimas quando aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU.

E à luz dos compromissos internacionais sobre liberdade de informação e dos princípios que criaram as olimpíadas, jornalistas e atletas deveriam trabalhar e competir sem restrições.

O mundo não precisa de uma nova guerra fria. Precisa de mais paz e espírito olímpico.

La Honte!

*Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

Leia também

Marcelo Zero: A morte do esporte olímpico

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Zé Maria

Nascido e criado em campo de refugiados,
Fares Badawi representou a Palestina
no judô nas Olimpíadas. Perguntado se
enfrentaria um israelense, afirmou:

“Claro que não lutaria!
Não posso cumprimentar alguém
que matou meu povo”

https://x.com/FepalB/status/1818402092106625514

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/GTmcwyhX0AAmBao?format=jpg

É OURO!
“Judoca Argelino Dris Messaoud
se recusa a enfrentar israelense
e se retira das Olimpíadas
em solidariedade à Palestina.”

https://x.com/FepalB/status/1817656292766564499
https://www.instagram.com/p/C9-sfK-vKvZ/
https://bsky.app/profile/marimessias.bsky.social/post/3kyen6t72wl2q

.

Zé Maria

Império Anglo-Saxão e as Falcatruas Olímpicas

O Comitê Disciplinar da FIFA anunciou no sábado (27)
que o time de futebol feminino do Canadá foi penalizado
com a perda de seis pontos no torneio olímpico, ficando
agora com zero ponto após as vitórias nas duas primeiras
partidas que disputou na Olímpiada de Paris, sobre Nova
Zelândia e França.
A Seleção Canadense de Futebol Feminino é a atual
campeã olímpica.

A medida punitiva é resultado das apurações que investigam
o uso de drones por parte da equipe em um escândalo de
espionagem que também chegou à equipe principal masculina
do país norte-americano.

A técnica Bev Priestman, que foi retirada de suas atribuições
como comandante do time feminino do Canadá, foi suspensa
por um ano.
Joseph Lombardi e Jasmine Mander, responsáveis pela utilização
do drone, também foram suspensos pela FIFA por um ano.
Além da penalização imposta à seleção, a Federação Canadense
de futebol foi multada em 200 mil francos suíços (R$ 1,2 milhão).

Escândalo do uso de drones pelo Canadá
para espionagem de equipes adversárias
pode ser ainda maior

É possível que o uso de drones para espionagem nos Jogos Olímpicos
não seja um episódio isolado, mas sim parte de um “modus operandi”
do Canadá no futebol.

O próprio diretor da Federação Canadense de Futebol, Kevin Blue, revelou
na sexta-feira (26) que o episódio ocorrido durante os Jogos Olímpicos
de Paris 2024 pode não ser isolado.
Foi aberta uma investigação sobre o possível uso sistemático de drones
para espionagem, inclusive no masculino, durante a Copa América, na qual
a seleção canadense chegou à semifinal.
O Canadá fez uma campanha surpreendente na Copa América, chegando
à semifinal, na qual perdeu para a campeã Argentina.

Também nas últimas Eliminatórias da Concacaf de futebol masculino,
a seleção de Honduras teve que parar um treino em Toronto, após um
drone ter sido visto sobrevoando o local.

https://www.flashscore.com.br/noticias/futebol-jogos-olimpicos-feminino-fifa-pune-selecao-feminina-do-canada-com-perda-de-seis-pontos-no-torneio-olimpico/fNj9VIAl/
https://ge.globo.com/olimpiadas/noticia/2024/07/26/canada-tentou-usar-drone-para-espionar-na-copa-america-diz-diretor.ghtml
https://www.terra.com.br/esportes/jogos-olimpicos/selecao-feminina-do-canada-perde-seis-pontos-e-tecnica-e-suspensa-por-um-ano,e47bf334ced6bcfabc72a4e8c7fd1b337sjpg57t.html
.
Será que o Canadá é caso único?
Os Estados Unidos da América (EUA)
não faz espionagem de oponentes?
.

Zé Maria

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.

“Atleta Olímpico Porta-Bandeira de ‘isRéu’

‘Autografou’ Bombas Lançadas em Gaza”

Por Lejeune Mirhan

Programa GeoPolitica em Foco

Na Rede TVT:

https://youtu.be/s9ywkB3PMik

.

Zé Maria

19h37
#comment-1116308
.

“Esquerda Francesa Reage Indignada à Decisão de Macron
de Adiar Nomeação de Candidata a Premiê Lucie Castets
Indicada ao Cargo pela Nova Frente Popular (NFP)”

O Coordenador da França Insubmissa (LFI) Deputado Manuel Bompard,
disse que ficou “atordoado com o desprezo, a arrogância e a violência
da intervenção” de Emmanuel Macron.

“Tenho a impressão de ter de lidar com
uma espécie de louco entrincheirado
no Palácio Eliseu”, disse Bompard à RTL.

[RFI via CartaCapital]

https://www.cartacapital.com.br/mundo/esquerda-francesa-reage-indignada-a-decisao-de-macron-de-adiar-nomeacao-de-candidata-a-premie/

.

Zé Maria

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“Esquerda Francesa Reage Indignada à Decisão de Macron
de Adiar Nomeação de Candidata a Premiê Lucie Castets
Indicada ao Cargo pela Nova Frente Popular (NFP)”

O Coordenador da França Insubmissa (LFI) Deputado Manuel Bompard,
disse que ficou “atordoado com o desprezo, a arrogância e a violência
da intervenção” de Emmanuel Macron.

“Tenho a impressão de ter de lidar com
uma espécie de louco entrincheirado
no Palácio Eliseu”, disse Bompard à RTL.

[RFI via CartaCapital]

https://www.cartacapital.com.br/mundo/esquerda-francesa-reage-indignada-a-decisao-de-macron-de-adiar-nomeacao-de-candidata-a-premie/

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Zé Maria

Sem- Vergonhice Olímpica!

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