BC: muito além da Selic
Por Paulo Kliass*, no Terapia Política
Ao longo das últimas décadas, a atuação do Banco Central (BC) tem permanecido bastante tempo sob o holofote da imensa maioria da sociedade.
Até mesmo a grande imprensa especializada em assuntos econômicos e financeiros não tem como escapar da realidade escandalosa de nosso patamar de taxa de juros oficial.
Por mais que os grandes meios de comunicação mantenham relações bastante incestuosas com o universo do financismo, é impossível não tratar da irracionalidade dos níveis de nossa Selic e mesmo da taxa real de juros, aquela que se obtém por meio da subtração da inflação da taxa nominal.
O fato inegável é que o Brasil tem se mantido ao longo dos anos como um verdadeiro paraíso para o povo das finanças globais.
O processo intenso de financeirização e de bancarização de nossa sociedade tem operado como alicerce para o incremento da espoliação que o sistema financeiro promove sobre o conjunto dos demais ramos da economia e das classes sociais.
A existência de um fenômeno impressionante de concentração e de oligopolização dos conglomerados que atuam na área deveria provocar também um olhar e uma intervenção mais arguta das instituições estatais encarregadas de tais funções.
É importante lembrar que as funções do BC em nossa sociedade e na economia vão muito além do que a responsabilidade legal pela definição da Selic.
O Comitê de Política Monetária (COPOM) é composto exatamente pelos nove membros que integram a diretoria do banco. Assim, eles se reúnem a cada 45 dias para discutir a conjuntura econômica brasileira e internacional com o intuito de estabelecer os níveis da taxa referencial de juros.
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No entanto, o BC é o órgão regulador e fiscalizador do sistema bancário e financeiro como um todo, além de ser responsável pela condução da política cambial e dos diferentes regimes e sistemas de crédito existente no País.
A exploração do financismo
Na condição de organismo similar a uma agência reguladora, o banco deveria atuar para evitar distorções no mercado bancário e de crédito, tendo em vista a enorme concentração de poder em mãos de pouquíssimas empresas no setor.
Os mastodontes privados que operam no financismo em nossas terras podem ser contados nos dedos das mãos. A eles se somam os bancos públicos federais, que deveriam se comportar enquanto instituições de crédito governamentais e não se orientar pela lógica de seus concorrentes privados.
O BC não disponibiliza informações mais detalhadas em seu “Relatório da Economia Bancária”. No entanto, na edição relativa ao ano de 2023, o que se pode observar é uma tremenda concentração nos quatro maiores grupos de bancos.
Assim, a porção comandada pelo conjunto de Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal (CEF), Bradesco e Itaú representam sempre índices entre 55% e 60% para variáveis relevantes, como total de depósitos totais, ativos totais e volume das operações de crédito.
Caso fossem incluídos outros grandes grupos no cálculo, os níveis de concentração ficariam ainda mais evidenciados. No que se refere a lucros anuais, por exemplo, a participação dos cinco maiores grupos no total dos ganhos do sistema foi de 74%.
Ora, sob tais condições, a missão de um órgão regulador e fiscalizador é assegurar condições mínimas de concorrência e de ética no funcionamento dos chamados “agentes econômicos” para evitar super exploração dos mesmos sobre a parte mais fraca da relação.
Esse é o caso típico de ocorrência de abuso do poder econômico dos bancos sobre o conjunto dos clientes, sejam eles empresas, famílias ou indivíduos.
Porém, historicamente, o BC sempre fez cara de paisagem sobre tal quadro de existência da mais completa assimetria de poder entre as partes envolvidas na relação econômica e financeira.
Spreads abusivos e lucros exorbitantes
Uma das evidências mais cristalinas de tal distorção pode ser identificada na prática dos chamados spreads.
Trata-se da diferença observada entre as taxas de captação de recursos junto ao público e as taxas de empréstimos praticadas pelos bancos. Nesse quesito, o Brasil também ocupa tristemente uma posição de destaque no campeonato mundial da modalidade.
E em nenhum momento ao longo de seus quase 60 anos de existência o BC esboçou qualquer iniciativa para controlar essa prática deletéria. O que mais impressiona é a capacidade de acomodação da sociedade brasileira a tais condições, como havia ocorrido com níveis elevados de inflação ou de financeirização.
A flagrante condição de anormalidade do sistema sobrevive e com o tempo ela se “naturaliza”, em prejuízo da absoluta maioria que se percebe como dependente dos grandes bancos.
Os gráficos abaixo exibem a média de spreads praticados pelo sistema. O campeão absoluto é o relativo ao cartão de crédito rotativo.
Ali as taxas para o período 2022 a 2024 sempre estiveram próximas ou superiores a 400% ao ano. Uma loucura!
Taxa de Juros – Cartão de Crédito Rotativo
Pessoas Físicas (% ao ano)
Em seguida, aparecem os spreads envolvendo as taxas do cheque especial. Aqui também os bancos cobram de seus clientes algo entre 120 % e 140% de juros ao ano.
Taxa de Juros – Cheque Especial
Pessoas Físicas (% ao ano)
Finalmente, os diferenciais observados nas operações de crédito pessoal apresentam taxas próximas a 40% ao ano.
Taxa de Juros – Crédito Pessoal Total
Pessoas Físicas (% ao ano)
Ora, em todas estas modalidades, o BC jamais atuou para impedir tais práticas, que se caracterizam por uma super exploração econômica e financeira. Afinal, esta deveria ser a primeira medida a ser adotada por uma agência reguladora cuja direção não esteja capturada pelos interesses dos conglomerados sobre as quais deveria vigiar e controlar.
O mesmo raciocínio poderia ser realizado no que se refere à cobrança de tarifas abusivas por tais empresas.
Assim, o que se percebe é que a agenda da direção do BC deveria incorporar uma série de outros temas relevantes, que vão muito além do estabelecimento do patamar da Selic.
Espera-se que a nomeação do próximo presidente da instituição a partir de dezembro e a composição da direção da mesma com uma maioria de membros nomeados pelo presidente Lula seja o início de uma mudança.
Ou seja, o começo de uma gestão do BC que atenda efetivamente aos desejos e anseios da maioria da população e das empresas que atuam o setor real da economia.
*Paulo Kliass é mestre em Economia pela USP e doutor pela UFR – Sciences Économiques – Université de Paris 10 e pós doutorado em economia na Université de Paris 13. Integrante da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental.
*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
Leia também
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Miola: Campos Neto aproveita avanço mundial do dólar para especular e terrorismo financeiro
Comentários
Zé Maria
.
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Pode ser o Fascista Mais Corrupto, mas se disser
que vai Privatizar o Patrimônio Público, a Mídia Venal
impatriótica apoia incondicionalmente.
.
.
Privatização da Sabesp
Justiça não vê Conflito de Interesse no caso Karla Bertocco,
Executiva que acumulou cargos de CEO da Sabesp e da
Equatorial, única interessada no ‘leilão’ da agora ex-estatal
de Água e Saneamento Paulista.
A Justiça de São Paulo não vê a existência de conflito de interesses
no processo de privatização da Sabesp, mesmo ciente do caso da
executiva Karla Bertocco, que acumulou os cargos de presidente
do conselho de administração da agora ex-estatal paulista e da
Equatorial Energia, a única empresa interessada na compra de
32% das ações da companhia a valores abaixo do preço de mercado.
A denúncia é da vereadora paulistana Luana Alves (PSOL), que entrou
na Justiça com uma ação popular pedindo a interrupção do processo
de privatização e citando o caso de Bertocco como o principal elemento
do seu argumento. Mas acabou perdendo num primeiro momento.
Na decisão da última terça-feira (23), o juiz Fausto Dalmaschio Ferreira,
da 11ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, deu 15 dias para que a
vereadora inclua na ação as qualificações completas de Bertocco e
da Equatorial Energia S/A, “considerando o interesse de ambas, haja
vista a imputação de condutas irregulares e supostas vantagens indevidas”.
O magistrado diz na decisão que falta uma apresentação concreta daquilo que caracterizaria um conflito de interesses. Também diz que a nomeação de Bertocco à chefia da Sabesp foi feita dentro da lei.
Em nota enviada à reportagem, a vereadora Luana Alves lamentou o indeferimento da ação. “Há um claro conflito de interesse. Estou bastante decepcionada com essa decisão da Justiça e sigo acreditando que é uma privatização que lesa o povo de São Paulo. Esperamos provar isso em todas as instâncias da Justiça brasileira”, comentou a vereadora, que estuda ainda as próximas vias que podem ser acionadas.
Karla Bertocco
Bertocco ganhava cerca de R$ 1 milhão por ano como presidente do Conselho de Administração da Equatorial. Em maio do ano passado, Tarcísio a convidou para ser a presidente do Conselho de Administração da Sabesp, ganhando cerca de R$ 160 mil por ano. A princípio, ela acumulou os dois cargos.
Mas, em dezembro passado, a privatização da Sabesp foi aprovada na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e, em janeiro deste ano, apenas 23 dias depois dessa aprovação, Bertocco abriu mão do seu cargo na Equatorial, mantendo-se apenas CEO da Sabesp, com um salário aproximadamente 84% menor.
A decisão, que não fazia qualquer sentido em termos salariais, começa a ser explicada agora, sete meses depois, quando sua ex-empregadora foi, na última terça-feira (23), a única interessada no leilão das ações.
A Sabesp deu um lucro líquido de R$ 3,1 bilhões em 2023, mas suas ações foram vendidas a R$ 67 cada, em valor 18% abaixo dos R$ 87 estabelecidos no fechamento da Bolsa na última quinta-feira (18). As vendas arrecadaram R$ 14,8 bilhões aos cofres públicos paulistas, mas mesmo assim representa uma perda de R$ 4,5 bilhões, quase um terço do que foi arrecadado.
Tarcísio tenta se lançar como terceira via
Tarcísio deu uma entrevista nesta quarta (24) à Globo News em que adiantou quais são os próximos alvos do seu projeto privatista. E se engana quem imagina que sejam empresas públicas paulistas como o Metrô e a CPTM, que ele havia prometido entregar para mãos até 2026 durante a campanha.
Pelo contrário, o governador de São Paulo usou o palanque na mídia corporativa para se colocar como um possível pré-candidato ao Palácio do Planalto em 2026, de olho na inelegibilidade e possível prisão de Bolsonaro.
Ao ser questionado se havia mais espaço para privatizações no país, nomeadamente pelo entrevistador, da Petrobrás e do Banco do Brasil, Tarcísio foi direto ao ponto.
“Eu acredito que há mais espaço para o Brasil avançar nas privatizações. O grande benefício da privatização é mobilizar mais capital privado, ter fôlego para fazer e estruturar investimentos que nós não teríamos. Não dá para ficar dependente só do nosso espaço fiscal para mobilizar a quantidade de investimentos em todos os setores que nós temos que mobilizar. A privatização abre espaço para vir muito recurso”, declarou o governador.
Tarcísio Ttenta se Lançar na Mídia como Via da Privatização
Tarcísio deu uma entrevista nesta quarta (24) à Globo News
em que adiantou quais são os próximos alvos do seu projeto
privatista.
E se engana quem imagina que sejam empresas públicas paulistas
como o Metrô e a CPTM, que ele havia prometido entregar para mãos
até 2026 durante a campanha.
Pelo contrário, o governador de São Paulo usou o palanque na mídia
corporativa para se colocar como um possível pré-candidato ao Palácio
do Planalto em 2026, de olho na inelegibilidade e possível prisão de
Bolsonaro.
Ao ser questionado se havia mais espaço para privatizações no país,
nomeadamente pelo entrevistador, da Petrobrás e do Banco do Brasil,
Tarcísio foi direto ao ponto.
“Eu acredito que há mais espaço para o Brasil avançar nas privatizações.
O grande benefício da privatização é mobilizar mais capital privado,
ter fôlego para fazer e estruturar investimentos que nós não teríamos.
Não dá para ficar dependente só do nosso espaço fiscal para mobilizar
a quantidade de investimentos em todos os setores que nós temos que mobilizar. A privatização abre espaço para vir muito recurso”, declarou
o governador carioca do estado de São Paulo.
Íntegra da Reportagem:
https://revistaforum.com.br/politica/2024/7/25/privatizao-da-sabesp-justia-no-v-conflito-de-interesse-no-caso-karla-bertocco-162779.html
Zé Maria
.
“O Brasil com Lula vive em plena expansão do emprego.
Mas isso é ruim [SIC], porque é preciso
aumentar os salários dos trabalhadores”. [SIC]
Roberto Campos Neto
Presidente do Banco Central
Nomeado por Jair Bolsonaro.
Em Entrevista à CNN.
https://bsky.app/profile/brasinha.bsky.social/post/3kxsvhy6ykq22
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