Miola: O “problema de comunicação” do mercado e a comunicação de Lula com o povo

Tempo de leitura: 4 min
Em julho de 2024, Lula, entre outros eventos, participou destes: encontro com Atletas Paralímpicos e Olímpicos; encontro com movimentos sociais do Estado Plurinacional da Bolívia; reunião do Comitê Interministerial para Inclusão Socioeconômica de Catadoras e Catadores de Recicláveis; lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar; visita às linhas de luz do Sirius no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e à unidade de adaptação de ambulâncias do SAMU em Salto (SP). Fotos: Ricardo Stuckert/PR

O “problema de comunicação” do mercado e a comunicação do Lula com o povo

Por Jeferson Miola, em seu blog

A pesquisa Quaest [10/7] detectou uma reversão da queda da popularidade do governo que havia iniciado no levantamento de outubro de 2023 e mantida até a pesquisa anterior, de maio/2024.

Como mostram os quadros abaixo, tanto a avaliação geral do governo, como a aprovação do trabalho do presidente Lula mantiveram quedas constantes nos levantamentos anteriores.

Pelo menos dois fatores, ao lado de outros, podem explicar a interrupção desta dinâmica.

Um deles foi a mudança da estratégia de comunicação, com o próprio Lula no papel de âncora comunicador do governo.

O outro fator foi a melhora do mercado de trabalho e a ampliação dos benefícios sociais, com consequente aumento da ocupação e da renda, sobretudo para as famílias que ganham até 2 salários mínimos.

Esse aumento da renda familiar neutralizou a potencial perda de popularidade que poderia acontecer devido à percepção de aumento dos custos com água e luz [61%], do preço dos combustíveis [44%], dos alimentos [70%] e da queda do poder aquisitivo [63%].

A coleta de campo da pesquisa Quaest ocorreu de 5 a 9 de julho; e, portanto, captou o reflexo das iniciativas do governo nas semanas imediatamente precedentes.

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Nos 14 dias úteis entre 18 de junho e 5 de julho, o presidente Lula concedeu nove entrevistas.

Sete a rádios locais, uma a uma emissora nacional [CBN], e outra a um portal nacional de notícias, o UOL.

Com a internet, as entrevistas de um presidente da República a emissoras de rádio e TV mesmo do interior do país acabam tendo abrangência nacional. E seus conteúdos são replicados em todas as mídias – digitais, impressas, redes de rádios e TVs.

Com média de 60 minutos de duração, as entrevistas significaram 540 minutos de locução direta do Lula com a população, tempo que equivale a 12 edições integrais de 45 minutos do Jornal Nacional, o noticiário de maior audiência do país.

Nelas, Lula pautou temas cruciais para o governo, como a sabotagem do presidente bolsonarista do Banco Central, os juros altos, a manutenção do aumento real do salário mínimo, as políticas de inclusão social, de distribuição de renda e de desenvolvimento.

Além das nove entrevistas do Lula, neste período de 18/6 a 5/7 o governo ainda promoveu 22 cerimônias oficiais para o lançamento de programas no Palácio do Planalto, em Brasília, e em 15 cidades de oito estados – São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Ceará, Maranhão e Piauí [quadro resumo abaixo].

Nesses eventos o governo anunciou os Planos Safra da Agricultura Familiar e empresarial, projetos para o cinema e área do Audiovisual; entregou residências do Minha Casa Minha Vida, ambulâncias do SAMU; inaugurou obras, expandiu campus de universidades e institutos federais de ensino e anunciou investimentos da União nos estados visitados.

Os discursos de Lula nas cerimônias tiveram repercussão nacional e pautaram os meios de comunicação.

A mídia opositora e praticante do jornalismo de guerra acabou agendada pelo governo e viu-se obrigada a repercutir os conteúdos abordados por Lula.

A pesquisa Quaest também explica porque o mercado e o rentismo tentaram impor um cala boca ao Lula – tratado como “problema de comunicação”.

Para pânico das finanças, a população concorda com todas opiniões do Lula: de que o salário deve aumentar todo ano acima da inflação [90%], que os juros no Brasil são muito altos [87%], que a carne consumida pelos mais pobres devem ser isentas de impostos [84%], e que o governo não deve satisfação ao mercado, mas sim aos mais pobres [67%].

66% ainda concordam com as críticas de Lula à política de juros do Banco Central, e 53% discordam da acusação das finanças e sua mídia neoliberal de que as falas do Lula causaram a especulação com o dólar e o terrorismo financeiro.

O diálogo diário de Lula com o povo brasileiro até o fim do mandato é um dispositivo poderoso do governo para uma estratégia eficaz de comunicação.

Lula é o maior intérprete do seu governo, e o povo entende exatamente o que ele fala.

A experiência do presidente mexicano Andrés Manuel Lopez Obrador [AMLO] merece ser avaliada.

Para contornar o cerco feroz da mídia neoliberal e do establishment, AMLO assumiu a condução direta da comunicação logo no início do seu governo.

Como rotina de trabalho, ele reservou pelo menos uma hora diária para contatos com a mídia, as famosas “mañaneras”.

Durante seis anos de governo, suas declarações foram transmitidas pelos veículos privados de comunicação e redes sociais do governo.

Lopez Obrador está terminando o mandato com uma aprovação próxima a 65%.

Em junho passado a candidata governista Claudia Scheinbaum venceu a eleição presidencial com votação recorde de 60% dos votos, mais que o dobro da segunda colocada na eleição.

Para um governo como o do presidente Lula, cercado por todos os lados –pelas finanças, militares conspiradores, oposição extremista no Congresso, mídia neoliberal e grande capital– é vital assegurar níveis razoáveis de apoio popular que desencorajem iniciativas golpistas e desestabilizadoras, como aconteceu com a presidente Dilma em 2015.

A comunicação permanente do Lula com o povo brasileiro é fundamental para isso.

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Zé Maria

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Sob o [Des]governo de Jair Bolsonaro,
o Mercado de Jóias estava em Alta.
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“Ex-presidente saiu do prédio das Nações Unidas
após discurso moralista e foi para o hotel onde
pegou pacote com US$ 37 Mil Dólares, diz PF”

“Bolsonaro recebeu Dinheiro das Jóias
no dia que disse ter ‘extirpado a corrupção’
na Abertura da Assembleia Geral da ONU”

https://revistaforum.com.br/politica/2024/7/11/bolsonaro-recebeu-dolares-no-dia-que-disse-ter-extirpado-corrupo-na-onu-161961.html

Moro usou Abin para “serviços clandestinos”
e “não resistiria a uma investigação da PF”,
acusa Tony Garcia

“Agente infiltrado” de Sergio Moro sugere que
ex-juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba teria
“deixado rastros enormes de seus crimes”
no período em que foi ministro da Justiça
no governo do presidente de Bolsonaro

“Moro não resistiria à uma investigação da PF
no tempo em que foi ministro. Deve ter deixado
rastros enormes de seus crimes como deixou
por onde passou apostando na impunidade”

https://revistaforum.com.br/politica/2024/7/12/moro-usou-abin-para-servios-clandestinos-no-resistiria-uma-investigao-da-pf-acusa-tony-garcia-161969.html
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[Farinha Rolão do Mesmo Saco].
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Zé Maria

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Jogada Ensaiada Contra a Aposentadoria
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Valor e Folha abrem Artilharia a favor
da Defórma da Previdência de Bolsonaro;

Silêncio em relação a julgamento de ADIs no STF
é Quebrado em defesa de Confisco Salarial e
Progressividade de Alíquotas, inclusive para Taxação
dos Aposentados, quando falta só o Voto de Gilmar
que pediu Vista e pode desempatar o Placar de 5×5.

Mesmo assim, até o momento, estão sendo derrubadas,
entre outras questões, as possibilidades de cobrança
de contribuição extraordinária e de que as alíquotas
para aposentados, aposentadas e pensionistas incidam
sobre o valor acima de um salário mínimo – e não acima
do teto do Regime Geral, como era antes da reforma.
Está empatada em cinco votos a cinco a votação
sobre a progressividade das alíquotas.

https://sintrajufe.org.br/valor-e-folha-abrem-artilharia-a-favor-da-reforma-da-previdencia-de-bolsonaro-silencio-em-relacao-a-julgamento-de-adis-no-stf-e-quebrado-em-defesa-de-confisco-salarial-e-progressividade/
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