Caitlin Johnstone: Assange está livre, mas sem justiça

Tempo de leitura: 3 min

Liberdade não significa Justiça para Assange nem fim da perseguição a jornalistas

Justiça seria que os EUA nunca mais pudessem usar seu poder e influência globais para destruir a vida de um jornalista; Justiça seria que as violações denunciadas por Assange fossem punidas

Por Caitlin Johnstone*, em seu blog/Tradução: Vanessa Martina-Silva, Diálogos do Sul  

Julian Assange está livre. No momento em que escrevo, ele está a caminho das Ilhas Marianas do Norte, um território remoto dos EUA no Pacífico Ocidental, para finalizar um acordo judicial com o governo dos EUA, que resultará em uma sentença de tempo já cumprido na prisão de Belmarsh.

Salvo qualquer manobra obscura do império durante o processo, ele retornará ao seu país natal, a Austrália, como um homem livre.

Importante notar que, de acordo com especialistas que comentaram sobre esse episódio surpreendente, não parece que seu acordo judicial estabelecerá novos precedentes legais que sejam prejudiciais aos jornalistas no futuro.

Joe Lauria relata o seguinte para o site Consortium News:

“Bruce Afran, um advogado constitucional dos EUA, disse ao Consortium News que um acordo judicial não cria um precedente legal. Portanto, o acordo de Assange não colocaria em risco os jornalistas no futuro de serem processados por aceitar e publicar informações confidenciais de uma fonte devido ao acordo de Assange.”

Protesto pela liberdade de Assange em Londres em 12 de novembro de 2022 (Foto: Alisdare Hickson)

Obviamente, estou muito emocionada em relação a tudo isso, já que acompanho este importante caso de muito perto e por todo o tempo que tenho me dedicado a escrever sobre ele.

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Há muito, muito trabalho a ser feito em nossa luta coletiva para libertar o mundo das garras da máquina imperial assassina, mas estou exultante por Assange e sua família, e é bom marcar uma vitória sólida nesta luta.

Nada disso desfaz os males imperdoáveis que o império infligiu em sua perseguição a Julian Assange, nem reverte os danos mundiais causados ao fazer dele um exemplo público para mostrar o que acontece a um jornalista que conta verdades inconvenientes sobre o governo mais poderoso do mundo.

Assange livre, mas sem Justiça

Embora Assange possa estar livre, não podemos dizer corretamente que Justiça foi feita.

Justiça seria Assange receber um perdão completo e incondicional e ganhar milhões de dólares em compensação do governo dos EUA pelo tormento que imposto a ele, com sua detenção na prisão de segurança máxima de Belmarsh, no Reino Unido, desde 2019, sua prisão de fato na embaixada do Equador desde 2012, e sua detenção e prisão domiciliar desde 2010.

Justiça seria os EUA promoverem mudanças legais e políticas concretas que garantissem que Washington nunca mais pudesse usar seu poder e influência globais para destruir a vida de um jornalista estrangeiro por relatar fatos inconvenientes sobre o país, e emitirem um pedido formal de desculpas a Julian Assange e à sua família.

Justiça seria a prisão e o julgamento das pessoas cujos crimes de guerra Assange expôs, e a prisão e julgamento de todos que ajudaram a arruinar sua vida por expor esses crimes.

Isso incluiria uma série de operativos e oficiais do governo em vários países e múltiplos presidentes dos EUA.

Justiça seria uma recepção de herói e honrarias de herói por parte da Austrália em sua chegada, e uma séria revisão da relação servil de Canberra com Washington.

Justiça seria desculpas formais a Assange e sua família dos conselhos editoriais de todos os principais meios de comunicação que fabricaram consenso para sua perseguição cruel — incluindo e especialmente o The Guardian — e a completa destruição das reputações de todos os jornalistas prostitutos que ajudaram a difamá-lo ao longo dos anos.

Se essas coisas acontecessem, então poderíamos talvez argumentar que a justiça foi feita até certo ponto.

No estado atual, tudo o que temos é a cessação de um único ato de depravação por parte de um império que só está recuando para abrir espaço para novas e mais importantes depravações.

Ainda vivemos sob uma estrutura de poder global que mostrou ao mundo inteiro que destruirá sua vida se você expuser sua criminalidade, e depois recuará e orgulhosamente chamará isso de justiça.

Então, pessoalmente, acho que vou aceitar essa pequena vitória com um rápido “obrigada” aos céus e voltar ao trabalho.

Ainda há muito a fazer, e pouquíssimo tempo para fazê-lo.

A luta continua.

Caitlin Johnstone

*Caitlin Johnstone é jornalista independente da Austrália

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Zé Maria

Assange Livre e a Hipocrisia Desavergonhada
da Mídia Corporativa e dos Estados Unidos

Por Ângela Carrato*, no Viomundo:( https://t.co/dXInSoXD8K)
https://x.com/VIOMUNDO/status/1806348112593645582

Para jornalistas e pessoas que realmente prezam a liberdade de imprensa,
Assange é o maior herói deste início de século XXI, pois foi capaz de
desmascarar a hipocrisia de governos como o dos Estados Unidos (EUA),
além de apontar os riscos que o poderio das grandes empresas de
informática (ainda não se usava o termo big techs) significava para
a democracia.

É importante recuperar alguns aspectos da trajetória e da luta de Assange para se entender o que estava e continua em jogo.

Ao contrário do que a mídia afirma, Assange nunca foi um hacker, no sentido popular do termo…

Apesar de a Primeira Emenda da Constituição dos EUA garantir
a liberdade de imprensa, vários ocupantes da Casa Branca tentaram
criminalizar veículos e jornalistas por divulgarem suas ações e seus podres.

Só que não obtiveram sucesso.

Foi assim no que ficou conhecido como Caso Watergate, em que dois
repórteres do Washington Post mostraram as ligações da Casa Branca
com a espionagem de adversários.
A série de reportagens levou à renúncia do então presidente Richard Nixon,
em agosto de 1974, para se livrar do processo de impeachment.

Foi assim também com os chamados Papéis do Pentágono, em que a partir
do vazamento de 14 mil documentos ultrassecretos do governo dos Estados Unidos sobre a história do planejamento interno e da política nacional
adotada pelo país na época da Guerra no Vietnã, a Casa Branca tentou
incriminar o responsável pelo vazamento, Daniel Ellsberg.

Analista militar, Ellsberg foi o responsável por um dos vazamentos de
documentos mais impactantes da história estadunidense, ao provar
décadas de mentiras contadas por presidentes sobre a guerra no Vietnã.
Como Assange, ele também foi acusado de espionagem, roubo e
conspiração.

Mas no seu julgamento, em 1973, o caso foi encerrado com base na má
conduta do governo que para obter informações, invadiu o consultório
do seu psiquiatra, em busca de evidências que o incriminassem.

As acusações contra Assange poderiam ter tido igual desfecho, pois
não faltaram más condutas dos governos dos EUA e do Reino Unido
contra ele.

Por que isso não aconteceu?

Tudo indica que a Casa Branca optou por transformar Assange em
um “exemplo” para criminalizar e atemorizar quem pensasse em novos
vazamentos de documentos secretos.

É importante lembrar que em 2013 veio à tona a espionagem que
um dos órgãos de inteligência dos Estados Unidos, a NSA, fazia
em todo o mundo.

O responsável foi um funcionário terceirizado, Edward Snowden
que, como Assange, é um gênio em informática e se mostrou
indignado com a invasão da privacidade de milhares de pessoas,
entre elas chefes de Estados como a então primeira-ministra alemã,
Angela Merkel, e a presidente brasileira, Dilma Rousseff.

A NSA também espionava empresas estratégicas, como a Petrobras,
no período em que se preparava para fazer os primeiros leilões de
campos do pré-sal.

Snowden e Assange são heróis.

Exatamente por esse motivo, os Estados Unidos precisavam criminalizá-los.

Assange estava na penitenciária de segurança máxima Belmarsh,
em Londres, e passou a ser considerado uma espécie de inimigo
público número um dos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo em que a pressão da Casa Branca se intensificava
para que fosse extraditado e julgado em Washington, em todo o mundo
movimentos sociais entravam na luta em defesa de sua libertação.

Assange estava na penitenciária de segurança máxima Belmarsh,
em Londres, e passou a ser considerado uma espécie de inimigo
público número um dos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo em que a pressão da Casa Branca se intensificava
para que fosse extraditado e julgado em Washington, em todo o mundo
movimentos sociais entravam na luta em defesa de sua libertação.

Nunca houve argumento que justificasse a prisão de Assange.
Como jornalista, ele tinha direito de divulgar as informações que
obteve e o governo dos Estados Unidos nunca disse que o que
divulgou era mentira ou não correspondia à realidade.

Tanto nos Estados Unidos como na maioria dos países e mesmo
no Brasil prevalece o sigilo da fonte.

Vale dizer: o jornalista não tem que divulgar quem lhe forneceu dados
ou informações, arcando, no entanto, com a veracidade ou não do que
divulgar.

Assange não deveria ter ficado preso um único dia. Ficou sete anos exilado
na embaixada do Equador, sem poder ir, sequer, ao jardim, e passou outros
cinco preso.

Como os Estados Unidos não dão ponto sem nó, qual o motivo de sua
libertação agora e da forma rápida como aconteceu, surpreendendo
até seus advogados?

Em todo esse processo, o que sempre esteve em jogo foram os interesses
e a hegemonia dos Estados Unidos no mundo.
E foram eles que falaram mais alto para o presidente Joe Biden, que disputa
a reeleição, tentar tirar proveito do caso.

Nesta quinta-feira (27/6) acontece o primeiro debate entre ele e Donald
Trump, com vistas às eleições presidenciais de novembro.

Ambos não foram ainda oficializados como candidatos por seus partidos,
mas é para garantir condições para tanto que Biden deu sinal verde para
a negociação com os advogados de Assange.

Biden sabe que, para vencer, precisa melhorar sua imagem junto a setores
progressistas do Partido Democrata e do próprio eleitorado, especialmente
após os desgastes do envolvimento dos Estados Unidos na guerra da
Ucrânia contra a Rússia (na realidade uma guerra por procuração dos
EUA contra a Rússia) e o apoio que dá ao genocida primeiro-ministro
de Israel Benjamin Netanyahu, contra os palestinos na Faixa de Gaza.

Do outro lado do Atlântico, o Reino Unido tem eleições marcadas para
o próximo dia 4 de julho.

Todas as pesquisas apontam para a derrota do Partido Conservador,
no poder a 14 anos, e para a vitória dos Trabalhistas.

Como o Reino Unido é uma monarquia parlamentarista, o nome mais
destacado dos trabalhistas para assumir o governo é Keir Starmer,
líder da oposição, conhecido advogado e defensor dos direitos humanos.

Se Biden quis tirar proveito da situação de Assange, o mesmo pode se dizer
dos conservadores ingleses.

Eles temiam que, uma vez no poder, os trabalhistas adotassem, como
uma de suas primeiras medidas, libertar o fundador do WikiLeaks.

Daí a rapidez e a sintonia absoluta entre a atuação das autoridades
estadunidenses e as inglesas.

Assange está livre.

Para ele e para todos nós que lutamos por sua liberdade, isso é o mais
importante.

Ele precisa e merece um tempo para se recuperar e decidir se quer ou não
continuar nesta luta.

Independente de qual seja a sua decisão, a contribuição dele foi imensa
e vale frisar que parte dela nunca é devidamente mencionada.

Foi ele que, em 2011, num diálogo com o então presidente do Google,
Eric Smith, denunciou o poderio das grandes empresas de tecnologia
e como elas colocavam em risco a democracia, se não fossem devidamente
reguladas.

Esse diálogo está publicado no livro “Quando o Google Encontrou
o WikiLeaks” (2015), que inclui reflexões essenciais e super atuais
envolvendo o poder das big techs, as redes sociais e o potencial
para desinformar nelas presentes.

Assange está livre.

Mas a luta que travou, com ou sem ele, precisa ter continuidade.

Mais do que nunca, os Estados Unidos tentam se valer do poder das
big techs para manter sua hegemonia num mundo em profunda
transformação.

Além dos segredos de estado, é essencial agora desvendar os segredos
das guerras híbridas, entender como se dá a articulação entre redes
sociais e o convencimento das massas, entre dominação e inteligência artificial.

Sem isso, podemos dar adeus à democracia.

* Ângela Carrato é Jornalista, Escritora e Professora do Departamento
de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG.
Co-Autora do Livro “Jornal Nacional – Um Projeto de Poder: A Narrativa
que Legitimou a Desconstrução da Democracia Brasileira” (com Eliara
Santana & Juarez Guimarães) e Co-Organizadora de “Mídia, Docência
e Cidadania” (com Dalmir Francisco).
https://m.media-amazon.com/images/I/715LbNXgVsL._SL1477_.jpg
https://m.media-amazon.com/images/I/61GEy-MReDL._SL1297_.jpg

Íntegra: https://t.co/dXInSoXD8K
https://www.viomundo.com.br/politica/angela-carrato-assange-livre-e-a-hipocrisia-desavergonhada-da-midia-e-dos-eua-antes-e-agora.html

Zé Maria

Jornalismo Zero!

E a Globo Lavajatista, repetindo o que fez com o Jornalista Glenn Greenwald,

chamou Julian Assange de ‘Hacker’ no Jornal NaZional, possivelmente

para abrir Precedente para justificar a Quadrilha de Moro e Dallagnol.

.

Zé Maria

Excerto

“Há muito, muito trabalho a ser feito em nossa luta coletiva
para libertar o mundo das garras da máquina imperial assassina,
mas estou exultante por Assange e sua família, e é bom marcar
uma vitória sólida nesta luta.

Nada disso desfaz os males imperdoáveis que o império infligiu
em sua perseguição a Julian Assange, nem reverte os danos
mundiais causados ao fazer dele um exemplo público para
mostrar o que acontece a um jornalista que conta verdades
inconvenientes sobre o governo mais poderoso do mundo.”

.

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