Jeferson Miola: Porto Alegre é vítima de 20 anos de gestões neoliberais catastróficas

Tempo de leitura: 3 min
Foto: @Gilvan Rocha/Agência Brasil

Porto Alegre é vítima de 20 anos de gestões neoliberais catastróficas

Por Jeferson Miola, em seu blog

A população de Porto Alegre está pagando com muita destruição, perdas e dor o preço de duas décadas de governos conservadores e neoliberais que destruíram as estruturas públicas, sucatearam serviços essenciais e deixaram a cidade totalmente desprotegida diante deste evento climático severo.

Desde 2005, com José Fogaça/MDB, até a atual gestão de Sebastião Melo/MDB, passando por José Fortunati/PDT e Nelson Marchezan/PSDB, o bloco de poder que domina a cidade desenvolveu um processo incremental e contínuo de desajustes neoliberais com privatizações, concessões, extinção de órgãos técnicos fundamentais, terceirização de serviços e destruição da inteligência técnica da Prefeitura em planejamento urbano, saneamento, zeladoria e outras áreas críticas.

O DEP, Departamento de Esgotos Pluviais, foi extinto em 2018 sem que suas funções tenham sido restabelecidas pelo atual governo, que deu continuidade ao processo de desmonte.

E o DMAE, Departamento Municipal de Águas e Esgotos, ano a ano foi sendo modulado para ser entregue a grupos privados, mesmo sendo eficiente e superavitário.

Atualmente, o DMAE funciona com apenas 1/3 do quadro de funcionários que, aliás, estão sendo fundamentais para garantir o abastecimento de água e regularização das estações de bombeamento, a despeito das imensas dificuldades de trabalho criadas pela gestão Melo-bolsonarista do órgão.

O resultado de duas décadas de gestões neoliberais catastróficas deixou Porto Alegre à deriva neste evento climático, quando se sabe que a cidade poderia ter sido protegida e não seria inundada se a Prefeitura não tivesse sido irresponsável e negligente.

O governo municipal foi negacionista e não valorizou as previsões de enchentes, que tal qual uma profecia, acabaram confirmadas.

A Administração Melo também não tomou providências mínimas, de baixo custo, comezinhas até, de manutenção do sistema de proteção contra enchentes – como, por exemplo, usar parafusos de pressão e borrachas de vedação nas comportas.

Apoie o VIOMUNDO

Esta negligência é agravada pelo fato de que durante as enchentes de setembro e novembro de 2023 o governo constatou que as falhas de manutenção causaram o alagamento da cidade mesmo com o Guaíba nas cotas de 3,16m e 3,48m naqueles meses.

E agora, no repique de chuvas e enchentes ocorrida no 24º dia do evento climático –que, importante dizer, não terminou, continua em desenvolvimento – a Prefeitura falhou novamente, deixando a população em pânico com alagamentos inclusive nos bairros elevados, que não tinham sido atingidos até então, mas que também foram atingidos devido ao colapso do sistema de drenagem e esgotamento pluvial e sanitário.

Desde a semana passada as previsões meteorológicas indicavam alta possibilidade dessas chuvas intensas que ocorreram na 5ª feira, 23/5.

Apesar disso, o governo não implementou as medidas preconizadas por especialistas, que consistiam em empregar mergulhadores para vedar as comportas, fazer o fechamento hermético dos Condutos Forçados do sistema de esgotamento de água, e consertar as bombas das estações de bombeamento, a maioria delas funcionando precariamente ou desligadas.

Mas, além de não realizar os procedimentos técnicos necessários, em 17/5 a Prefeitura decidiu derrubar a comporta 3 do Muro da Mauá, deixando a cidade ainda mais exposta à inundação. Uma medida absurda, contestada por renomados especialistas e executada por um governo que é causa do problema, não da solução.

A Administração Sebastião Melo representa o ápice catastrófico de 20 anos de gestões neoliberais de Porto Alegre, que deixaram a capital gaúcha submersa na lama de incompetência, negligência e omissão.

Leia também

Deputado gaúcho denuncia a negligência de Sebastião Melo: ‘Hora de responsabilizar os culpados’

Jeferson Miola: Incompetência e irresponsabilidade da Prefeitura causam re-inundação de Porto Alegre

Jeferson Miola: Não é catástrofe, é crime

Jeferson Miola: Prefeitura não adota soluções que acelerariam fim da inundação de Porto Alegre

“Se sistema de proteção de enchentes tivesse funcionado, Porto Alegre não seria inundada”, afirma especialista

Jeferson Miola: A responsabilidade da Prefeitura na catástrofe de Porto Alegre

Jeferson Miola: Melo e Leite são culpados pelos efeitos horripilantes da catástrofe

‘A Prefeitura foi negligente. Drenagem de Porto Alegre está entregue aos interesses comerciais’, denuncia engenheiro; vídeo

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

.

Os Bolsonaristas Gaúchos Poderiam Criticar

a Esquerda Sem Mentir, mas Não Conseguem.

.

Adriano Teixeira Melo de Souza

Realmente, de 1985 aos dias atuais (39 anos passados), o PT teve prefeitos em Porto Alegre por 20 anos e o PDT esteve 12 anos no comando, em 32 anos PT e PDT NÃO FIZERAM NADA. PPS com Fogaça ficou uma gestão, PSDB com Marchezam uma gestão e MDB só agora uma vez. A culpa é de quem mesmo???? PT e PDT em 32 anos destruíram Porto Alegre e não fizeram nada para impedir as inundações, esta é a única verdade.

Zé Maria

O plenário da Câmara dos Deputados aprovou, na noite de quarta-feira (22), o projeto de lei (PL 4731/23), das Deputadas Federa Petistas Gleisi Hoffmann (PR) e Maria do Rosário (RS), que concede isenção de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para eletrodomésticos da chamada linha branca e alguns móveis a moradores de áreas atingidas por desastres naturais, como o que assola o Rio Grande do Sul. Isto é, estes produtos ficarão mais baratos para essas pessoas. 

O texto, que agora seguirá para o Senado, prevê que produtos como fogões de cozinha, refrigeradores, máquinas de lavar roupa, tanquinhos, cadeiras, sofás, mesas e armários, desde que fabricados no território nacional, sejam isentos de IPI no momento da venda à população atingida por tragédias como alagamentos e deslizamentos de terra, entre outros. 

Além das pessoas físicas, serão beneficiados pela isenção os microempreendedores individuais (MEIs) residentes ou com domicílio fiscal em municípios cuja calamidade pública ou situação de emergência tenham sido reconhecidos pelo Executivo Federal.

https://revistaforum.com.br/politica/2024/5/23/petistas-aprovam-reduo-dos-preos-de-moveis-eletrodomesticos-para-vitimas-de-tragedias-ambientais-159295.html

Zé Maria

https://x.com/i/status/1793741149058027784

“Há culpados, sim, por essa Porto Alegre colapsada.

Misto de incompetência, precarização dos órgãos públicos,
negacionismo climático.

É uma avalanche de desastres e está nítido que Melo
não sabe como reagir ou orientar o povo.

Toda a vez que chover será assim?”

FERNANDA MELCHIONNA
Deputada Federal (PSol/RS)
https://x.com/FernandaPSOL/status/1793741149058027784

.

Zé Maria

.

“A tentativa do senador General Mourão
de [tentar] explicar a sua ausência no RS
durante a calamidade é patética.

Ele, que fala grosso e está em forma
quando o assunto é dar golpe de estado,
acha que é desvio de função estar no estado
junto à população, que está imersa e
correndo risco de vida.

FERNANDA MELCHIONNA
Deputada Federal (PSol/RS)
https://x.com/FernandaPSOL/status/1794056948725223836

Zé Maria

https://x.com/i/status/1793753899129847836

Zé Maria

.

https://x.com/i/status/1794161484299403758
Panelaço FORA MELO!
Em Porto Alegre/RS
https://x.com/matheuspggomes/status/1794161484299403758

.

Zé Maria

O Presidente Lula tem Elementos Suficientes
para Decretar Intervenção Federal no Estado.

Zé Maria

Editorial Sul21

Mais uma vez Porto Alegre está debaixo d’água e sua população sofre os efeitos das escolhas políticas feitas nos últimos anos.

Após seguir implantando, na capital gaúcha, a cruzada neoliberal que vem parasitando o Estado nos últimos anos, o prefeito Sebastião Melo (MDB) já esgotou seu estoque de desculpas e evasivas. Na entrevista coletiva que convocou às pressas, na tarde de quinta-feira (23),

Melo disse que não foi pego de surpresa pela chuva de hoje, que choveu mais do que estava sendo previsto e procurou terceirizar responsabilidades, uma das últimas estratégias discursivas que lhe restam.

Na verdade, tamanho foi o estrago que a atual gestão promoveu nas estruturas públicas capazes de enfrentar um problema da dimensão e complexidade deste que estamos enfrentando que talvez pouca coisa pudesse fazer mesmo para evitar os danos de hoje.

Poderia, é claro, ao menos ter alertado a população, como um comandante digno do nome teria alertado seu povo para se preparar para um novo bombardeio.
Nem alertou nem estava preparado para enfrentar a nova onda de chuvas.

Melo pediu que se cobrasse responsabilidades também de outros prefeitos da região, do Estado, da União.

Em nenhum momento, porém, assumiu a responsabilidade pelas escolhas (e omissões, que também são escolhas) que fez como prefeito. Em nenhum momento olhou nos olhos da população e fez um gesto que é singelo, mas que exige coragem e compromisso com a natureza pública que o cargo exige: pedir desculpas, admitir que fez escolhas erradas.

O mesmo padrão de comportamento, aliás, é adotado pelo governador do Estado, Eduardo Leite (PSDB), que, entre outras façanhas, também vem promovendo um desmonte de estruturas públicas fundamentais para a qualidade de vida da população e a destruição da legislação ambiental no Estado.

Sebastião Melo e Eduardo Leite, porém, não são representantes de si mesmos, mas sim de setores sociais que se autointitulam “elite” do Estado.

Entidades empresariais urbanas e rurais, com seus braços em grandes meios de comunicação e espaços formadores de opinião são cúmplices desse projeto que apresenta sua fatura agora para toda a população de uma forma cruel e injusta.

Nada disso é exatamente novidade.

O Sul21, que este ano completou 14 anos, vem sendo testemunha, repórter e cronista de boa parte dessa história.

E esse trabalho agora adquire uma dimensão muito mais desafiadora.

O trabalho de reconstrução do Rio Grande do Sul passará a ocupar um lugar cada vez mais importante nos próximos dias, meses e anos.
Há um curto, médio e longo prazo que se cruzam.
E essa reconstrução não é só física.
Ela também é emocional e conceitual.

Uma das formas mais garantidas para que a tragédia atual se repita (como, aliás, vem se repetindo nos últimos meses, e se repetiu nesta quinta em Porto Alegre), é não apurar responsabilidades e debater como chegamos até aqui.

O Sul21 pretende contribuir com esse processo, por meio do trabalho investigativo de sua equipe de jornalistas e do espaço de debates que mantém aberto à toda a comunidade.

Estamos vivendo dias tristes e trágicos.

Nestes dias sombrios, carregados de angústia, ansiedade e desesperança, sempre é bom lembrar nossos melhores momentos, que expressam nossas mais generosas e ricas potencialidades.

Lembrar, por exemplo, que em janeiro de 2001, Porto Alegre foi sede da primeira edição do Fórum Social Mundial, resultado de uma articulação local e internacional de movimentos, organizações e coletivos de diferentes áreas com um propósito comum: buscar alternativas às políticas neoliberais que comandavam, então, a vida política e econômica das nações.
8E que, em larga medida, segue comandando.

Mas Porto Alegre foi palco de uma experiência que desafiou esse modelo.

O lema “Um outro mundo é possível” apontava para a busca de alternativas capazes de construir outro tipo de relações sociais, econômicas e políticas.

A solução é, então, fazer outra edição do Fórum Social Mundial aqui e os problemas se resolverão?
Certamente que não.

Até porque não há soluções mágicas e rápidas para enfrentar o problema que estamos vivenciando que tem uma dimensão local – o desmonte do Estado, do serviço público e da legislação ambiental em Porto Alegre e no RS – e uma global, a da emergência climática que passou a fazer parte do nosso cotidiano.

Em 2001, centenas de pessoas vieram a Porto Alegre movidas pela esperança de que era possível fazer diferente.

Agora, 23 anos depois, Porto Alegre recebe de novo a visita generosa de moradores de outros estados e de outros países, movidos agora pela solidariedade.

Talvez esteja aí a combinação de que precisamos: o casamento da esperança com a solidariedade para voltar a fazer da capital do Rio Grande do Sul uma referência internacional de vida, coragem e criação e não de morte, irresponsabilidade e destruição como virou hoje.

Essa decisão está nas mãos de sua população.

Porto Alegre, 23 de maio de 2024.

https://sul21.com.br/opiniao/2024/05/porto-alegre-afundou-com-melo-e-agora-editorial-sul21/

Deixe seu comentário

Leia também