Militares torturaram e mataram jornalistas durante a ditadura

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Os jornalistas Vladimir Herzog e Luiz Eduardo da Rocha Merlino foram mortos sob tortura pela ditadura militar. Vlado, em 25 de outubro de 1975. Merlino, no dia 19 de julho de 1971. Fotos: Reprodução

Militares perseguiram, prenderam, torturaram e mataram jornalistas durante ditadura

Por Lúcia Rodrigues, no Holofote Notícias

Hoje, 7 de abril, é o Dia do Jornalista.

Mas nem sempre foi fácil levar a informação à população. Nos Anos de Chumbo vários jornalistas pagaram com a própria vida por exercer o seu papel.

Vladimir Herzog, o Vlado, e Luiz Eduardo da Rocha Merlino são dois dos mortos sob tortura pelos verdugos do regime militar.

Ambos foram assassinados no DOI-Codi de São Paulo, o principal centro de tortura da ditadura, e onde até hoje funciona a 36ª Delegacia de Polícia, na rua Tutóia, 921, no Paraíso, zona sul da capital paulista.

Nos dois casos, a ditadura tentou montar uma farsa acusando-os de cometer suicídio.

Para Vlado, disseram que a morte teria sido provocada por enforcamento.

Versão desmentida pela própria foto divulgada, em que ele aparece pendurado pelo pescoço com as pernas dobradas.

Em relação a Merlino, os militares o acusaram de ter se jogado sob um veículo quando tentava fugir da repressão.

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Fato desmentido pelos demais presos políticos que estavam detidos no mesmo local e o viram praticamente morto após as sessões de tortura.

Seu corpo não foi entregue à família. O cunhado de Merlino, que era delegado de polícia, conseguiu localizá-lo no IML e impediu que fosse enterrado com nome falso e engrossasse a lista de desaparecidos políticos da ditadura.

À época Merlino era repórter da Folha da Tarde do grupo Folha e Herzog, diretor de jornalismo da TV Cultura e professor da ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo).

Assista a seguir vídeo de 1983, em que o então comandante Militar do Planalto, general Newton Cruz, agride o jornalista Honório Dantas durante entrevista.

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Zé Maria

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“Lutadores Gaúchos Contra a Ditadura Militar
são Homenageados na Câmara de Porto Alegre
em Exposição sobre o Golpe de 1964”

Abertura da Mostra “Por Memória, Verdade &
Justiça” reforça necessidade de “Não Esquecer
Para Que Nunca Mais Aconteça”

Ato Reuniu Defensores da Democracia e Personagens
da Resistência no Período da Ditadura Militar (1964-85)

[Reportagem: Marcelo Ferreira & Jorge Leão | Brasilde Fato]

O ato oficial de abertura da exposição “Por Verdade, Memória e Justiça”,
em exibição na Câmara de Vereadores de Porto Alegre durante esta
semana, reuniu defensores da democracia e personagens da resistência
no período da ditadura militar, na noite desta quarta-feira (3).

Inspirada no “Projeto Caminhos da Ditadura em Porto Alegre”, a Mostra
reúne banners com fotos e textos que contam a história de locais da Capital
considerados emblemáticos durante o regime militar, como o Dopinho,
a Esquina Maldita, Ufrgs, Praça Argentina e a Esquina Democrática.

A exposição foi garantida a partir do gabinete do Vereador Giovani Culau
e Coletivo (PCdoB) e, conforme o vereador, se relaciona com a importância da luta pela democracia na atualidade.

Durante a cerimônia ele destacou a bravura de ex-vereadores do partido
e militantes que se opuseram contra a ditadura.

Foram homenageados Raul Carrion, José Loguércio, Antônia Mara Vieira
Loguercio, Carmen Lopes, Jussara Cony, Sérgio Bittencourt e a Associação
de Ex-Presos e Perseguidos Políticos do RS.

“Denunciar o golpe, os seus 60 anos e as barbaries que o nosso povo viveu
é fundamental para que se tenha uma memória pela não repetição
no presente e tampouco no futuro.
Esse é um país que violentou, que estuprou, que torturou, que matou,
que perseguiu, que tirou o mandato de quase 5 mil parlamentares
no país inteiro” afirma Culau.

“Nossa luta é contra o apagamento, contra o silenciamento, justamente
para que a gente possa construir reparação e impedir com que novas cenas
como as do passado se repitam”, complementa.

O vereador critica que a exposição foi “ameaçada de censura”.

Segundo ele, a autorização para que ela começasse no dia 1º de abril
quase não aconteceu.

“A autorização só chegou após a denúncia, a repercussão pública
e a pressão produzida.
E é importante destacar o tratamento diferenciado que foi dado
a essa exposição em relação às demais.
Nenhuma exposição passa por deliberação da mesa diretora.
Essa foi encaminhada para a mesa diretora pelo seu conteúdo e isso revela
a importância da exposição desse ato e da nossa luta por democracia.”

“A gente tem que contar a história”

Ex-vereadora no final do regime ditatorial pelo PCdoB, dirigente do partido,
integrante da União Brasileira de Mulheres e presidenta estadual do Centro
Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Jussara
Cony, foi uma das homenageadas.

Emocionada, ela recorda de quando foi eleita pela primeira vez em 1982
e, junto de um grupo liderado pelo ex-vereador André Foster, ocupou
a Casa “que estava praticamente um arcabouço só” a fim de dar
“os primeiros passos para que hoje nós tenhamos essa Câmara Municipal
de Porto Alegre, aqui nesse espaço, com condições inclusive de movimentos
sociais participarem”.

Ela destacou a participação popular no ato e disse ter se identificado
com a exposição fotográfica, “em vários quadros desses aqui, pela luta
histórica, desde os meus 14 anos como movimento estudantil, é um espaço
de contar a história.
A gente tem que contar a história, a gente tem que fazer com que
a juventude conheça a história, para nunca mais esquecer para que
nunca mais aconteça”.

Vinda de família ferroviária, bisneta de uma indígena, Jussara afirma que
a maior riqueza humana e cultural do país, os negros e os indígenas, foram
os mais atacados e oprimidos no regime militar.
Aponta que atualmente as lutas identitárias ganham força em meio a uma
“intensa luta de classe”.

“Essas lutas entremeadas, elas têm que ser contadas a partir exatamente
de todo um processo da história desse país.
Porque nós vivemos escravidão nesse país.
Nós vivemos uma ditadura militar que, olha, só quem viveu para dizer
o significado, por exemplo, dos nossos mortos desaparecidos,
corpos não encontrados.”

Ela lembra também das mulheres, “Marielles, onde ainda são mortas,
como mataram Margarida Alves, a irmã Dorothy, na época da ditadura
militar”.

Ressalta que as mulheres são a maioria da população e maioria
nos movimentos sociais, “mas nos parlamentos nós somos sempre
a minoria”, o que considera uma opressão dupla.

“Por isso que eu digo que a nossa emancipação é o caminho para
a emancipação de toda a sociedade.

Porque se nós somos oprimidas como classe, oprimidas como gênero, se
somos negras, oprimidas como raça, etnia, se somos indígenas também.”

“O Brasil não podia continuar do jeito que estava”

Militante do PCdoB e no movimento comunitário, Carmen Lopes
também foi uma das homenageadas.

Ela iniciou suas atividades políticas em 1968, quando era estudante,
em São Paulo e foi presa duas vezes.

“Naquela época eu tinha iniciado a minha faculdade de ciências sociais
na USP.
Tomamos a Maria Antônia, fizemos mil coisas para poder mostrar que
o Brasil estava todo errado.
O Brasil não podia continuar do jeito que estava.
Foi aí que eu conheci o PCdoB, foi aí que eu tomei consciência, porque
eu era uma moça naquele tempo, uma guria, mais ou menos desligada.
Eu não me conformava que alguns podiam ter um monte de pé de sapato
e alguns não tinham nenhum”, recorda.

Em 1971, estava envolvida com o “jornalzinho da faculdade”.
Não demorou muito e o grupo foi descoberto pela repressão militar.
Ela recorda que ao voltar da faculdade para casa, um namorado de
sua prima estava da sua casa e disse: “Carmem, volta porque a polícia
está na tua casa”.
Foi quando começou a “peregrinação de se esconder”.

Lembra que foi até o partido, contou o que estava acontecendo
e perguntaram se ela queria ir para a Guerrilha do Araguaia.

“Eu não tinha condição de subir, fui covarde.
Aí eu desci, vim cair aqui em Porto Alegre, para continuar no movimento
estudantil aqui.
Aí eu estava aqui já há uns dois, três meses, eu nem me lembro direito.
Eu vim em julho, eu vim no inverno, e eu fui presa em fevereiro”, conta.
Tempo depois, foi presa novamente.

Dessa vez “a coisa foi pra valer mesmo”, afirma.
“Fui torturada, foi um horror.
Mas o que eles me queriam era em São Paulo, porque aqui eu não tinha nada,
não tinha absolutamente nada.
Fui até a auditoria, naquele tempo a gente era ouvida pelo juiz da auditoria
militar, e não tinha o que contar mesmo.
Aí me levaram pra São Paulo, a minha família já tava me esperando,
tava sabendo que eu tava presa, porque minha família ficou oito meses
sem saber o que tava acontecendo comigo, se eu tava viva, se eu tava
morta”, prossegue.

Carmem continua lembrando dessa época, das torturas e meses de prisão.

Mas conta também que conheceu seu marido do Dops.

“Agora sábado nós fazemos 50 anos de casados.
Tive uma filha que se chama Elenira, em homenagem à minha amiga,
que é nossa militante também.
Pra quem tá me ouvindo, eu não sei que privilégio é esse que eu tive
na vida de estar aqui”, diz, lembrando de “tanta gente boa, maravilhosa,
linda, maravilhosa que se foi, que foi morta”.

Sobre a homenagem, realizada pela nova geração, saúda as “sementes”
que foram plantadas no passado.

“Elas estão crescendo, estão emocionando a gente e fazendo esse tipo
de homenagem para que a gente possa sentir que o que a gente fez
não foi em vão, não vai ser em vão e não é em vão, vai ser sempre
um momento de alegria apesar de toda a tristeza que a gente viveu,
mas a gente tem certeza que nós plantamos muitas sementes por
esse Brasil afora e hoje elas estão vivendo e brilhando e nascendo
e crescendo e plantando outras sementes”, finaliza.

“O projeto de esquecimento vem sempre junto com a violência”

Cidara Loguercio Souza, filha de ex-presos políticos, parabenizou
a iniciativa, que considera “extremamente importante, assim como
tantas iniciativas que a gente tem hoje aqui da sociedade civil para
rememorar o que foi o golpe e a ditadura”.

Ela recebeu a homenagem em nome de sua mãe, a juíza aposentada
Antônia Mara Vieira Loguercio.
Se considera uma “filha da resistência”, e também foi militante
desde cedo.
“É muito importante, porque as novas gerações precisam entender
que esse nosso país que chega hoje, com a estrutura que chega,
com as desigualdades e a violência que chega, não vem do nada.
Vem de mais de 524 anos de muita violência”, afirma.

Hoje Cidara trabalha na área da memória e, segundo ela, diz sempre
que as pessoas falam muito em inovação, e que os jovens têm uma
característica em todos os tempos de acharem que a vida e as coisas
importantes e interessantes começam com eles.

“Eu acho que é uma característica da juventude achar que nada que
veio antes é tão interessante e importante como o que eles vão fazer
dali para frente.
E quando a gente, então, encontra jovens como esses que construíram
essa exposição e que estão aqui com toda essa noção de memória,
de historicidade, de reverência a quem veio antes, é um encontro
potente”, avalia.

Ela defende a necessidade da memória “porque na nossa sociedade,
criada em cima da colonialidade junto com a violência, vem sempre
o projeto de esquecimento e esse projeto vem sempre junto com a
violência, para a gente não saber quem é, de onde a gente veio e
por que vale a pena lutar por esse território e pelo povo daqui.”

Edição: Katia Marko

https://www.brasildefators.com.br/2024/04/04/lutadores-contra-a-ditadura-sao-homenageados-em-exposicao-sobre-o-golpe-na-camara-de-porto-alegre

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Zé Maria

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A Ditadura Militar Torturou e Assassinou Jornalistas

com Auxílio Prestimoso da Imprensa Fasci-Paulista.

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