Marcelo Zero: Empresa de combustíveis dá bofetada na soberania do Brasil

Tempo de leitura: 3 min
Presidente Lula durante reunião com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia, Sergey Lavrov, no Palácio da Alvorada, em 22 de fevereiro de 2024. Fotos: Reprodução e Ricardo Stuckert/PR

Empresa dá Bofetada na Soberania do Brasil

Por Marcelo Zero*

Esse caso da empresa brasileira de combustíveis que se recusou a reabastecer o avião do chanceler russo Lavrov é muito grave.

Lavrov não veio ao Brasil como cidadão comum, para fazer turismo.

Não. Veio, como convidado oficial, representando a Rússia, país com o qual o Brasil mantém estratégicas relações bilaterais, para participar da reunião do G-20, sob presidência do nosso país.

Somos os anfitriões dessa reunião.

Um país anfitrião tem de tratar bem seus convidados. Prover segurança, facilitar deslocamentos, assegurar hospedagem etc.

Lavrov é diplomata em missão oficial. Por homologia, teria de aplicar-se a ele o artigo 29 da Convenção Viena sobre Relações Diplomáticas, qual seja:

Artigo 29

A pessoa do agente diplomático é inviolável. Não poderá ser objeto de nenhuma forma de detenção ou prisão. O Estado acreditado trata-lo-á com o devido respeito e adotará todas as medidas adequadas para impedir qualquer ofensa à sua pessoa, liberdade ou dignidade.

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Assim, a recusa dessa empresa em reabastecer pode ser vista um impedimento ilegal para que o Estado brasileiro pudesse cumprir o disposto nessa importante convenção.

Afinal, trata-se uma empresa brasileira, atuando em solo brasileiro, que tem de obedecer apenas às nossas leis.

O Brasil, frise-se, não aderiu às sanções impostas pelos EUA e alguns aliados à Rússia.

E não o fez por uma razão muito simples. As únicas sanções consideradas legais são aquelas aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU.

Por conseguinte, ante o direito internacional público e a ordem internacional, essas sanções contra a Rússia são ilegais.

Em 2019, tivemos um problema semelhante com dois navios iranianos no porto de Paranaguá, que estavam carregando milho brasileiro para o Irã.

A Petrobras se recusou, durante algum tempo, a reabastecê-los, com medo de sanções dos EUA. O Irã, maior importador de milho do Brasil, ameaçou não importar mais.

O Brasil, tradicionalmente, se opõe a sanções econômicas, comerciais e financeiras que não tenham sido aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU, mas utilizadas à larga por EUA e aliados.

Muito embora elas não tenham a dramaticidade de bombardeios e tiroteios, as sanções são mecanismos bastante eficientes para causar sofrimento e mesmo para eliminar a população civil de um determinado país ou países.

Estudo publicado na prestigiada revista Lancet, em 20 de agosto de 2018, (Economic sanction: a weapon of mass destruction – “Sanções Econômicas: uma arma de destruição em massa”) mostra que, somente no Iraque, as sanções, combinadas com os efeitos da guerra de vários anos, mataram cerca de 1,5 milhão de iraquianos.

No caso das sanções contra a Rússia, elas tiveram e têm, combinadas com a guerra, um forte efeito disruptivo sobre o mercado mundial de energia, fertilizantes e alimentos, que prejudica quase todo o mundo.

A Europa, em particular, vem sendo bastante afetada,

No ano passado, os Serviços Científicos (Wissenschaftliche Dienste) do Parlamento Alemão publicaram um relatório sobre os efeitos dessas sanções na Europa e Alemanha.

As conclusões foram inquietantes:

– Os países da UE não são capazes de compensar as perdas económicas causadas pelas sanções contra a Federação Russa.

-Em primeiro lugar, isto diz respeito aos sectores da energia e das matérias-primas. O enorme aumento dos preços destes recursos está a causar sérios danos à indústria. A indústria europeia está cada vez mais atrás da concorrência global.

– Com a introdução de sanções contra a Rússia, o processo de desindustrialização da Europa está a acelerar. Os elevados subsídios governamentais na UE começaram durante a pandemia e continuam durante o período de sanções. No entanto, estes elevados subsídios contribuíram para o crescimento da dívida pública e alimentaram ainda mais a inflação.

-Esta combinação de inflação e recessão está a conduzir a uma crise económica na Europa que continuará por muitos anos. Isto resultará numa perda permanente de riqueza para as sociedades ocidentais.

Em contrapartida, a economia russa cresceu 3,6%, em 2023. Para este ano, as previsões mais pessimistas indicam que ela crescerá 2,5%. O sacrifício europeu e mundial é inútil, portanto.

Tudo isso torna ainda mais grave esse constrangimento e essa ofensa à Lavrov e à Rússia, em território brasileiro.

Como é possível que sanções unilaterais tenham efeitos extraterritoriais, em um país que a elas não aderiu? Como pode uma empresa constituída legalmente no Brasil se portar dessa forma?

Isso expõe uma grande fragilidade, em nossa soberania.

Amanhã, poderemos ser nós as vítimas dessas sanções unilaterais e ilegais. Nesse caso, ficaremos à mercê dessas empresas? É por essas e outras que a governança global precisa de profunda e urgente reformulação, como clama o Brasil.

Lavrov, cordato, eximiu o Brasil, os anfitriões, de qualquer culpa no episódio. É óbvio, o governo brasileiro não tem culpa.

Mas essa recusa dessa empresa em abastecer o avião de um convidado oficial do Brasil foi uma bofetada em nossa soberania. Uma bofetada que serve de advertência.

Leia também:

Roberto Amaral: Lula tem razão e expôs à luz do meio dia o cinismo da comunidade internacional

Marcelo Zero: Afinal, quando chegará o tempo da diplomacia?

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Comentários

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Raul Mass

Alô, Redação!Muito obrigado pela informação de que a Br Distribuidora (leia-se Postos Petrobras) foi vendida pelo governo passado, do inelegível.

Raul Mass

Muito obrigado pela informação de que a Br Distribuidora (leia-se Postos Petrobras) foi vendida pelo governo passado, do inelegível.
Li a noticia falsa pela Microsoft News, aquela que deforma

Zé Maria

.
.
No Caso Específico desse Boicote da
Empresa Vibra S/A (ex-BR Distribuidora)
o Governo Brasileiro deveria Expropriá-la,
por Interferência nas Relações Exteriores
do Brasil e Atentado ao Interesse Nacional.
.
.

Zé Maria

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Os Traidores da Pátria Brasileira entregaram o Petróleo do Pré-Sal,
a Eletrobrás e os Ativos Valiosos da Petrobrás – Refinarias, Gasodutos,
BR Distribuidora- e faliram Nossas Grandes Construtoras e Estaleiros.

Está na Hora de Recuperar o que nos foi Roubado pelos Lesas-Pátrias.

.

Zé Maria

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“O Retorno das Obras do COMPERJ já foi Anunciado.

Teve até Chilique da Globo News e do Estadão.”

https://twitter.com/Sindipetro_ES/status/1760662312715739174

.
[Adendo à Postagem de 24/02/2024 – 16h06]

Zé Maria

.

“A RLAM voltará para a Petrobrás!

Que a Petrobrás reestatize tudo!
RLAM, REMAN, LIQUIGAS, SIX, BR DISTRIBUIDORA…

Queremos tudo de volta!

Aliás, queremos mais!
Mais projetos da FAFEN, mais Refino,
novas explorações e mais Conteúdos Locais.

REESTATIZA TUDO, PETROBRÁS!”

https://twitter.com/Sindipetro_ES/status/1760306340314902558

.

Nelson

Algo que deveria ser de domínio público, até mesmo um pré-adolescente deveria saber disso: uma empresa privada não tem senso de comunidade ou de nação. Sua prioridade primeira, não raro a única, é a obtenção de lucros para seu dono e acionistas.

Não estou aqui a demonizar a empresa privada. Estou a expor como funciona a coisa no capitalismo, na realidade que vivemos, por detrás da espessa propaganda que é feita em prol do sistema dominante.

Então, à medida que as privatizações avançarem ainda mais, estaremos cada vez mais expostos a coisas desse tipo: as corporações passarão, a seu talante, a ditar o que deve ser feito, independentemente da opinião de governos e parlamentos. Em suma, independentemente da opinião popular.

Este é só mais um dos enormes prejuízos que as privatizações trouxeram ao nosso país e ao nosso povo. Contudo, os que detêm o poder seguirão, gozosamente, a afirmar que vivemos em uma democracia.

Joao Ferreira Bastos

Culpa desta maldita politica de conciliação do atual governo que deveria ter revertido, todas as privatizações e vendas de nossos ativos no dia 02.01.23

Raul Mass

Uai, por que vc não falou que essa empresa acaba de adquirir, em pleno governo Lula e do PT, via fundo Black Rock, a Petrobrás Distribuidora?

Zé Maria

“Em gravação encontrada pela Polícia Federal,
o tenente-coronel Mauro Cid afirma que
empresários ‘encorajaram Jair Bolsonaro a virar o jogo’
depois da derrota nas urnas.
Cid cita os donos de três marcas famosas:
-Luciano Hang, da Havan;
-Meyer Nigri, da Tecnisa; e
-Afrânio Barreira, do Coco Bambu.

O militar também menciona ‘aquele cara da Centauro’
segundo a PF, uma provável referência a Sebastião Bomfim.”

“Geralmente, empresários grandes devedores de impostos
adoram um golpe de Estado, na esperança de um perdão
a suas dívidas.”

https://twitter.com/Lucianoteo2/status/1759246011652800543

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/FvnCbuvWAAA2Kp7?format=jpg

“A ‘Porta Giratória’ das Privatizações”

“Privatizando Lucros, Socializando Prejuízos.”

“Privatiza que ‘melhora’… pro Wilson”…

“Wilson Ferreira, foi presidente da Eletrobras
nos Governos Temer e Guedes/Bolsonaro.

Saiu em 2021.

Foi para onde?

É CEO da Vibra, que comprou
a BR Distribuidora da Petrobras.”

https://twitter.com/moreira_uallace/status/1528329116931567618

“O Caso da ex-BR Distribuidora

A Empresa da Petrobras foi Privatizada
para Grupo Liderado pela Cosan.

Tornou-se Vibra S/A com ação a R$ 26,88

e hoje acumula Queda de 45,5%.”

https://twitter.com/LuisNassif/status/1664241478753763330

https://pbs.twimg.com/media/FF99wSDXwAg-aqn?format=jpg
https://twitter.com/ORafaelBFreitas/status/1468030278367166467

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