Pedro Augusto Pinho: Que região do mundo terá em 2024 um ano feliz?
Tempo de leitura: 6 minPor Pedro Augusto Pinho*
Há um século vivíamos os anos loucos.
Refiro-me à década de 1920 tradicionalmente chamada de anos loucos pela burguesia se divertindo, pelas festas, pelo teatro, ignorando a formação do fascismo e do nazismo.
Acabara a grande guerra colonial europeia para conquista de territórios na África e Ásia, com a vitória dos Estados Unidos da América (EUA).
E daí vinham as características da década: sufrágio feminino, melindrosa, charleston e jazz, cinema, automóvel; ao lado da liberdade de costumes, lei seca e restrições aos imigrantes asiáticos e mesmo dos europeus pobres, que desejavam “fazer a América”.
Em 1918, surgia na Europa novo modelo político, social e econômico: o comunismo, na imensa Rússia dos czares.
A Europa se refazia das mazelas da guerra, especialmente a Alemanha, que deixava de ser o Império de 2.658.161 km², para ser a República de Weimar, com 468.787km².
Porém, o pior estava por vir: a crise da especulação financeira estadunidense (1929), que levou o mundo a forte depressão econômica, novas demandas políticas e surgimento de outras ideologias de poder.
A II Grande Guerra foi gerada nesses anos loucos, aos quais nem faltou uma epidemia: a “gripe espanhola”.
Pois nós estamos vivendo novos anos loucos, que coincidem a ascensão da direita e da extrema direita no mundo, com Donald Trump (EUA), Viktor Orbán (Hungria), Jair Bolsonaro (Brasil), Georgia Meloni (Itália) e Javier Milei. Ao mesmo tempo, com o massacre de Gaza por Israel e a decadência do dólar.
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Iniciados nos anos 2010, esses novos anos loucos já ameaçam com mais mutações do vírus da covid-19 e as irracionalidades da gestão financeira, que provocam pelo mundo afora guerras, fome, desemprego, miséria, desindustrialização, entre outras mazelas inexistentes quando o domínio visava a vida próspera, segura, civilizada.
O SÉCULO 21 A VOO DE PÁSSARO
O poder estadunidense da industrialização se desfez com o ataque neoliberal, construído desde o ambiente conturbado do entre guerras (1914-1939) e vitorioso nos anos 1980, com as desregulações financeiras e a divulgação da constituição da globalidade unipolar, o “Consenso de Washington”, fechando a década (1989).
Na última década do século 20, uma sequência de seis crises, provocadas para transferência de recursos do sistema produtivo e dos Estados Nacionais para os gestores de ativos, obrigou à sequência de guerras localizadas nos últimos 24 anos.
Logo em 2001, com a farsa da destruição de três torres em Nova York (EUA), deu início à “luta contra o terror”, caracterizada pelo ataque à religião islâmica.
Tem início a Guerra no Afeganistão (2002) e, com falso pretexto de armas de destruição de massa, a Guerra no Iraque (2003).
Seguem-se a sucessão de movimentos, insuflados pelas organizações de inteligência anglo-estadunidense-francesas, que tomaram o nome de “Primaveras Árabes”, pois atingiam países predominantemente islâmicos: Tunísia, Líbia, Egito e Síria.
Também foram atingidos outros países da África (Quênia e Nigéria), da eurásia (Chechênia, Paquistão e Ucrânia).
Mais recentemente, para manter em permanente conflito o Oriente Médio, a principal província petroleira do mundo, implodiu a Guerra de Israel contra o povo palestino, que já se alastra para o Líbano.
O assédio do sistema financeiro internacional a países africanos e asiáticos tem sido permanente, ora com movimentações militares ora com bloqueio, sanções e outras atividades econômicas.
Pode-se resumir que a característica deste século é a batalha das finanças apátridas contra os Estados Nacionais, a industrialização e o desenvolvimento tecnológico fora do mundo unipolar.
Antes de discorrer sobre personagens, países, organizações internacionais, efeitos econômicos, sociais e políticos desta batalha, cabe uma reflexão sobre a questão da energia.
A ENERGIA NO MUNDO CONFLITUOSO
O grande desenvolvimento, obtido pelos EUA a partir do término da Guerra da Secessão (1861-1865), deveu-se à singularidade da descoberta de petróleo (1859) em território estadunidense.
Desse modo, dispondo da melhor fonte de energia primária, pelo custo de obtenção e poder calorífico, os EUA puderam se industrializar mais ampla e rapidamente, atingindo a condição de potência na I Grande Guerra (1914-1918).
Ainda hoje, o petróleo é a mais utilizada fonte primária de energia, 52% da matriz energética mundial, seguido do carvão mineral (29%) e da biomassa (10%).
As pesquisas em curso para produção de energia atômica pela fusão nuclear poderão alterar esta matriz ainda neste século. Hoje a fissão nuclear responde por 5% da matriz mundial.
Portanto, a disponibilidade de petróleo é uma condição importante para o desenvolvimento dos países.
São quatro os principais polos petrolíferos no mundo.
O mais importante está no Oriente Médio, com a Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Catar, Omã e Síria. Também há referência a reservas na área marítima da Faixa de Gaza.
A segunda área de grandes reservas está na América do Sul, com o país da maior reserva mundial, a Venezuela, e significativas reservas no Brasil (pré-sal), no Equador, Colômbia e Argentina.
Em terceira posição está a Federação Russa e os países da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), que reúne 12 das 15 Repúblicas Socialistas Soviéticas.
A quarta grande concentração de reservas está na África, liderada pela Líbia e Nigéria, com Angola, Egito e Sudão.
Verifica-se que o centro do mundo unipolar: EUA, Reino Unido e União Europeia, além de não possuírem reservas significativas, não mais administram as maiores fontes de energia fóssil do mundo.
O carvão mineral é atualmente mais encontrado na China, Rússia, Índia, países dos BRICS, Austrália e EUA.
Esta situação explica a enorme campanha que, desde a década de 1970, as finanças apátridas movem contra o petróleo, imputando-lhe malefícios que nada têm a ver com seu uso, como as questões climáticas, decorrentes dos períodos glaciais e interglaciais, explosões solares e de outros fatores independentes da ação humana, como fendas geológicas, vulcões e tsunamis.
As energias eólica e solar, além de muito mais caras do que as fósseis, são intermitentes e necessitam do petróleo para seus funcionamentos.
O MUNDO QUE 2024 ESTÁ RECEBENDO
2024 inicia com os Brics ampliado e de modo muito significativo. Recorde-se seu início, congregando os países em forte desenvolvimento: Brasil, Rússia, Índia e China, aos quais logo se agregou a África do Sul.
Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos (EAU), Etiópia e Irã compõem o Brics10, que terá a Rússia na presidência deste ano.
Há cerca de 20 países candidatos a um lugar nesta Organização Internacional.
Com dados do Poder360 (“Brics ampliado terá quase metade da produção de petróleo global”, de Geraldo Campos Jr, em 03/09/2023) sem a Argentina, que decidiu não ingressar na Organização, o novo Brics10 produzirá 36,1 milhões de barris de óleo por dia e 1.325 bilhões de m³ de gás natural por ano, o que representa 45% do fornecimento mundial de petróleo.
No aspecto da projeção de poder, os Brics10 têm 46% da população do planeta e perto de 37% do PIB mundial.
Os Brics10 terão, no mundo político internacional, o apoio da Organização para Cooperação de Xangai (OCX).
Criada em 2001, a OCX era composta originalmente por China, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão e Uzbequistão. A esses países, em 2017, foram incorporados Índia e Paquistão e, em 2023, o Irã.
São partícipes da OGX, na condição de “Parceiros de Diálogo”, Arábia Saudita, Armênia, Azerbaijão, Camboja, Catar, Egito, Nepal, Sri Lanka e Turquia.
E como “Observadores”: Afeganistão, Bielorrússia e Mongólia.
Em 2024, a União Econômica Eurasiática (UEE) completará dez anos. Integram-na Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão, além de Cuba e Uzbequistão, como observadores.
Somando a estas organizações, a Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR), formada por 150 países, que completou dez anos em 2023, integrando por rede de projetos de infraestrutura a Ásia com a África, Europa e América, não resta dúvida de quem está no comando da grande transformação a se opor ao mundo unipolar.
As instituições de divulgação, doutrinação e coordenação do projeto financeiro neoliberal reconhecem as grandes dificuldades que enfrentarão neste ano.
O Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça), em janeiro de 2023, ouviu economistas de diversas procedências, de setores público e privado, e dois terços esperavam a recessão global.
A Europa perde sua posição de liderança envolvida na sua própria armadilha da guerra contra a Rússia, entrando no processo de desindustrialização, falta de suprimento de energia, desemprego e diversas manifestações populares, desde a Suécia até a Itália, contra os governos que se auto referiam como democráticos e liberais.
Não espanta a onda neofascista e da extrema direita política, religiosa e bélica a correr o Velho Continente e sua expressão armada: Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que pretende se expandir para o Pacífico.
Se a eleição nos EUA provoca apreensão com a possibilidade de vitória de Donald Trump, na Rússia é certa a recondução de Vladimir Putin, com 80% da população se manifestando a favor do defensor do povo e da cultura russa.
Na economia, a desdolarização deu mais um passo com os Brics10 e levará ainda a novas medidas com o possível aumento de membros na próxima reunião de agosto de 2024.
Surge na faixa do Sahel, na África, novo movimento de descolonização que encontrará nas Organizações encabeçadas pela China e Rússia o apoio que necessitará nos campos político, econômico, social e mesmo militar.
A Guerra na Ucrânia demonstrou que a Rússia está três gerações de armamentos à frente dos EUA. Diferença que não se resolve em um ano.
O feliz Ano Novo vai para o Oriente, como ocorreu antes da chegada dos europeus à América.
Se esta última ocupação durou 500 anos, quanto durará a reconquista do poder tecnológico e do comércio em vez da guerra?
*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.
*Este artigo expressa a opinião do autor e não necessariamente representa a do Viomundo
Comentários
Zé Maria
No 1º Dia do Mês Muharram estaremos entrando no Ano 1446
do Calendário Hegírico (Lunar Islâmico) que iniciou Contagem
na Data da Hégira, começo da Migração do Profeta “Abū al-Qāsim
Muḥammad ibn ʿAbd Allah ibn ʿAbd al-Muṭṭalib ibn Hāshim” da
Cidade de Meca para a de Medina, ocorrida no Dia 16 de Julho
do Ano 622 do Calendário Juliano.
Neste Ano de 2024 do Calendário Gregoriano, o Evento da Entrada
do Novo Ano de 1446 AH acontecerá no Dia 8 de Julho.
Espera-se que seja Motivo de Celebração para o Povo Muçulmano
do Mundo Inteiro.
https://www.vercalendario.info/pt/calendarios/calendario-islamico/comparar-1446.html
Zé Maria
Na China, Este é o Ano do Dragão
“No Dia 10 de Fevereiro de 2024 (4721 do Calendário Lunar Chinês)
vamos entrar em um Ano Marcado no Extremo Oriente pela Energia
do ‘Signo do Dragão’, com características do ‘Elemento Madeira’ e
da ‘Polaridade Yang’. Essa é a Referência Usada para as Festas
Populares de Ano Novo na China.
Segundo a Astrologia Chinesa Ba Zi e também pelo Feng Shui,
que considera o Dia 4 de Fevereiro de 2024 como o de Entrada
do Novo Ano 4721, seguindo o Calendário Solar Chinês, o Signo
do Dragão é um dos mais Imponentes e Nobres do Zodíaco Chinês, representando grande disposição para realizar o impossível.
o que significa que será um Ano de mais Otimismo e Ânimo para
concretizar Objetivos.”
https://www.personare.com.br/conteudo/astrologia-chinesa-entenda-como-funciona-m35840
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