Grito dos Excluídos e soberania nacional
Por Marcio Pochmann* (@MarcioPochmann), em perfil de rede social
Foi Machado de Assis (1839-1908) que identificou a clássica desconexão entre a narrativa oficial de país pretensamente europeu, branco e letrado, prevalecente no maior Império do continente americano, e a realidade nacional imposta pelo trabalho escravo, a miséria e o iletramento generalizados na majoritária população composta por indígenas, negros e miscigenados.
No ‘Diário do Rio de Janeiro’, em 29 de dezembro de 1861, Machado de Assis asseverou: “O país real, esse é bom, revela os melhores instintos; mas o país oficial, esse é caricato e burlesco”.
Mesmo com a abolição da escravatura (1888), a instalação da República (1889) e os avanços inegáveis decorrentes da passagem do longevo agrarismo para a moderna sociedade urbana e industrial ao longo do século 20, as diferenças entre o país oficial e real diminuíram, porém não desapareceram.
Aliás, tornaram-se, inclusive, mais complexas nos dias de hoje.
Em plena transição para a nova Era Digital, as assimetrias econômicas, sociais, políticas e culturais, internas e externas, ganharam maior relevo e emergência.
Por conta disso, a manifestação conduzida pelo Grito dos Excluídos, que desde 1995 reúne um conjunto de organizações e entidades comprometidas com a justiça social no dia da Independência Nacional, expressa a simbologia das lutas daqueles que ainda seguem invisibilizados no Brasil oficial.
Para o mesmo dia de celebração da data nacional, o presidente @LulaOficial seguirá para o importante desafio de passar a exercer a presidência do G20, órgão multilateral que reúne as principais economias do mundo, entre dezembro de 2023 e novembro de 2024.
Na bagagem seguirá o compromisso nacional de colocar em questão a pobreza e a desigualdade, a sustentabilidade do planeta com adoção de modelo soberano de desenvolvimento socioeconômico equânime.
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Para isso, fundamental avançar a nova governança mundial, capaz de superar narrativas oficiais destoantes da realidade da humanidade e do planeta.
*Marcio Pochmann é professor, pesquisador e atual presidente do IBGE
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