Jeferson Miola: Venda da CORSAN foi subavaliada em mais de R$ 1 bilhão, beneficiando grupos privados
Tempo de leitura: 3 minCORSAN foi subavaliada em mais de 1 bilhão na privatização
Por Jeferson Miola, em seu blog
A privatização, pelo governo Eduardo Leite/PSDB-MDB, da Companhia Riograndense de Saneamento, CORSAN, empresa responsável pelo abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto em 317 dos 497 municípios gaúchos, é alvo de inúmeras batalhas jurídicas e de desconfianças sobre falhas e irregularidades que causaram prejuízos relevantes ao Estado.
No seu parecer sobre a privatização desta empresa estatal, a conselheira do Tribunal de Contas do Estado/TCE Ana Moraes demonstrou que na valuation [arbitragem de valor] da CORSAN o Banco Genial cometeu “erros consideráveis”, que tiveram como efeito deletério a subestimação do valor real da Companhia no mercado.
O Banco Genial é uma das empresas do bloco de consultorias contratadas por R$ 41 milhões sem licitação pelo Executivo estadual para a modelagem da venda da empresa, quando tal avaliação poderia ser realizada, com confiabilidade e proteção dos interesses públicos, por técnicos e especialistas do próprio Estado.
Há uma projeção, para baixo, de mais de 1 bilhão de reais na projeção feita pelo Banco Genial na previsão de lucro líquido da CORSAN. A comparação simples e direta com os resultados econômicos efetivos e o desempenho comercial da empresa desmonta totalmente a aferição lesiva feita pela consultoria privada.
O Banco Genial projetou um lucro líquido em todo exercício de 2023 de ao redor de R$ 200 milhões; enquanto os resultados efetivos, disponíveis em tempo real nos demonstrativos da empresa, projetam um lucro líquido de 1,27 bilhão de reais – mais de R$ 1 bilhão acima do projetado.
Na explanação do seu voto durante sessão do TCE de 20 de julho, Ana Moraes informou que só no primeiro trimestre deste ano o lucro líquido da CORSAN já é maior que a projeção da consultoria para todo o exercício de 2023!
Este aspecto é essencial na definição do valor de mercado da empresa. A subestimação do lucro líquido, que pode ter sido uma conduta deliberada – e, portanto, dolosa, para beneficiar a AEGEA – subestimou o valor do patrimônio líquido da CORSAN em pelo menos um bilhão de reais, caracterizando grave lesão ao interesse público.
Durante a exposição do voto, a conselheira destacou que
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“É evidente que houve um grande impacto [na definição do valuation] em virtude de erros de projeção. Desse modo, é possível dizer que ao final do terceiro trimestre de 2022 já era perceptível que havia uma distorção. Não obstante a isso, o aviso de leilão número 1/2022 foi publicado em 29 de novembro de 2022 sem as correções das projeções das modelagens para fixar o valuation e o preço de referência para a formação de lances no leilão.
Ou seja, o gestor da CORSAN, mesmo tendo acesso em tempo real aos resultados financeiros e podendo fazer as correções ainda na fase interna da licitação, permaneceu silente quanto a estes fatos”.
A preocupação com a eventual ocorrência de ilícitos no processo de privatização da CORSAN fica implícita no parecer da conselheira Ana Moraes [aqui].
Tanto que seu parecer recomenda que além do Ministério Público Estadual, também a Polícia Civil seja cientificada do assunto, “para que exerçam, querendo, as suas competências, no que diz respeito ao disposto na Alínea A, desta parte expositiva” – item que elenca as irregularidades encontradas.
O TCE não está julgando a privatização da CORSAN em si, mas sim analisando os termos econômicos e financeiros desta operação, para que o Estado e a sociedade gaúcha não sejam lesados.
Mesmo que a privatização seja um dogma do governo ultraliberal comandado por Eduardo Leite, é inadmissível que esta obsessão ideológica ocorra com ilegalidades graves e o favorecimento obsceno de grupos privados em prejuízo de toda população.
O TCE demonstrou cabalmente que somente com a variável “lucro líquido” subestimada pelo governo tucano, o valor da CORSAN foi subestimado em R$ 1 bilhão, cifra que é irregularmente apropriada pelos novos donos.
Além deste fator que gera um subpreço bilionário, a subestimação também de outras variáveis que impactam na formação do valor de mercado da CORSAN corroboram o entendimento de que a privatização da empresa, além de representar um estelionato eleitoral do governador tucano, é um negócio ruinoso que beneficia grupos privados.
Leia também:
Jeferson Miola: Conselheira do TCE sugere polícia investigar privatização do governo Eduardo Leite
Jeferson Miola: Privatização da Corsan é caso de polícia, tem que ser anulada
Jeferson Miola e a obscura privatização da Corsan: Ligações indecorosas e informações privilegiadas
Comentários
Zé Maria
https://t.co/55IG8M1usq
https://twitter.com/JefMiola/status/1683478374482583552
https://jefersonmiola.wordpress.com/2023/07/24/negocios-obscuros-e-ligacoes-indecorosas-na-privatizacao-da-corsan/
Zé Maria
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Zé Maria
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“Foram apontados sérios problemas no ágio, na ‘valuation’ [Avaliação]
e possível uso de informação privilegiada, cujo potencial é de macular
o mercado de capitais e a venda de ações da CORSAN,
malferindo normas e princípios da Comissão de Valores Mobiliários (CVM),
a deslocar a competência da investigação à Polícia Federal (PF).”
“Eventuais crimes contra a administração pública, licitatórios e atos
de improbidade são de competência da Justiça comum, mas aqueles
que violam o mercado de capitais, o sistema financeiro nacional e
a ordem econômico-financeira são de competência da Justiça Federal.”
RODRIGO DOS REIS
Oficial do Ministério Público RS
https://twitter.com/_RodrigodosReis/status/1683349041055162370
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marcio gaúcho
Vale registrar que o comprador já declarou que os investimentos previstos para o ano e 2024 sairão do caixa gerado pela Corsan, sem necessidade de empréstimos. Negócio da China!
Zé Maria
https://twitter.com/AnaGarc74913873/status/1683821743813672961
Zé Maria
https://twitter.com/i/status/1682124993713393665
https://twitter.com/luizmuller/status/1682124993713393665
Zé Maria
https://twitter.com/i/status/1681461039903195136
Conselheira Ana Moraes, Relatora no Processo de Contas do TCE-RS,
vota pela ANULAÇÃO DO LEILÃO da Corsan.
O Conselheiro Estilac Xavier acompanhou o voto, formando maioria
da Primeira Câmara do Tribunal.
https://twitter.com/MiguelSRossetto/status/1681461039903195136
Zé Maria
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https://t.co/O7SuyCrbf
https://twitter.com/oCafezinho/status/1683496449781161985
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Zé Maria
Negócios obscuros e ligações indecorosas na privatização da CORSAN
Por Jeferson Miola, via O Cafezinho
A pedido do governo Eduardo Leite/PSDB-MDB, a privatização da CORSAN foi protegida por sigilo no Tribunal de Contas do Estado/TCE. Existem denúncias graves, que precisam ser apuradas. Afinal, a discrepância acerca do valor de venda atinge a cifra de bilhões de reais.
O sigilo, no entanto, retira a transparência pública essencial para o escrutínio do processo e para a apuração das irregularidades denunciadas que, se confirmadas, representam importante lesão ao interesse público. A falta de transparência legitima, portanto, as suspeitas sobre o negócio.
Entregue à empresa AEGEA por R$ 4,1 bilhões, a Companhia foi subavaliada em mais de um bilhão de reais na privatização, conforme manifestação da conselheira do TCE Ana Moraes na sessão de 20 de julho.
Estudos econômico-financeiros do SINDIÁGUA/RS mostram que o real valor de mercado da CORSAN estaria na casa dos oito bilhões de reais.
Além das irregularidades e ilegalidades apontadas pelo TCE, que inclusive motivaram a conselheira Ana Moraes a recomendar a investigação da privatização da CORSAN pela Polícia Civil, o processo também traz à tona as teias de influência e as relações promíscuas e indecorosas de funcionários públicos com agentes e grupos privados.
AEGEA detinha informações privilegiadas
A AEGEA atua na CORSAN desde 2012, e atuou na modelagem de Parcerias Público-privadas na Região Metropolitana de Porto Alegre, aspecto chave na formação do valor de mercado da empresa.
Durante o primeiro governo Leite [2019/2022], a AEGEA ainda se associou à CORSAN nas PPP’s e assumiu o controle do setor comercial da Companhia.
De acordo com a Resolução 44 da Comissão de Valores Mobiliários, a AEGEA sequer poderia ter participado da licitaçao para a compra da CORSAN. Curiosamente, no entanto, foi o único consórcio participante do certame.
A Resolução da CMV diz que “É vedada a utilização de informação relevante ainda não divulgada, por qualquer pessoa que a ela tenha tido acesso, com a finalidade de auferir vantagem, para si ou para outrem, mediante negociação de valores mobiliários”.
Com base neste dispositivo legal, no seu parecer de 2 de maio de 2023 o procurador do Ministério Público de Contas junto ao TCE, Geraldo da Camino, destacou esta ilegalidade concernente à AEGEA, pois a empresa detinha informações privilegiadas que automaticamente inabilitariam sua participação na “negociação de valores mobiliários”.
Consultoria trabalhou ao mesmo tempo para a CORSAN e para a AEGEA
As consultorias privadas têm um capítulo próprio no esquema nebuloso de privatização da CORSAN. Foram contratadas sem licitação e por valores exorbitantes, mesmo o governo podendo contar com o trabalho de servidores qualificados do próprio Estado para arbitrar, com confiabilidade e observância ao interesse público, o valor correto da CORSAN.
Dentre as contratadas constam o Banco Genial, que subestimou o valor da Companhia em R$ 1 bilhão de reais, e recebeu R$ 5,6 milhões; a PricewaterhouseCoopers, que embolsou R$ 5,4 milhões; e outras mais, dentre elas a Alvarez & Marsal Consultoria, agraciada com R$ 10,3 milhões.
O caso da Alvarez & Marsal [A&M], empresa na qual o ex-juiz suspeito e ainda senador Sérgio Moro trabalhou, é emblemático da promiscuidade obscena e ilegal na relação entre o público e o privado.
Contratada pela CORSAN desde 19/9/2020 para a modelagem da privatização, a partir de julho de 2021 a A&M passou a prestar serviço, simultaneamente, também à AEGEA, que arrematou a Companhia em dezembro de 2022.
Ainda conforme apurado pela bancada do PT na ALERGS, tem outro caso escabroso, de Rafael Bicca Machado, sócio fundador da consultoria Carvalho, Machado e Timm Advogados, que recebeu R$ 5,3 milhões, e é irmão de André Bicca Machado, Diretor da AEGEA Saneamento.
Porta giratória: ex-procurador-geral do MP virou Diretor da AEGEA
Em 7 de dezembro de 2022 o ex-procurador-geral do Ministério Público Estadual Fabiano Dallazen anunciou sua exoneração do MP, quando inclusive disputava a indicação a desembargador do Tribunal de Justiça do RS pelo quinto constitucional.
“Fechei meu ciclo no MP. Sou muito grato a essa instituição, mas surgiu uma proposta boa e decidi aceitar”, disse ele à imprensa, surpreendida com a informação.
A “proposta boa” que fez Dallazen renunciar ao MP aos 49 anos de idade e 25 de carreira é o cargo de Diretor de Relações Institucionais da AEGEA. Falou alto o fetiche de se transformar naquilo que matéria do portal Outras Palavras chama de “barão do saneamento básico” – o beneficiário de renda milionária que parasita nas privatizações do patrimônio público.
Numa rapidíssima passagem pela porta giratória, Dallazen pulou para o balcão da AEGEA menos de duas semanas depois de anunciar a exoneração do MP.
Sem cumprir qualquer quarentena.
Em 20 de dezembro de 2022, dia do leilão em que seu novo empregador arrematou a CORSAN com um ágio ínfimo de 1,15%, Dallazen já figurava nos quadros da AEGEA.
Em artigo no Estadão de 21/12/2022 o Oficial do MP/RS Rodrigo dos Reis destaca que “a situação em si chama bastante atenção, já que o Ministério Público é a instituição responsável por fiscalizar os Planos Municipais de Saneamento Básico e os respectivos contratos dos 497 municípios do Rio Grande do Sul”.
Apesar disso, escreve Reis, o MP “não foi autor de nenhuma medida judicial e tampouco instaurou procedimento investigatório para apurar eventual irregularidade no processo de venda do patrimônio público”.
Para Arilson Wünsch, presidente do SINDIÁGUA, o fato de Dallazen assumir como dirigente da AEGEA deixa “mais evidente porque todas as ações encaminhadas ao MP/RS para impedir a venda da Corsan foram arquivadas”.
Wünsch recorda que o MP teve uma postura institucional estranhamente “diferente dos procedimentos de outros órgãos públicos, como o Ministério Público de Contas do Estado, o TCE, o TJ/RS e o TRT, que emitiram posicionamentos liminares que exigem a garantia da legalidade e transparência nesse processo”.
Irmão gêmeo do presidente do TCE é Diretor do BANRISUL
O presidente do TCE, o ex-deputado emedebista Alexandre Postal/MDB, foi decisivo para a consolidação da privatização da CORSAN, como desejava o governo Leite.
No dia 7 de julho passado, em decisão considerada ilegal e anti-regimental por alguns dos seus pares e pelo procurador do Ministério Público de Contas junto ao TCE, Postal derrubou monocraticamente a medida cautelar que impedia o governo do Estado assinar contrato com a AEGEA enquanto as supostas ilegalidades e irregularidades do processo não fossem julgadas pelo Tribunal.
Após tal decisão do presidente do TCE, o governador Leite finalmente pôde assinar o contrato que sacramentou a entrega da CORSAN para o Grupo AEGEA.
Escuta-se nos corredores da ALERGS que a contestada decisão de Postal tenha a ver com o fato do seu irmão gêmeo Fernando Postal ser Diretor Comercial de Distribuição e Varejo do BANRISUL, instituição controlada pelo governo do Estado, que tem um emedebista como vice-governador.
A privatização da CORSAN, do mesmo modo como se observa em praticamente em todos processos que envolvem a apropriação privada do patrimônio público, está envolta em suspeitas, interesses cruzados e lógicas que ferem os princípios legais, éticos e republicanos e lesam o interesse público.
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Zé Maria
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Zé Maria
LEILÃO DA CORSAN PODE SER INVESTIGADO PELA POLÍCIA FEDERAL
“Eventuais crimes contra a administração pública, licitatórios
e atos de improbidade são de competência da Justiça comum,
mas aqueles que violam o mercado de capitais, o sistema financeiro
nacional e a ordem econômico-financeira são de competência
da Justiça Federal.”
“Análise técnica de três (03) Conselheiras apontou uma série de possíveis irregularidades, consistentes em omissão do gestor, erros, falhas contábeis e vícios relevantes no processo de licitação, o que pode desnudar a ocorrência de eventuais crimes licitatórios, contra a administração pública e atos de improbidade, todos de competência da Justiça comum.”
“Parecer do Ministério Público de Contas (MPC) é no mesmo sentido, reforçando análise técnica das Conselheiras e chamando atenção a prejuízos certos e irreversíveis ao Estado, acaso o leilão se efetive
e não seja anulado.”
“Contudo, foram apontados sérios problemas no ágio, na valuation e possível uso de informação privilegiada, cujo potencial é de macular o mercado de capitais e a venda de ações da CORSAN, malferindo normas e princípios da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a deslocar a competência da investigação à Polícia Federal (PF).”
“Leis que regulam a matéria, o Direito Comparado (EUA/Europa) e a jurisprudência do STJ/STF discorrem sobre exemplos/precedentes fixando a competência da Justiça Federal à investigação de insider (e insider trading) e crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira.”
Rodrigo dos Reis
Oficial do Ministério Público RS
Zé Maria
Água Não é Mercadoria Destinada ao Lucro Privado.
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