Marcelo Zero: A paz é tarefa para líderes verdadeiros como Lula; adulado pela mídia, Zelensky aparenta descompromisso com a verdade e as negociações

Tempo de leitura: 4 min
Em 2 de março de 2023, Lula falou por videoconferência com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Na ocasião, o presidente brasileiro reiterou a disposição de participar de esforços para reunir um grupo de nações capazes de conversar com ambos os lados do conflito para promover a paz na região. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Zelensky, adulado pela mídia ocidental, não tem a liderança de Lula

Marcelo Zero*

Zelensky parece fazer parte da pior categoria de políticos que há hoje no mundo: a dos políticos que não se reconhecem como tal.

A dos políticos que chegam ao poder com o discurso demagógico e falseador da “antipolítica”, da “anticorrupção”, e que se apresentam como “antissistema”.

Como Bolsonaro et caterva, essa legião de políticos brasileiros que chegou ao poder com esse discurso falso, enganador e profundamente pró status quo, pró “sistema”, Zelensky também se elegeu com esse tipo de discurso.

Como todos sabem, Zelensky era um comediante de êxito, que fazia muito sucesso criticando a corrupta classe política da Ucrânia e seus oligarcas.

A partir de 2015, seu grupo de comediantes, o Kvartal 95, iniciou uma série televisiva intitulada “O Servo do Povo”, na qual Zelensky interpretava um simples professor do ensino médio, que ascende ao poder após uma fala sua contra a corrupção, filmada em sala de aula, se tornar “viral” na internet.

A série, obviamente inspirada em alguns filmes norte-americanos, foi um estrondoso sucesso.

Poucos anos depois, a vida imitou a arte e Zelensky se elegeu com o mesmo discurso de suas comédias, isto é, criticando os oligarcas e a corrupção e se apresentando como uma alternativa impoluta à “política” e ao “sistema”.

Como sói acontecer nesses casos, sua campanha foi feita substancialmente pela internet, particularmente pelo Instagram.

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Assim, Zelensky faz parte dessa categoria ubíqua, e frequentemente destrutiva, do chamado “populismo de direita”, o qual representa, em muitos países, uma ameaça à democracia.

Como também sói acontecer nesses casos, Zelensky foi acusado das mesmas práticas que criticava.

Os “Panamá Papers” revelaram que Zelensky e seu grupo de comediantes mantinham fundos em paraísos fiscais, como Chipre, Belize e Ilhas Virgens Britânicas. Típico caso de um provinciano e contraditório político populista.

Ao contrário de Lula, que tem uma liderança internacional construída por anos de dedicação a uma agenda mundial na área social e pelo Sul Global, Zelensky, não fosse o conflito na Ucrânia, teria permanecido um político sem praticamente nenhuma influência internacional.

O conflito, no entanto, lançou-o a um estrelato mundial construído pela mídia ocidental.

Subitamente, o superficial político populista ucraniano, o antigo comediante, transformou-se num grande herói da “democracia”.

Pois bem, essa estrela da mídia, que desfila pelo mundo em seu uniforme militar, não parece ter muito compromisso com a verdade e com negociações.

Na reunião do G7, deu um “drible” no presidente Lula, após pressioná-lo a ouvir a “versão ucraniana do conflito”.

Pouco tempo depois, colocou a culpa no Brasil pela reunião não ter ocorrido. Fez tudo para desgastar Lula e a posição do Brasil em prol de negociações de paz.

Também fez pouco caso das iniciativas pela paz do próprio Papa Francisco.

Em seu encontro com o Sumo Pontífice, Zelensky insistiu na necessidade de fortalecer a Ucrânia com armas e não deu muita atenção ao oferecimento dos serviços do Papa em prol da paz. Saiu de Roma afirmando que a Ucrânia não precisa de intermediários.

Essa autossuficiência de Zelensky é explicável. Ele conta com o apoio multibilionário dos EUA e da Otan e é sistematicamente adulado pela mídia ocidental.

Mesmo a maior parte da mídia brasileira, que insiste em ignorar as causas últimas do conflito e as legítimas reivindicações da população russa da Ucrânia, frequentemente incensa Zelensky e critica Lula, por não aderir ao esforço de guerra da Otan e por propor negociações de paz.

A tese que intenta justificar a sabotagem da paz é simplória e desconectada da realidade. A Rússia, sem motivo plausível algum, a não ser o de dominar o seu vizinho, invadiu a Ucrânia.

Portanto, o conflito só pode acabar de uma única forma: com a rendição incondicional da Rússia e com Putin tendo de aceitar todas as exigências de Zelensky e dos EUA.

Essa é a tese de quem, na prática, não quer negociações e paz.

Na realidade, o que se quer com essa posição é simplesmente prolongar e intensificar a guerra, de forma a “derrotar definitivamente a Rússia” e tentar “derrubar Putin”.

É também uma tese que repousa numa suposta superioridade moral e política do “Ocidente”.

Os EUA, a Otan e a Ucrânia seriam os representantes da democracia e da civilização, enquanto a Rússia e seus aliados, como as China, seriam representantes das bárbaras e incivilizadas “autocracias”. Como tal, precisariam ser estrategicamente derrotados.

Tal visão de superioridade é extremamente perigosa e poderia, no limite, redundar em um conflito mundial nuclear.

Ademais, a guerra, mesmo em sua dimensão atual reduzida, já vem afetando muito a economia mundial e as populações mais pobres do planeta.

Por isso, a maior parte os países do mundo, que obviamente não está incluída na Otan, tem posição semelhante à do Brasil e apoia iniciativas como as de Lula e do Papa Francisco, verdadeiros líderes internacionais.

A posição de quem quer insistir numa derrota militar da Rússia e na intensificação crescente da guerra é minoritária no mundo, apesar de toda a propaganda da mídia ocidental.

A grande maioria das nações do planeta está muito mais interessada em se desenvolver, em superar a pobreza e a fome e em se empenhar na luta contra as mudanças climáticas e os desequilíbrios ambientais.

Não tem interesse algum na Guerra da Ucrânia e na nova Guerra Fria, que tendem a esterilizar os seus esforços.

Assim, a tentativa arrogante dos EUA, de alguns países europeus e do próprio Zelensky de impor a guerra aos demais países e de condenar a neutralidade, vista falaciosamente como uma posição “pró-Rússia”, é rejeitada amplamente, na maior parte do globo.

Zelensky, mesmo tendo se transformado numa grande celebridade mundial, não tem liderança política reconhecida fora da esfera de influência da Otan, não importa quantos likes receba em suas redes e quantos seguidores tenha.

A bem da verdade, é apenas uma liderança secundária, derivada e subsidiária da força bélica e midiática dos EUA e aliados.

Nessa condição, Zelensky e outras autoridades ucranianas sequer parecem se importar muito com o sofrimento da população ucraniana, a principal vítima do conflito.

Parecem obcecadas em derrotar militarmente a Rússia, custe o que custar.

Essa é uma tarefa impossível, sem uma escalada brutal do conflito, que o transforme numa nova guerra mundial e que sacrifique boa parte dos habitantes da Ucrânia.

Em contrapartida, a paz, ou, pelo menos, um cessar-fogo, é possível. Possível e desejável.

No entanto, essa é uma tarefa para lideranças verdadeiras e responsáveis, que saibam ouvir e negociar, sem demonizar ninguém e sem se encastelar em rígidas posições de suposta superioridade moral.

Uma tarefa para líderes e políticos verdadeiros como Lula e outras lideranças do Sul Global.

*Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.

Leia também:

Paulo Nogueira Batista Jr: Guerra e paz na Ucrânia; vídeo

Marcelo Zero: Ameurus, objetivo é enfraquecer a Rússia para enfrentar a China

Flávio Aguiar: Insistindo na ”paz”, Brasil busca restaurar credibilidade e prestígio

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