Qualquer semelhança com o Brasil é mera coincidência

Tempo de leitura: 3 min

por Jenaro Villamil, no livro “El Sexenio de la Televisa”

“A televisão é feita para os fodidos, os que não podem divertir-se de outra maneira, não para os ricos como eu que temos muitas possibilidades, nem para os que lêem revistas de crítica política, mas para os fodidos, que não lêem e aguardam que chegue o entretenimento”.

Com esta filosofia arrasadora, Emilio Azcárraga Milmo, o Tigre, se defendeu nos anos oitenta diante das críticas constantes à falta de qualidade da programação da Televisa. Seu herdeiro, Emilio Azcárraga Jean, não mudou muito esta concepção, treze anos depois de ter assumido o comando do império midiático. Em todo o caso, cumpriu ao pé da letra com uma de suas ordens mais importantes: abandonar a subordinação política da Televisa, deixar de ser “soldado do PRI”, para ficar apenas sob as ordens da medição de audiência.

[A Televisa é a rede de TV dominante no México e o PRI, Partido Revolucionário Institucional, governou o país continuamente de 1929 a 2000]

“Este é um negócio. O fundamental, a cara desta empresa é a produção de entretenimento, depois da informação. Educar é trabalho do governo, não da Televisa”, afirmou Azcárraga Jean em março de 1997. (Processo, no 1063, 23 de julho de 2007). E foi mais além na definição de suas prioridades: “E mais, não creio que ter relações com personalidades da política nos vá beneficiar no que importa. Eu creio na audiência”.

A sacralização do entretenimento e da audiência, como fórmula para evitar qualquer compromisso com melhor qualidade e diversidade de conteúdos, aliada ao menosprezo pelas audiências — os “fodidos” –, a quem se infantiliza ou se assume como consumidores dóceis, formam parte do credo dos Azcárraga.

A diferença entre uma geração e outra é a mudança na fórmula da televisão comercial e a transformação paulatina das audiências, que deixaram de ser receptoras impávidas para transformar-se em uma audiência diversificada, em busca de novas alternativas frente à asfixia do monópolio televisivo.

O império consolidado por Azcárraga Milmo se baseou numa fórmula clássica herdada do modelo de broadcasting estadunidense: entretenimento, informação e publicidade. A educação não fez parte deste modelo. Para isso, de acordo com o artífice da Televisa, existem o Ministério da Educação e seu telecurso; as universidades e seus raquíticos orçamentos para meios eletrônicos. De forma que toda a engenharia dos conteúdos televisivos deve ficar subordinada aos ditames da comercialização da tela.

A tela governada por Azcárraga Milmo foi a da era da televisão analógica, onde em 6 megahertz de banda cada frequência pode transmitir de maneira unilateral um só tipo de serviço e de conteúdos midiáticos. As audiências são receptoras impávidas, as “multidões solitárias” ligadas ao televisor, em alguma parte do domicílio.

Os conteúdos eram bem diferenciados entre ficção e não ficção. Os gêneros do entretenimento se concentraram nas telenovelas — o produto de maior venda da Televisa desde as radionovelas de Emilio Azcárraga Vidaurreta –, os espetáculos musicais que expandiam seus tentáculos até a indústria fonográfica e os esportes, especialmente o futebol, onde a Televisa é o juiz e início, meio e fim de um grande negócio.

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Os gêneros de informação se concentraram basicamente nos telejornais e seu produto de marca, 24 horas, considerado durante décadas o boletim oficial do regime mexicano [nota do Viomundo, a “ditadura perfeita” do PRI], mas também espaço de negociação da Televisa com os poderes políticos, econômicos e religiosos.

A publicidade não ficou apenas nos segmentos de anúncios comerciais, mas até a década de 90 a área de vendas estava separada da área de conteúdos e de informação da Televisa. A mudança fundamental neste sentido se produziu nos finais daquela década: quando a vice-presidência de Comercialização começou a ter maior ingerência nos conteúdos não só de entretenimento mas informativos.

A tela governada por Emilio Azcárraga Jean pertence à era da neotelevisão,  ou seja, a televisão que mescla os gêneros de ficção e não ficção, que apaga as fronteiras entre o entretenimento, a informação e a publicidade, para gerar produtos híbridos: infoentretenimento, infomerciais, advertainment.

Os gêneros da neotelevisão tem a característica principal de acentuar a hiperrealidade, transformar a tela em uma janela em tempo real — como gostam de dizer os produtores — e capturar o espectador não a partir de uma programação clássica, mas de novos produtos baseados em uma mescla de ficção e realidade, melodrama e publicidade, informação e espetáculo.

PS do Viomundo: No livro, do qual voltaremos a tratar, o autor acusa a Televisa de vender espaço em sua programação, inclusive nos noticiários, para governadores de Estado; e de ter recebido milhões para promover o governador do estado do México e presidenciável do PRI, Enrique Peña Nieto, um dos favoritos para se eleger em 2012.

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Globo: Todo poder ao jornalismo para preservar o poder « Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Tratamos do assunto em dois posts, aqui e aqui. […]

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[…] PS do Viomundo: Muitas das alegações mais antigas sobre a Televisa constam no livro “O Sexênio da Televisa”, de Jenaro Villamil, sobre o qual publicamos este post. […]

_spin

Socialite de SP são contra pagar CPMF, onde já se viu abrir mão da dinheirama mas, pasmem, resolveram ajudar os pobres
Como?
http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/videocast

VLO

Qualquer semelhança com uma certa rede de TV brasileira é mera coincidência!

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