Famílias do MST-PR doam mais de 30 toneladas de alimentos a comunidades de Curitiba e São José dos Pinhais

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Desde segunda-feira, 17/04, famílias de acampamentos e assentamentos do MST no Paraná doaram mais de 30 toneladas de arroz, feijão, mandioca, grande variedade de legumes e frutas a comunidades de Curitiba e São José dos Pinhais. Fotos: Juliana Barbosa e Wellington Lenon / MST-PR

Famílias do MST-PR doam 30 toneladas de alimentos a comunidades de Curitiba e São José dos Pinhais 

Ação faz parte da 26ª Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária que ocorre em todo o Brasil neste mês de abril, e marca os 27 anos de impunidade do Massacre de Eldorado dos Carajás.

Por Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR

A Jornada de Lutas em Defesa da Reforma Agrária no Paraná começou com a partilha de mais de 30 toneladas de alimentos a comunidades de Curitiba e São José dos Pinhais, nessa segunda-feira (17).

Arroz, feijão, mandioca, uma grande variedade de legumes e frutas foram doados por famílias de acampamentos e assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de todo o estado.

Mais de 500 camponesas e camponeses do MST chegaram a Curitiba na manhã desta segunda para participar da jornada, que vai até quarta (19).

O secretário-executivo do regional Sul 2 da CNBB, padre Valdecir Badzinski, participou da celebração ecumênica que antecedeu a partilha dos alimentos na comunidade Tiradentes II, na Cidade Industrial, no período da tarde.

“Quando um sabe da dor do outro e busca saciar a fome do outro, está evangelizando e saciando não só a fome biológica, mas colocando em prática o que Deus quer. E essa celebração dos movimentos sociais, especialmente o MST, nos ajude a uma configuração de mentalidade de sociedade, para uma partilha profunda”, afirmou o líder religioso.

A comunidade Tiradentes II, organizada pelo Movimento Popular por Moradia (MPM) e integrante da articulação Despejo Zero, resiste a constantes ameaças de despejo.

Depois de conduzir a oração do “Pai Nosso”, o padre incentivou a continuidade da ação conjunta entre os movimentos sociais. “Unidade e força, gente! Viva Jesus Cristo!”.

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Um ato ecumênico precedeu a distribuição de alimentos na Comunidade Tiradentes II. Vários religiosos participaram, entre os quais o padre e Valdecir Badzinski, secretário-executivo do regional Sul 2 da CNBB, e a irmã Anete Giovani (com o violão), coordenadora do Centro de Assistência Social Divina Misericórdia, que atua na região sul de Curitiba. Fotos: Wellington Lenon/MST-PR

Irmã Anete Giovani, coordenadora do Centro de Assistência Social Divina Misericórdia, com grande atuação social na região sul de Curitiba há 40 anos, também trouxe palavras bíblicas para falar do momento pelo qual o Brasil passa.

“Às vezes eu me pergunto qual é o problema de todo mundo poder comer bem? Qual o problema que todo mundo tenha uma casa boa pra morar? Qual o problema se todo mundo tiver um emprego decente, quem é que está se irritando com isso, se nós estamos queremos que todo mundo tenha vida, e em abundância, como Jesus falou. Então não vamos desistir das nossas lutas”.

Roberto Baggio, da direção nacional do MST pelo Paraná, enfatiza a importância da unidade da luta junto ao povo trabalhador da cidade e junto com a CNBB, que traz neste ano o tema da campanha da Fraternidade “Um Brasil Sem Fome”.

“Juntos estamos partilhando alimentos, aprendizados, educação, luta, música e cultura em comum, pra gente seguir nessa tarefa histórica de reconstruir o Brasil com muito trabalho, muita moradia, muita terra repartida, alimento e solidariedade, e com isso vamos construindo um Brasil mais justo, mais humano e de todo o povo brasileiro”, frisou.

Também participaram da celebração Salete Bez, da Dimensão Social de Curitiba; e do pastor Paulo Trindade, morador da própria comunidade, e o Assessor Eclesiástico Dimensão Sociotransformadora da Arquidiocese de Curitiba, padre Eguione Nogueira Ricardo.

Solidariedade que é unidade

Parte dos alimentos também chegaram a mais de 300 famílias do Jardim Independência, localizado no bairro Afonso Pena, em São José dos Pinhais.

Muitos moradores trabalham com catação de material reciclável, ou são imigrantes, e têm enfrentado dificuldade para garantir o básico para sobreviver, principalmente pelas constantes ameaças de despejo.

Há 15 dias a prefeitura iniciou demolições de casas da comunidade. Houve a ordem de demolição de 10 casas, dias depois, 4 ferros-velhos foram fechados.

“A gente está indo atrás, procurando resposta com o Poder Público. Teve famílias que foram notificadas na hora que a polícia chegou com toda guarnição junto, sem nenhuma preocupação com os moradores”, conta Beatriz Straub, liderança comunitária do Jardim Independência, moradora do local há 14 anos.

Com o fechamento dos ferros-velhos, as dificuldades aumentaram:

“Já tem gente passando necessidade porque não tem onde vender o material. Tem pessoas passando necessidade em casa, com seus carrinhos parados, sem emprego e sem condições de levar o sustento pra casa”.

Por isso, os alimentos chegaram em boa hora, garante Beatriz.

“Hoje pra gente é de super importância esse trabalho que o pessoal está fazendo, vendo a necessidade que o povo está passando. Hoje muita gente está levando comida pra casa, colocando comida no prato dos seus filhos. Eu queria deixar meu agradecimento a todos os agricultores que plantaram, fizeram essa colheita, lembrando que ainda existem pessoas no Brasil que ainda passam necessidade, passam fome, não é só aqui, é em tantos lugares”.

A partilha também chegou a outras comunidades e coletivos integrantes do Despejo Zero: Jardim Magnópolis, de Araucária; Paróquia São José, de São José dos Pinhais; Sambaqui, bairro Sítio Cercado; 29 de Março e Tiradentes l, na CIC; Núcleo Periférico; Movimento Nacional da População em Situação de Rua; e Centro de Assistência Social Divina Misericórdia.

Confira as próximas ações da Jornada no PR

A mobilização pela democratização do acesso à terra no campo ocorre em conjunto com a luta por moradia digna na cidade, por meio da articulação Despejo Zero.

No campo, a principal pauta de reivindicação do MST é pelo assentamento das mais de 7 mil famílias que vivem em 83 acampamentos rurais do estado.

Já na cidade, o levantamento do Plano Estadual de Habitação, feito pelo próprio governo do estado e divulgado neste ano, mostra o dado alarmante de cerca de 511 mil famílias paranaenses que não têm lugar adequado para morar.

O número de famílias em favelas passou de 90 mil para 114 mil entre 2019 e 2022.

Na quarta-feira (19), último dia da Jornada, a mobilização será das 6h30 até por volta das 12h, em frente à Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen).

Localizada em Araucária, ao lado da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), a unidade pertence à Petrobras e foi fechada pelo governo Bolsonaro em 2020.

O ato é pela retomada da reindustrialização, geração de empregos e soberania nacional no ramo dos fertilizantes.

Estarão na ação trabalhadores demitidos com o fechamento da fábrica, petroleiros da Repar, autoridades, representantes de sindicatos e entidades, além de militantes do MST.

Ainda na manhã de quarta-feira, a programação trará o Seminário “Monumento Antonio Tavares: diálogos sobre memória, patrimônio e direito à terra”.

O encontro irá debater os aspectos históricos, arquitetônicos, culturais e simbólicos que envolvem o Monumento Antonio Tavares.

Jornada Nacional

A 26ª Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária ocorre em todo o Brasil neste mês de abril, e marca os 27 anos de impunidade do Massacre de Eldorado dos Carajás.

No Paraná, o MST iniciou as mobilizações na segunda (17); elas seguem até quarta-feira (19).

A Jornada de abril ocorre desde 1997, em memória e justiça pelo Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, de 17 de abril de 1996.

A ação violenta da Polícia Militar reprimiu uma marcha de trabalhadores Sem Terra, resultando no assassinato de 21 camponeses e na mutilação de outras 69 pessoas. Em memória ao episódio, a data marca oficialmente o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.

O lema da Jornada deste ano é “Contra a fome e a escravidão: por terra, democracia e meio ambiente”.

Em todo o Brasil, as ações denunciam a concentração fundiária, os latifúndios improdutivos e as áreas do agronegócio que cometem crimes trabalhistas e ambientais, descumprindo a função social da terra.

 

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